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Estado de Minas SA�DE MENTAL

Copa do Mundo: como a sa�de mental influencia o desempenho dos jogadores

O estado mental pode afetar o resultado de uma partida e mostra a import�ncia de identificar l�deres, sabotadores e bodes expiat�rios dentro de um time


14/11/2022 13:50 - atualizado 14/11/2022 13:50

Ilustração mostra uma cabeça humana com uma bola no lugar do cérebro
Katia Rubio entende que os t�tulos v�m apenas quando a equipe coloca os objetivos coletivos acima dos individuais (foto: Getty Images)
A psic�loga Katia Rubio, professora da Faculdade de Educa��o da Universidade de S�o Paulo (USP), entende que as Olimp�adas de 2020, disputadas em T�quio, no Jap�o, representaram um divisor de �guas na rela��o entre a mente e a performance esportiva. "Nunca se falou tanto sobre sa�de mental e esporte como durante e ap�s os jogos ol�mpicos mais recentes", avalia.

Vale lembrar que a disputa ocorreu em meio � pandemia de COVID-19, em que todo mundo precisou fazer isolamento e ficar longe de familiares e amigos. Durante a competi��o, o caso da ginasta americana Simone Biles, que desistiu de algumas provas por quest�es relacionadas ao bem-estar mental, ganhou as manchetes mundo afora.

Ser� que um cen�rio parecido vai se repetir na Copa do Mundo de 2022, disputada no Catar?

Rubio, que tamb�m foi presidente da Associa��o Brasileira de Psicologia do Esporte, dedica a carreira a estudar o tema e resgatar a mem�ria de atletas brasileiros.

Na vis�o dela, a resist�ncia sobre sa�de mental no mundo do futebol tamb�m est� diminuindo consideravelmente nos �ltimos anos.

"E isso acontece com mais for�a no futebol feminino, que j� soma v�rias interven��es de sucesso", diz.

"No masculino, h� uma resist�ncia maior, at� pelo machismo e por aquela falsa no��o de que homem n�o chora, � potente e n�o pode falar de quest�es sentimentais." "Isso s� atrasa o acesso a um apoio fundamental para a vida do atleta", lamenta a psic�loga.

Leia tamb�m: Brasil sofre cada vez mais de depress�o.

Mas Rubio v� que, at� entre os homens, esse bloqueio emocional est� diminuindo aos poucos. Ela cita o exemplo de jogadores que classifica como "pioneiros na sa�de mental", por falarem abertamente que consultaram psiquiatras e foram diagnosticados com depress�o.

Nas �ltimas duas d�cadas, atletas como Pedrinho, ex-jogador de Palmeiras e Vasco, e Nilmar, que vestiu as camisas de Internacional, Corinthians e Santos, deram entrevistas sobre o tema."Eles prestaram um servi�o imensur�vel ao esporte, pois se colocaram na posi��o de pessoas que sofrem, como qualquer um. E isso come�ou a promover um 'degelo' nas quest�es mentais dentro do futebol", lembra.

Sa�de mental em primeiro plano

A profissional tamb�m destaca como a psicologia � relevante dentro do esporte competitivo. "A sa�de mental entra em campo com a mesma influ�ncia da prepara��o f�sica, da nutri��o, da fisiologia, da biomec�nica…", lista. "E n�o h� d�vidas de que a mente interfere diretamente na performance de um atleta", complementa.

Ou seja: um atleta que est� com algum desequil�brio no bem-estar mental n�o vai conseguir focar na jogo. Com isso, ele n�o ser� capaz de tomar as melhores decis�es para si e para a equipe — o que chega a afetar at� o placar final de uma partida.


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Rubio cita outra preocupa��o constante dos especialistas da �rea que lidam com atletas: o sono. "Sabemos que o dia anterior � competi��o costuma ser mais complicado para eles." "E temos uma s�rie de estrat�gias para que os jogadores possam dormir bem, at� porque uma boa noite do sono � fundamental para que eles tenham as condi��es m�nimas para atuar em campo", aponta.


