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Estado de Minas CHECAMOS

Usu�rios omitem impacto da vacina��o e medidas preventivas ao citar efeitos da imunidade natural

Publica��es em redes sociais afirmam, de forma enganosa, que queda no n�mero de casos e mortes por covid-10 n�o se deve � vacina��o em massa


16/12/2021 17:53 - atualizado 17/12/2021 07:51

Publica��es compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais desde 6 de dezembro de 2021 atribuem a redu��o de novos casos e mortes pela covid-19 no Brasil � imunidade natural.

Segundo essas mensagens, as vacinas contra o SARS-CoV-2 s� atingiram 50% da popula��o em outubro de 2021 e “o cont�gio cai desde mar�o”, o que seria uma prova de que a queda nos indicadores da pandemia ocorreu gra�as �s defesas desenvolvidas pelos recuperados da doen�a.

Mas dados do Minist�rio da Sa�de mostram que os cont�gios no Brasil v�m se reduzindo desde junho, e especialistas consultados pela AFP afirmam que esse cen�rio n�o pode ser explicado apenas pela imunidade natural, mas tamb�m como resultado da vacina��o e da ado��o de medidas n�o farmacol�gicas.

“As vacinas s� chegaram a 50% da pop. em outubro e o cont�gio cai desde mar�o.Os gr�ficos mostram isso. A imunidade natural reduziu novos casos e influencia a efic�cia vacinal existente”, dizem as publica��es compartilhadas no Twitter (1, 2), acompanhadas de dois gr�ficos que mostrariam a “independ�ncia entre vacinas e mortes”. O conte�do tamb�m circulou no Facebook (1, 2, 3).
Captura de tela feita em 15 de dezembro de 2021 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 15 de dezembro de 2021 de uma publica��o no Twitter ( . / )

Uma das publica��es no Twitter � acompanhada tamb�m de duas outras capturas de tela: uma do Painel Coronav�rus, do Minist�rio da Sa�de, e outra que mostra a cobertura vacinal do Brasil registrada na plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, at� 22 de outubro de 2021.

Queda nos indicadores de covid-19

Segundo o texto viralizado, “as vacinas s� chegaram a 50% da popula��o em outubro e o cont�gio cai desde mar�o” no Brasil. Isso � parcialmente falso.

At� o momento da publica��o desta checagem, o painel Coronav�rus do Minist�rio da Sa�de estava fora do ar. No entanto, a ferramenta Wayback Machine, que arquiva p�ginas da internet, permitiu verificar os dados contidos no portal at� 4 de dezembro de 2021. Os gr�ficos ali mostram que o n�mero de novos casos de covid-19 cai, de maneira sustentada (e com uma exce��o de um pico de casos registrado no dia 18 de setembro), desde 23 de junho de 2021, e n�o desde mar�o.

A pr�pria publica��o que traz a captura de tela do portal indica que os novos casos de covid-19 come�aram a cair de forma sustentada a partir da semana epidemiol�gica de n�mero 24, como consta no portal do Minist�rio da Sa�de. Segundo o calend�rio epidemiol�gico de 2021 do Sistema de Informa��o de Agravos de Notifica��o (Sinan), a semana epidemiol�gica 24 correspondeu aos dias entre 13/06/2021 e 19/06/2021.

Este outro painel do governo brasileiro tamb�m mostra que a m�dia m�vel de 14 dias de novos casos de covid-19 come�ou a cair a partir de junho. Al�m disso, um texto publicado em setembro de 2021 pelo Minist�rio da Sa�de analisou a “tend�ncia de queda desde junho” da taxa de novos �bitos por covid-19, o que refletiu, afirma o minist�rio, “o avan�o da campanha de vacina��o”.

No Boletim Extraordin�rio do Observat�rio Covid-19 de 14 de julho de 2021 publicado pela Fiocruz, a institui��o tamb�m identificou queda nos indicadores, o que seria reflexo de “uma nova fase da pandemia no pa�s, em que a vacina��o tem feito diferen�a”.

Consultado pelo Checamos a respeito da queda no n�mero de casos vista no Brasil, Ricardo Kuchenbecker, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que “a redu��o observada a partir de junho � determinada pelo avan�o nas taxas de cobertura vacinal populacional observadas no Brasil. [Esse] fato [�] demonstrado n�o apenas por sua sustentada observa��o, mas tamb�m porque a imunidade natural � transit�ria e seu maior exemplo mundial parece ser o experimento natural representando por Manaus, onde altas taxas de infec��es na primeira onda n�o foram capazes de evitar uma segunda onda”. E acrescentou:

“A queda sustentada desde junho representa um somat�rio de muitos casos j� recuperados e um calend�rio vacinal que, mesmo atrasado em rela��o � pandemia, demonstra resultados mesmo diante da emerg�ncia de novas variantes.”

