
Fatou est� ocupada planejando seu estudo universit�rio nos EUA, fazendo malabarismos para conciliar uma s�rie de palestras sobre racismo em escolas e empresas em todo o Brasil por meio da Afrika Academy — consultoria em diversidade criada por ela — e gerenciando suas contas no Instagram e no Twitter (ambas com mais de 100 mil seguidores).
Mas a ativista ainda � mais lembrada por ter sido v�tima de racismo no Col�gio Franco Brasileiro, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Alguns colegas de turma dela publicaram mensagens racistas em um grupo da escola no WhatsApp em maio de 2020. Embora o teor das mensagens seja ineg�vel, um longo processo judicial ainda est� em andamento, e os pais de Fatou optaram por transferi-la para outra escola.
O epis�dio ganhou destaque na imprensa porque Fatou n�o apenas denunciou o incidente � pol�cia, como tamb�m falou abertamente sobre a quest�o nas redes sociais como forma de fomentar a discuss�o sobre as rela��es raciais no pa�s.
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Ela tamb�m inspirou outros jovens negros brasileiros a fazerem o mesmo. "Por meio das redes sociais e das minhas palestras, estou em contato constante com pessoas que querem participar do debate e come�ar a questionar as coisas", afirma Fatou � BBC.
Para as pessoas que se preparam para entrar neste debate, ela sugere duas coisas de cara: "A primeira � ser aut�ntico e ser respons�vel sobre o que eles postam online, pois j� h� muitas not�cias falsas por a�".
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A segunda coisa, explica Fatou, � se preparar para muita trollagem.
"Um grande problema da internet para mim � que as pessoas n�o conseguem diferenciar coment�rios negativos do que �, na verdade, um crime de �dio. As pessoas se sentem livres para dizer o que querem sem perceber que muitos dos seus pontos s�o racistas, xen�fobos ou caluniosos."

Automodera��o
Mais de 180 pa�ses no mundo comemoraram o Dia Internacional da Internet Segura em 7 de fevereiro, e o tema escolhido para 2023 � "Quer falar sobre isso? Abrindo espa�o para conversas sobre a vida on-line".
Embora Fatou acredite que as empresas de rede social precisam intensificar suas pr�ticas de modera��o e conter o discurso de �dio, ela tamb�m v� uma necessidade muito mais urgente de autocontrole por parte do usu�rio.
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"Voc� tem o direito de discordar de algu�m, mas n�o de atacar algu�m. At� que as pessoas entendam isso, n�o teremos um espa�o seguro online." Dito isso, Fatou enfatiza aos colegas — e potenciais — ativistas que � importante ser calejado. Ela ressalta que cr�ticas e diverg�ncias fazem parte do debate e n�o devem ser levadas para o lado pessoal.
"Voc� deve estar preparado para ser questionado e lidar com vis�es opostas. Ali�s, acho isso fundamental para o crescimento da pessoa", diz ela. "Sim, algumas pessoas v�o te atacar, mas voc� n�o deve ter medo delas."

Isso n�o significa, no entanto, que essas situa��es sejam agrad�veis — Fatou admite que sua atividade nas redes sociais � capaz de desencadear uma retalia��o t�o forte que muitas vezes ela evita ler os coment�rios em suas postagens — algo que ela chama de "mecanismo de defesa".
“Tenho v�rios amigos negros que s�o criadores de conte�do e acabaram fechando suas contas nas redes sociais porque n�o suportaram o �dio”, lembra.
"Voc� tem que aprender de alguma forma a se proteger um pouco."
'Cada pessoa que para de postar � uma derrota para a gente'
Fatou diz que criar uma “rede de conscientiza��o” para incentivar as pessoas a denunciarem o discurso de �dio � um passo importante para alcan�ar alguma paz de esp�rito, mas ela insiste que dar de ombros tamb�m � uma estrat�gia de defesa.
"Os haters querem conflito e geralmente v�m de sexismo, racismo e pura ignor�ncia em rela��o aos temas sobre os quais est�o questionando outras pessoas. Crimes devem ser levados a s�rio, n�o me interpretem mal, mas rea��es violentas dizem mais sobre as pessoas que me atacam do que sobre o que eu posto."
A ativista destaca a import�ncia de ser resiliente diante do abuso e n�o deixar que ele te afaste das redes sociais. "Cada pessoa que para de postar por causa de haters significa uma derrota para causas como a luta contra o racismo. Se a gente parar de falar sobre temas delicados, � exatamente isso que os haters querem."
Oportunidades - e ame�as - online
Fatou est� otimista em rela��o ao potencial das comunidades online para ampliar o ativismo e engajar as pessoas.
Ela destaca que conseguiu mobilizar apoio nas redes sociais ap�s ser v�tima de racismo em 2020, bem antes de a hist�ria chegar �s manchetes dos jornais.
“Os espa�os virtuais ganham cada vez mais import�ncia em nossas vidas. Podemos usar isso para conscientizar sobre racismo e direitos humanos, al�m de divulgar experi�ncias que �s vezes n�o chegam at� voc� necessariamente por meio da imprensa”, ela acredita.
"No meu caso, por exemplo, as pessoas ficaram sabendo como � ser uma jovem negra e filha de imigrantes africanos no Brasil."
Mas Fatou tamb�m adverte contra deixar o mundo online tomar conta. Ela lembra que a popularidade veio atrelada a muita exposi��o quando ela tinha apenas 15 anos — e admite que se sentiu oprimida.
“Eu era s� uma menina, mas de repente surgiram pessoas me acusando de negligenciar [um determinado] tema ou pessoa. Eu tinha aulas para assistir”, ela ri.
"Para mim, postar conte�do deve ser algo que voc� quer fazer — e n�o algo que voc� � obrigado a fazer. Voc� n�o deve nada a essas pessoas."