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Estado de Minas GEOPOL�TICA

Finl�ndia e Su�cia: um flerte audacioso com a OTAN

Novas ades�es na Alian�a Atl�ntica que a R�ssia considera uma amea�a e que a Turquia pode bloquear com o seu veto


16/05/2022 06:00 - atualizado 15/05/2022 14:39

 
Símbolo da Otan
(foto: Pixabay)

A hist�rica neutralidade da Finl�ndia est� pr�xima do fim. No final da d�cada de 1940, o pa�s assumiu, com antiga Uni�o Sovi�tica, o status de permanecer estritamente neutro em troca da n�o interfer�ncia sovi�tica em seu territ�rio. Essa pol�tica ficou conhecida com finlandiza��o durante a Guerra Fria. 
 
 
Teoricamente, essa neutralidade havia terminado h� mais de 30 anos, com a queda da Uni�o Sovi�tica. A ades�o � Uni�o Europeia (UE), em 1995, como membro pleno, incluindo as cl�usulas de seguran�a do tratado que rege o bloco, j� era um claro indicativo de ruptura do status de pa�s neutro adotado no p�s-guerra.

A proximidade com S�o Petersburgo, as rela��es humanas e econ�micas densas com a R�ssia foram alguns dos fatores que serviram de pressupostos para n�o inser��o na Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (OTAN) nas �ltimas d�cadas. Medida semelhante foi adotada pela Su�cia. 

A fronteira, de mais 1.340 quil�metros, atualmente, � compartilhada com os russos, que herdaram a quase totalidade do poder geopol�tico da antiga superpot�ncia. Essa extensa vizinhan�a desestimulava uma participa��o na Alian�a Atl�ntica, cujos custos de defesa sempre foram considerados muitos elevados.

Muitos relat�rios foram produzidos com o objetivo de analisar uma poss�vel entrada desses pa�ses na OTAN. As conclus�es desses documentos indicavam que essa ades�o dependia exclusivamente deles, mas que n�o encontraram argumentos que justificassem essa participa��o. Todavia, a pol�tica agressiva adotada pela R�ssia na Ucr�nia muda completamente a estrat�gia finlandesa. A reviravolta � impressionante.

H� ind�cios de que esse cen�rio foi constru�do mesmo antes da ocupa��o ucraniana pelos russos. Vladimir Putin ignorou preceitos b�sicos de liberdade e democracia consolidados nos pa�ses escandinavos, que incluem Su�cia e Finl�ndia. 

Ao entregar em dezembro de 2021, aos Estados Unidos, dois tratados de reorganiza��o da seguran�a na Europa, sem a participa��o dos europeus na elabora��o desse documento, com uma cl�usula que proibia a entrada da Finl�ndia e da Su�cia Putin altera a pol�tica at� ent�o adotada de liberdade de escolha! A partir desse momento, n�o era mais uma escolha soberana dos escandinavos, mas uma ordem imposta pela R�ssia. N�o soou, favoravelmente, essa ordem aos suecos e finlandeses. 

A OTAN � considerada vital para os ocidentais, em especial, aos EUA devido a tr�s fatores principais: fortalece a estabilidade e a seguran�a dos membros, principalmente, em suas rela��es econ�micas; colabora com preserva��o de valores comuns aos integrantes, como a democracia, o estado de direito, a Liberdade individual e a soberania nacional, al�m de favorecer o compartilhamento dos gastos, em cen�rios de tens�es, entre os integrantes da Alian�a Atl�ntica. 

Para a organiza��o,  a entrada dos novos membros simboliza o fortalecimento de toda a Alian�a.  Os dois novos membros s�o representantes s�lidos dos preceitos defendidos pelo tratado de defesa da organiza��o. Os elevados investimentos que as duas na��es est�o destinando a sua defesa colaboram para a sua entrada efetiva nos pr�ximos meses, ao se tornarem parceiros na luta do ocidente contra "dois inimigos" atuais: a amea�a russa e os grupos terroristas. Os encargos dessa tarefa podem ser amenizados com o alargamento da OTAN em dire��o � Europa setentrional. 

Simultaneamente, os dois pa�ses ter�o, ap�s a oficializa��o da entrada, a prote��o garantida pelo artigo 5, que ampara o princ�pio da defesa coletiva da OTAN, a pedra angular da Alian�a Atl�ntica, dificultando uma agress�o externa na regi�o.  

Para a UE, a ades�o dos dois pa�ses implica a participa��o de 23 dos 27 integrantes do bloco (exceto Malta, Chipre. �ustria e Rep�blica da Irlanda). Dessa forma, apesar do acordo de seguran�a m�tua, garantido pelo artigo 49 da UE, a entrada dos dois pa�ses � um refor�o significativo na prote��o europeia e simbolizar�, no futuro, um trabalho conjunto (UE e OTAN) nos interesses regionais, mesmo que isso altere a autonomia do bloco. 