J� com rela��o � cobertura vacinal, os dados da plataforma Our World in Data de fato mostram que a parcela da popula��o brasileira totalmente imunizada contra a covid-19 s� ultrapassou a marca de 50% em 20 de outubro de 2021.

Dados dos gr�ficos

Al�m das capturas do Our World in Data e da plataforma do Minist�rio da Sa�de, as publica��es s�o acompanhadas de dois gr�ficos que supostamente mostrariam a “independ�ncia entre vacinas e mortes” ao indicar quedas na m�dia m�vel de �bitos que teriam ocorrido antes de picos de vacina��o.
Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2021 de uma publica��o no Facebook ( . / )

Um deles, � direita, j� foi checado pela AFP em novembro de 2021. Ele � composto por duas curvas - uma, negra, que se estende de janeiro a meados de setembro de 2021 e outra, verde, que vai de fevereiro a outubro de 2021. Em preto, a linha representaria a m�dia m�vel de 14 dias de mortes por covid-19 no Brasil com a inscri��o “Mortes 14 Dias Depois”. Outra linha, em verde, representaria a m�dia m�vel da quantidade de segundas doses ou de vacina de dose �nica administradas na popula��o.

Segundo a representa��o, o Brasil teria tido um pico acentuado da m�dia m�vel de �bitos de 14 dias em mar�o de 2021. Os dados do Minist�rio da Sa�de, por�m, mostram uma linha de m�dia m�vel de 14 dias dos �bitos por covid-19 com um pico acentuado em 19 de abril seguido por um pico menor em 20 de junho e, depois, uma queda sem novos picos significativos a partir do final desse m�s. Ou seja, apesar de a evolu��o do gr�fico viralizado ser semelhante � evolu��o registrada pelo minist�rio, os dados oficiais registraram um pico na m�dia m�vel de �bitos em abril, n�o em mar�o.

Com rela��o � aplica��o de segundas doses ou de imunizantes de doses �nicas, um gr�fico publicado pela Fiocruz, com dados provenientes do projeto @CoronavirusBra1, mostra um cen�rio semelhante ao da imagem viralizada.
Captura de tela feita em 16 de dezembro de 2021 de gráfico publicado pela Fiocruz mostrando a aplicação de segundas doses ou de vacina de dose única no Brasil
Captura de tela feita em 16 de dezembro de 2021 de gr�fico publicado pela Fiocruz mostrando a aplica��o de segundas doses ou de vacina de dose �nica no Brasil ( . / )

O segundo gr�fico, � esquerda, � composto por uma curva em preto que tamb�m representaria a m�dia m�vel de 14 dias de mortes por covid-19 no Brasil junto a uma curva em verde que representaria a m�dia da aplica��o de segundas doses ou doses �nicas. Al�m delas, uma linha em vermelho representaria a m�dia de primeiras doses administradas, e uma curva em azul, a m�dia do total de doses aplicadas na popula��o.

Nesse gr�fico, a curva em preto se estende temporalmente at� aproximadamente o final de setembro. Assim como no esquema anterior, o pico indicado ocorre antes do aumento de mortes por covid-19 registrado pelo Minist�rio da Sa�de, que coloca o dia 19 de abril como a data em que o Brasil registrou “a maior m�dia m�vel de �bitos pela doen�a”.

A curva verde, com a m�dia da aplica��o de segundas doses ou doses �nicas, segue trajet�ria semelhante � do gr�fico publicado na plataforma da Fiocruz. A curva em vermelho tamb�m tem evolu��o semelhante ao gr�fico de aplica��o da primeira dose elaborado pelo projeto @CoronavirusBra1, que mostra dois picos em 17 de junho e outro em 17 de agosto, seguido por registros em queda.
Captura de tela feita em 16 de dezembro de 2021 de gráfico publicado pela Fiocruz mostrando a aplicação de primeiras doses da vacina contra a covid-19 no Brasil
Captura de tela feita em 16 de dezembro de 2021 de gr�fico publicado pela Fiocruz mostrando a aplica��o de primeiras doses da vacina contra a covid-19 no Brasil ( . / )

A curva que representa a m�dia do total de doses aplicadas, em azul, tamb�m apresenta evolu��o semelhante ao gr�fico da plataforma Our World in Data em rela��o �s doses di�rias aplicadas de fevereiro a outubro de 2021, com picos em junho e agosto.

