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Estado de Minas LITERATURA

'G�nero Queer', livro mais banido dos EUA, chega ao Brasil

Com linguagem franca e refer�ncias pop, o livro acompanha uma inf�ncia e adolesc�ncia marcada por sensa��es de deslocamento e autorrejei��o


02/06/2023 10:50 - atualizado 02/06/2023 11:03
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Pessoa andando pela rua segurando uma bandeira LGBT quase do seu tamanho
"Genero Queer" � uma autobiografia confessional, enfurnada em ang�stia e d�vidas, sobre o processo que fez Kobabe se entender como uma pessoa n�o bin�ria (foto: Alexander Grey/Pexels)
"Ser� que eu me apresento pra essa galera usando meus pronomes?", se pergunta Maia Kobabe antes de come�ar a dar um curso para adolescentes. "Queria n�o temer que a minha identidade soasse politizada demais em sala de aula."


Bem, as reverbera��es de sua identidade extrapolaram muito aquelas paredes. "G�nero Queer", o quadrinho que cont�m essa cena curta, foi o campe�o entre os livros mais banidos de bibliotecas americanas em 2021, e as contesta��es � obra n�o arrefeceram.


A hist�ria � uma autobiografia confessional, enfurnada em ang�stia e d�vidas, sobre o processo que fez Kobabe se entender como uma pessoa n�o bin�ria, ou seja, que n�o se identifica nem com o g�nero masculino nem com o feminino.


Agora leitores brasileiros de todo g�nero ter�o chance de ver com seus pr�prios olhos o que pode haver de t�o escandaloso no livro, com a edi��o que a Tinta-da-China acaba de tirar do forno.


De tracejado atraente, linguagem franca e refer�ncias pop, o livro acompanha os p�riplos de uma inf�ncia e adolesc�ncia marcada pelas sensa��es de deslocamento e autorrejei��o --e o constante receio de incomodar demais os outros com a busca pela pr�pria identidade.

 

 

 

Por essas caracter�sticas, � uma obra que transita bem entre jovens, causando furor entre pais que demandaram que ela fosse retirada de bibliotecas p�blicas e escolares. Mas Kobabe afirma que o p�blico-alvo que tinha em mente ao escrever n�o era exatamente esse.


"Escrevi esse livro, acima de tudo, para os meus pais", afirma em entrevista � Folha. "Nos meus 20 anos, eu estava em conflito para sair do arm�rio como uma pessoa n�o bin�ria e explicar o que g�nero significava para mim. Decidi escrever esse livro para tentar me comunicar com a minha fam�lia, para que me entendessem num n�vel mais profundo."


Tamb�m desejava que o livro fosse �til para que outras pessoas trans e n�o bin�rias come�assem a conversar sobre sua identidade com seus entes queridos, aponta Kobabe, que julga a obra apropriada para todo leitor acima do ensino m�dio.


Teor sexual


Um dos argumentos comuns entre os americanos que se revoltaram contra o livro � que ele cont�m trechos de forte teor sexual, o que � verdade. "Se o livro fosse feito sem o vibrador de cinta, ele n�o seria contestado", apontou uma m�e residente na Fl�rida, Jennifer Pippin, a uma reportagem do Washington Post.

 

 

 

 

A cena a que ela se refere mostra Kobabe, com um p�nis de borracha acoplado ao corpo, recebendo sexo oral de sua ent�o namorada, testando que tipo de experi�ncia sexual poderia ser apraz�vel depois de anos de avers�o ao envolvimento �ntimo.


N�o h� nudez nesta cena, mas sim em outras partes do livro que trazem fantasias com homens de genitais � mostra e uma cena excruciante envolvendo o primeiro exame papanicolau de Kobabe.


Explora��o existencial


Erotismo, contudo, passa longe de tomar o primeiro plano de "G�nero Queer". � uma explora��o, antes de tudo, existencial.


"No ensino m�dio comecei a criar uma teoria de que tinha nascido com duas meias almas --uma feminina e uma masculina", narra. "Eu inventei e at� dei um nome a um g�meo perdido. Ele achava que deveria ser menina. Eu queria poder encontr�-lo, n�s ir�amos finalmente nos sentir como duas pessoas completas."


Algo resumido com uma sucinta anota��o em seu di�rio, feita aos 15 anos. "N�o quero ser menina. Tamb�m n�o quero ser menino. Tudo o que eu quero � ser eu."


A palavra que Kobabe encontra para definir o processo criativo do livro � "cat�rtico". "Eu sinto que me entendo hoje muito melhor como pessoa. Estou mais em paz agora, mais confort�vel em me mover pelo mundo."


S�o palavras �ntimas para definir uma obra com trepida��es de alcance internacional. A graphic novel se tornou s�mbolo da crise de banimento de livros nos Estados Unidos, um movimento que atingiu seu �pice em d�cadas, chegando a exigir que 2.571 t�tulos fossem retirados de bibliotecas no ano passado, segundo levantamento de uma institui��o de defesa da liberdade de express�o.


Essas pesquisas tamb�m mostram que o cerceamento se volta principalmente a obras de tem�tica racial, como "O Olho Mais Azul", de Toni Morrison, e LGBTQIA+, como "Este Livro � Gay", de Juno Dawson.


"Tenho consci�ncia de que esses ataques n�o refletem meu car�ter ou a qualidade do meu trabalho", afirma Kobabe. "S�o parte de um esfor�o organizado e sistem�tico de apagar vozes queer e trans da esfera p�blica, para limitar a capacidade dos jovens de acessar informa��es sobre suas pr�prias identidades."


Ou seja, Kobabe tenta n�o levar para o pessoal. At� porque tem certeza absoluta de que ampliou seu leitorado por causa desses vetos. "Recebi muitos emails de pessoas que dizem que ouviram falar do meu livro por causa de uma contesta��o, que se sentiram inspiradas a sair de casa e comprar."


N�o � raro mesmo que essas tentativas de censura produzam efeito reverso. Para usar um caso brasileiro recente, a retirada de um livro de Mar�al Aquino da lista do vestibular de uma universidade privada goiana fez com que o romance, "Eu Receberia as Piores Not�cias dos Seus Lindos L�bios", ficasse entre os mais vendidos da Amazon naquela semana.

 

 

Livros banidos

 

Nos Estados Unidos, bibliotec�rios e professores se organizaram contra o cerco, distribuindo em locais p�blicos os livros que foram banidos de sua regi�o. � o que lembra o editor de Kobabe no Brasil, Paulo Werneck, que foi atr�s da publica��o de "G�nero Queer" justamente por causa das contesta��es.


"Nos Estados Unidos, garantir acesso aos livros virou uma causa nacional", afirma. "E a censura � liberdade de express�o sempre foi uma preocupa��o permanente do nosso projeto."


A tarefa primordial dos bibliotec�rios, continua o editor, � p�r � disposi��o livros a que, normalmente, os jovens n�o teriam acesso. E isso pode conectar pessoas que, normalmente, n�o se aproximariam, conforme lembra Kobabe.


"Por muito tempo, senti muita solid�o em minha confus�o de g�nero", afirma. "Publicar 'G�nero Queer' me fez perceber que sou parte de uma comunidade ampla, vibrante, maravilhosa. Apesar de todo o drama da m�dia, meu arrependimento em publicar esse livro � zero. � uma das coisas mais positivas que j� fiz na vida."

 

G�NERO QUEER

Maia Kobabe
Pre�o R$ 99 (240 p�gs.)

Editora Tinta-da-China Brasil

Tradu��o: Clara Rellstab

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