Fachada de uma loja Americanas

Pela manh�, a Americanas j� havia publicado um fato relevante dizendo que a recupera��o judicial poderia ser solicitada

MAURO PIMENTEL / MAURO PIMENTEL / AFP
A Americanas anunciou nesta quinta (19) que entrou oficialmente com o pedido de recupera��o judicial. O total dos cr�ditos listados nos documentos protocolados com o pedido de recupera��o judicial soma, nesta data, aproximadamente R$ 43 bilh�es. A peti��o foi enviada � 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.

 

Pela manh�, a empresa j� havia publicado um fato relevante dizendo que a recupera��o judicial poderia ser solicitada "nos pr�ximos dias ou nas pr�ximas horas", uma vez que tinha apenas R$ 800 milh�es em caixa.

 

A empresa reclamou da atitude do banco BTG Pactual, que conseguiu um mandado de seguran�a na Justi�a para bloquear R$ 1,2 bilh�o na conta da empresa junto � institui��o financeira, como forma de se precaver de um poss�vel calote. Tamb�m o Bradesco reteve mais de R$ 450 milh�es, segundo a pr�pria Americanas. O Ita� � outra institui��o que foi � Justi�a nesta quinta para pedir que a Americanas s� possa sacar seu dinheiro ap�s autoriza��o judicial.

 

O pedido de recupera��o judicial acontece oito dias ap�s o ex-presidente da empresa, Sergio Rial, assinar um fato relevante, no �ltimo da 11, em que revelava a exist�ncia de R$ 20 bilh�es em "inconsist�ncia cont�beis" no balan�o da varejista, verificados at� o terceiro trimestre do ano passado. Os resultados financeiros da companhia referentes ao ano de 2022 estavam previstos para serem divulgados no pr�ximo dia 29 de mar�o.

 

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Os R$ 20 bilh�es est�o relacionados � opera��o de "risco-sacado", ou "forfait", em que a companhia contrata institui��es financeiras para fazerem o pagamento adiantado de fornecedores. A varejista assume a obriga��o de pagar o banco, com juros, dentro do prazo combinado com fornecedores. Esse prazo, segundo apurou a Folha de S.Paulo, sempre foi muito mais estendido do que a m�dia do varejo: 180 dias, ante 90 do habitual

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De acordo com fontes do mercado, a Americanas n�o inclu�a na sua contabilidade os juros dessa opera��o que deveria pagar aos bancos, o que tornava os seus resultados melhores do que realmente eram e, consequentemente, o valor das suas a��es.

 

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Junto com o an�ncio do esc�ndalo cont�bil, Sergio Rial informou que estava deixando a presid�ncia da companhia, assim como o ex-diretor de rela��es com investidores da empresa, Andr� Covre, para se tornar conselheiro dos acionistas de refer�ncia, os bilion�rios brasileiros � frente do fundo de investimentos 3G Capital– Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que at� o final de 2021 eram os controladores da empresa.

 

Jo�o Guerra, ex-diretor das �reas de tecnologia e recursos humanos da varejista, assumiu o comando da Americanas interinamente.

 

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Rial deu in�cio � negocia��o com os bancos, que se indignaram com os ind�cios de fraude nos balan�os. Temendo que seu cr�dito ficasse retido com os bancos, a Americanas entrou na sexta, 13, com um pedido de tutela de urg�ncia cautelar junto � 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Com isso, a empresa conseguiu impedir, pelo menos temporariamente, que seus ativos fossem bloqueados a pedido de credores.

 

A medida irritou em especial o BTG, que entrou com uma peti��o na Justi�a para derrubar a liminar, chamando o trio dos principais acionistas de "fraudadores que d�o ‘uma de maluco’". Segundo o banco, a Americanas adota uma "narrativa canhestra e disl�xica", que "distorce por completo os limites e a finalidade do instituto da recupera��o judicial, conferindo prote��o legal, inclusive em car�ter antecipado, a algu�m que se tornou insolvente sponte propria [por vontade pr�pria] por ter fraudado o mercado de cr�dito e o mercado de a��es."

 

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Para evitar o desgaste de Rial —um ex-banqueiro, que comandou o Santander Brasil e se mant�m como presidente do conselho de administra��o do banco—, e impedir conflitos de interesse, uma vez que o Santander � um dos credores, a Americanas chamou o banco Rothschild como interlocutor oficial para a renegocia��o de d�vida local e internacional.

 

As conversas n�o evolu�ram. Al�m de BTG e do Bradesco, outros bancos entraram na Justi�a na tentativa de receber os valores devidos.

Sem caixa, sem cr�dito na pra�a, a empresa decidiu, finalmente, fazer o pedido de recupera��o judicial.

 

PRESIDENTE INTERINO DA EMPRESA, JO�O GUERRA:

 

"A Americanas S.A., em atendimento ao disposto na Resolu��o CVM nº 44, de 23 de agosto de 2021, vem informar aos seus acionistas e ao mercado em geral que, na data de ontem, o �rg�o Especial do Tribunal de Justi�a do Rio de Janeiro, em decis�o monocr�tica em Mandado de Seguran�a impetrado pelo Banco BTG contra decis�o proferida pela D�cima Quinta C�mara C�vel do Tribunal de Justi�a do Rio de Janeiro, que, dentre outras mat�rias, concedia � Companhia o direito de reaver valores compensados por credores nos termos da decis�o cautelar proferida pelo Ju�zo da 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justi�a do Rio de Janeiro. A decis�o do �rg�o Especial determina, ainda, o bloqueio do valor de cerca de R$ 1,2 bilh�es em conta do Banco BTG at� a aprecia��o do Mandado de Seguran�a.

 

Adicionalmente, na presente data, a posi��o de caixa dispon�vel � Companhia para suas atividades alcan�ou o valor de R$ 800 milh�es, sendo que parcela significativa deste valor estava injustificadamente indispon�vel para movimenta��o pela Companhia na data de ontem.

 

Por conta disso, embora ainda n�o tenha sido decidido, a administra��o est� trabalhando com a possibilidade de, nos pr�ximos dias ou potencialmente nas pr�ximas horas, aprovar o ajuizamento, em car�ter de urg�ncia, de pedido de recupera��o judicial, nos termos da Lei nº 11.101/05 e do art. 122, par�grafo �nico, da Lei nº 6.404/76.

 

A Americanas � uma varejista centen�ria, que presta um servi�o amplo � popula��o e tem um compromisso social forte de levar produtos acess�veis aos seus 53 milh�es de clientes. A companhia vai recorrer da decis�o, que fere seu esfor�o na busca por uma solu��o de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de est�mulo � atividade econ�mica, al�m de ser uma relevante pagadora de tributos.

 

A Companhia manter� seus acionistas e o mercado em geral atualizados acerca dos assuntos objeto do presente Fato Relevante."