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Estado de Minas RAMIRO BATISTA

CPI poderia iluminar conta de padaria que Petrobras evita entregar

Comiss�o � bode na sala para impor respeito e dar transpar�ncia sobre composi��o de pre�os e lucro de estatal que perdeu objetivo estrat�gico e de fun��o social


21/06/2022 06:00

Prédio da Petrobras
O petrol�o foi o que se p�de descobrir sobre essa vaca mais que indiana, leiteira sagrada, que abastece de altos ganhos de seus diretores (foto: Mauro PIMENTEL / AFP)
� conhecida a doen�a infantil do comunismo, atribu�da a gente velha que acredita na utopia de um mundo justo e igualdade pelas m�os do Estado. E tem a doen�a tamb�m adolescente do petrobrasismo, que acabo de inventar.

Acomete uma gera��o que h� 70 anos acredita na fantasia de autossufici�ncia estrat�gica pelo interesse nacional da Petrobras e defende sua intocabilidade como vaca indiana, apesar de ter custado caro e nunca ter entregue o que prometeu.

� uma estrovenga criada para dar errado: ser estrat�gica, lucrativa e ter fun��o social ao mesmo tempo, tocada por gente indicada pelos governos, com interesses pol�ticos e alian�as de conveni�ncia — e n�o compet�ncia — com o setor privado.

Sua bipolaridade cr�nica de ter par�metros privados mas se apresentar como p�blica quando lhe conv�m, como agora em que gostou dos lucros indecentes, alimenta uma teia de interesses que favorece a corrup��o.

O petrol�o foi o que se p�de descobrir sobre essa vaca mais que indiana, leiteira sagrada, que abastece de altos ganhos de seus diretores, acionistas e fornecedores, dos governos federal, estadual e municipal, e sacrifica o pa�s que vai � bomba para trabalhar ou produzir. 


Sendo intoc�vel por ignor�ncia ou conveni�ncia, � natural o faniquito a cada vez que os governos amea�am enquadr�-la, como aconteceu, para ficar nos casos mais recentes, de Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro, n�o fosse o fato de que ele apanha de qualquer jeito, por a��o ou omiss�o.

Por ref�m desse trauma infantil, em que h� misto de boa f� e ignor�ncia adolescente, quando n�o rela��es de interesse com a empresa, at� analistas respeitados ecoam a ladainha de que governos n�o podem intervir nela.

Como agora, em que a pancada geral no governo de turno repete a arenga de que n�o se pode intervir na governan�a de uma empresa, quebrar contratos e dar sinaliza��es ruins para os investidores, num sistema capitalista de livre mercado.

Como se ela fosse uma empresa de livre mercado, n�o tivesse uma governan�a que muda por decis�o pol�tica e o s�cio majorit�rio, o governo, n�o pudesse trocar seus representantes dentro do seu conselho. 

Que � disso o que tem se tratado as tentativas de interven��o de Bolsonaro at� aqui, in�til ali�s e seu maior erro. Porque n�o adianta trocar presidentes numa legisla��o engessada que pune severamente os dirigentes que tomarem medidas temer�rias contra suas margens de lucro.

Ficou de tal forma moldada para assegurar seu apetite financeiro, que seus diretores temem processos judiciais onerosos se n�o corrigirem a tempo suas margens de rendimento.

Se ca�ssem nas m�os da justi�a brasileira, que n�o funciona no geral, poderiam ficar tranquilos. Mas s�o pass�veis de processos nos EUA, onde est� a maioria dos acionistas minorit�rios, e uma a��o judicial tem efeitos r�pidos e draconiamos. Paulo Francis morreu de medo literalmente de uma a��o da empresa contra ele, por difama��o, l�.

Mas se os governos n�o podem intervir, como diz o mais bobo militante que n�o sabe fazer conta ao mais sofisticado analista econ�mico, acometidos pela doen�a, quem pode?

Se a Petrobras que nasceu para ter fun��o social e ser estrat�gica em momentos de crise resolve virar capitalista selvagem — como escreveu Arthur ira em artigo contundente na Folha de S. Paulo, neste domingo — quando o pa�s vive uma de suas maiores crises desde 1500 e os diretores se sentem intoc�veis reunidos em seus gabinetes em Marte, quem pode? 

� deixar como est� para ver como � que fica? Esperar os pre�os dos barris ca�rem para ampliar ainda mais os lucros? Um dos principais conselhos de que algo precisa ser feito urgente � a constata��o, ventilada por essas cren�as, de que nada pode ser feito.

Claro que pode e n�o acho que uma CPI, a mais estapaf�rdia na cabe�a da cr�nica econ�mica e pol�tica, seja dispens�vel. Ela � um bode na sala, sem efeito aparentemente pr�tico, mas um �timo bode que os pol�ticos sabem colocar quando agentes p�blicos ou privados como essa c�pula da empresa perdem o respeito.

No m�nimo, ela vai for�ar transpar�ncia na composi��o de seus pre�os, que n�o faz sentido para quem faz conta de padaria e se cansa de procurar uma matem�tica que fa�a sentido mesmo nas suas publica��es oficiais. Seu m�ximo de transpar�ncia � dizer que entrega a gasolina a 4 reais e que o restante se refere � cadeia de impostos.

