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Estado de Minas PANDEMIA

Quem teve COVID deve tomar vacina, ao contr�rio do que disse Bolsonaro

Os indiv�duos que se infectaram com o coronav�rus tamb�m precisam receber as doses, apontam especialistas


14/10/2021 19:27 - atualizado 14/10/2021 19:27

Vacina aplicada no braço
Vacina��o est� indicada inclusive para quem j� teve a covid-19 no passado (foto: Getty Images)
� comum ouvir a frase "eu j� tive covid-19 e tenho anticorpos" como argumento para n�o tomar as duas doses da vacina.

 

Justificativas do tipo j� foram repetidas diversas vezes, inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — no dia 10 de outubro, por exemplo, ele se queixou de n�o poder entrar no est�dio Vila Belmiro para acompanhar a partida entre Santos e Gr�mio pelo Campeonato Brasileiro.

"Por que cart�o, passaporte da vacina? Eu queria ver o jogo do Santos agora. Me falaram que tem que estar vacinado. Por que isso?", questionou o presidente.

 

"Eu tenho mais anticorpos do que quem tomou a vacina", completou.

 

Ele repetiu a afirma��o no dia 13 de outubro, durante uma entrevista � R�dio Jovem Pan. "Eu decidi n�o tomar mais a vacina. Estou vendo novos estudos, a minha imuniza��o est� l� em cima…", declarou.

 

Outro que seguiu essa mesma linha de racioc�nio foi o empres�rio Luciano Hang, durante sua participa��o na CPI da Covid no dia 29 de setembro.

 

"Eu queria responder que eu n�o tomei vacina porque eu tenho um �ndice de anticorpos alt�ssimo", declarou Hang, ap�s uma pergunta feita pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

 

Mas a verdade � que esse tipo de argumento n�o encontra respaldo na ci�ncia e h� um consenso entre os especialistas de que a vacina��o � importante mesmo para quem j� teve covid-19.

 

"N�o existe nenhuma d�vida de que mesmo aqueles que se infectaram com o coronav�rus devem se vacinar", esclarece a m�dica Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, uma institui��o que trabalha com pol�ticas p�blicas de imuniza��o em v�rias partes do mundo.

 

Entenda a seguir as evid�ncias que suportam a recomenda��o de vacina��o para aqueles que j� tiveram a doen�a.

De onde vem essa hist�ria?

Embora esse argumento contr�rio � vacina��o de quem j� se infectou seja usado desde o come�o do ano, ele ganhou mais for�a a partir de agosto, quando cientistas israelenses divulgaram uma pesquisa no MedRXiv, um portal que re�ne artigos que ainda n�o foram avaliados por especialistas independentes e publicados em jornais especializados.

 

O trabalho, feito no Centro de Pesquisa & Inova��o Kahn Sagol Maccabi e na Universidade de Tel Aviv, comparou tr�s grupos: o primeiro com indiv�duos que tinham recebido as duas doses da vacina de Pfizer/BioNTech, o segundo com pessoas que tiveram covid-19 previamente e o terceiro com integrantes que tinham se infectado no passado e haviam recebido uma dose de imunizante.

 

Os resultados mostraram que as pessoas do primeiro grupo (os vacinados) tinham um risco 13 vezes maior de ter uma infec��o causada pela variante Delta em compara��o com a segunda turma (aqueles que tiveram a doen�a no passado).


Jair Bolsonaro
Bolsonaro j� repetiu diversas vezes que n�o pretende se vacinar contra a covid-19 (foto: Alan Santos/PR)

A pesquisa indica que as pessoas que tiveram covid possu�am uma "imunidade natural" mais forte e duradoura contra a infec��o, a doen�a sintom�tica e a hospitaliza��o relacionadas � variante Delta em compara��o com a imunidade obtida ap�s a vacina��o.

 

Um detalhe pouco explorado do estudo israelense � que o terceiro grupo (indiv�duos que tiveram covid e tomaram a vacina) apresentaram uma prote��o adicional contra o coronav�rus quando comparado aos outros dois.

