Publica��es compartilhadas milhares de vezes desde ao menos 26 de dezembro de 2021 usam como exemplo os casos dos cantores Caetano Veloso e Chico C�sar, vacinados com a terceira dose e infectados com o SARS-CoV-2, para sugerir que os imunizantes contra o v�rus causador da covid-19 s�o ineficazes.
“Caetano tamb�m pegou coronga, meu deus do c�u, como esse povo � trouxa. Faz a�, continua fazendo v�deo, ‘viva o SUS’, toma a primeira, segunda, terceira (...). Acorda Brasil! E a�, Caetano, quantas doses voc� ainda vai tomar disso a�? Boa sorte, n�, fazer o qu�?”, diz uma das publica��es compartilhadas no Facebook (1), em formato de v�deo.
Conte�do de teor similar, em refer�ncia a Caetano Veloso e Chico C�sar, circulou na mesma plataforma (1, 2, 3), no Instagram (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3).

As publica��es come�aram a circular ap�s o cantor e compositor Chico C�sar ter testado positivo para a covid-19, como informou a imprensa em 24 de dezembro. Dois dias depois, Caetano Veloso divulgou em suas redes sociais que ele e a empres�ria Paula Lavigne tamb�m haviam contra�do o v�rus SARS-CoV-2. “Estamos bem e atribu�mos isso ao fato de estarmos vacinados. O importante � que quem pode deve fazer o teste. E sobretudo que todos se vacinem com as tr�s doses”, disse.
Um boletim sobre a efetividade das vacinas contra a covid-19 utilizadas no Brasil - Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen -, publicado em 9 de dezembro de 2021 pelo projeto Vigivac, da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que, “considerando os desfechos graves (interna��o ou �bito) em indiv�duos com idade entre 20 e 80 anos, a prote��o variou entre 83% e 99% para todos os imunizantes”. Os dados espec�ficos de cada um dos imunizantes podem ser conferidos na �ntegra do informe.
A terceira dose funciona como um refor�o para essa prote��o, apontou Gustavo Cabral, imunologista e pesquisador de vacinas na Universidade de S�o Paulo (USP): “O fato de eles [Chico C�sar e Caetano Veloso] terem tomado duas ou tr�s doses, ou quantas fossem, n�o vai impedi-los de contrair o v�rus. O que vai fazer, principalmente com o refor�o, � que eles desenvolvam uma imunidade capaz de proteger contra a doen�a em estado grave”.
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) explica que, embora as vacinas sejam altamente eficazes contra a forma grave da covid-19, hospitaliza��es e mortes, nenhum imunizante � 100% eficaz. “Como resultado, algumas pessoas vacinadas v�o se infectar e podem ficar doentes”, informa a entidade em texto atualizado em 29 de novembro de 2021.
Os Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos v�o no mesmo caminho ao apontar, em texto atualizado em 17 de dezembro, que as vacinas contra a covid-19 s�o eficazes em “prevenir infec��es, a forma grave da doen�a e mortes”. E acrescentam: “A maioria das pessoas que contrai a covid-19 n�o est� vacinada”.
Apesar disso, a institui��o tamb�m indica que, pelo fato de as vacinas n�o serem 100% eficazes na preven��o da infec��o, algumas pessoas totalmente vacinadas ainda v�o se contaminar.
Essas pessoas, segundo os CDC, t�m “menor probabilidade de desenvolver a forma grave da doen�a do que os n�o vacinados” e, “mesmo que desenvolvam sintomas, eles tendem a ser menos severos”.
“Isso significa que [os vacinados] t�m menos chance de serem hospitalizados ou de morrerem do que pessoas n�o vacinadas”, concluem.
Infec��o e transmiss�o
Os vacinados “podem ter tanto v�rus no nariz e na garganta como as pessoas que n�o foram vacinadas, mas parecem t�-lo durante menos tempo, por isso t�m menos tempo para transmitir [o v�rus]”, disse � AFP a professora Nancy Baxter, diretora da Escola de Popula��o e Sa�de Global de Melbourne, na Austr�lia, em 23 de dezembro de 2021.Um editorial de 4 de novembro de 2021 da publica��o The Journal of the American Medical Association (Jama) faz uma an�lise de artigos publicados sobre infec��es de pessoas vacinadas contra a covid-19 com imunizantes de RNA mensageiro, como os da Pfizer e da Moderna.