Mas falta dizer o pre�o final, real, dos derivados que entrega nos postos, resultado da mistura da produ��o em real e da importa��o em d�lar que precisa fazer para complementar o que nossas refinarias n�o d�o conta de refinar.

Sabe-se que ela precisa importar 30% do diesel. Mas se, numa conta arredondada, produz 70 litros de cada 100 a 2 reais e importa 30 a 5, seu pre�o m�dio � de 2,90 reais, n�o os 5 que cobra dos distribuidores. Por que entrega a gasolina a R$ 4 se o custo nacional de produ��o, segundo algumas especula��es, est� tamb�m em 2, se no caso aqui ela importa apenas 8% da produ��o?

� poss�vel que at� tenha boas explica��es, mas cad�?

Outra, b�sica, � porque n�o pode reduzir seus lucros em tempos de crise, que � o que faz qualquer empresa quando a coisa aperta. Por que grande parte do lucro astron�mico, mais de R$ 100 bilh�es no ano passado e chegando a mais R$ 40 bilh�es por trimestre agora, n�o pode compor um fundo de estabiliza��o dos pre�os, considerando-se sua fun��o estrat�gica e social?

J� sabemos a resposta, que � a de que nenhum empres�rio abre m�o de lucros em tempos bons porque passaram aperto nos ruins, quando ningu�m foi l� lhe oferecer dinheiro. Por isso os hoteleiros aumentam os pre�os das di�rias em alta temporada para compensar a ressaca, os vendedores de m�scara quando chegam as pandemias e os de vela e len�os quando h� mais defuntos.

Mas a� se cai na quest�o fundamental do in�cio, de que a Petrobras nunca foi o empres�rio infeliz que teve que enfrentar ressacas. Sempre foi socorrida pelos governos, como a joia da coroa, ainda que falsa. At� pelo menos o governo FHC, custava os tubos para dar previd�ncia privilegiada a seus funcion�rios, com complemento do Tesouro.

CPIs come�am mal, terminam pior, atendem mais interesses dos pol�ticos mariposas que precisam de luz, mas poucos ou nenhum dos instrumentos do Legislativo t�m mais poder para cutucar os interesses que n�o resistem � luz do sol.

Mesmo a seu jeito ca�tico de picadeiro, a CPI traria clareza e ajudaria a desenhar para os incautos, iludidos h� 70 anos, que n�o � empresa privada pura. � estatal, estrat�gica e tem fun��o social, defendida at� os dentes e desde sempre pelo estamento militar de que Bolsonaro � herdeiro.

Boa parte de nossa trag�dia atual, para ficar num exemplo, � o das refinarias que deixou de construir porque fez c�lculo econ�mico de que era melhor importar do que reform�-las para refinar o petr�leo mais bruto. 

Se tivesse o conceito de que � estatal, estrat�gica, de fun��o social, n�o privada quando lhe conv�m, teria investido na constru��o e moderniza��o das refinarias, para que o pa�s n�o passasse aperto numa hora dessas. Temos s� 13 contra 163 nos Estados Unidos.

O bate-boca por 90 dias que cospe provoca��es, informa��es e dados ajudaria a aprofundar o entendimento que vai levar �s medidas duras que se pretende contra a companhia, essas sim leg�timas, legais e pertinentes.

Revis�o da taxa��o dos lucros atuais e dos obtidos com as exporta��es, junto a uma legisla��o que passe a trat�-la como empresa como as outras, como vaticinou Arthur Lira, no mesmo artigo duro de domingo.

� bem poss�vel que a CPI possa n�o sair, porque Bras�lia sempre negocia quando outros interesses se levantam. O governo j� farejou que a oposi��o, animad�ssima com sua cria��o, pode faturar com os holofotes e ampliar o desgaste de Jair Bolsonaro em 90 dias cruciais que coincidem com o per�odo de elei��o.

Mas, como todo bode na sala, j� provocou o efeito da ren�ncia do presidente provis�rio Jos� Manuel Coelho, que se entrincheirava entre os diretores contra a press�o do governo por sua sa�da e que, segundo Lira, no mesmo artigo, conspirava contra o governo e o pa�s. E pode provocar outras, na linha do que ele e o governo pretendem.

Qual seja, a de que, se quer saborear seus lucros enquanto o povo engole a trag�dia, que aceite ser empresa, n�o dependa do governo e que tenha concorrentes. Vai disputar o mercado nos dias bons e ruins. Sofre num dia, mas tira o preju�zo no outro. Se ganha muito num terceiro, faz uma poupan�a para os dias ruins.

Isso � t�o simples, matem�tico, que s� uma doen�a como a infantil do comunismo, o petrobrasismo, dificulta entender.

 

O "Beab� da Pol�tica"

s�rie Beab� da Pol�tica reuniu as principais d�vidas sobre elei��es em 22 v�deos e reportagens que respondem essas perguntas de forma direta e f�cil de entender. Uma demanda cada vez maior, principalmente entre o eleitorado brasileiro mais jovem. As reportagens est�o dispon�veis no site do Estado de Minas e no Portal Uai e os v�deos em nossos perfis no TikTokInstagramKwai YouTube.

Confira os v�deos j� publicados:

 

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