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Estado de Minas NUTRI��O

Alimenta��o de mulheres gestantes pode influenciar obesidade nos filhos

Ingest�o de alimentos como embutidos e bebidas a�ucaradas aumenta em 26% o risco de as crian�as terem sobrepeso ou obesidade


17/10/2022 09:45 - atualizado 17/10/2022 13:19

Mulher grávida
(foto: Pixabay)

A forma como os pais se alimentam influencia o peso dos filhos, e isso � bem conhecido. Mas, agora, um estudo baseado em tr�s pesquisas mostra que o tipo de dieta da m�e durante a gesta��o tamb�m pode acarretar sobrepeso e obesidade na crian�a. Publicado no The British Medical Journal (BMJ), o artigo, da Universidade de Harvard, encontrou associa��es estat�sticas entre o consumo de ultraprocessados - como salsicha, macarr�o instant�neo e refrigerante - na gravidez e um �ndice de massa corporal (IMC) elevado do filho na inf�ncia.

Embora o trabalho seja observacional, ou seja, n�o estabelece rela��o de causa e efeito, os autores destacam a import�ncia de se aprofundar pesquisas sobre o impacto na prole da ingest�o desse tipo de produto aliment�cio durante a gesta��o. Em todo o mundo, os n�veis de sobrepeso e obesidade est�o aumentando, inclusive entre crian�as, tornando necess�rias novas formas de enfrentamento, diz o artigo. Segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), em 2020, 39 milh�es de meninos e meninas estavam obesos.

Conduzido pelo m�dico epidemiologista Andrew T. Chan, o estudo detectou essa rela��o independentemente dos fatores de risco da m�e e da crian�a, como n�vel de atividade f�sica e sedentarismo, IMC materno e condi��es socioecon�micas. Qualquer que fosse a dieta da fam�lia ap�s o nascimento do beb�, o fato de a gestante ter relatado um alto consumo de ultraprocessados (12,1 por��es/dia) elevou em 26% o risco de o filho ter sobrepeso ou obesidade, comparado a gr�vidas que informaram o menor n�vel de ingest�o desses produtos (3,4 por��es/dia).

No total, foram analisadas tr�s pesquisas que inclu�ram dados de 19.958 crian�as nascidas de 14.553 m�es. Apesar da robustez estat�stica, os autores ressaltam que h� algumas limita��es, incluindo a pouca variedade �tnica (a maioria dos participantes era branco) e socioecon�mica, o que significa que os resultados podem n�o se aplicar a outros grupos. Al�m disso, por ser observacional, a pesquisa n�o sugere mecanismos que possam explicar a associa��o encontrada.

Ainda assim, os autores citam explica��es poss�veis. "Existem alguns mecanismos potenciais pelos quais a ingest�o de alimentos ultraprocessados durante a gravidez pode afetar a adiposidade da prole, incluindo a modifica��o epigen�tica da suscetibilidade dos filhos � obesidade", escreveram. Mudan�as epigen�ticas s�o altera��es no DNA que podem ser herdadas e s�o muito influenciadas por fatores ambientais, como o tipo de alimenta��o.

Leia tamb�m: Crian�as tamb�m podem ter doen�as reum�ticas, diz especialista

Al�m disso, os pesquisadores destacam que "outros mecanismos biol�gicos podem envolver os aditivos pr�-inflamat�rios em alimentos ultraprocessados, incluindo s�dio, emulsificantes, a��car e ado�antes artificiais''. "A inflama��o materna cr�nica, possivelmente mediada pela ingest�o de alimentos ultraprocessados, tem sido associada ao aumento da adiposidade da prole em camundongos e humanos", escreveram.

A longo prazo


Estudos anteriores, com animais, demonstraram que a ingest�o materna de alimentos com alto teor de prote�na ou de gordura durante per�odos cr�ticos do desenvolvimento fetal pode "programar" a prole para uma s�rie de consequ�ncias metab�licas de longo prazo, incluindo obesidade, resist�ncia � insulina e diminui��o do gasto energ�tico total. Citadas em um artigo da Faculdade de Medicina de Harvard, outras pesquisas observacionais tamb�m j� encontraram associa��es entre maior ingest�o materna de bebidas a�ucaradas e IMC alto dos filhos.

