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Estado de Minas QUE SE DANE HIP�CRATES

Deputado m�dico receita 'tratamento precoce' em troca de curtida no YouTube

Albert Dickson, deputado estadual pelo Pros no Rio Grande do Norte, diz ser "acima de tudo m�dico" e defende a "autonomia m�dica".


10/05/2021 07:29 - atualizado 10/05/2021 08:01


Albert Dickson, deputado estadual pelo Pros no RN, recomenda medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada para o tratamento da covid-19(foto: Assembleia Legislativa do RN/Divulgação)
Albert Dickson, deputado estadual pelo Pros no RN, recomenda medicamentos sem efic�cia cientificamente comprovada para o tratamento da covid-19 (foto: Assembleia Legislativa do RN/Divulga��o)

"Algu�m conhece m�dico que passa tratamento precoce?", pergunta um rapaz no Telegram. Em poucos segundos, recebe uma lista de m�dicos espalhados pelo Brasil e seus contatos. Entre eles, Albert Dickson. Abaixo, uma observa��o: "Para consultar com esse m�dico precisa se inscrever no seu canal do YouTube, printar a p�gina, enviar o print da inscri��o pelo WhatsApp, o nome completo do paciente, cidade/estado e sintomas".

Diversos m�dicos no Brasil defendem e prescrevem medicamentos comprovadamente ineficazes ou sem efic�cia comprovada para "prevenir" ou "tratar" a covid-19, pr�tica que dizem ser um suposto "tratamento precoce" (leia mais sobre esses medicamentos no fim da reportagem). H� op��es de consultas pagas, atendimento gratuito e, neste caso, concedidas ap�s pedido de um "like" no YouTube.

Basta enviar uma mensagem para Dickson, m�dico oftalmologista e deputado estadual no Rio Grande do Norte pelo Pros, para confirmar o aviso. Questionado sobre uma consulta para a covid-19 por meio do n�mero de celular que ele mesmo divulga em seus v�deos, Dickson responde (*):

"Ol� querido amigo e paciente. Antes de tudo gostaria que seguisse passo a passo:

1. cadastre esse meu n�mero nos seus contatos (Dr Albert Dickson)

2. depois entre no nosso canal do YouTube e se inscrevesse l�. Observe o link abaixo e click.

3. Em seguida, PRINT a foto da inscri��o e nos envie a pelo whats App.

4. Depois disso aguarde para contato. Grato."

(*) o texto acima corresponde � reprodu��o exata da mensagem recebida ao fazermos contato, ou seja, foi mantida a grafia e gram�tica ali utilizadas.

O pr�prio deputado n�o esconde a orienta��o em seus v�deos: "Como que voc�s v�o ter direito � consulta? Voc�s v�o se inscrever no nosso canal, ganhando uma etapa no atendimento. Voc�s v�o printar e mandar para o meu WhatsApp. Quando voc� mandar, voc� j� vai come�ar a ter o acesso � consulta comigo", disse em um v�deo publicado no Facebook no dia 7 de mar�o. "O segredo � mandar o print."

"N�s temos uma sequ�ncia no atendimento. Voc� precisa ir l� no canal do nosso YouTube, se inscrever l�, printar e mandar mensagem para mim. Essa � a chave, vamos dizer assim, para entrar no nosso atendimento", disse em um v�deo publicado no Instagram no dia 15 de mar�o.

Procurado por e-mail pela BBC News Brasil, o deputado respondeu que "sugere" a inscri��o em seu perfil de Instagram e canal do YouTube porque neles publica "pesquisas atualizadas" e "explica a doen�a de forma detalhada e nossa experi�ncia com a mesma, al�m de tirar d�vidas ao vivo".

Al�m disso, diz ele, n�o � obrigat�rio se inscrever no canal para ser atendido. "Apenas sugerimos, o que muitos n�o fazem, e continuamos a atender e responder. A consulta virtual n�o se paga absolutamente nada, nunca cobrei (e que mesmo se fosse n�o � proibido no Brasil)", afirmou.

Dickson disse ser tamb�m "acima de tudo m�dico, e o tratado internacional e o Conselho Federal de Medicina na resolu��o 04/20 nos d� o direito m�dico de medicar contra o covid e nele prevalece a autonomia m�dica".

Por e-mail, Dickson tamb�m reafirmou ser "defensor do tratamento precoce desde o in�cio da pandemia" e disse que continuar� nesta defesa, afirmando haver "v�rias pesquisas j� preconizadas e publicadas". "Outro ponto chama-se observa��o cl�nica que tem sido resolutivo nessa pandemia para muitos m�dicos."

