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Estado de Minas ABOLI��O DA ESCRAVID�O

'� preciso tirar a gratid�o que querem nos entuchar', diz escritora

Eliana Alves Cruz lan�a na Fliarax� o livro 'Solit�ria', que narra a hist�ria de uma empregada dom�stica que vivia em situa��o de semi-escravid�o


12/05/2022 15:49 - atualizado 12/05/2022 17:32

Eliana Alves Cruz sentada em um banco usa roupas brancas e está descalça em um chão de tacos
Eliana Alves Cruz � uma das convidadas da Fliarax�, festa liter�ria realizada na cidade mineira (foto: Chico Cerchiaro/Divulga��o)

O livro "Solit�ria" (Cia. das Letras), de Eliana Alves Cruz, traz parte da hist�ria familiar da escritora e tamb�m reflete uma hist�ria coletiva da popula��o negra no Brasil. A escritora tributa o quarto romance � tia-av� que, como empregada dom�stica, dedicou toda a vida � fam�lia dos patr�es, abdicando de sonhos e de uma fam�lia pr�pria.
 
"Ela foi aquela personagem cl�ssica do Brasil. Aquela menina que vem do interior, muito novinha, que fica em uma fam�lia a vida inteira trabalhando, sem vida pr�pria, em fun��o daquela fam�lia. Ela cresce e herda gera��es daquela fam�lia, cuida do filho, do neto e do bisneto. Envelhece ali".
 
Uma das autoras convidadas da Fliarax�, festa liter�ria realizada em Arax� at� domingo (15/5), Eliana conduz com Geni Guimar�es o painel "As firminas da literatura brasileira", com media��o de Esmeralda Ribeiro.
 

A primeira mulher romancista 

A mesa � uma refer�ncia a Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher romancista do Brasil. O painel ser� nesta quinta-feira (12/03), v�spera da data em que se comemora a aboli��o da escravatura por aqui, o �ltimo pa�s em que est� pr�tica de tortura e explora��o do trabalho foi extinta.

No livro "Solit�ria", Mabel, narradora-personagem, conta a hist�ria da m�e, dona Eunice, que passou parte da vida como empregada dom�stica em uma casa luxuos�ssima. A riqueza do casar�o constratava com o quartinho, mais que modesto, destinado �s empregadas que ali trabalhavam.

Eliana defende que n�o h� que se ter um sentimento de gratid�o em rela��o a a��o da princesa Isabel. "� preciso tirar o sentimento de gratid�o que querem nos entuchar", ressalta. Para ela, a escravid�o deixou muitas feridas abertas, uma delas � o trabalho dom�stico. "O Brasil mal consegue se sustentar nas pernas para falar de aboli��o da escravatura", pondera.
A escritora lembra da situa��o da tia-av�, de quem a fam�lia n�o tem nenhuma foto da tia-av�. "Minha fam�lia sempre que fala dela, fala com muita dor. Foi uma pessoa que n�o teve vida pr�pria".
 
A popula��o negra no Brasil, em grande maioria, tem origem no trabalho subalterno, no trabalho semi-escravizado. "� uma hist�ria dos meus e das minhas. Muitas gente se veem nessa hist�ria, porque ela fala o perencimento coletivo, e fala muito da l�gica do Brasil, o trabalho no lar, das trabalhadoras do lar, muito naturalizado e normalizado. E fala at� para a elite, que se serviu daquele trabalho", afirma.
 

"O Brasil mal consegue se sustentar nas pernas para falar de aboli��o da escravatura"

Eliana Alves Cruz, escritora



A inten��o remexer pouco do passado, mas que � t�o presente. A hist�ria � contada por Mabel, filha de Dona Eunice. Ela fala desse lugar da filha da empregada, mas numa perspectiva nova. Quem conta a hist�ria � a pr�pria Mabel que n�o se prende ao lugar de subalternidade, mas que coloca em quadro a situa��o de desigualdade das patroas e das empregadas.

"As mulheres negras tanto na fic��o, nos livros ou no audiovisual, na maioria, ocupam esse lugar da empregada dom�stica, do trabalho bra�al".
 
A escritora n�o acredita que, na literatura, n�o se deva falar do servi�o dom�sticom, como um desses pap�is exercidos pelas mulheres negras na vida real, a quest�o � a maneira como ela ser� representada. "Uma coisa � falar dessa personagem sem que ela tenha um nome, um passado, um presente e um futuro. A personagem totalmente perif�rica na hist�ria. Outra coisa � coloc�-la no centro da cena com toda a complexidade e todas as quest�es que carrega e, principalmente, imaginando um outro futuro poss�vel".

Uma quest�o de escolha

A hist�ria apresenta a import�ncia de que pessoas negras tenham o direito de escolher o que querem ser na vida. Mabel � estudante de medicina, mas n�o se trata de uma ode a forma��o acad�mica."O caminho universit�rio n�o � o �nico poss�vel. Existem outras sa�das para as pessoas negras. A quest�o n�o � cursar uma universidade ou n�o. A quest�o � voc� ter op��o. O livro fala da liberta��o e do poder e escolha". No brasil, quase 6 milh�es de empregadas dom�sticas e cerca de 80% delas s�o negras.
 
"N�o � porque minha m�e foi empregada dom�stica, minha av� foi empregada dom�stica, minha bisav� foi escravizada que eu tenho que seguir por essa mesma linhagem. Posso enveredar pelo caminho que quiser, inclusive de estar sozinha, pensar ser uma pessoa solit�ria numa perspectiva positiva.
 
Durante a pandemia, not�cias de situa��es an�logas a escravid�o, de c�rcere privado, a hist�ria de Miguel Ot�vio, menino que caiu do pr�dio, porque foi abandonado no elevador por Sar� Corte Real. " a primeira v�tima de COVID-19 no Rio foi uma empregada dom�stica", recorda-se.

O quartinho

O t�tulo do livro, "Solit�ria", cabe m�ltiplas interpreta��es. "O t�tulo te leva para v�rios lugares. O lugar de solid�o mesmo, solit�ria, te leva para a ideia do c�rcere, te leva para muitos lugares. Te leva para solid�o afetiva, para a solid�o social ou seja de voc� ser a �nica naquele espa�o. A Mabel est� solit�ria no ambiente universit�rio. Ela � a �nica mulher negra e perif�rica no curso de medicina. A Eunice est� solit�ria quando ela tem um marido perdido que, no princ�pio, a agredi e depois se perde completamente dele mesmo. S�o v�rias solid�es ali".
 
Ainda h� um trocadilho com a solit�ria, que � o lugar mais cruel de um c�rcere. "O prisioneiro � retirado daquele comunidade e colocado num local escuro e sozinho e apertado. � um paralelo com esses lugares de exclus�o nos apartamentos e nas casas"
 
Solit�ria
Eliana Alves Cruz
Cia. das Letras
168 p�ginas

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