
Na manh� da �ltima ter�a-feira (14/3), as pedagogas Marcela Cristina Alexandre e Danielle Fernandes da Silva denunciaram pr�ticas racistas de funcion�rios da Leroy Merlin em uma unidade de Belo Horizonte (MG) e a empresa ignora o fato de ter havido discrimina��o por ra�a em todos os seus pronunciamentos. As duas mulheres, que s�o negras, foram perseguidas ap�s um erro no sistema da loja, que n�o registrou o pagamento que uma delas havia feito via pix.
O advogado de defesa das v�timas, Greg�rio Andrade, afirma que representantes da loja entraram em contato com suas clientes e disseram que telefonariam para marcar uma reuni�o, mas que, at� ontem (15/3), n�o haviam tido retorno. Em todas as conversas que tiveram, ele afirma que a empresa desconversou e minimizou o fato de que houve racismo na a��o dos funcion�rios. A informa��o � da CNN.
Em nota, a Leroy Merlin afirmou que, na ter�a-feira, entrou em contato com uma das v�timas “para ressaltar as pr�ticas de estorno da companhia” e que “combinou uma nova liga��o para refor�ar as informa��es e prestar demais esclarecimentos, contudo n�o obteve sucesso nas tentativas” e que seguiria tentando falar com ela ainda nesta quinta-feira.
A reportagem do Estado de Minas esteve presente durante uma liga��o recebida por Marcela, e n�o houve coment�rio sobre racismo no caso em quest�o, apesar de questionado. A empresa insiste em refor�ar que o pagamento foi estornado e que os produtos poderiam ficar com a compradora, mas ignora o descaso e o ass�dio que a v�tima passou nas depend�ncias da loja. Quando a rep�rter do EM se manifestou, a liga��o foi encerrada.
A empresa alega que n�o desligou o telefone, que n�o chegou a escutar a fala da rep�rter e que tentou contato novamente, mas n�o conseguiu falar com Marcela.
O caso
Uma jovem de 34 anos denunciou ter sido v�tima de racismo em uma unidade da Leroy Merlin no bairro Dom Joaquim, em Belo Horizonte (MG), na tarde desta segunda-feira (13/3). Na ocasi�o, ela decidiu pagar sua compra via Pix, mas uma inconsist�ncia sist�mica n�o reconheceu o pagamento, o que a levou a ser perseguida pelos funcion�rios do estabelecimento.
De acordo com a v�tima, que registrou um boletim de ocorr�ncia na manh� desta ter�a-feira (14/3), ela foi at� a loja por volta das 17h30 para comprar alguns insumos para decorar seu quarto, mas por conta do problema no pagamento, precisou ser direcionada ao balc�o de atendimento da loja, onde esperou por mais de meia hora na companhia de uma amiga e foi tratada com descaso pela funcion�ria respons�vel.
“Pedi para chamar o gerente, porque queria resolver logo a situa��o, mas s� recebi descaso da funcion�ria que estava nos atendendo. Ela ignorou que est�vamos l�, n�o prestou atendimento algum, n�o perguntou meu nome. Ela n�o teve interesse em nos atender, de pegar meu celular, de tirar c�pia dos meus documentos, e quando finalmente perguntei se poderia ir embora, at� porque j� tinha pago pela minha compra, ela continuou me ignorando, ent�o s� pegamos a sacola e sa�mos”, explicou a jovem.
Assim que desceram as escadas em dire��o ao estacionamento da loja, um seguran�a chamou por elas, que esperaram que ele chegasse onde estavam, explicaram a situa��o, e ainda assim, foram coagidas.
“Uma das funcion�rias tentou pegar a sacola com a minha compra da m�o da minha amiga. Ela [funcion�ria] e o seguran�a ficaram atr�s da gente enquanto �amos para o carro amea�ando a gente de chamar a pol�cia, filmando o meu carro, a mim e a minha amiga”, contou ela.
A v�tima pediu, mais uma vez, que chamassem o gerente, o que n�o foi feito. Incomodada e constrangida, apenas entrou em seu carro e foi embora, pois tinha uma reuni�o de trabalho, mas retornou � loja poucas horas depois para tentar resolver a situa��o.
Quando o gerente apareceu, pediu desculpas e afirmou que o problema era culpa do sistema nacional do pix, o que � negado pela jovem. “Se fosse realmente isso, o dinheiro n�o teria sa�do da minha conta, ou eu j� teria tido um estorno, o que n�o aconteceu. O problema era do sistema deles”, diz.
De acordo com a jovem, na noite de ontem, ela chegou a receber um reembolso – e n�o um estorno – do valor da compra, mas que sua indigna��o pela situa��o n�o era pelo dinheiro, e sim pela falta de dignidade com que foram tratadas. De acordo com a defesa de Marcela e Danielle, o caso se trata de racismo estrutural e institucionalizado, e Marcela devolver� os produtos que comprou.
“Que ela [empresa] fa�a a��es que visem o combate ao racismo, n�o mandando os seguran�as embora. A gente n�o quer isso. A gente n�o quer mais um preto desempregado. A luta � para al�m. A luta � para que um pai de fam�lia possa sair para comprar as coisas e n�o ser molestado. H� necessidade de uma pol�tica interna de reestrutura��o para o combate ao racismo. A pergunta que se faz � a seguinte: ‘eu, branco, de terno, teria esse tipo de tratamento?’”, disse Greg�rio Andrade.
Marcela tamb�m questiona: “Por que a abordagem de uma pessoa preta tem que ser dessa forma? Por que temos que ser tratados dessa maneira? Por que um erro de sistema de loja se tornou uma situa��o em que humilhar, constranger e amea�ar era a solu��o? Por que n�o nos tratam bem? Eu n�o queria me expor, estou fazendo isso para que outras pessoas n�o precisem passar por isso”.
A v�tima entrou com um processo contra a empresa, que foi notificada na tarde desta quinta-feira (16/3).
A Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG) disse que a v�tima registrou um boletim de ocorr�ncia e que o fato segue sob an�lise da Delegacia Especializada de Investiga��o de Crimes de Racismo, Xenofobia e Intoler�ncias Correlatas.
Ato no s�bado
Marcela e Danielle est�o organizando um ato em frente � unidade da Leroy Merlin em que o caso ocorreu. A previs�o � de que a manifesta��o ocorra �s 10h de s�bado (18/3). Dentre as reivindica��es, est�o:
- Educa��o antirracista na empresa com mudan�a no modo de agir em rela��o ao tema;
- Garantia de emprego dos seguran�as que agiram segundo o modo de operar da empresa e reeduca��o para os funcion�rios;
- Nota P�blica da empresa assumindo nova postura sobre o racismo;
- Fim do racismo institucional;
- Repara��o para Marcela e Dani que sofreram a viol�ncia na unidade da Leroy Merlin do Minas Shopping.
O que diz a Leroy Merlin
Em nota, a Leroy Merlin afirma que j� entrou em contato com Marcela para dar continuidade ao atendimento e que o problema com o sistema de pix aconteceu em v�rias unidades da empresa. Leia na �ntegra:
“A LEROY MERLIN informa que realizou novo contato com a cliente na data de hoje (16) para dar continuidade ao atendimento referente ao erro com o processo de pagamento e sua experi�ncia na loja de BH. Contudo, a liga��o foi finalizada pela cliente, conforme registro efetuado pelo sistema, por isso a empresa n�o teve sucesso em concluir a conversa, deixando uma mensagem em caixa postal. A empresa esclarece ainda que, diante da judicializa��o do caso por iniciativa da consumidora, dar� continuidade ao tema pelas vias legais.”
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