Expondo as recomenda��es do chamado "tratamento precoce" com v�deos semanais desde mar�o do ano passado e sugerindo inscri��es em troca de atendimentos, Dickson multiplicou o n�mero de inscritos em seu canal do YouTube. Quando o canal atingiu 100 mil inscritos, recebeu uma placa comemorativa da empresa. Agora, Dickson tem 201 mil seguidores na rede.

Questionado sobre o conte�do relacionado a tratamento precoce presente no canal, o YouTube informou que, de acordo com uma nova regra da plataforma, removeu 12 v�deos do canal por conte�do que disseminava informa��es m�dicas incorretas, como afirmar que h� uma cura garantida para a covid-19 ou recomendar o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina. O canal segue no ar, entretanto, porque os v�deos removidos haviam sido publicados em um per�odo anterior a essa nova regra, de 12 de abril.

Passado um m�s da regra, ou seja, a partir do dia 12 de maio, termina um per�odo de "car�ncia", quando o YouTube passar� a penalizar usu�rios que a infrinjam, e n�o apenas retirar seus v�deos do ar. Tr�s viola��es da regra far�o com que o canal seja encerrado.

Foi uma a��o semelhante � das semanas passadas, quando a plataforma removeu, pela primeira vez, cinco v�deos do presidente Jair Bolsonaro com desinforma��o m�dica.


Dickson já afirmou atender '500 pessoas por dia' e um total, até julho, de '31 mil pessoas do mundo inteiro'(foto: YouTube/Reprodução)
Dickson j� afirmou atender '500 pessoas por dia' e um total, at� julho, de '31 mil pessoas do mundo inteiro' (foto: YouTube/Reprodu��o)

As recomenda��es de Dickson tamb�m s�o vistas por seus 139 mil seguidores em dois perfis no Instagram. No Facebook, quase 50 mil pessoas o seguem, e h� v�deos com mais de 200 mil visualiza��es.

Questionado pela BBC News Brasil, um porta-voz do Facebook, empresa dona do Instagram, disse que "remove alega��es comprovadamente falsas sobre a doen�a", sem responder por que n�o removeu publica��es semelhantes feitas pelo deputado, como a de que a ivermectina teria a��o profil�tica contra a covid-19. Na realidade, n�o h� comprova��o cient�fica da efic�cia do medicamento para a covid,segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) - veja adiante. A empresa disse tamb�m ter anunciado um novo r�tulo para publica��es que informa que "alguns tratamentos n�o aprovados podem causar danos graves".

'500 pessoas por dia'

"Eu printei a inscri��o no YouTube e ele me mandou a receita", confirma a potiguar Lucia Bezerra, de 53 anos.

Para ela, trocar "like" no YouTube por prescri��o de medicamentos � "v�lido" porque "as pessoas t�m que ver para entender o que ele est� dizendo, pra ver se querem ou n�o".

"Pode ser que ele queira que o canal cres�a. � estrat�gia dele, mas por mim, tranquilo", afirma.

Bezerra e sua m�e, de 96 anos, tomam ivermectina de 7 em 7 dias e vitaminas desde o ano passado seguindo orienta��o do m�dico, segundo ela. N�o h� comprova��o cient�fica de que esses medicamentos protegem contra a covid-19. Ela diz n�o ter contra�do a doen�a, mas diz tamb�m que passa o dia todo dentro de casa.

Em um dos v�deos em seu canal, Dickson diz que "atende 500 pessoas por dia, de domingo a domingo, de 7h da manh� at� 3h da manh�, todos os dias".

J� em uma reuni�o da Comiss�o Externa de Enfrentamento � Covid-19 na C�mara Federal em julho do ano passado em que participou como convidado, Dickson afirmou j� ter atendido "31 mil pacientes do mundo inteiro" e ter acompanhado, por e-mail, 6.047 pacientes. Destes, segundo ele, dois morreram.

Questionado pela BBC News Brasil sobre o n�mero de atendimentos, o deputado afirmou: "Me reservo ao direito de n�o informar por uma quest�o de foro interno."

Em seu perfil no Instagram, alguns usu�rios reclamam da falta de resposta do deputado depois que mandam o "print" comprovando a inscri��o em seu canal do YouTube. "Acho que o senhor s� t� querendo audi�ncia porque a gente morre de mandar mensagem no seu zap e nunca responde", escreveu um deles.

Quando de fato recebem uma resposta, os pacientes devem, segundo mensagem do deputado, informar "sintomas, quantos dias est� doente, peso, nome e cidade onde est�". "Aproveite e conhe�a nosso Instagram e se inscreva tamb�m", finaliza a mensagem enviada por WhatsApp.

