Quatro imagens que supostamente mostram, atrav�s da lente de um microsc�pio, a transforma��o de c�lulas sangu�neas ap�s a aplica��o de uma vacina contra a covid-19, foram visualizadas milhares de vezes em redes sociais ao menos desde o �ltimo dia 8 de junho.
“AN�LISE DO SANGUE DE UMA PESSOA VACINADA”, come�a uma das publica��es compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) e Twitter.
O texto, que tamb�m foi visualizado mais de 24 mil vezes no Telegram, continua: “Tenho uma amiga que � Microscopista de Nutri��o. Ela � uma especialista em seu campo e me ajudou imensamente. Ela tem muitos clientes que tomaram a chamada vacina e pediram que fizessem uma an�lise de sangue gratuita. Para seu horror absoluto, isso � o que ela viu”.
A mensagem explica, em seguida, que a imagem vista na parte superior das publica��es � de “c�lulas sangu�neas completamente saud�veis %u200B%u200Bantes da inje��o”, que teriam mudado “drasticamente” no dia seguinte. “A terceira imagem (centro inferior) mostra in�meras nanopart�culas estranhas (manchas brancas) que aparecem no sangue logo ap�s a inje��o”, afirma.
O texto conclui que pessoas vacinadas contra a covid-19 nunca poder�o se “desintoxicar” do efeito supostamente visto nas imagens e que “eventualmente, essas nanopart�culas entrar�o em todas as c�lulas do seu corpo”.
Mensagem semelhante acompanhada das mesmas imagens tamb�m circula em espanhol, ingl�s e franc�s.
Vacinas contra a covid-19
Embora as publica��es n�o especifiquem qual vacina teria sido exposta � an�lise citada, atualmente existem quatro tipos principais de imunizantes contra a covid-19: as vacinas virais, as de vetores virais, as feitas com base em �cido nucleico e as proteicas.
As vacinas de RNA mensageiro (mRNA) s�o aquelas cuja tecnologia est� sendo utilizada pela primeira vez de maneira maci�a, o que potencializou o surgimento de desinforma��o.
Essa t�cnica consiste em injetar uma mol�cula de mRNA, que cont�m o c�digo gen�tico de uma prote�na do SARS-CoV-2, para que as c�lulas do paciente a identifiquem e produzam os ant�genos do v�rus, desencadeando uma resposta imunol�gica do corpo.
A equipe de checagem da AFP j� verificou afirma��es falsas ou enganosas sobre as vacinas contra a covid-19, como as alega��es de que elas modificariam o c�digo gen�tico das pessoas, gerariam doen�as autoimunes, provocariam atra��o magn�tica ou levariam os imunizados � morte.
O que mostram as fotos?
As quatro imagens compartilhadas nas redes mostram um esfrega�o de hem�cias, um exame de laborat�rio que consiste em coletar uma amostra de sangue e espalhar uma gota em uma l�mina de microsc�pio para analisar a qualidade e quantidade de c�lulas sangu�neas do paciente.
Normalmente, “olhamos as hem�cias depois do esfrega�o de sangue e da colora��o de MGG (May-Gr�nwald Giemsa)”, explicou � AFP no �ltimo dia 21 de junho, Chlo� James, especialista em Hematologia e Hemostasia do Hospital Universit�rio de Bordeaux na Fran�a.
Uma hem�cia saud�vel normalmente tem um formato de disco bic�ncavo e um centro claro, vis�vel em branco, que carece de n�cleo. Os gl�bulos vermelhos permitem transportar o oxig�nio dos pulm�es aos diferentes tecidos do corpo.
Para os especialistas consultados, a segunda imagem que comp�e as publica��es viralizadas � a que mais se assemelha a um esfrega�o de hem�cias saud�veis. No entanto, o texto compartilhado nas redes garante que essa imagem mostra que “as c�lulas sangu�neas mudaram drasticamente” ap�s a vacina.
“Dependendo do ambiente em que os gl�bulos vermelhos s�o ressuspensos, ocorrem trocas de �gua e os gl�bulos vermelhos podem mudar de forma, se tornando muito redondos, como na primeira foto, normais como na segunda, ou desidratados como na quarta foto”, continuou Chlo� James, sinalizando que essas imagens n�o t�m “rela��o com a vacina”.

Na terceira imagem, � dif�cil identificar com precis�o o que s�o as manchas brancas observadas, afirmou a bi�loga James. No entanto, ela explicou que “certamente n�o s�o nanopart�culas”.
De fato, nestas imagens os gl�bulos vermelhos s�o observados com a lente de um microsc�pio �ptico, e n�o com um microsc�pio eletr�nico. A resolu��o de um microsc�pio �ptico � baixa demais para ver part�culas lip�dicas, as nanopart�culas utilizadas nas vacinas de mRNA para encapsular o material gen�tico e que n�o s�o necessariamente perigosas ou t�xicas, como detalharam especialistas neste artigo da AFP.
Na quarta imagem v�-se diferentes formas espinhosas que s�o, de acordo com algumas das postagens em espanhol, prova de que as c�lulas “suaves e sim�tricas” foram “cobertas de caro�os e protuber�ncias” ap�s a aplica��o da vacina contra a covid-19.
Para V�ronique Verg�, especialista do departamento de Biologia e Patologias M�dicas do Centro Gustave Roussy, esse aspecto lembra os equin�citos, uma forma de membrana celular anormal dos gl�bulos vermelhos caracterizada por proje��es espinhosas regularmente espa�adas.
“Os equin�citos s�o encontrados em v�rias doen�as como insufici�ncia renal, �lceras hemorr�gicas e c�ncer de est�mago, certas doen�as hep�ticas…”, ou “quando as l�minas do microsc�pio est�o mal preparadas”, indica o laborat�rio de an�lises m�dicas Biron em seu site, sem mencionar a inje��o de mRNA ou qualquer outra vacina contra a covid-19.
Os especialistas entrevistados tamb�m destacaram que a mensagem que acompanha as fotos n�o possui nenhuma informa��o sobre sua origem, sobre a t�cnica de imagem utilizada ou sobre o contexto em que foram tiradas.
“Isso n�o � um artigo cient�fico, n�o h� indica��o sobre a metodologia ou outra. Isso � suficiente para dizer que as informa��es n�o t�m nenhum valor”, apontou a bi�loga V�ronique Verg�.
Em todo o mundo, as vacinas contra a covid-19 s�o objeto de uma fase de farmacovigil�ncia refor�ada para acompanhar de perto seus efeitos colaterais, como faz a Ag�ncia de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), o Sistema de Notifica��o de Eventos Adversos da Vacina nos Estados Unidos, a Ag�ncia Nacional de Seguran�a de Medicamentos na Fran�a e a Ag�ncia Europeia de Medicamentos (EMA) em todo o continente europeu.
At� 30 de junho de 2021, mais de 2,915 bilh�es de doses de vacinas contra a covid-19 j� haviam sido administradas a n�vel global, segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de.
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