Reabertura de BH leva al�vio � economia, mas risco de contamina��es sobe
Capital reabre o com�rcio de produtos e servi�os n�o essenciais hoje, diante de hist�rico de 14 flexibiliza��es. Desse total, infec��o avan�ou em 8 per�odos
Pra�a Sete em per�odo de fechamento: libera��o chega em momento de alta do cont�gio e da ocupa��o dos leitos hospitalares (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 29/3/21)
Belo Horizonte come�a hoje mais uma etapa de flexibiliza��o das atividades do com�rcio e do setor de servi�os, a 21ª desde o in�cio da pandemia da COVID-19. A maioria dos estabelecimentos, que estavam fechados desde 6 de mar�o, volta � ativa. De um lado, o novo decreto de libera��o significa respiro para a economia, mas, de outro, representa amea�a de nova onda de prolifera��o do coronav�rus, principalmente devido a poss�vel eleva��o do n�mero m�dio de transmiss�o por infectado, o chamado fator RT.
Desde que a prefeitura passou a informar diariamente a evolu��o do indicador, em agosto do ano passado, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) assinou 14 decretos de reaberturas de atividades econ�micas. Alguns foram mais amplos e flexibilizaram grande parte do com�rcio. Outros visaram apenas a segmentos pontuais, como pra�as, cinemas e feiras. Das 14 reaberturas, oito resultaram em aumento da transmiss�o na cidade duas semanas ap�s decretada a flexibiliza��o, per�odo m�dio estimado de incuba��o do v�rus no corpo do ser humano.
Desses decretos, dois foram bastantes amplos, assim como o que come�a a vigorar hoje. Em 6 de agosto do ano passado, a prefeitura reabriu o com�rcio varejista, assim como sal�es de beleza, shoppings e galerias. O RT estava em 0,89 naquela data, est�gio controlado do indicador, fase assim classificada quando est� abaixo da pontua��o 1. Por�m, duas semanas depois, o indicador pulou para 1,01 e entrou no n�vel de alerta.
Em 1º de fevereiro deste ano, o Executivo municipal tamb�m reabriu a maioria das atividades da cidade, ap�s o fechamento motivado pelas festas de fim de ano e das viagens de f�rias. Naquela ocasi�o, a taxa de transmiss�o estava em 0,9, no cen�rio controlado. O RT permaneceu na mesma escala 14 dias depois, mas, novamente, sofreu eleva��o, a 0,95.
Para o infectologista Geraldo Cunha Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esses dados enfatizam que a contribui��o da popula��o de Belo Horizonte � fundamental para impedir nova explos�o de casos de contamina��o pelo coronav�rus. O colapso do sistema de sa�de no fim de mar�o ocorreu justamente na esteira da maior taxa de transmiss�o da hist�ria da cidade, computada duas semanas antes, no dia 15, de 1,28, dentro do n�vel cr�tico.
“Esse aumento do RT, quando voc� faz a reabertura tende a acontecer. Mas, quanto ele vai aumentar depende de n�s, da popula��o do munic�pio. Se nos conscientizarmos da import�ncia do uso de m�scara e de se evitar aglomera��es, vamos evitar um novo fechamento da cidade”, afirma o especialista da UFMG.
Segundo Geraldo Cury, parte da popula��o de BH, e do Brasil em geral, continua agindo de maneira irrespons�vel porque n�o perdeu familiares para a COVID-19. “Estamos falando de 380 mil mortos por uma virose que podemos evitar a prolifera��o. BH foi a capital que melhor administrou a situa��o, mas o isolamento continua a nossa �nica alternativa, j� que a vacina��o est� muito lenta porque o governo (federal) n�o comprou as doses no ano passado”, diz.
Em alta
Durante o per�odo em que permaneceu fechada, a capital mineira registrou um m�s consecutivo com a transmiss�o do coronav�rus est�vel ou em queda. Entre 16 de mar�o e o �ltimo dia 16, a prefeitura n�o contabilizou sequer um aumento no �ndice. Por�m, o cen�rio mudou nos �ltimos dois boletins, nos quais o RT apresentou duas eleva��o, atingindo 0,92. Significa que a cada 100 pessoas infectadas pelo coronav�rus na capital mineira, em m�dia, outras 92 se tornam v�timas da pandemia. Apesar do crescimento recente, a estat�stica continua na zona controlada da escala de classifica��o de risco do indicado.
O secret�rio municipal de Sa�de, Jackson Machado Pinto, foi questionado pela imprensa sobre o fato de a reabertura da cidade est� ocorrendo justamente em per�odo de alta da transmiss�o do v�rus. Jornalistas fizeram a pergunta na coletiva da prefeitura que anunciou a flexibiliza��o na segunda-feira.
