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Estado de Minas VIOL�NCIA CONTRA A MULHER

Entenda o que muda ap�s a Lei Mariana Ferrer entrar em vigor

Lei pune constrangimentos �s v�timas ap�s Mariana Ferrer ser humilhada em audi�ncia. O EM conversou com advogadas feministas para falar sobre a conquista


25/11/2021 08:27 - atualizado 30/11/2021 16:03

Imagem de Mariana Ferrer
Jovem Mariana Ferrer foi humilhada no julgamento do empres�rio acusado de t�-la dopado e estuprado (foto: Redes sociais/Reprodu��o )
"Jamais teria uma filha do n�vel dela." Foi o que disse Cl�udio Gast�o da Rosa Filho, advogado do empres�rio Andr� Camargo Aranha, ao se referir � jovem Mariana Ferrer, que denunciou ter sido dopada e estuprada durante uma festa no qual ela estava trabalhando em um beach club em Florian�polis, em Santa Catarina, em 2018. O juiz Rudson Marcos em nada interferiu.

O pa�s ficou escandalizado com a audi�ncia que escancarava a viol�ncia institucionalizada e a revitimiza��o da jovem.

E foi pensando nisso que foi formulado o Projeto de Lei Mariana Ferrer, que virou lei ontem (24/11). A Lei 14.245 prev� puni��o para atos contra a dignidade de v�timas de viol�ncia sexual e das testemunhas do processo durante julgamentos.

O Estado de Minas conversou com Fernanda de Avila e Silva, advogada feminista e militante pelos direitos das mulheres, s�cia-fundadora do projeto Me Conta Direito, e Camila Rufato Duarte, advogada, ativista da causa feminista e cofundadora do Direito Dela, para discutir os principais mudan�as e a import�ncia da nova lei.

Confira as entrevistas:


O que muda no julgamento de processos de estupro com a nova lei?

Camila Rufato: "A grande mudan�a trazida � a coibi��o de quaisquer atos atentat�rios � dignidade da v�tima e de testemunhas em todos os tipos de julgamentos. No Art. 400-A da lei est� prevista a prote��o nas audi�ncias de instru��o e julgamento, com aten��o especial �s que apurem crimes contra a dignidade sexual."

Fernanda de Avila: "Em qualquer julgamento, todas as partes precisam ser tratadas com respeito e dilig�ncia. Isso vale para absolutamente todos os envolvidos. Mas a gente sabe que a viol�ncia institucional � uma realidade dentro do Judici�rio brasileiro. (...) A audi�ncia do caso Mariana Ferrer, que vazou na m�dia, mostrou, para todos que assistiram, uma realidade que faz parte da advocacia feminista, algo que enfrentamos cotidianamente e, felizmente, essa lei vem para definitivamente coibir esse tipo de situa��o.

A prote��o da nova lei n�o � direcionada apenas aos casos de viol�ncia sexual, mas ela confere uma relev�ncia especial para esses casos, j� que aumentou de um ter�o at� a metade a pena do crime de coa��o no curso do processo, quando o processo envolver qualquer crime contra a dignidade sexual - isso inclui importuna��o sexual, ass�dio sexual, estupro, estupro de vulner�vel, viola��o sexual mediante fraude e outros - e destacou a mesma quest�o nos cuidados que precisam ser tomados durante as audi�ncias de instru��o e julgamento."


Para mais v�deos explicativos como este, acesse nossa p�gina

Isso apenas vale no momento da audi�ncia?

Fernanda de Avila: "As regras processuais da nova lei valem para audi�ncias criminais. Ou seja, a quest�o das manifesta��es inapropriadas, utiliza��o de linguagem que n�o atente contra a honra da v�tima, informa��es e materiais que n�o ofendam v�timas e testemunhas, tudo isso tem est� relacionado � audi�ncias do �mbito penal.

Mas a quest�o do crime de coa��o no curso do processo n�o. Esse crime j� existia antes. No entanto, se ele acontecer em casos de viol�ncia sexual agora recebe uma pena mais grave. Ou seja, usar viol�ncia ou grave amea�a contra qualquer pessoa envolvida no processo (testemunha, autor, r�u, advogado) buscando obter algum tipo de favorecimento pessoal ou tentado favorecer algu�m, configura esse crime, desde que j� exista um processo instaurado. E se o processo estiver relacionado a qualquer tipo de viol�ncia sexual, o crime agora ter� a pena aumentada."

Como evidenciar provas?

Camila Rufato: "� essencial pensar sempre em como produzir provas, pois � assim que conseguimos consubstanciar nossos direitos. Todo o processo judicial � documentado. Das audi�ncias s�o feitas atas, no entanto nas atas n�o constam, na maioria das vezes, o detalhamento suficiente para que seja evidenciada a pr�tica do crime em comento. Assim, � essencial que o(a) advogado(a) da parte que for v�tima de alguma das formas de viol�ncia previstas na Lei nº 14.245/21 interfira e pe�a para que o escriv�o conste em ata aquele ato atentat�rio contra a dignidade da v�tima ou da testemunha, a partir de agora fundamentando esta solicita��o com a Lei Mariana Ferrer.