Mas pacientes com quem a reportagem conversou disseram que depois de informar dados pessoais e sintomas, recebem diretamente um receitu�rio m�dico. Ou seja, n�o tiveram uma consulta m�dica propriamente dita.

A BBC News Brasil teve acesso a tr�s receitu�rios que teriam sido enviados por Dickson, e que, aparentemente, diferem um do outro apenas pelo nome do paciente e pela data.

Para uma suposta "profilaxia" da covid-19, a receita inclui sete medicamentos, incluindo a ivermectina (leia mais no final desta reportagem).

A BBC News Brasil perguntou a Dickson se o deputado considera como atendimento m�dico o envio de um receitu�rio sem antes fazer uma consulta. Ele respondeu que "antes de enviar a receita com o nome e data direcionado ao paciente, o paciente nos passa os sintomas solicitados e ap�s isso enviamos a receita".

Os n�meros da pandemia em todo o mundo mostram que a maior parte das pessoas que contrai covid-19 se recupera. Por isso, segundo especialistas, rem�dios apresentados como "cura" acabam "roubando o cr�dito" do que foi apenas uma melhora natural.

No Brasil, mais de 422 mil pessoas j� morreram v�timas da covid-19.

M�dicos e pol�ticos

Eleito para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte em 2014 com 37 mil votos e reeleito em 2018 com 31 mil votos, Dickson tem a seu lado nos v�deos sua esposa, Carla Dickson. Ela tamb�m � oftalmologista e pol�tica - foi eleita vereadora de Natal em 2016. No ano passado, por ser suplente de F�bio Faria na C�mara dos Deputados, tomou posse como deputada federal quando Faria assumiu o Minist�rio das Comunica��es do governo Jair Bolsonaro. Agora, ela comp�e a bancada evang�lica da casa.

O casal tem se projetado como um dos maiores divulgadores do "tratamento precoce" nas redes e na pol�tica local.

Em maio do ano passado, por exemplo, Albert Dickson apresentou dois projetos de lei sobre o chamdo "tratamento precoce" na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Um deles determina a "disponibiliza��o gratuita de kits de medicamentos com os rem�dios hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina" pelo SUS no Rio Grande do Norte. O outro pede a distribui��o dos medicamentos por operadoras de planos de sa�de - ambos "com as devidas receitas m�dicas e orienta��es".

Tamb�m apresentou um projeto de lei que classificou o funcionamento de igrejas como atividade essencial durante a pandemia. No ano passado, o nome de Dickson tamb�m foi parar em jornais quando ele prop�s prop�s criar o "Dia Estadual da Visibilidade Heterossexual" no Rio Grande do Norte.

Multiplica��o nas redes

O canal do YouTube "Carla e Albert Dickson" foi criado em 2017. Naquele ano, foram dois v�deos publicados, seguidos por um hiato de tr�s anos.

A movimenta��o come�ou mesmo em 2020. Em janeiro, o casal publicou um v�deo sobre "como evitar o c�ncer", que lhe rendeu 1.500 visualiza��es.

Em fevereiro, fizeram a primeira "live" (v�deo transmitindo ao vivo) sobre o coronav�rus, com 6 mil visualiza��es. No v�deo, d�o sugest�es de como melhorar a imunidade porque "as pessoas que foram mortas na China tinham imunidade baixa" (n�o h� comprova��o cient�fica alguma disso).

O grande salto do canal se deu com a publica��o de um v�deo sobre ivermectina em abril de 2020, que angariou 55 mil visualiza��es.

"Novidades dessa medica��o misteriosa que est� sendo uma grande aliada no combate ao coronav�rus no mundo", diz a descri��o do v�deo.

O v�deo termina com Dickson anunciando o n�mero de seu celular, dizendo fornecer "telemedicina de forma gratuita" para quem entrar em contato com ele.

A partir da�, os v�deos come�am a ter mais de 100 mil visualiza��es e, em um caso, 200 mil, sempre divulgando o n�mero de celular de Dickson no final do v�deo e pedindo uma captura de tela como prova de inscri��o no canal para receber o atendimento gratuito.

Mais recentemente, Dickson atribuiu � "nova cepa" os pacientes de covid com problemas de f�gado na UTI - algo que outros profissionais associaram ao uso de medicamentos do chamado "kit covid".

Em uma entrevista a um canal no YouTube publicada no dia 29 de mar�o, Dickson afirmou, sem apresentar qualquer embasamento cient�fico, que "a nova cepa" do v�rus no Brasil ataca de forma mais acentuada o f�gado dos pacientes. "A culpa do problema hep�tico chama-se covid, que se adaptou para matar mais r�pido", disse.