A nutricionista La�s Murta, p�s-graduada em nutri��o cl�nica funcional, destaca que os aditivos dos ultraprocessados causam mudan�as na microbiota intestinal, o que, por sua vez, pode levar a altera��es metab�licas e no sistema imunol�gico. "A defici�ncia de v�rios nutrientes nesses produtos tamb�m impacta todo o organismo", diz, lembrando que as gestantes precisam de nutri��o adequada, sob o risco de preju�zos � sa�de do feto no per�odo intrauterino n�o serem revertidos posteriormente.

"Sabemos que o ambiente alimentar ao qual uma crian�a � exposta em casa pode afetar a sua sa�de. Por exemplo, se os pais ingerem uma dieta rica em alimentos ultraprocessados e est�o acima do peso, � mais prov�vel que a crian�a o fa�a e tamb�m fique acima do peso", comenta Hannah Whittaker, nutricionista pedi�trica e especialista em sa�de materna da Associa��o Diet�tica Brit�nica. "Tamb�m estamos cientes de que a dieta da m�e durante a gravidez pode ter um efeito positivo ou negativo nos resultados do parto", destaca.

Para Whittaker, a pesquisa publicada no BMJ amplia esses conhecimentos e abre caminho para uma nova �rea de pesquisas. "Esse estudo produziu algumas informa��es interessantes em rela��o � ingest�o alimentar materna e o risco de sobrepeso ou obesidade na inf�ncia, e pode influenciar as pol�ticas p�blicas para garantir que certos grupos populacionais recebam uma educa��o apropriada a respeito", acredita.

Entenda a diferen�a


Antes de 2010, os alimentos e produtos aliment�cios eram rotulados de acordo com os principais nutrientes. Por�m, com a classifica��o NOVA, adotada por v�rios pa�ses, eles passaram a ser divididos de acordo com a forma de processamento. O Guia alimentar para a popula��o brasileira, do Minist�rio da Sa�de, adota essa classifica��o.

Grupo 1

Alimentos in natura e minimamente processados: s�o aqueles obtidos de plantas ou animais que chegam ao consumidor sem terem passado por nenhum tipo de processamento. "J� os minimamente processados sofreram altera��es m�nimas na ind�stria, por meio de processos como secagem, pasteuriza��o e fermenta��o. No entanto, ainda n�o foram adicionados sal, a��car ou outra subst�ncia", explica Marcella Garcez, m�dica nutr�loga e diretora da Associa��o Brasileira de Nutrologia (Abran). Na categoria, se enquadram alimentos como frutas, hortali�as, gr�os, nozes, leite e ovos. "Geralmente, s�o alimentos que n�o contam com lista de ingredientes como aqueles encontrados no mercado. Eles s�o os pr�prios ingredientes."

Grupo 2


Ingredientes culin�rios processados: s�o aqueles extra�dos diretamente de alimentos do grupo 1 e que s�o consumidos como itens de prepara��o nas cozinhas. O prop�sito do processamento � criar produtos que possam ser usados em pratos salgados e doces, sopas, saladas, conservas, p�es caseiros. As etapas do processamento incluem prensagem, moagem, pulveriza��o, secagem e refino. Exemplos: a��car, melado, mel, sal de cozinha, �leos, gorduras e amido.

Grupo 3


Alimentos processados: s�o derivados diretamente de alimentos in natura, mas passaram por um processo de adi��o de sal, a��car, �leo ou vinagre para torn�-los mais dur�veis e agrad�veis ao paladar. "Por ser um processo que altera a qualidade nutricional, o consumo exagerado pode aumentar o risco de doen�as cardiovasculares, diabetes e obesidade", explica a diretora da Abran. S�o exemplos: legumes em salmoura, extrato de tomate, carne seca, frutas em calda, queijo e p�es.

