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Estado de Minas SA�DE LGBTQIA

Empres�ria da favela cria calcinhas para mulheres trans

Silvana Bento testemunhou o sofrimento di�rio de mulheres trans e travestis; a Trucss existe desde 2017 e Linn da Quebrada � uma de suas clientes mais famosas


02/05/2022 12:00 - atualizado 02/05/2022 15:36

Silvana é uma mulher negra de cabelos pretos e lisos. Ela sorri na presença de colegas enquanto seguram modelos das calcinhas desenvolvidas para mulheres trans e travestis
Silvana gerencia a Trucss, marca de calcinhas para mulheres trans e travestis (foto: Arquivo pessoal/Reprodu��o)


Silvana Bento trabalhava no banco de sangue de um hospital a zona sul de S�o Paulo quando teve seu primeiro contato com os problemas causados pela falta de pe�as �ntimas adequadas para mulheres trans. Elas precisavam recorrer a bandagens, fitas adesivas e at� mesmo cola instant�nea para se sentirem confort�veis com o corpo.
 
Ela conta que mulheres trans e travestis falavam a ela que seguravam xixi por horas para manter a bandagem presa ao corpo durante o dia e que, por isso, muitas iam parar no hospital com infec��o urin�ria e insufici�ncia renal. “Uma das meninas que fazia transfus�o comigo morreu na fila do transplante de rim. Fiquei devastada”, conta Silvana em entrevista � Folha de S.Paulo.
 
Como profissional da sa�de, come�ou a pensar em solu��es para melhorar a qualidade de vida desse p�blico e, em 2016, desenhou uma calcinha que possui uma esp�cie de bolsa para acomodar a genit�lia de maneira saud�vel e que n�o marcasse nas roupas.
 
A express�o "aquendar a neca", popular na comunidade LGBTQIA+, se refere ao ato de esconder o p�nis e os test�culos para que n�o fiquem vis�veis atrav�s das roupas.  

Desenvolvimento do projeto

Para dar in�cio � produ��o dessa pe�a, entretanto, precisou de ajuda, que demorou a encontrar. "Procurei costureiras daqui de Guaianases para fazer as pe�as-piloto, eu n�o sei pregar um bot�o. S� que a maioria delas n�o quis produzir quando eu disse o que era", explica ela, contando ainda que uma delas chegou a pensar que o design era de roupa para gato e, outra, que “n�o era de Deus”.

A calcinha s� p�de ser produzida, quando encontrou uma designer de moda com uma pequena f�brica de bichos de pel�cia e bonecos de pano. "Ela mandou o modelo e vi que se tratava de um produto novo. Costurei sem questionar", diz Renata Silva � Folha. "� uma pe�a que � f�cil de vestir, confort�vel, ajust�vel e aquenda."

As duas come�aram a produzir os prot�tipos e, para conferir a usabilidade, contrataram amigos LGBTQIA da filha de Silvana, Nat�lia Pietra, que � da comunidade e ensinou � m�e alguns dos vocabul�rios utilizados pela comunidade.  "Dava R$ 100 para experimentarem as calcinhas. Criei 16 varia��es, usando lycra e renda, al�m da moda praia", conta Silvana.

Em 2017, ent�o, nascia a Trucss. Silvana largou a profiss�o como t�cnica em hemoterapia, patenteou o produto e registrou o nome da marca. Atualmente, a Trucss conta com modelos para o dia a dia, esporte e moda praia em uma variedade de tamanhos, inclusive, infantil.

Um outro p�blico que se aproximou da marca foram pais e m�es de crian�as trans. "Comecei a fazer prot�tipos para atender ao p�blico infantil", diz Silvana. "A aquenda��o n�o � igual a das mulheres, pois elas est�o em fase de crescimento e n�o pode causar deformidade."

Sucesso da marca

A divulga��o nas redes sociais foi um dos fatores que trouxeram muitos consumidores para a Trucss, inclusive famosas.  "Linn da Quebrada usou minhas pe�as no Big Brother", explica Silvana, que chegou a abrir uma loja f�sica na Rua Augusta, localizada na regi�o central de S�o Paulo, mas que teve que ser fechada por conta da pandemia e a baixa nos faturamentos.

A empres�ria conseguiu voltar � ativa com o apoio de programas de acelera��o, mas conta que, em um deles, seu p�blico foi alvo de discrimina��o. Com ticket m�dio de R$ 100, foi questionada sobre o poder aquisitivo de suas clientes. “Falaram para eu mudar de p�blico, porque trans eram analfabetas, prostitutas e n�o teriam dinheiro para pagar por meu produto”, relata. Ela conta que chegou a rebater, mas foi um processo desgastante.

Em abril deste ano, ela esteve na Expo Favela e foi uma das dez selecionadas para participar de um reality show na TV Globo que ser� exibido aos s�bados no programa � de Casa. A competi��o ter� como pr�mio R$ 80 mil.

Para suas clientes, as calcinhas da Trucss s�o revolucion�rias. "Cansei de me machucar e queimar a pele", conta Mar Moraes, atriz e modelo, sobre as estrat�gias para aquendar a neca. "Era constrangedor ir ao banheiro e agora posso ir � praia, o biqu�ni � cavado como a gente gosta e fico aquendad�ssima”, completa.

Ela, que tirou fotos para divulgar entre as amigas no Rio de Janeiro, tamb�m afirma que as calcinhas e biqu�nis t�m efeito psicol�gico, aumentando a autoestima, e que � bom ver que marcas e pessoas aliadas da comunidade LGBTQIA estejam crescendo. "Achei interessante porque � uma mulher cis pensando na gente dessa maneira", conta.

Aliada e ativista da causa trans

Segundo um relat�rio das Na��es Unidas, o Brasil � o pa�s que mais mata pessoas trans no mundo. Por este motivo, h� quem relate que aquendar �, al�m de uma quest�o est�tica, � de sobreviv�ncia. "� o artif�cio que criamos em busca da passibilidade. � o ser trans, mas aparentar socialmente uma mulher cisg�nero. Com o uso da est�tica, maquiagem, vestimenta e pelo 'aquendar a neca', combatemos a transfobia sist�mica em todos os espa�os que n�s transitamos", explica Nosli Melissa de Jesus Bento em entrevista ao portal Campo Grande News.

A transfobia � um dos motivos pelos quais mulheres trans e travestis evitam procurar ajuda m�dica. Silvana conta que est� em busca da aprova��o de seus produtos na Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) para que possam ser distribuidos gratuitamente pelo SUS, o que pode servir de incentivo para que pessoas trans busquem mais orienta��o sobre sua sa�de e para que profissionais da sa�de possam ter maior conv�vio com a comunidade LGBTQIA . "Mulheres trans n�o procuram ajuda m�dica porque n�o s�o bem tratadas, ningu�m sabe como lidar”, afirma.

Atualmente, Silvana diz que se reconhece como ativista da causa trans. "Costumam falar que n�o vendo calcinhas, realizo sonhos. Isso enche o cora��o”, conta ela. A loja virtual da Trucss est� ativa e conta com v�rios modelos, produtos e kits para maior praticidade das usu�rias. L�, tamb�m � poss�vel encontrar um blog, no qual h� diversos textos auxiliando na escolha do modelo ideal e dicas sobre como utiliz�-los.


*Estagi�ria sob a supervis�o de M�rcia Maria Cruz  
 


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