Receita com 'coquetel de medicamentos'

O que o deputado e m�dico afirma em suas lives � reiterado nos receitu�rios para tratamento da covid que distribui por WhatsApp - e que ele inclusive atualizou para a "nova cepa".

Uma receita lista esses medicamentos, por exemplo (a fun��o ou "aplica��o recomendada" entre par�nteses � da reportagem): ivermectina (verm�fugo), azitromicina (antibi�tico), prednisona (um cortic�ide), dutasterida (trata aumento de pr�stata, com a��o anti-horm�nio masculino), espironolactona (um diur�tico com a��o anti-horm�nio masculino), bromexina (xarope expectorante), apixabana (anticoagulante oral), vitamina D.


Não há evidências científicas sobre eficácia da ivermectina contra covid-19(foto: Getty Images)
N�o h� evid�ncias cient�ficas sobre efic�cia da ivermectina contra covid-19 (foto: Getty Images)

Dos medicamentos no receitu�rio, apenas a azitromicina tem reten��o de receita, ou seja, faz parte da lista de medicamentos controlados. Outros, como prednisona e dutasterida, por exemplo, s�o medicamentos de tarja vermelha, com venda sob prescri��o m�dica mas sem reten��o de receita. Os suplementos n�o precisam de receita, embora o receitu�rio do m�dico especifique dosagens espec�ficas, que exigem manipula��o.

"N�o tem comprova��o de que nada disso funciona para a covid-19", comenta o professor de Farmacologia da Universidade Federal de Rondon�polis Andr� Bacchi, sobre o receitu�rio.

"S�o muitos medicamentos, muitas subst�ncias, � um coquetel gigantesco. A ideia de suplementar, tomar doses aumentadas de v�rias subst�ncias para fazer com que se tenha uma 'superimunidade' � falaciosa, e infelizmente est� disseminada na sociedade geral como tamb�m entre especialistas", acrescentou Bacchi.

Para ele, a receita � "gen�rica demais". H�, por exemplo, uma indica��o para tomar um medicamento se o paciente "for do sexo masculino ou se for mulher na menopausa", dando a entender que o m�dico n�o direcionou a prescri��o para o paciente porque nem a adequou ao sexo.

"Voc� tem que conhecer seu paciente, no m�nimo, para poder saber o que prescrever", diz Bacchi.

A receita m�dica, de um consult�rio de oftalmologia, termina com express�es religiosas. "Deus seja exaltado! Leia a B�blia", diz, ao lado da assinatura de Dickson.

Estudos

Para que um rem�dio seja considerado seguro e eficaz contra uma doen�a, ele precisa passar por pesquisas com rigor metodol�gico que possam atestar seus reais benef�cios e riscos, idealmente com um "padr�o-ouro".

Em outras palavras, estudos randomizados (volunt�rios sorteados para entrar em um esquema terap�utico ou no outro), com duplo cego (participantes e cientistas n�o sabem quem recebeu o qu�) e controlados (uma parte do grupo tomou placebo ou a melhor terapia dispon�vel at� ent�o).

A hidroxicloroquina para a covid-19, que Dickson prop�s distribuir pelo SUS, j� � comprovadamente ineficaz para a doen�a. H� diversos estudos sobre o tema. Um deles � o do Recovery Trial, feito no Reino Unido. Numa an�lise de mais de 4.500 pacientes hospitalizados, o uso de hidroxicloroquina e azitromicina n�o trouxe benef�cio algum.

Um painel de especialistas internacionais da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) concluiu, em mar�o deste ano, que o medicamento n�o previne a infec��o, fazendo uma "forte recomenda��o" para que n�o seja usado. Esta forte recomenda��o � baseada em seis estudos cl�nicos com evid�ncias de alto n�vel que somam mais de 6 mil participantes.

N�o h� evid�ncias de que a ivermectina, f�rmaco usado no tratamento de parasitas como piolho e sarna, ajude no tratamento da covid-19. Os estudos dispon�veis at� agora s�o inconclusivos. Por isso, a Ag�ncia Europeia de Medicamentos � contr�ria ao uso de ivermectina no tratamento da covid-19. Ap�s revisar as publica��es sobre o medicamento, a ag�ncia considerou que os estudos possu�am limita��es, como diferentes regimes de dosagem do medicamento e uso simult�neo de outros medicamentos.

"Portanto, conclu�mos que as atuais evid�ncias dispon�veis s�o insuficientes para apoiarmos o uso de ivermectina contra a covid-19", concluiu a ag�ncia.