 

"A quest�o � que esses achados foram tirados de contexto e acabaram usados para justificar a recusa �s vacinas", explica Garrett.

 

Numa reportagem sobre a pesquisa feita em Israel publicada na Science Magazine, o imunologista Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, j� havia demonstrado um certo receio de como essas descobertas poderiam reverberar entre a popula��o.

 

"N�s n�o queremos que as pessoas pensem: 'Certo, ent�o eu devo sair de casa e me infectar'. Isso pode acabar causando mortes", refor�ou o especialista, que n�o esteve diretamente envolvido no estudo.

Os perigos da 'imunidade natural'

As evid�ncias mostram, portanto, que pessoas que tiveram covid-19 costumam desenvolver uma resposta imune ap�s se recuperarem.

 

"O problema � que essa resposta varia muito de pessoa para pessoa de acordo com uma s�rie de fatores", observa o m�dico Jo�o Viola, presidente do Comit� Cient�fico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

 

O especialista explica que a carga viral (a quantidade de coronav�rus que o indiv�duo tem contato no momento da infec��o), a gravidade da doen�a, a idade e a gen�tica s�o algumas das vari�veis que moldam a resposta de nosso sistema de defesa.

 

Em outras palavras, isso significa que um sujeito com covid-19 pode desenvolver uma super resposta imunol�gica, enquanto outro tem a enfermidade e a rea��o em seu organismo � fraca e pouco efetiva (o que aumenta o risco de ele se reinfectar no futuro).

 

"E cerca de 10% dos pacientes que tiveram essa doen�a n�o desenvolvem anticorpos neutralizantes", calcula Garrett.

 

Fora que, numa parcela consider�vel dos acometidos, a doen�a est� relacionada a uma s�rie de complica��es, que exigem hospitaliza��o e intuba��o e podem at� levar � morte. Ou seja: n�o � nada seguro buscar uma "imunidade natural" para algo que est� matando milhares de pessoas todos os dias.


Profissional da saúde empurra paciente em maca
Al�m de estar relacionada a uma s�rie de complica��es, pegar a covid-19 n�o garante um alto n�vel de prote��o para todos os pacientes (foto: Getty Images)

Vacinas como uma aposta bem mais segura

Na contram�o, os imunizantes foram desenvolvidos e testados para suscitar uma resposta mais uniforme nas pessoas.

 

"Na grande maioria daqueles que recebem as vacinas, � poss�vel prever que haver� uma resposta imunol�gica", compara Garrett.

 

"Falamos de doses padronizadas que foram avaliadas em estudos rigorosos, com efic�cia e a seguran�a demonstradas", completa a especialista.

 

Vale lembrar aqui que os imunizantes s�o feitos a partir do v�rus inteiro inativado (caso da CoronaVac, por exemplo) ou trazem c�digos de instru��o para nosso pr�prio organismo construir pedacinhos parecidos ao que � encontrado no agente causador da covid-19 (como os produtos de AstraZeneca e Pfizer).

 

Independentemente da plataforma tecnol�gica, todas as vacinas se mostraram seguras nos estudos cl�nicos e n�o h� risco algum de elas causarem a covid-19.

 

"Al�m dos componentes principais, os imunizantes de v�rus inativado, como a CoronaVac, tamb�m carregam as chamadas subst�ncias adjuvantes, que s�o capazes de aumentar ainda mais a resposta imune", acrescenta Viola.

 

Nos sujeitos que j� tiveram a doen�a no passado, portanto, tomar as doses s� vai trazer benef�cios, explicam os especialistas. Aqueles que n�o desenvolveram uma resposta imune ap�s a infec��o conseguem ativar o sistema de defesa por meio da vacina��o. J� aqueles que tinham obtido algum n�vel de prote��o ap�s ficarem doentes conseguem "atualizar" e "aprimorar" os processos imunol�gicos desenvolvidos previamente.

