Ovo de 'galinha feliz'? Conhe�a os diferentes tipos de ovos

Ao entrar na se��o de ovos de um supermercado, o consumidor pode se confundir com as op��es dispon�veis nas prateleiras. Tem ovos comuns, caipiras, org�nicos e, recentemente, os cage free (livre de gaiolas, em tradu��o literal), vendidos como "ovos de galinhas felizes".

Ao contr�rio do que muitos pensam, a diferen�a n�o est� na cor da casca, no sabor e nem nas qualidades nutricionais. N�o, nem todo ovo vermelho � caipira e, n�o, o ovo org�nico n�o � mais nutritivo do que o ovo comum. O que os diferencia, em resumo, � a alimenta��o e o modo de cria��o das aves.

Enquanto as galinhas de ovos comuns s�o criadas em gaiolas bem apertadas, o que gera estresse e conflitos entre as aves, as galinhas de ovos org�nicos, caipiras e cage free t�m espa�o para ciscar, empoleirar e expressar seus comportamentos naturais.

H� uma tend�ncia global de maior preocupa��o com o bem-estar das poedeiras, que s�o as galinhas criadas para produ��o de ovos, explica Patrycia Sato, m�dica veterin�ria e presidente da Alianima, organiza��o de prote��o animal e ambiental. “S�o v�rios recursos necess�rios para se ter um n�vel alto de bem-estar, mas, banir gaiola, com certeza, � indispens�vel”.

A Uni�o Europeia foi pioneira nessa linha e busca acabar com a cria��o de aves em gaiolas at� 2027. Em alguns estados americanos, cria��es que n�o sejam cage free s�o proibidas. No Brasil, ainda n�o h� legisla��es sobre o tema.

A produ��o de ovos comuns trabalha em escala industrial. As galinhas s�o confinadas em gaiolas e quase n�o conseguem se movimentar. Algumas granjas mutilam os bicos das aves, pois, com o estresse elevado, elas podem chegar a "canibalizar" umas �s outras.

Em contraponto a este modelo, as poedeiras de ovos caipiras e org�nicos s�o criadas soltas, ao ar livre, em contato com a luz solar e espa�o para empoleirar. � noite s�o recolhidas para dentro de galp�es. Este sistema � menos nocivo para as aves, mas o custo de produ��o � maior.

 

O cage free, aposta das granjas no momento, � o meio termo desses sistemas. As aves s�o criadas em grandes galp�es, mas com poleiros, ninhos e espa�o para ciscar, bater asas e interagir entre si. Por estarem confinadas, � poss�vel automatizar alguns processos, como de bebedouro, comedouro e coleta de ovos.

Granja reduz n�mero de galinhas confinadas

Algumas granjas assumiram compromissos para diminuir as suas popula��es de galinhas confinadas. � o caso da Mantiqueira Brasil, l�der em avicultura na Am�rica do Sul, que pretende ter um ter�o da sua produ��o livre de gaiolas at� 2025.

“Quando a gente fala do cage free, estamos falando de transformar toda a ind�stria atual de ovos comuns e ser 100% do mercado no futuro”, explica Murilo Pinto, diretor comercial.

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A menor produtividade por �rea, em compara��o ao modelo convencional, � o principal encarecedor dos ovos livres de gaiola, aponta Murilo. Ele exemplifica que num espa�o que caberia 100 mil aves, “num sistema cage free arcaico voc� coloca 10 mil”.

“Com o bem-estar, a produ��o [de ovos] por ave � maior. Ent�o, compensa um pouco, mas quando voc� soma outras vari�veis, como equipamentos, redu��o de densidade, mesmo que a galinha te entregue um pouco mais, ainda � mais custoso”, explica.

Consumidores conscientes

O Brasil produziu 48 bilh�es de ovos em 2022, segundo dados do IBGE. Quase a totalidade da produ��o no pa�s, cerca de 99%, � consumida pelo mercado interno. E haja ovo para colocar no prato do brasileiro. Em 2021, o consumo per capita no pa�s foi de 257 unidades no ano.

Estimativas do setor apontam que entre 90% e 95% dos ovos produzidos aqui s�o criados em gaiolas. Al�m das diferen�as no modo de cria��o, a alimenta��o e o uso de rem�dios influenciam no tipo de ovo.

A dieta das galinhas de ovos comuns ou de ovos cage free pode ter alimentos transg�nicos ou que receberam agrot�xicos. As aves tamb�m podem receber antibi�ticos para preven��o de doen�as e medicamentos promotores de crescimento.