O pedido de ades�o da Finl�ndia e da Su�cia � um golpe estrat�gico devastador aos interesses geopol�ticos de Vladimir Putin. O l�der russo criou a ilus�o de enfraquecer a OTAN ao invadir a Ucr�nia, mas os efeitos foram exatamente o contr�rio. 

A alian�a, que parecia desarticulada, se unifica e coloca a R�ssia como o inimigo a ser combatido. O Ocidente, disperso em suas estrat�gias, estabeleceu uma linguagem comum contra o l�der russo e tudo o que ele representa.  Em mais de 80 dias do in�cio da ocupa��o ucraniana, nenhuma grande vit�ria, de fato, foi alcan�ada pelos russos. 

Ao anunciar, no dia 12 de maio, o fim da neutralidade hist�rica a Finl�ndia abre um novo desafio geopol�tico � OTAN, que ter� que refor�ar sua defesa em uma larga fronteira terrestre com a R�ssia, estabelecer novas estrat�gias no Mar B�ltico e enfrentar uma pedra no sapato, chamada Kalingrado, um enclave russo entre a Pol�nia e a Litu�nia, um dos pa�ses b�lticos. 

Putin reagiu rapidamente e anunciou a suspens�o da eletricidade a partir de s�bado (14 de maio) aos finlandeses devido a "contas n�o pagas". Se ocorrer como na Pol�nia e Bulg�ria - no dia de 26 de abril, Putin fechou as torneiras de g�s destinado aos dois pa�ses-, nada de muito destrutivo � economia e sociedade ocorrer�o com esse feito, nos pa�ses escandinavos. 

Nos pa�ses do Leste Europeu, o pandem�nio econ�mico e pol�tico esperado, sem o combust�vel russo, n�o se concretizou. A "arma de g�s" russa, aparentemente, n�o existe. O resultado, na verdade, foi o fortalecimento da determina��o desses pa�ses em buscar alternativas e manter o distanciamento da R�ssia. Finlandeses e suecos devem seguir caminhos similares. 

O pedido de ades�o da Finl�ndia (confirmado no domingo, 15 de maio) e da Su�cia enfrenta um obst�culo: a resist�ncia do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, � entrada dos pa�ses n�rdicos. O l�der turco acusa os dois pa�ses-candidatos de abrigarem integrantes curdos do PKK, considerados terroristas pela Turquia. 

Evidentemente, que essa postura pode ser uma moeda de troca para atender interesses turcos na regi�o separatista curda - que abriga a maior etnia sem p�tria do mundo - e angariar maior apoio �s pol�ticas adotadas contra essa popula��o (que, geralmente, enfrenta grande resist�ncia ocidental) e aquisi��o de armas, como os ca�as F-35, para o seu arsenal.

Poder para isso a Turquia possui, pois a aprova��o depende do voto favor�vel dos trinta membros da OTAN, os integrantes t�m poder de veto. Caso o l�der turco n�o mude seu posicionamento, o desejo de alargamento est� fadado ao abandono.  Existe a possibilidade de a Cro�cia anunciar pol�tica semelhante, mas ainda � incerto. 

H� informa��es de que a OTAN est� caminhando em dire��o � Ge�rgia (ex-rep�blica sovi�tica que enfrentou uma guerra coma R�ssia, em 2008) e a sua inser��o na alian�a militar parece mais prov�vel. Na Ge�rgia, a regi�o aut�noma da Oss�tia do Sul anunciou a realiza��o de um referendo para o dia 17 de julho, quando os oss�tios dever�o decidir se passam a integrar, oficialmente, � R�ssia. Mais um cen�rio que aumenta a turbul�ncia regional.

Todo o cen�rio que se constr�i aumenta as chances de uma guerra total, com uso de armas nucleares russas. � not�rio, entre os especialistas, que a R�ssia n�o tem chances de vit�ria contra a OTAN em uma guerra convencional. N�o h� condi��es de enfrentamento direto russo com trinta outros pa�ses.  Dessa forma, o uso de armamento nuclear por parte da R�ssia torna-se, infelizmente, mais prov�vel e o pior, pode ocorrer a qualquer momento, se o avan�o ocidental, via a OTAN, permanecer.  O mundo n�o deveria esquecer Hiroshima e Nagas�ki. 

Putin errou a m�o na estrat�gia adotada no dia 24 de fevereiro ao invadir a Ucr�nia. N�o avaliou, satisfatoriamente, seus inimigos. Potencializou o pr�prio poder, desconsiderando que, desde 2014, ap�s a anexa��o da Crimeia, a Europa e o ocidente alteraram as estrat�gias de defesa. A estrutura desarticulada do Ocidente, desde a Era Bush, foi modificada e a OTAN, que jazia em seus problemas, ressuscita das cinzas, como f�nix.

As rela��es de poder e temor regionais foram, gradativamente, se reestruturando para enfrent�-lo. Aparentemente, ele n�o viu. O pre�o pela cegueira pode ser caro demais. Putin quer possuir a Ucr�nia. Pode ser que, no final, a Ucr�nia o possua e a OTAN o engula.  



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