Interpreta��o dos gr�ficos

Na an�lise de Paulo Petry, doutor em Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os gr�ficos viralizados n�o mostram “a independ�ncia entre vacinas e mortes”:

“N�o h� gr�fico que consiga mostrar independ�ncia entre vacina e mortes. Ao contr�rio: as vacinas salvam popula��es. O medicamento salva o indiv�duo, mas a vacina salva uma popula��o.”

“� �bvio que a pessoa que adoece e se recupera da doen�a - porque muitos morreram - (...) adquire uma imunidade natural, mas que deve sim ser refor�ada com a vacina. Porque mesmo a imunidade natural e mesmo a vacina��o, (...) com o tempo, essa imunidade vai se diluindo e diminuindo especialmente a partir do surgimento de novas variantes. Ent�o, sim, atribu�mos a queda da mortalidade, a queda no n�mero de interna��es, �s vacinas que comprovadamente cumpriram seu papel, n�o h� a menor d�vida”, acrescentou.

Os dados do Minist�rio da Sa�de, que t�m como base os registros das Secretarias Estaduais de Sa�de, mostram que o pa�s j� teve per�odos de quedas de casos e �bitos anteriores � vacina��o - iniciada em 17 de janeiro de 2021 no pa�s.

Mas, segundo Mellanie Fontes-Dutra, biom�dica, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora cient�fica pela Rede An�lise Covid-19, antes de junho, n�o se via uma queda de indicadores “t�o consistente dessa forma”.

“As coberturas vacinais atingidas em grupos estrat�gicos, que apresentam maior vulnerabilidade para a doen�a e suas formas mais severas, s�o um fator importante a ser considerado. Ainda, houve muitas campanhas em prol da ades�o de uso de m�scara, distanciamento e outras medidas mitigat�rias que tamb�m t�m seu papel importante em reduzir risco de transmiss�o/exposi��o”, afirmou a pesquisadora ao Checamos.

Em novembro, especialistas j� haviam explicado � AFP que o pa�s registrou quedas de �bitos anteriores � vacina��o que podem ser explicadas por fatores como medidas n�o farmacol�gicas.

“Quedas anteriores nos �bitos se devem a medidas restritivas de circula��o. Agora, vemos uma redu��o promovida pelas vacinas. As pessoas adoecem menos, transmitem menos e morrem menos”, disse Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ao Checamos em 3 de novembro de 2021.

Com rela��o � queda de casos registrada desde junho, Petry tamb�m afirmou que est� ligada � vacina��o e � “consequente redu��o da circula��o do v�rus por encontrar menos pessoas suscept�veis”, ressaltando tamb�m a import�ncia de medidas n�o farmacol�gicas como uso de m�scaras, distanciamento social e ventila��o dos ambientes.

Em maio de 2021, o diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm), Renato Kfouri, afirmou que, apesar de as vacinas contra a covid-19 atualmente dispon�veis serem mais eficazes na preven��o de casos graves e �bitos, elas tamb�m impactam na transmiss�o do v�rus. “Com menos doentes sintom�ticos, menor � a quantidade de pessoas tossindo e espalhando o v�rus na comunidade. A vacina pode n�o ser esterilizante, mas vai impactar na transmiss�o.”

Fontes-Dutra fez afirma��o semelhante ao Checamos em 6 de dezembro de 2021: “Vacinas precisam de amplas campanhas de vacina��o em massa. Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, veremos um impacto cada vez maior na transmiss�o viral”.

Sobre a efic�cia e dura��o da imunidade natural contra o SARS-CoV-2, especialistas explicaram em outubro � AFP que n�o existe consenso sobre o tema, mas destacaram que a vacina��o � a “melhor estrat�gia” contra a pandemia, por produzir resposta imune sem envolver os riscos da infec��o pelo novo coronav�rus.

Em 14 de dezembro de 2021, Fontes-Dutra disse ao Checamos que h� “dados demonstrando que recuperados t�m risco maior de reinfec��o, especialmente pensando agora num contexto da variante �micron”.

[Tamb�m] sabemos que vacinados transmitem por menos tempo e eliminam menos part�culas virais do que n�o vacinados, al�m de vermos muito menos casos, hospitaliza��es e �bitos no grupo vacinado, comparado com n�o vacinados (que inclui recuperados). Al�m disso, recuperados (mas n�o vacinados) t�m 5x mais chances de resultado positivo para covid-19 (reinfec��o) que vacinados.”

O Checamos j� verificou outras alega��es sobre imunidade natural e a efic�cia das vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3).

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