No texto, a associa��o pondera que: “Novas evid�ncias sugerem que, mesmo que pessoas totalmente vacinadas tenham risco de infec��o pelo SARS-CoV-2, elas s�o substancialmente menos propensas a carreg�-lo em compara��o com pessoas n�o vacinadas”.
A publica��o ainda indica que estudos sobre din�micas do v�rus t�m demonstrado que, enquanto a carga viral de pessoas vacinadas pode ser alta como a de indiv�duos n�o vacinados, nos vacinados ela declina mais rapidamente.
“Pessoas com esquema vacinal completo t�m menos chance de se infectarem e, se contaminadas, v�o contagiar por per�odos mais curtos que pessoas n�o vacinadas. Isso � corroborado por estudos sobre transmiss�o que confirmam que pessoas vacinadas s�o menos propensas a transmitir o SARS-CoV-2 a contatos pr�ximos se comparadas a pessoas n�o vacinadas, incluindo a variante delta”, assegura.
Resposta imunol�gica completa
Sobre a relev�ncia da terceira dose, ou dose de refor�o, sobretudo diante de novas muta��es do SARS-CoV-2 e em pessoas com o sistema imunol�gico mais fr�gil, Gustavo Cabral ressaltou a import�ncia de ativar a resposta imunol�gica como um todo:“A gente precisa de um refor�o para estimular a resposta imunol�gica n�o exclusivamente de anticorpos. A gente estimula outros componentes do sistema imunol�gico, al�m dos anticorpos, como as c�lulas T, por exemplo”.
Ele destacou que parte importante da imunidade � a mem�ria celular, que s� acontece com as c�lulas B e T. “E essa mem�ria acorda rapidamente quando a gente d� o booster [refor�o]. Quando a gente d� esse booster ou a gente se infecta naturalmente, a gente pega essa resposta e faz explodir a resposta imune”, completou.
Essa potencializa��o da resposta imune, segundo Cabral, faz com que a terceira dose tenha efeito tamb�m mais duradouro.
No caso das variantes do SARS-CoV-2, especialmente a mais recente �micron, isso � ainda mais importante. “Pelas muta��es, ela poderia ter um escape maior dos anticorpos, mas com todos os outros componentes do sistema imunol�gico ativados, n�o. Ela s� escapa de uma parte da resposta imunol�gica dos anticorpos, mas do resto n�o”, destacou. Quem toma a terceira dose, portanto, est� muito mais protegido, afirmou o pesquisador. “Principalmente em rela��o � �micron”.
“Acordar” o sistema imunol�gico
O imunologista detalha que, por uma quest�o de sobreviv�ncia, o sistema imunol�gico “adormece”, para que o corpo n�o fique sob estresse cont�nuo. Por isso, passados alguns meses da primeira e da segunda dose, a produ��o de anticorpos cai. A terceira dose funcionar�, ent�o, de forma a “acordar” o sistema imunol�gico:“Com o refor�o, a gente vai estimular o sistema imunol�gico como um todo, vai acordar a mem�ria do sistema imunol�gico adaptativo, ou seja, aquele que se adaptou � vacina, para que, quando a gente tenha contato com o v�rus, a gente n�o desenvolva a doen�a, principalmente na sua forma grave, e que n�o precise de atendimento hospitalar que leve a interna��o”, disse Cabral.
Marilda Siqueira, pesquisadora e chefe do Laborat�rio de V�rus Respirat�rios e do Sarampo da Fiocruz, tamb�m explicou � AFP que o papel das vacinas, especialmente contra as variantes, � evitar casos graves da doen�a.
“N�s podemos ter no nosso pa�s - apesar de uma situa��o confort�vel, de altas coberturas vacinais - pessoas que j� tomaram a vacina, mas que apresentam uma imunidade baixa ou n�o suficiente para n�o se infectarem. O principal objetivo das vacinas (...) n�o � exatamente evitar a infec��o, mas, sim, evitar a hospitaliza��o. O que a gente quer � que n�o v� para o hospital, que n�o morra”, disse.
Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.
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