
As lojas reabriram as portas na capital do Afeganist�o, o tr�fego retornou, e as pessoas voltaram �s ruas, enquanto os talib�s monitoram tudo em postos de vigil�ncia.
Um oficial do Talib� deu uma entrevista a um jornalista para uma rede de not�cias e uma escola para meninas funcionou em Herat, no oeste.
Alguns sinais mostram que a vida n�o ser� igual. Os homens trocaram suas roupas ocidentais pelo shalwar kameez - a vestimenta tradicional afeg� -, e a televis�o estatal exibe agora, principalmente, programas isl�micos.
As escolas e universidades da capital ainda est�o fechadas e poucas mulheres se arriscaram a sair de casa.
Algumas se reuniram brevemente na entrada da "zona verde" para pedir o direito de voltar ao trabalho. Os talib�s tentaram em v�o dispers�-las, antes de civis as convencerem a partir.
Abdul Ghani Baradar, cofundador e n�mero dois do talib�, voltou ao Afeganist�o vindo do Catar, onde chefiou o gabinete pol�tico do movimento, disse um de seus porta-vozes.
Os insurgentes anunciaram uma "anistia geral" para todos os funcion�rios p�blicos, que receberam o pedido para "retomar sua vida cotidiana com total confian�a".
Os talib�s intensificaram os gestos de apaziguamento para a popula��o desde que entraram em Cabul no domingo (15/8), ap�s uma ofensiva rel�mpago. Em apenas dez dias, eles assumiram o controle de quase todo pa�s, incluindo o pal�cio presidencial, abandonado por Ashraf Ghani, que fugiu para o exterior.
Para muitos afeg�os, no entanto, ser� dif�cil ter confian�a. Quando governaram o Afeganist�o, entre 1996 e 2001, os talib�s adotaram uma vers�o extremamente rigorosa da lei isl�mica. As mulheres n�o podiam trabalhar, nem estudar. Os acusados de roubo e de assassinato enfrentavam puni��es terr�veis.
"As pessoas t�m medo do desconhecido. Os talib�s patrulham a cidade em pequenos comboios. N�o incomodam ningu�m, mas com certeza as pessoas est�o com medo", disse � AFP um comerciante em Cabul.
Apesar das mensagens dos talib�s, algumas informa��es sugerem que eles continuam procurando autoridades governamentais. Uma testemunha relatou que homens invadiram a casa de um funcion�rio, que foi levado � for�a.
Diante da "r�pida deteriora��o da situa��o de seguran�a e direitos humanos" e "da situa��o de emerg�ncia humanit�ria", o Alto Comissariado das Na��es Unidas para os Refugiados (Acnur) pediu a proibi��o do repatriamento de afeg�os.
Voos de retirada
Em um discurso muito aguardado, Joe Biden defendeu a retirada das tropas americanas do Afeganist�o, onde os militares entraram h� 20 anos para expulsar os talib�s do poder.
"Estou profundamente entristecido com os acontecimentos, mas n�o me arrependo da decis�o" afirmou.
O governo dos Estados Unidos decidiu intervir no Afeganist�o em 2001, ap�s a recusa dos talib�s de entregarem o l�der da Al-Qaeda, Osama bin Laden, depois dos atentados do 11 de Setembro.
O triunfo dos talib�s provocou cenas de p�nico e de caos no aeroporto de Cabul na segunda-feira (16/8), para onde milhares de pessoas correram desesperadas, em uma tentativa de fugir do pa�s. Imagens que o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, chamou nesta ter�a de "vergonha para o Ocidente".
V�deos nas redes sociais mostram centenas de pessoas correndo ao lado de um avi�o militar americano a ponto de decolar, enquanto alguns agarravam a lateral, ou as rodas da aeronave.
Uma fotografia capturou cerca de 640 afeg�os amontoados em um avi�o C-17 da For�a A�rea dos Estados Unidos. Alguns entraram na aeronave com a rampa entreaberta.
O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 soldados para garantir a seguran�a do aeroporto e a retirada de quase 30.000 americanos e colaboradores civis afeg�os.
Espanha, Alemanha, Fran�a, Holanda, Reino Unido e outros pa�ses tentavam acelerar nesta ter�a-feira a repatria��o de seus cidad�os.
Imagem abalada
A rea��o da comunidade internacional ainda deve ser observada. Washington anunciou que apenas reconhecer� um governo talib� no Afeganist�o se este respeitar os direitos das mulheres e adotar um distanciamento de movimentos extremistas como a Al-Qaeda.
A China, que declarou que deseja manter "rela��es amistosas" com os talib�s, criticou o "terr�vel caos" deixado pelos Estados Unidos no Iraque, S�ria e Afeganist�o.
A R�ssia, cujo embaixador deveria ser o primeiro contato diplom�tico do novo regime, considerou que as garantias dos talib�s em termos de liberdade de opini�o s�o um "sinal positivo" e desejou o in�cio de um di�logo de "todas as for�as pol�ticas, �tnicas e religiosas".
O ministro brit�nico da Defesa, Ben Wallace, citou o "fracasso da comunidade internacional", enquanto a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que a interven��o no Afeganist�o "n�o foi t�o frut�fera" como se esperava.
O presidente franc�s, Emmanuel Macron, afirmou que o Afeganist�o "n�o deve voltar a ser o santu�rio do terrorismo que j� foi" e pediu uma "resposta (internacional) respons�vel e unida".
Para muitos analistas, por�m, embora os talib�s tentem apresentar mais prud�ncia em suas rela��es com a Al-Qaeda, os dois grupos continuam estreitamente vinculados.
"O que est� acontecendo no Afeganist�o � uma vit�ria clara e veemente para a Al-Qaeda", avalia o diretor de pesquisas do "think tank" Soufan Center, Colin Clarke, para quem o grupo pode aproveitar para atrair recrutas e criar uma nova din�mica.