
A doutrina do fil�sofo e educador Conf�cio (500-501 A.C) � uma das bases da sociedade chinesa. Os ensinamentos confucionistas, com mais de 2500 anos de hist�ria, t�m como um dos ideais mais s�lidos a busca pela harmonia, que pressup�e a ordem social. Para alcan��-la, um dos princ�pios defendidos pelo mestre � o respeito �s hierarquias.
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O respeito hier�rquico, para o erudito, seria exercido dentro de "c�rculos naturais" como a fam�lia, o cl� e a aldeia. Estabelece-se, assim, a ordem e, com esta a harmonia das coisas. A palavra "harmonia" na China, h� mais de 5 mil anos, n�o � um jarg�o pol�tico, mas uma tradi��o filos�fica, que ainda influencia este pa�s, a mais antiga civiliza��o do mundo.
� expressa por valores de ordem e respeito que, segundo os cientistas, explica uma certa avers�o chinesa ao conflito e � competi��o, que caracteriza os sistemas multipartid�rios.
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Conf�cio era um cr�tico das leis estabelecidas pelo homem, pois acreditava que isso destru�a o sentido moral e humano do individuo, substituindo valores morais por regras legais. Acreditava que estas podem sofrer com as injusti�as ou entrar em conflito com a moralidade, o que levaria � contamina��o do indiv�duo.
A doutrina visava, portanto, garantir a harmonia natural sem a ajuda de leis que a perturbem. O homem existe e � definido para os seus relacionamentos com os outros.
Entretanto, para os juristas no Ocidente e parcela expressiva do Oriente, o homem n�o � bom por natureza, ent�o o governo e suas institui��es, por lei, s�o necess�rios. Nessa dualidade temos o Li, o governo pelos homens, defendido por Conf�cio e o Fa, instrumento normativo, defendido pelos juristas.
Nos �ltimos anos, todavia, o que se observa � uma ruptura acentuada no equil�brio das rela��es sociais em escala quase global. As intera��es entre grupos humanos est�o fragmentadas. A obedi�ncia � ordem natural (mais ut�pica) ou �s leis impostas pelos homens (mais concreta) n�o exercem mais a fun��o de manter os grupos sociais em m�nima simetria.
Assiste-se, cotidianamente, ao desrespeito aos valores inerentes ao indiv�duo (ou que se espera sejam inatos a ele) e aqueles que s�o estabelecidos pelo homem. N�o se visualiza, praticamente, mais a retid�o dos l�deres, e isso compromete a confian�a dos cidad�os naqueles que os lideram.
As escolhas das lideran�as atuais s�o marcadas por rancores e manipula��es
. As redes sociais tornaram-se a nova B�blia a ser seguida. O conhecimento n�o vem de s�bios, estudiosos e dos valores familiares. O adulto que seria refer�ncia para o os mais jovens s�o cringes e objetos de zombaria. O "conhecimento" se traduz por fal�cias e bravatas, que se proliferam mais r�pido que os v�rus mais mortais que nos atingem e com efeito mais devastador.
O respeito e o sentimento de solidariedade ao outro s�o rompidos. N�o existe harmonia e quase n�o h� um minuto de paz, exceto para os alienados que n�o possuem uma autocr�tica dos seus atos, quase sempre vis e, vivem em um mundo paralelo de constante hostilidade.
As fakes news s�o a ordem da vez. Os di�logos n�o avan�am, pois, as verdades individuais, impedem de escutar o outro. A sabedoria do fil�sofo e da experi�ncia vivida - sim, a sabedoria vem tamb�m do dia ap�s outro, e n�o � necess�rio a academia, para alcan��-la - s�o ignoradas. Todo esse cen�rio de instabilidade reinante explica os momentos de incertezas e temores que nos acompanham.
Quando a coer�ncia das escolhas � ausente, os objetivos esperados dificilmente ser�o alcan�ados, prevalecendo a discord�ncia e a desarmonia social. O que deveria ser essencial para a sociedade � banalizado em amea�as, acusa��es infundadas e gritos dos desajustados. N�o h� respeito. O respeito leva � ordem e a esta leva � harmonia, como dizia Conf�cio, 30 s�culos atr�s. Mas, a modernidade ignora esse preceito simples.
A harmonia social � um pr�-requisito para a estabilidade. Nem o crescimento econ�mico a substitui. Considerando que n�o h� crescimento e desenvolvimento social, o futuro torna-se obscuro.
Somado � instabilidade social, o aumento da depreda��o sobre os recursos naturais � um perigo para o presente e o futuro, al�m de aumentar a desigualdade e a corrup��o. O resultado n�o � otimista. A desilus�o cresce. Amplia-se o fosso entre a realidade e a esperan�a. A harmonia se desvanece. Parodiando Claude L�vi-Strauss, s�o tristes tr�picos.