
Guilherme Nascimento de Arruda, hoje com 10 anos, nasceu com uma deformidade no trato urin�rio, na v�lvula de uretra posterior, que provoca um fechamento da uretra e a urina voltava para o rim. A doen�a foi diagnosticada ainda durante as consultas do pr�-natal da m�e, o que garantiu uma interven��o precoce.
No Brasil, a cada milh�o de habitantes, 20 s�o crian�as portadoras de doen�a renal. Um n�mero considerado alto, j� que na inf�ncia a mortalidade desse grupo � 30 vezes maior do que em crian�as saud�veis. A vida da crian�a com alguma doen�a cr�nica � de desafios. Para isso, a parceria da fam�lia com as equipes m�dicas � fundamental. Na semana que marca o Dia das Crian�as, � tempo de enaltecer essa rede de pessoas que atuam para dar alegria a crian�as como Guilherme.
"Quando ele nasceu, ficou na UTI por 30 dias no hospital da Unicamp. L� ele fez uma cirurgia de desobstru��o no rim e tomava uns doze tipos de medicamentos diferentes, porque durante meses ele ficou em tratamento conservador", explica a m�e, Grasiella Nascimento de Arruda. Guilherme passava mais tempo no hospital do que em casa. A di�lise foi o tratamento indicado, mas ainda assim o transplante era o que lhe garantiria mais qualidade de vida. A boa not�cia foi quando testes indicaram que o rim da sua m�e era compat�vel.
"Nada foi f�cil. Na primeira data agendada para o transplante, o Gui teve uma pneumonia. Na segunda, eu tive dengue. Na terceira, ele estava com uma feridinha na barriga que podia infeccionar. At� que o sonhado dia chegou. Ele fez o transplante e meses depois come�ou a andar pela primeira vez. A insufici�ncia renal cr�nica deixou os ossinhos fr�geis. Ent�o foi muito bom. Depois de tudo que a gente j� tinha passado, era uma ben��o. E foi indo bem at� um ano e seis meses de transplante, quando uma bi�psia apontou rejei��o ao meu rim doado. Ele ficou por mais quatro anos com esse rim, fazendo tratamentos, passando por algumas infec��es, pneumonia, ficou na UTI. Qualquer resfriado j� virava pneumonia. E at� que ele teve um v�rus, ficou internado mais uma vez, e ali ele perdeu boa parte da fun��o do rim. Ent�o, teve que voltar para a di�lise. Agora, novamente, desde setembro de 2020, ele est� na lista de espera para um doador. Moramos no interior e vamos para S�o Paulo dialisar seis vezes por semana. Hoje em dia, uso transporte da prefeitura e saio �s 6h30 da manh�. Chego em casa no fim do dia. Mas n�o desanimo nunca. Tenho f� de que ele vai conseguir esse rim compat�vel. At� esse dia, a di�lise � o que salva sua vida", conta Grasiella, relatando a saga.
"O amor � t�o grande que est�o sempre com o sorriso no rosto, mesmo com tantas l�grimas no cora��o. De nossa parte, fazemos de tudo pra garantir que os momentos deles aqui na cl�nica sejam acolhedores e felizes", diz a psic�loga Donata Hamad, da cl�nica Samarim, da Fresenius Medical Care, onde Guilherme faz suas sess�es de di�lise.

"O ultrassom morfol�gico que as m�es realizam com 20 semanas de gesta��o j� pode apontar anormalidades no trato urin�rio e normalmente as interven��es, como cirurgias, s�o feitas ap�s o nascimento, mas, dependendo do problema verificado, � poss�vel que haja a opera��o com o feto ainda na barriga. � mais raro, mas pode acontecer. O nosso alerta � que as m�es jamais deixem de fazer o pr�-natal e todos os exames necess�rios. Quanto antes uma doen�a � detectada, maiores as chances de interven��es", explica a m�dica nefropediatra Simone Vieira, que � coordenadora m�dica da unidade de Hemodi�lise Pedi�trica da Samarim.
Sinais da doen�a
Caso os rins dos pequenos n�o estejam funcionando bem, podem aparecer sinais que muitas vezes os pais nem percebem e, quanto mais tarde o diagn�stico � feito, mais grave a doen�a renal pode se tornar. Por isso, os pais devem ficar atentos. Incha�os nas m�os e p�s, cansa�o, altera��o na quantidade e cor de urina, sangue na urina, febre ou calafrios com dor na bexiga, al�m de ard�ncia ao urinar s�o sintomas que indicam a necessidade de ir ao m�dico.
"A press�o alta na inf�ncia � um sinal de alerta, e normalmente � diagnosticada em exame cl�nico no pediatra com aferi��o da press�o arterial. Quando h� altera��o, a crian�a � encaminhada ao especialista, um nefrologista pedi�trico, para investiga��o, visto que 80% dos casos de hipertens�o arterial na faixa et�ria pedi�trica est� relacionada com problema renal", explica Simone.
Preven��o
A alimenta��o das crian�as � fundamental na preven��o quanto � sa�de renal. Eles precisam beber muito l�quido, e diminuir a ingest�o de alimentos que contenham alto teor de sal, a��car e gorduras. "O s�dio � um conservante e est� presente em muitos alimentos industrializados que as crian�as consomem", alerta a m�dica.
Leia tamb�m: Fisioterapia recupera for�a de pacientes em di�lise
Medidas preventivas fazem a diferen�a no crescimento e desenvolvimento das crian�as, pois o bom funcionamento dos rins � imprescind�vel para garantir uma vida saud�vel. Na vida adulta, muitas pessoas em hemodi�lise s�o diab�ticas ou perderam a fun��o renal devido a hipertens�o arterial n�o controlada. Atitudes saud�veis desenvolvidas j� na inf�ncia podem impedir o aumento da incid�ncia de diab�ticos, hipertensos e doentes renais no futuro.
De acordo com Simone Vieira, apesar da doen�a renal cr�nica ser menos frequente na inf�ncia, � necess�rio ampliar a oferta de tratamentos destinados �s crian�as. "S�o poucas as unidades que possuem esse servi�o, que exige uma equipe multiprofissional especializada. Crian�as de todo o pa�s v�m para S�o Paulo, porque aqui nos tornamos refer�ncia. As crian�as demandam cuidados intensos e especiais porque apresentam comorbidades associadas, est�o em fase de crescimento, desenvolvimento neurol�gico e psicossocial. Muitas delas com �timas perspectivas para realizar transplante renal. Ent�o cuidamos para atingir o maior sucesso poss�vel nessa jornada", explica.
Veja dicas para cuidar da sa�de renal desde a inf�ncia:
- Aleitamento materno exclusivo: protege contra desidrata��o e algumas doen�as
- Evitar sal, a��car e alimentos industrializados: o consumo de produtos industrializados e fastfood tem impacto direto na sa�de infantil, com aumento da incid�ncia de c�lculos renais, obesidade, diabetes e hipertens�o arterial
- Manter a crian�a hidratada: incentivar as crian�as a beber �gua e evitar exposi��o prolongada ao sol
- Praticar atividades f�sicas regularmente: crian�as que praticam atividades f�sicas se tornam adultos mais saud�veis e com menor risco de les�o renal. O sedentarismo leva a complica��es como hipertens�o arterial e diabetes da inf�ncia at� a idade adulta
- Acompanhamento pedi�trico regular
- Aferir press�o arterial em crian�as nas consultas de rotina com o pediatra
- Controlar o peso corporal da crian�a
- Evitar uso de anti-inflamat�rios