Tampouco aprovam o uso do medicamento contra a covid-19 a OMS e a Organiza��o Pan-americana de Sa�de (OPAS). A FDA, �rg�o de vigil�ncia sanit�ria dos Estados Unidos, tamb�m n�o aprovou a ivermectina para preven��o ou tratamento da covid-19 no pa�s

A azitromicina tamb�m n�o apresentou resultados positivos em experimentos com humanos. Em dezembro, um ensaio cl�nico randomizado em grande escala do Recovery Trial n�o encontrou nenhum benef�cio do antibi�tico em pacientes hospitalizados com covid-19.

Tampouco h� estudos robustos que comprovem que os outros medicamentos recomendados no receitu�rio tenham qualquer efic�cia para covid-19.

A apixabana, um anticoagulante, � um f�rmaco que s� deve ser indicado mediante complica��es, explica Bacchi. "Voc� coloca sob riscos de efeitos adversos desnecess�rios, como o aumento de risco de sangramentos. N�o � medicamento para ficar usando profilaticamente para qualquer pessoa na popula��o."

A prednisona � um cortic�ide. Um estudo, do Recovery, mostrou benef�cio de outro cortic�ide, a dexametasona, em pacientes que precisavam de oxig�nio ou ventila��o mec�nica, mas n�o em fase ambulatorial, como � o caso das pessoas que recebem a receita de Dickson.

"Cortic�ides tomados de maneira precoce podem na verdade provocar o efeito inverso, diminuir at� mesmo a imunidade", diz Bacchi.

H� alguns estudos que encontraram associa��o entre n�veis baixos de vitamina D e taxas mais altas de covid-19 na popula��o. Mas n�o puderam estabelecer que a defici�ncia foi a causa das taxas da doen�a, j� que h� outras hip�teses que poderiam explicar a rela��o.

As popula��es com altas taxas de defici�ncia de vitamina D podem ser atingidas com mais for�a pelo coronav�rus por outras raz�es, incluindo menor acesso a cuidados de sa�de, por exemplo. Ent�o, n�o h� evid�ncias suficientes para recomendar a vitamina D contra a doen�a.

Puni��o

Apesar de haver comprova��o da inefic�cia da hidroxicloroquina e n�o haver comprova��o da efic�cia de outros medicamentos para a covid-19, como a ivermectina, o Conselho Federal de Medicina n�o condenou veementemente a pr�tica de recomendar ou prescrever esses medicamentos. Pelo contr�rio, no ano passado, aprovou parecer que facultou aos m�dicos a prescri��o de cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com covid-19.

� BBC News Brasil, o conselho disse que n�o comenta casos concretos. Uma resolu��o de 2011 do conselho sobre propaganda na Medicina estabelece que o m�dico deve "evitar sua autopromo��o e sensacionalismo, preservando, sempre, o decoro da profiss�o". Como "autopromo��o", diz o texto, entende-se a divulga��o com inten��o de "angariar clientela", "pleitear exclusividade de m�todos diagn�sticos e terap�uticos" e "auferir lucros de qualquer esp�cie", entre outros.

A Associa��o M�dica Brasileira e a Sociedade Brasileira de Infectologia, por sua vez, divulgaram nota dizendo que "as melhores evid�ncias cient�ficas demonstram que nenhuma medica��o tem efic�cia na preven��o ou no 'tratamento precoce' para a covid-19 at� o presente momento".

Para Sergio Rego, m�dico, pesquisador da Fiocruz e professor de bio�tica na Escola Nacional de Sa�de P�blica da institui��o, "n�o h� respaldo �tico normativo para a prescri��o de algo que n�o tenha reconhecimento cient�fico, salvo quando est� inserido dentro de um processo de pesquisa aprovado por um comit� de �tica".

M�dicos que prescrevem o suposto tratamento precoce podem ser responsabilizados em todas as esferas, diz Rego.

Processos de avalia��o de infra��es �ticas ocorrem dentro dos conselhos regionais de medicina a partir de queixas. Podem aplicar, como pena, a censura reservada, a censura p�blica, a suspens�o de exerc�cio profissional por um tempo e at� a cassa��o do direito de exercer a medicina.

No C�digo Penal, a pr�tica poderia ser enquadrada no artigo 132, diz Rego: "expor a vida ou a sa�de e outrem a perigo direto e iminente", com pena de deten��o de tr�s meses a um ano, "se o fato n�o constitui crime mais grave".

"O m�dico tem autonomia, mas isso n�o o exime da responsabilidade pelas consequ�ncias de seus atos", diz Rego. "N�o � uma carta branca."


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