
Nos �ltimos meses, a crise ucraniana-russa ganhou todos os notici�rios mundiais. O risco iminente de uma invas�o russa � divulgada, continuamente, pelas lideran�as ocidentais, principalmente, por Joe Biden (EUA) e Boris Johnson (Reino Unido). A impress�o que se tem � que acumulam mais conhecimento da geopol�tica territorial ucraniana que o pr�prio presidente do pa�s, Volodymyr Zelensky.
O presidente � um comediante sem experi�ncia pol�tica, eleito em 2019, com 73% dos votos, como uma demonstra��o de quase total rejei��o ao seu rival, um s�mbolo da elite ucraniana. O fato � que poucos atentam � concep��o do presidente em rela��o � quest�o emblem�tica em que os dois pa�ses vizinhos se encontram. O Ocidente parece ditar as supostas a��es poss�veis dos envolvidos, sem nenhuma garantia de apoio verdadeiro � Ucr�nia.
A promessa de campanha do atual presidente - unir o pa�s e promover grandes mudan�as internas -, n�o se confirmou. O pa�s permanece dividido e enfrenta, provavelmente, o momento mais cr�tico desde a independ�ncia, em 1991. A tens�o permanente nas fronteiras leva temor aos cidad�os e pedir calma a eles tornou-se uma prerrogativa constantemente repetida nas �ltimas semanas.
O cen�rio belicista e o p�nico t�m consequ�ncias sobre a economia do pa�s. Isso deve exigir uma pol�tica mais independente dos pol�ticos ocidentais. Percebe-se que o presidente tentou se alimentar do risco imediato de uma guerra com a R�ssia como forma de angariar mais armas e recursos financeiros, al�m de levar a mais san��es ao vizinho hostil. Tudo isso, entretanto, n�o impediria a derrota. Ela � inevit�vel em confronto entre os dois pa�ses. O poder b�lico russo �, notoriamente, superior ao ucraniano.
Zelensky necessita ser mais coerente com sua ret�rica e levar seguran�a nas suas decis�es. � preciso lembr�-lo que Biden e Johnson podem estar se aproveitando desse cen�rio para dissipar seus pr�prios problemas dom�sticos. Ambos enfrentam momentos cr�ticos de popularidade interna. Nenhum deles sinalizou um compromisso real de apoio no caso de uma ofensiva russa.
A uni�o da Ucr�nia � Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (OTAN) parece muito pouco vi�vel, o que pode ser considerada uma vit�ria parcial russa. A R�ssia exige o distanciamento do pa�s da alian�a militar e o abandono da OTAN �s ades�es dos pa�ses da antiga Europa do Leste socialista (quase imposs�vel).
Alguns cen�rios podem ser constru�dos a longo prazo. Um deles � a derrota e a perda da lideran�a geopol�tica russa, uma humilha��o que Putin vai tentar evitar a qualquer pre�o. Mas para que isso se torne mais plaus�vel, a colcha de retalhos russa teria que intensificar seus movimentos em dire��o � independ�ncia, em especial, na regi�o caucasiana-caspiana (a terra das mil l�nguas), onde est�o os separatistas da Chech�nia, Inguch�tia, Oss�tia Daguest�o, entre outros.
Outro cen�rio poss�vel � a neutralidade da Ucr�nia, assumida em um acordo internacional de n�o aderir � OTAN e assim afastar a malevol�ncia russa. Mas n�o h� consenso quanto a isso internamente, pois os ucranianos est�o divididos e zero garantias de que a R�ssia ir� se comprometer, de fato, com esse acordo.
O cen�rio mais favor�vel e de resultado mais equilibrado envolveria um acordo que envolvesse a Europa, Incluindo a Ucr�nia e a R�ssia, em um projeto de seguran�a abrangente, que j� foi proposto em 2019. O ent�o presidente na �poca, na tentativa desesperada de reelei��o, inseriu na constitui��o ucraniana, uma cl�usula de integra��o euroasi�tica, considerando essa possibilidade.
Nesse contexto o compromisso da seguran�a multilateral deveria ser edificado com firmeza, priorizando a conten��o militar e a transpar�ncia das a��es m�ltiplas, como base da constru��o de um alicerce geopol�tico regional, baseado no fortalecimento da confian�a m�tua. Para tanto, o envolvimento mais amplo da sociedade ucraniana e partidos pol�ticos deve ser coeso para que isso se concretize.
Nesse momento, � emergencial que os Acordos de Minsk I e II (2014/2015) sejam implementados de fato. Seu cumprimento nunca ocorreu na pr�tica. Os treze pontos principais nunca foram implantados, mesmo que sigam a l�gica de todos os acordos de paz.
Para o sucesso dessa empreitada, todos os atores dessa escalada de tens�o devem ser consultados e envolvidos (isso inclui os separatistas e a possibilidade de criar uma regi�o aut�noma em Donbass), com seriedade, em um grande projeto de paz.
Manter o atraso na sua implementa��o dos Acordos de Minsk (desde 2015), resultar� numa resist�ncia e baixa popularidade cada vez maior entre a popula��o. O presidente Zelenskyy tem uma miss�o herc�lea pela frente e isso implica mudan�as de estrat�gias, at� agora adotadas.
Como comediante, criou um personagem fict�cio de um professor que, acidentalmente, se torna um presidente e se posicionava com criatividade e desenvoltura contra a “velha pol�tica” ucraniana. Esse papel foi primordial para sua esmagadora vit�ria, em 2019.
Ao sucumbir nos mesmos v�cios dos seus antecessores como ceder �s press�es das oligarquias pol�ticas, da parcela da sociedade mais nacionalista e das lideran�as ocidentais, acabou por repetir erros j� conhecidos. Recuperar as promessas de campanha, de di�logo e unidade nacional, s�o imprescind�veis para seu comprometimento aos eleitores, anunciado no dia da vit�ria, seja real: “nunca vou decepcionar voc�s”. O momento � agora.