Katia Rubio
Katia Rubio dedica a carreira de pesquisadora a entender a psicologia esportiva e resgatar a hist�ria de atletas brasileiros (foto: BBC)

A Copa que vem por a�

Rubio entende que, para o Brasil ser campe�o novamente, ser� preciso que "os ganhos coletivos se sobressaiam aos projetos individuais". "Me parece que, para a atual gera��o de jogadores, o mais importante � a possibilidade de conseguir contratos comerciais a partir das vit�rias", analisa.

Na vis�o da psic�loga, isso representa uma barreira para as grandes conquistas. "Enquanto uma equipe n�o entende que todos ganham com um t�tulo, fica muito dif�cil chegar a uma vit�ria na final", analisa.


A pesquisadora tamb�m destaca outro aspecto que influencia na rela��o entre a sele��o e os brasileiros: o fato da maioria dos jogadores disputar as ligas europeias e estar longe da realidade do pa�s. "Muitos atletas v�o para o exterior, ascendem socialmente, ampliam de forma incontrol�vel o patrim�nio e se desvinculam da vida que tinham anteriormente", descreve.

"E isso acontece porque a carreira deles � mediada por outras pessoas, que os veem como um objeto, uma commodity. Na cabe�a desses empres�rios e dirigentes, quanto mais apartados das quest�es sociais esses atletas estiverem, melhor."

"Mas � claro que existem jogadores que, de alguma forma, preservam o controle da vida pessoal e criam uma rede de apoio bem estruturada, capaz de criar um escudo contra essas influ�ncias", complementa.

E essa falta de contato com a realidade pode ficar escondida por muitos anos, at� desaguar em situa��es espec�ficas. Como exemplo, a psic�loga lembra dos momentos em que os jogadores brasileiros cantavam o Hino Nacional antes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, disputada no pa�s. "Ali, ficava muito evidente o n�vel de descontrole de alguns. Para aquelas pessoas, que viviam h� anos fora do Brasil, esse sentimento ficou trancado numa caixinha e sa�a de uma s� vez naquelas ocasi�es", avalia.

Entre l�deres e bodes expiat�rios

A psic�loga refor�a a relev�ncia de identificar o perfil de cada jogador e como ele pode contribuir durante o jogo. "H� uma m�xima que diz: a melhor equipe n�o � aquela com a maior soma de valores individuais, mas como esses valores se relacionam", cita.

Ela explica que, de forma geral, � poss�vel dividir os indiv�duos em introvertidos e extrovertidos. A partir da�, alguns ser�o racionais, sentimentais, intuitivos ou sensitivos. "Veja como � complexo identificar esses perfis e fazer com que eles interajam em equil�brio ao longo de um jogo", observa.

R�bio destaca o papel do t�cnico — e da equipe de psic�logos do time — em identificar as lideran�as em campo. "No futebol, h� o capit�o, em que o papel de l�der � materializado pela bra�adeira no bra�o. Mas podem existir outras refer�ncias t�cnicas e cognitivas dentro de uma equipe."


Duas jogadoras da Inglaterra, uma delas com a braçadeira de capitã
A capit� de um time precisa ser reconhecida como l�der pelas companheiras, afirma Rubio (foto: Getty Images)

"E cada um deles se sobressai em contextos espec�ficos. Num momento de maior tens�o da partida, alguns atletas v�o chamar a responsabilidade para criar as jogadas. Agora, quando � preciso ter sangue frio para manter um placar favor�vel, outros podem exercer um segundo tipo de influ�ncia", compara.

"Uma equipe campe� come�a quando o t�cnico � capaz de identificar todos esses perfis e tirar o melhor de cada jogador, segundo as caracter�sticas deles", resume.

Mas � claro que esses tra�os tamb�m podem ter influ�ncias negativas e naufragar o trabalho do time inteiro. Rubio cita o papel dos atletas que atuam com sabotadores e aqueles que viram bodes expiat�rios.

"O sabotador age por baixo dos panos para endere�ar interesses pessoais acima dos coletivos", ensina.

Com isso, ele consegue eleger e manipular bodes expiat�rios que, na pior das consequ�ncias, s�o apontados como culpados diante de um insucesso. "� fun��o do t�cnico e do l�der identificar e desmascarar esse sabotador", avalia. "At� porque, quando � identificado, esse indiv�duo se v� exposto e perde a influ�ncia", conclui a pesquisadora.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63512442


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