Para al�m da ata, as audi�ncias virtuais podem ser gravadas na tela do computador, o que facilita todo este processo. No caso das audi�ncias presenciais o(a) advogado(a) pode solicitar a grava��o da mesma justamente para resguardar sua cliente de eventual desrespeito. No entanto, � importante aqui ressalvar que, especialmente em casos delicados e que correm em segredo de justi�a, a grava��o deve ser realizada com a cautela necess�ria para que n�o afronte o direito � intimidade da parte."

Quem deve zelar pela integridade f�sica e psicol�gica da v�tima?

Camila Rufato: "Todas as partes e sujeitos processuais presentes no ato processual, ou seja: ju�zes, advogados, membro do minist�rio p�blico, defensores p�blicos, testemunhas, todos podem ser responsabilizados civil, penal e administrativamente."

O que a nova lei simboliza para a luta das mulheres?

Fernanda de Avila: "� um marco na luta contra a viol�ncia institucional. O caso Mariana Ferrer escancarou a exist�ncia desse tipo de pr�tica. O Judici�rio precisa ser um ambiente de acolhimento e escuta e n�o de humilha��es e desest�mulo a den�ncias. Eu acredito que tanto a Lei Mariana Ferrer como o Protocolo de Julgamento com perspectiva de g�nero lan�ado pelo Conselho Nacional de Justi�a, no dia 19 de outubro de 2021, surgem para comprovar que viol�ncia institucional existe sim, afinal se n�o existisse ningu�m se mobilizaria dentro do legislativo e do pr�prio judici�rio para combat�-la.

Eu realmente espero que represente uma mudan�a de paradigma. � uma vit�ria para as mulheres, um grande avan�o perceber que os olhos est�o voltados para o problema da viol�ncia institucional e que algo est� sendo feito. Agora resta esperar a aplica��o efetiva, tanto da lei como do protocolo."

Camila Rufato: "A lei � uma conquista incontest�vel, sobretudo para as mulheres, pois embora a legisla��o estabele�a prote��o a todas as v�timas e testemunhas, sem distin��o de g�nero, a realidade � que, na pr�tica, quem mais sofre atos atentat�rios contra a honra s�o as mulheres, uma vez que a nossa sociedade ainda replica a l�gica da "mulher honesta", outrora prevista na legisla��o, o que leva a uma consequ�ncia machista que elenca mulheres que mereceram ou n�o o mal a elas infligido, corroborada pelo estere�tipo da mulher enquanto um ser perverso e trai�oeiro que deve sempre ter a palavra questionada, pois pode estar se utilizando daquela situa��o em benef�cio pr�prio ou com o intuito de vingan�a.

Na maioria das vezes estas duas situa��es s�o usadas como argumentos expl�citos ou impl�citos para violentar e silenciar as mulheres no judici�rio. A nova lei traz um freio para essas condutas que revitimizam as mulheres e � um feliz indicativo que as quest�es de g�nero est�o sendo colocadas em pauta e o machismo estrutural punido."

O que � relacionamento abusivo?

Os relacionamentos abusivos contra as mulheres ocorrem quando h� discrep�ncia no poder de um em rela��o ao outro. Eles n�o surgem do nada e, mesmo que as viol�ncias n�o se apresentem de forma clara, os abusos est�o ali, presentes desde o in�cio. � preciso esclarecer que a rela��o abusiva n�o come�a com viol�ncias expl�citas, como amea�as e agress�es f�sicas.

A viol�ncia dom�stica � um problema social e de sa�de p�blica e, que quando se fala de comportamento, a raiz do problema est� na socializa��o. Entenda o que � relacionamento abusivo e como sair dele.

Leia tamb�m:
 Cidade feminista: mulheres relatam viol�ncia imposta pelos espa�os urbanos

Como denunciar viol�ncia contra mulheres?

  • Ligue 180 para ajudar v�timas de abusos.
  • Em casos de emerg�ncia, ligue 190.

O que � viol�ncia f�sica?

  • Espancar
  • Atirar objetos, sacudir e apertar os bra�os
  • Estrangular ou sufocar
  • Provocar les�es

O que � viol�ncia psicol�gica?

  • Amea�ar
  • Constranger
  • Humilhar
  • Manipular
  • Proibir de estudar, viajar ou falar com amigos e parentes
  • Vigil�ncia constante
  • Chantagear
  • Ridicularizar
  • Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em d�vida sobre sanidade (Gaslighting)

O que � viol�ncia sexual?

  • Estupro
  • Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto 
  • Impedir o uso de m�todos contraceptivos ou for�ar a mulher a abortar
  • Limitar ou anular o exerc�cio dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher

O que � viol�ncia patrimonial?

  • Controlar o dinheiro
  • Deixar de pagar pens�o
  • Destruir documentos pessoais
  • Privar de bens, valores ou recursos econ�micos
  • Causar danos propositais a objetos da mulher

O que � viol�ncia moral?

  • Acusar de trai��o
  • Emitir ju�zos morais sobre conduta
  • Fazer cr�ticas mentirosas
  • Expor a vida �ntima
  • Rebaixar por meio de xingamentos que incidem sobre a sua �ndole

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