Grupo 4


Alimentos ultraprocessados: s�o formula��es industriais fabricadas a partir de subst�ncias extra�das ou derivadas de outros alimentos (sal, a��car, �leos, prote�nas e gorduras) e sintetizadas em laborat�rio (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). "No geral, t�m um grande prazo de validade, mas s�o pobres nutricionalmente e ricos em calorias, gorduras e aditivos qu�micos", alerta a m�dica. O ideal � evitar alimentos como bolachas, guloseimas, sorvetes, bolos e produtos congelados e prontos para o consumo.

Orienta��o pr�-natal

Lorrainy Rabelo, especialista em ginecologista e obstetr�cia pela Federa��o Brasileira de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo)

"J� est� estabelecido por diversos estudos que a alimenta��o da m�e durante a gesta��o e do beb� at� os 2 anos de idade � determinante para o desenvolvimento de doen�as como obesidade infantil, diabetes e outras complica��es na vida adulta. Esse per�odo � crucial para a vida futura, � quando ocorre a modula��o epigen�tica. N�s nascemos com genes e predisposi��o para algumas doen�as. A quest�o de desenvolv�-las ou n�o, ou seja, de esses genes se manifestarem ou n�o, vai depender muito do estilo de vida da pessoa, de fatores ambientais. Isso � chamado de epigen�tica. Ou seja, por meio dos h�bitos, podemos influenciar algumas tend�ncias metab�licas gen�ticas. Durante a vida intrauterina e at� os 2 anos, essa modula��o epigen�tica � essencial. Por isso a orienta��o t�o importante no sentido de uma alimenta��o saud�vel. Uma m�e com sobrepeso ou que consome ultraprocessados, ricos em s�dio e gordura, tem fator de risco para o desenvolvimento de patologias gestacionais, como diabetes, hipertens�o, pr�-ecl�mpsia, parto prematuro e complica��es consequentes neonatais. Em todas essas patologias incidem complica��es que tamb�m afetam o feto. A orienta��o de h�bitos de vida saud�vel e de controle de peso � uma obriga��o no pr�-natal."

Presentes na dieta infantil

A ingest�o rotineira de alimentos ultraprocessados foi associada, anteriormente, a diversos problemas de sa�de, incluindo risco aumentado de obesidade, diabetes gestacional, hipertens�o e dem�ncia. O consumo desse tipo de produto est� em alta, segundo uma revis�o sistem�tica da Universidade de Estudos de Mil�o que incluiu 38 pesquisas brasileiras. O Estudo Nacional de Alimenta��o e Nutri��o Infantil, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontou que, no Brasil, a dieta de 80% das crian�as de at� 5 anos - incluindo beb�s - inclui ultraprocessados.

"J� est� mais que comprovado que o consumo regular de ultraprocessados, como sorvete, suco de caixinha, biscoitos recheados, macarr�o instant�neo, achocolatados, bolos industrializados, embutidos, � uma das fortes raz�es do ganho de peso excessivo na inf�ncia, e essa tend�ncia de consumo � o reflexo do impacto do marketing e de pol�ticas permissivas sobre alimenta��o infantil", acredita a nutricionista da plataforma CalcLab Karla Lacerda, p�s-graduada em nutri��o funcional. "Antigamente, a obesidade era um problema quase que exclusivamente de adultos, mas, aos poucos, foi se estendendo a faixas de idades cada vez menores, chegando hoje, inclusive, a acometer gravemente crian�as menores de 5 anos", diz.

A nutricionista Lais Murta, especialista em nutri��o funcional, destaca que produtos ultraprocessados s�o altamente dopamin�rgicos, ou seja, t�m componentes que estimulam a produ��o, no c�rebro, de subst�ncias associadas ao prazer. Por isso, muitas pessoas acabam os consumindo em excesso e de forma cr�nica. "E s�o pr�ticos. Soma-se praticidade e prazer. Ent�o, � muito dif�cil que as pessoas acabem n�o optando por eles", lamenta.


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