"Se nos conscientizarmos da import�ncia do uso da m�scara e de evitar aglomera��o, vamos evitar um novo fechamento da cidade"
Geraldo Cunha Cury, infectologista da UFMG
“Todos os indicadores nos levam no sentido da queda. N�o h� incoer�ncia alguma. O que a gente usa � o RT m�dio dos �ltimos sete dias. Desde que ele esteja abaixo de 1, a gente est� confort�vel. O que interessa � ele estar abaixo de 1”, afirmou o secret�rio Jackson Machado Pinto. Tamb�m na entrevista, o chefe da Sa�de de BH disse que a m�dia de sepultamentos caiu de 77 para 27 em BH na segunda-feira, em compara��o �s semanas anteriores.
Outro indicador fundamental, a ocupa��o geral, nas redes do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e suplementar, dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) aumentou de 81,1% para 83,1%. Portanto, a estat�stica continua na zona cr�tica de risco, acima dos 70%. Essa situa��o persiste desde o levantamento de 1º de mar�o. J� a taxa de uso global dos equipemantos das enfermarias subiu de 58,9% para 59,1%, ainda assim permanecendo na fase intermedi�ria, entre 50 e 70 pontos porcentuais.
Belo Horizonte registrou mais 46 �bitos pela COVID-19 em seu �ltimo boletim relativo a` ter�a-feira. Com essas notifica��es, a cidade soma 3.979 vidas perdidas para a virose. O n�mero de diagn�sticos cresceu em 1.578 registros. A capital mineira computa 156.396 pessoas recuperadas e 5.812 ainda em acompanhamento.
Ritmo do cont�gio
Evolu��o da transmiss�o do coronav�rus ap�s flexibiliza��es do com�rcio em BH
6 de agosto de 2020
O QUE FOI REABERTO
Com�rcio varejista e atacadista; sal�es de beleza; shoppings e galerias e drive-in
Fator RT: 0,89 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (20/8): 1,01 (est�gio de alerta)
24 de agosto
O QUE FOI REABERTO
Parques p�blicos; bares, restaurantes e lanchonetes
Fator RT: 0,96 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (5/9): 0,98 (est�gio controlado)
31 de agosto
O QUE FOI REABERTO
Academias de gin�stica e cl�nicas de est�tica
Fator RT: 0,98 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (14/9): 0,91 (est�gio controlado)
4 de setembro
O QUE FOI REABERTO
Bares e restaurantes com venda de bebidas alco�licas
Fator RT: 0,98
Fator RT ap�s janela de incuba��o (18/9): 0,99
19 de setembro
O QUE FOI REABERTO
Clubes e extens�o no hor�rio de funcionamento dos bares e restaurantes
Fator RT: 0,99 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (02/10): 0,94 (est�gio controlado)
23 de setembro
O QUE FOI REABERTO
Feiras permanentes
Fator RT: 1,01 (est�gio de alerta)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (08/10): 1,06 (est�gio de alerta)
6 de outubro
O QUE FOI REABERTO
Com�rcio de bebidas alco�licas de segunda-feira a domingo com hor�rios restritos
Fator RT: 1,05 (est�gio de alerta)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (20/10): 0,92 (est�gio controlado)
10 de outubro
O QUE FOI REABERTO
Museus e galerias de arte
Fator RT: 1,06 (est�gio de alerta)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (24/10): 0,91 (est�gio controlado)
31 de outubro
O QUE FOI REABERTO
Cinemas
Fator RT: 0,91 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (14/11): 1,08 (est�gio de alerta)
25 de novembro
O QUE FOI REABERTO
Com�rcio abre aos domingos para campanha de liquida��o Black November
Fator RT: 1,08 (est�gio de alerta)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (9/12): 1,06 (est�gio de alerta)
18 de dezembro
O QUE FOI REABERTO Com�rcio, atendendo a compras de Natal
Fator RT: 1,11 (est�gio de alerta)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (4/1): 1,06 (est�gio de alerta)
1º de fevereiro de 2021
O QUE FOI REABERTO Libera��o do com�rcio em geral
Fator RT: 0,9 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (15/2): 0,95 (est�gio controlado)
8 de fevereiro
O QUE FOI REABERTO Libera��o da venda de bebidas alco�licas em bares e restaurantes
Fator RT: 0,9 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (22/2): 0,94 (est�gio controlado)
18 de fevereiro
O QUE FOI REABERTO Parques tem�ticos e m�sica ao vivo em bares
Fator RT: 0,95 (est�gio controlado)
Fator RT ap�s janela de incuba��o (4/3): 1,18 (est�gio de alerta)
Perigoso caminho para as muta��es
Para conter a transmiss�o do v�rus no transporte p�blico, BH ter� 8 novas linhas de �nibus tempor�rias (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A - 15/3/21)
A intensa prolifera��o do coronav�rus n�o resulta s� no aumento de casos da COVID-19, desde os mais brandos at� os graves. Tamb�m significa uma oportunidade para que o micro-organismo causador da COVID-19 sofra transforma��es que o deixem mais perigoso para o ser humano, colocando at� mesmo a efetividade das vacinas em risco.