A alimenta��o das galinhas caipiras pode conter produtos artificiais, mas deve ser, em sua maior parte, composta por vegetais. Por ter menos aditivos qu�micos, a gema fica com a cor mais intensa - algumas granjas adicionam corante na ra��o das galinhas para criar um ovo falso caipira.

H� consumidores que evitam consumir ovos comuns por conta dos horm�nios e rem�dios usados nas galinhas de granjas. � o caso do Edson Rodrigues, que vai uma ou duas vezes ao m�s ao Mercado Central para comprar ovos caipiras. “As coisas hoje est�o t�o contaminadas, n�? E eu acho que tenho que me preocupar um pouco com a sa�de”.

"A qualidade n�o vai s� no paladar"

Para satisfazer o p�blico que preza pela proced�ncia, o empres�rio Daniel Peron fundou a ovOvo, clube de assinaturas de ovos caipiras que realiza entregas em Belo Horizonte, Nova Lima e Lagoa Santa.

“Pessoas mais velhas, que t�m origem no interior, buscam os ovos caipiras por causa da qualidade e sabor. A qualidade n�o vai s� no paladar, vai na cor da gema, na consist�ncia da clara. E tem uma grande parte do p�blico, especialmente os mais jovens, que est� preocupada com o bem-estar animal”, explica Daniel.

A dieta das galinhas de ovos org�nicos, por sua vez, � mais restrita, e deve ser feita apenas com alimentos certificadamente org�nicos. A m�dica veterin�ria Daniela Duarte de Oliveira, conselheira do Instituto Ovos Brasil (IOB), explica que o uso de medicamentos tamb�m � mais limitado. Quando uma ave adoece e � tratada com antibi�ticos, � preciso esperar mais de 70 dias para que os ovos “voltem a ser org�nicos de novo”.

“Para poder colocar o selo de org�nico na caixinha do ovo h� todo um processo de auditoria e exig�ncias. A alimenta��o, como o milho e a soja, t�m que ter certifica��o org�nica”.

Influenza avi�ria preocupa

Diversos pa�ses ao redor do mundo, como Estados Unidos, Portugal e Reino Unido, enfrentam escassez de ovos. A principal causa deste fen�meno � a influenza avi�ria, v�rus que tem se espalhado em pa�ses do hemisf�rio norte. Quando a ave de uma cria��o � acometida pela doen�a, ela e outras “companheiras” do mesmo lote s�o eliminadas para garantir a biosseguran�a do restante da granja.

No final de mar�o, o Minist�rio da Agricultura e Pecu�ria (Mapa) publicou uma portaria com medidas para evitar que a doen�a chegue ao pa�s. Entre elas, est� suspensa, por 90 dias, a cria��o de galinhas em piquetes sem telas na parte superior.

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A m�dica veterin�ria Daniela Duarte de Oliveira explica que o movimento migrat�rio de aves de outros pa�ses pode, eventualmente, introduzir a doen�a no Brasil - por isso a preocupa��o com galinhas criadas ao ar livre. “Uma vez que elas est�o dentro do galp�o, elas est�o, teoricamente, protegidas de um contato direto com alguma ave silvestre”.

Al�m desta determina��o, produtores t�m tomado medidas pr�prias para garantir a biosseguridade dos galinheiros. Daniel Peron explica que seus fornecedores passaram a proibir visitas de pessoas de fora das granjas.“Ningu�m entra nos galinheiros, a n�o ser as pessoas essenciais, do manejo do dia-a-dia. E as galinhas est�o ficando menos tempo soltas no pasto, para diminuir esses riscos”.

Outros tipos de ovos

O tipo de cria��o das aves n�o influencia nas caracter�sticas nutricionais ou no sabor do ovo, explica Daniela Duarte de Oliveira. “N�o quer dizer que um � melhor que o outro. Isso � mito. Pra falar bem a verdade, o ovo � igual”.

Os �nicos ovos que t�m propriedades diferentes s�o os ovos enriquecidos, gerados por aves que recebem em sua ra��o um aditivo de vitamina E, sel�nio e �mega 3. Estes nutrientes, ap�s ingeridos, s�o transmitidos para os ovos.

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Al�m destes, as linhas especiais incluem os jumbos, que s�o maiores - o tamanho dos ovos variam conforme a fase de vida da galinha, e os ovos vermelhos e azuis - a cor varia conforme a ra�a da galinha.

Quanto custa?

Os ovos comuns s�o mais baratos, comparados aos outros tipos. Em um supermercado de Belo Horizonte, encontramos a caixa com 12 unidades por R$ 11,99 (R$ 1 a unidade). O ovo org�nico � o mais caro, com a caixa de 10 unidades vendida a R$ 21,99 (R$ 2,20 a unidade).