 

Esse efeito pode ser observado na pr�tica numa pesquisa conduzida pelo Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos EUA, que acompanhou o status da vacina��o no Estado do Kentucky.

 

Os autores compararam os dados dos cidad�os que tiveram covid-19 ao longo de 2020 e que optaram por tomar o imunizante ou se recusaram a receber as doses ao longo de 2021. Os resultados mostram que o risco de ter uma reinfec��o pelo coronav�rus � 2,3 vezes maior no grupo que n�o foi vacinado.

 

"E precisamos ter em conta que a vacina��o � sempre uma estrat�gia coletiva: cada pessoa mais protegida significa uma queda proporcional na transmiss�o do v�rus pela comunidade", diz Garrett.

Vale medir os anticorpos?

Nas frases de Bolsonaro e Hang, eles tamb�m deixam claro que fizeram exames para medir o n�vel de anticorpos que possuem depois da covid-19.

 

A quest�o � que esse tipo de teste n�o � indicado pelas sociedades m�dicas brasileiras, uma vez que seus resultados n�o s�o confi�veis e podem levar a uma s�rie de conclus�es e interpreta��es precipitadas.

 

"O fato de ter anticorpos n�o significa que eles funcionem ou sejam espec�ficos para barrar o coronav�rus", explica o imunologista Carlos Z�rate-Blad�s, pesquisador do Laborat�rio de Imunorregula��o do Centro de Ci�ncias Biol�gicas da Universidade Federal de Santa Catarina.

 

"At� existem testes mais elaborados que fazem esse tipo de discrimina��o dos anticorpos, mas eles s�o caros, demorados e n�o est�o acess�veis a todos", complementa.

 

O pesquisador adiciona que uma estrat�gia dessas tamb�m n�o faz sentido do ponto de vista de sa�de p�blica: ora, � muito mais custo-efetivo oferecer as vacinas para todo mundo (inclusive aqueles que tiveram a covid-19, at� porque eles se beneficiam das doses) do que disponibilizar testes cujos resultados n�o trazem muitas respostas pr�ticas ou mudam as recomenda��es.

 

Garrett tamb�m conta que ainda n�o est� claro qual � o "correlato de prote��o", ou a quantidade m�nima de imunidade que realmente garante que a pessoa n�o vai ter a doen�a (ou ao menos as suas formas mais graves).

 

"Nesse sentido, fazer um teste de anticorpos n�o diz muita coisa sobre o quanto estamos resguardados ou n�o", afirma.


Mulher segura ampola com sangue
Sociedade m�dicas brasileiras n�o indicam a realiza��o de exames que medem n�veis de anticorpos ap�s a vacina��o (foto: Getty Images)

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil tamb�m explicam que um n�vel baixo de anticorpos n�o significa necessariamente que a pessoa est� vulner�vel � covid-19: existem outros mecanismos do sistema imunol�gico, que n�o s�o medidos por esses exames, que podem atuar para evitar a infec��o ou o agravamento dela.

 

"Existe toda uma resposta feita por c�lulas imunes, que independe dos anticorpos", exemplifica Viola.

 

Nessa mesma linha, o racioc�nio reverso tamb�m faz sentido: n�o � s� porque algu�m est� com anticorpos elevados que n�o corre risco de contrair o coronav�rus e ficar doente. O temor dos m�dicos e cientistas � que exames do tipo deem uma falsa sensa��o de seguran�a, e fa�am a pessoa relaxar nas outras medidas preventivas necess�rias para o momento, como o uso de m�scaras, a prefer�ncia por locais abertos e bem arejados e o cuidado com as aglomera��es.

 

"� importante que todo mundo v� ao posto para receber a primeira e a segunda dose e continue tomando os cuidados b�sicos", refor�a Viola.

 

"S� quando a gente tiver acima de 70% ou 80% da popula��o vacinada � que vamos ter mais seguran�a para entender a situa��o e ultrapassar de vez por esse per�odo penoso que vivemos", finaliza o imunologista.

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