O mundo identificou tr�s variantes de maior destaque: as surgidas na �frica do Sul, no Reino Unido e no Brasil, em Manaus (AM). Em Belo Horizonte, a UFMG detectou uma nova cepa no �ltimo dia 7, mas ainda h� poucas respostas para os riscos provocados por ela. Um novo subtipo do v�rus pode interferir na maior transmissibilidade do coronav�rus e na amplia��o da gravidade da doen�a.
S�o necess�rias pesquisas mais aprofundadas por parte da ci�ncia, como ressalta o infectologista da UFMG Geraldo Cunha Cury. “Toda cepa tem alguma influ�ncia, dependendo de suas propriedades. Temos algumas que passam pra muita gente com facilidade. Sobre a gravidade, ainda � cedo pra dizer. N�o h� conclus�o sobre isso”, diz.
As variantes que predominam s�o aquelas que conseguem infectar muitas pessoas. “� uma competi��o entre os diferentes tipos de v�rus, o que � fruto do descontrole na prolifera��o do v�rus e na falta de vacina”, completa o especialista.
Essas mudan�as do v�rus requerem ainda mais contribui��o da popula��o no combate � pandemia. Nas �ltimas semanas, diversos especialistas que conversaram com o Estado de Minas v�m ressaltado a mudan�a de perfil na interna��o de pacientes graves em BH: saem os mais velhos, que j� est�o em sua maioria imunizados contra a COVID-19, e entram os mais jovens.
Essa altera��o tem influ�ncia das novas variantes, segundo Geraldo Cury. As aglomera��es clandestinas aumentaram em um momento no qual parte da popula��o est� cansada do isolamento, apesar de isso n�o ser desculpa para a irresponsabilidade frente � necessidade de prote��o coletiva contra o v�rus, ressalta o infectologista.
Transporte p�blico
A reabertura das atividades comerciais tamb�m significa um aumento nos usu�rios do transporte p�blico, um dos vil�es da transmiss�o do coronav�rus nas grandes cidades brasileiras. Nesta flexibiliza��o, a Prefeitura de BH traz uma novidade em rela��o �s demais. Foram abertas oito linhas de �nibus tempor�rias para atender a popula��o que se desloca dos bairros para o Centro da cidade.
Segundo a BHTrans – Empresa de Transportes e Tr�nsito de Belo Horizonte, 11 bairros ser�o atendidos pelas novas linhas: seis em Venda Nova (C�u Azul, Rio Branco, Jardim Leblon, Mantiqueira, Nova York e Jardim dos Comerci�rios) e dois no Barreiro (�guas Claras e Vila Pinho), al�m de Monte Azul (Norte) e Conjunto Paulo VI (Nordeste). Ser�o 34 viagens di�rias e diretas dos bairros para o Centro de BH, entre 4h e 7h50. Portanto, essas novas linhas n�o v�o parar nas esta��es de integra��o e tamb�m n�o v�o atender a popula��o no retorno para casa, no pico do fim da tarde e do in�cio da noite.
Assim, dentro dos bairros, os coletivos v�o ter o mesmo itiner�rio das linhas alimentadoras dessas localidades. Depois, j� seguem diretamente para o Hipercentro, com tr�s paradas: na Avenida Amazonas e nas ruas S�o Paulo e Caet�s. A tarifa ser� de R$ 4,50, com o desconto normal quando h� integra��o com o metr�.
“Essa atitude � muito louv�vel da prefeitura. � verdade que tem muita gente que se infecta por irresponsabilidade, mas tamb�m tem quem est� exposto por necessidade de trabalhar. O problema tamb�m � do estado, afinal os �nibus metropolitanos tamb�m andam lotados”, afirma o infectologista Geraldo Cunha Cury. (GR)
O que � um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferen�as entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restri��o de circula��o de pessoas adotadas no Brasil n�o podem ser chamadas de lockdown.
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmac�utica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a libera��o de uso emergencial pela Anvisa.