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Estado de Minas BIOM�DICO BRILHANTE

O jovem cientista que estudava impacto do coronav�rus no c�rebro e morreu de covid

Pesquisador de carreira mete�rica, paraense Nilton Barreto dos Santos investigava como doen�a afetava sistema nervoso central; fam�lia autorizou aut�psia e tecidos de �rg�os foram coletados para que sua pesquisa prossiga.


24/05/2021 08:11 - atualizado 24/05/2021 09:01


Pesquisador de carreira meteórica, paraense Nilton Barreto dos Santos investigava como covid afetava sistema nervoso central(foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)
Pesquisador de carreira mete�rica, paraense Nilton Barreto dos Santos investigava como covid afetava sistema nervoso central (foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)

A covid-19 pode ter interrompido abruptamente a vida do paraense Nilton Barreto dos Santos, morto aos 34 anos na noite do �ltimo dia 4 de maio, mas n�o seu prop�sito de vida: o jovem biom�dico de carreira mete�rica que, coincidentemente, investigava o impacto do novo coronav�rus no sistema nervoso central teve parte dos tecidos do pulm�o, do cora��o e do c�rebro coletados ap�s a morte para que a pesquisa desenvolvida por ele e seus colegas continue avan�ando.

A fam�lia de Santos, que autorizou a aut�psia, quer ajudar a decifrar os mist�rios de um v�rus que j� matou milh�es em todo mundo e deixa sequelas ainda n�o totalmente entendidas pela ci�ncia.

"Autorizamos a coleta do material tecidual dos pulm�es, do cora��o e c�rebro do Nilton para entender melhor essa doen�a. Por exemplo, por que ela est� acometendo jovens sem comorbidades como ele, e evitar que outras fam�lias passem pelo sofrimento que estamos passando", diz � BBC Brasil a engenheira S�mia Maraca�pe, vi�va de Nilton.

"Quero poder continuar o legado dele de alguma forma", acrescenta.

Um legado de amor � pesquisa e � ci�ncia.

Natural de Abaetetuba, no interior do Par�, Nilton mudou-se para os sub�rbios da capital, Bel�m, onde conheceria a futura mulher S�mia - os dois eram vizinhos e estudavam na mesma escola. Come�aram a namorar no Ensino M�dio e estavam juntos havia 16 anos.


Nilton Barreto dos Santos e sua orientadora, Carolina Munhoz(foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)
Nilton Barreto dos Santos e sua orientadora, Carolina Munhoz (foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)

Na capital paraense, Nilton cursou gradua��o e mestrado em neuroci�ncia e biologia celular pela Universidade Federal do Par�. Em 2012, mudou-se para S�o Paulo, onde ingressou no Instituto de Ci�ncias Biom�dicas (ICB) da USP.

Ali, foi aprovado no doutorado e em dois p�s-doutorados. Investigava o processo de inflama��o do c�rebro, principalmente gerado pelo estresse, e como isso modifica o funcionamento das c�lulas, contribuindo para o desenvolvimento de doen�as como a depress�o.

Bolsa no exterior

O esfor�o com o qual se dedicava � essa pesquisa foi recompensado no ano passado: Nilton foi aprovado em um interc�mbio no hospital Mount Sinai, um dos mais prestigiados dos Estados Unidos.

Mas a pandemia de covid-19 mudaria seus planos. A viagem, que aconteceria em janeiro de 2020, foi remarcada para janeiro do ano que vem.


Nilton era considerado pesquisador prodígio por seus pares(foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)
Nilton era considerado pesquisador prod�gio por seus pares (foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)

Diz sua orientadora, Carolina Munhoz, professora do Departamento de Farmacologia do ICB/USP: "O consulado americano suspendeu a emiss�o dos vistos e, logo depois, as fronteiras foram fechadas. O sonho do Nilton, desde que ele veio para S�o Paulo, era fazer um est�gio no exterior".

"Ele era brilhante e sensacional, uma pessoa com quem ador�vamos trabalhar. Ele sempre pensava no coletivo", acrescenta.

Carolina lembra que Nilton havia acabado de publicar um estudo do qual era coautor na aclamada revista cient�fica Nature Neuroscience.

"O que me d�i mais nisso tudo � que ele realmente estava no auge da carreira dele e a ponto de colher os frutos de seu trabalho �rduo", lamenta ela.

"Ele estava se preparando para poder prestar concurso. Tinha um curr�culo imbat�vel, mas at� os concursos foram suspensos. N�o tinha vaga."

Mas Nilton n�o esmoreceu. Apesar da frustra��o diante da mudan�a for�ada de planos, ele passou a se dedicar a pesquisar, com outros colegas, o impacto do coronav�rus no sistema nervoso central.

O objetivo era entender se o v�rus, que ataca e mata os neur�nios, pode aumentar a propens�o para o desenvolvimento de doen�as neurodegenerativas, como dem�ncia, por exemplo.


Nilton com família e amigos; ele morreu de covid aos 34 anos sem comorbidades(foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)
Nilton com fam�lia e amigos; ele morreu de covid aos 34 anos sem comorbidades (foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)

"Nilton era muito curioso, caracter�stica primordial para qualquer cientista. Quando a pandemia chegou ao Brasil e as coisas se agravaram, nossas atividades foram suspensas. E come�amos, dentro das nossas limita��es, a investigar o assunto", conta Carolina.

"Est�vamos tentando correlacionar se a gravidade da infec��o no sistema nervoso central correspondia � gravidade da infec��o no pulm�o, mas n�o conseguimos comprovar isso pelas amostras que t�nhamos", explica.

Infec��o e hospitaliza��o

Apesar de o coronav�rus ter interrompido temporariamente os planos do casal de passar uma temporada no exterior, Nilton e S�mia viviam o "melhor momento" de suas vidas, diz ela.

"Quando Nilton veio para S�o Paulo, em 2012, passamos dois anos � dist�ncia. Em 2014, vim para c�. Sou engenheira de forma��o, mas por necessidade trabalhei em shopping e padaria. Quando o Nilton conseguiu a bolsa e eu passei no mestrado, foi a primeira vez que a gente conseguiu sair do sufoco", conta.

S�mia n�o sabe como Nilton foi infectado pela covid. Tampouco por que ele foi o �nico da fam�lia que vive em S�o Paulo a desenvolver os sintomas mais graves da doen�a.

"�ramos muito cuidadosos. Nunca deix�vamos de usar m�scara, evit�vamos aglomera��es e lav�vamos todos os alimentos. Mas Nilton foi o �nico a agravar. Ele era extremamente saud�vel e n�o tinha nenhuma comorbidade", diz.

"Ele teve 90% dos pulm�es comprometidos e seu quadro se agravou muito rapidamente."

Nilton ficou internado por dois meses no Hospital Em�lio Ribas, em S�o Paulo, refer�ncia para o tratamento de covid, e morreu no �ltimo dia 5 de maio.

"Algumas semanas antes da morte dele, pudemos visit�-lo na UTI. Ele estava muito cansado, mas interagindo. Ele se mostrava preocupado com a situa��o pol�tica do Brasil. Sempre fomos muito progressistas. Sempre lutamos pela educa��o p�blica de qualidade e ele, pela pesquisa, e esse foi um setor que vem sofrendo seguidos cortes", conta.

"Ele tamb�m ficou feliz ao saber que os pais dele finalmente haviam sido vacinados."


Nilton com os pais e com os irmãos; ele havia ganhado bolsa para estudar nos EUA, mas covid mudou planos(foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)
Nilton com os pais e com os irm�os; ele havia ganhado bolsa para estudar nos EUA, mas covid mudou planos (foto: Arquivo pessoal/Nilton Barreto dos Santos)

Luto e revolta

S�mia ainda tem dificuldades para enfrentar a dor do luto.

"Nilton � meu esteio. Sempre me apoiou profissionalmente, me engrandeceu, conhecia cada sorriso e cada sentimento que eu tinha, era a pessoa que certamente melhor me conhecia. A gente dormia abra�ado todos os dias e para mim est� sendo muito dif�cil. N�o sei como vai ser a minha vida daqui para frente, como vou continuar na minha casa rodeada de mem�rias dele todo o tempo", diz ela.

"Ele foi o meu primeiro namorado, meu marido, o amor da minha vida. Tive a sorte de ter um amor seguro, tranquilo, por 16 anos e s� tenho que agradecer a Deus pela oportunidade", acrescenta.

O sentimento � compartilhado pela irm� de Nilton, Neucy, que vive em Bel�m.

"Ele continua vivo em cada um de n�s. Era um irm�o maravilhoso, um filho excelente, sempre preocupado com todo mundo", diz.

"Nilton era muito protetor, sempre esteve do meu lado."

S�mia, com o apoio da fam�lia, decidiu autorizar a doa��o de �rg�os de Nilton. Partes do tecido do pulm�o, cora��o e c�rebro dele foram coletadas para que a pesquisa desenvolvida por ele continue. O objetivo � tentar entender por que que um paciente sem nenhuma comorbidade evoluiu t�o gravemente.

"A saudade nunca vai passar. Mas temos muito orgulho dele. E a sensa��o de que ele cumpriu o papel dele e continua sua miss�o. Mesmo depois de sua morte, a pesquisa vai continuar e esperamos que isso possa a salvar outras pessoas", diz Neucy.

Mas n�o � o s� a dor do luto que S�mia e a fam�lia t�m que enfrentar, mas tamb�m a revolta.

"Estou extremamente revoltada. Nilton morreu de uma doen�a para a qual j� h� vacina. Ele foi assassinado por um governo genocida", diz ela, em alus�o � gest�o do presidente Jair Bolsonaro.

"Temos um governo que n�o acredita na ci�ncia, que n�o investe em pesquisa, que odeia professor. � muito cruel", finaliza.

Nilton deixa os pais, Nilton e Maria N�rcia, duas irm�s, N�dia e Neucy, e a esposa S�mia, assim como uma dezena de amigos, muitos cientistas como ele.

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