Embora priorizados, 300 policiais militares recusaram vacina em Minas
Parte da categoria rejeitou imunizante contra COVID-19 mesmo ap�s conquistar antecipa��o na campanha devido ao alto risco de exposi��o ao coronav�rus
Efetivo da Pol�cia Militar de Minas Gerais (PMMG) tem cerca de 38 mil militares, entre homens e mulheres (foto: 08/06/2021 - Leandro Couri/EM/D.A Press)
A vacina contra a COVID-19, principal bloqueio para a dissemina��o do novo coronav�rus, foi recusada por 300 policiais militares de Minas Gerais. A categoria, que teve mais de 160 mortes pela doen�a respirat�ria, foi priorizada na campanha de vacina��o.
O n�mero de recusas ao imunizante no estado foi informado pela Se��o T�cnica de Sa�de da Pol�cia Militar de Minas Gerais (PMMG) ap�s questionamento feito pela reportagem do Estado de Minas atrav�s da Lei de Acesso � Informa��o.
“Possu�mos, at� a presente data, registrados em nossas bases de dados, um total de 300 recusas de vacina��o contra a COVID-19. Estas informa��es s�o correlatas � data de 16 de junho de 2021, �s 10:40 horas. Destarte, n�o detemos informa��es quanto aos motivos que justificam a recusa � vacina��o”, respondeu o �rg�o.
Embora os motivos em dispensar o imunizante n�o tenham sido informados, parte desses profissionais que n�o deixaram de trabalhar um dia sequer durante a pandemia, lutaram para conseguir prioridade no esquema vacinal.
O Estado de Minas mostrou, em 5 de abril, que 18,75% da tropa havia sido contaminada pelo novo coronav�rus e pelo menos 164 militares morreram no estado em raz�o da doen�a. Os dados s�o da Associa��o dos Pra�as Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG).
Entre tantas perdas, em mar�o deste ano, a PM ficou de luto ap�s a morte do tenente Marco Ant�nio Santos Said, de 49 anos, comandante da 4ª Companhia do Batalh�o de Tr�nsito (BPTran). Sempre com sorriso no rosto e muito prestigiado por colegas, nos �ltimos anos o oficial trabalhava como porta-voz do pr�prio BPTran, atendendo � imprensa nas solicita��es de entrevista e fornecendo balan�os da corpora��o.
Vacina, sim
O Brasil come�ou a vacinar a popula��o em 17 de janeiro de 2021, atr�s de outros pa�ses, como Reino Unido, Estados Unidos, Canad�, Chile, M�xico, Espanha e Israel. Embora o avan�o da ci�ncia tenha mostrado a efetividade das vacinas, m�dicos se preocupam com o descr�dito em rela��o aos imunizantes contra a COVID-19.
O m�dico infectologista Adelino Melo de Freire Junior, diretor-m�dico da Target Medicina de Precis�o e diretor t�cnico-cient�fico do Hospital Fel�cio Rocho, lembra que os movimentos antivacina s�o antigos e, muitas vezes, ocorrem porque as pessoas preferem n�o se submeter a um medicamento sem ter ficado doente. No entanto, ele lembra que as vacinas s�o grandes avan�os da ci�ncia na hist�ria da humanidade.
“� tida como a segunda interven��o m�dica com mais sucesso na hist�ria, s� perde para saneamento b�sico no sentido de preven��o de mortes e de custo e efetividade. A vacina n�o se tem d�vida que � algo que a gente precisa usar sempre que poss�vel”, comenta.
Apesar da necessidade, profissionais da sa�de t�m voltado a vivenciar a dificuldade em mostrar a import�ncia de se proteger, sobretudo, mediante a discursos de autoridades que minimizam a efic�cia dos imunizantes.
“Os grupos antivacina ganharam muito mais relev�ncia com advento das redes sociais e que acabam atingindo muitas pessoas. Quando a gente traz isso para o cen�rio da COVID-19, a gente tem um grande divulgador anti-vacina no nosso pa�s que � o nosso Presidente da Rep�blica. Nesta semana, ele (Jair Bolsonaro) deu uma nova declara��o questionando se as vacinas s�o experimentais, se n�o s�o. Esse tipo de fala traz descr�dito. Isso tem impacto”, ressalta o m�dico infectologista.
Falta campanha
O especialista defende que as autoridades e as celebridades fa�am campanha para a vacina��o, porque, de uma forma ou de outra, o discurso desses personagens tem eco na comunidade e muitas pessoas acabam seguindo seus posicionamentos.
“No grupo da Pol�cia Militar, que � um grupo que a gente sabe que tem uma s�rie de similaridades com o presidente, imagino que essa repercuss�o desse questionamento, dessa d�vida em rela��o �s vacinas, deve ter uma abrang�ncia ainda maior”, sup�e o infectologista.
Profissionais da sa�de defendem vacina para todos (foto: 16/06/2021- Edesio Ferreira/EM/D.A. Press)
Adelino Melo lembra que � preciso o m�ximo de pessoas poss�veis vacinadas para que a sociedade possa, s� assim, minimizar a transmiss�o e com isso todos poder�o ter uma vida cada vez mais pr�xima do normal, como tirar a m�scara, poder encontrar e aglomerar.
“A gente lamenta muito, porque n�o h� d�vida que a vacina � a sa�da para essa hist�ria. Quanto mais pessoas a gente vacinar, mais seguros vamos estar e com mais chance de conter o coronav�rus na nossa realidade. Enquanto a gente tiver muita gente sem vacina de forma completa (vacina em duas doses), o v�rus tem possibilidade de continuar sendo transmitido”, informou.
Policiais mais expostos
Com rela��o aos policiais militares, o m�dico ressalta a necessidade de imuniza��o dos profissionais devido � alta exposi��o exigida pelo servi�o operacional.
“Tive a oportunidade de acompanhar um pouco essa discuss�o dos militares. Questionando quando que seriam prioridade, porque s�o de fato muito expostos, est�o na linha de frente, no conv�vio com as pessoas, podem ter necessidade de prestar assist�ncia, ou seja, precisavam ser priorizados. E quando voc� prioriza, v� esse tipo de situa��o”, comenta.
“Isso acontece em toda classe. Claro, acontece em trabalhador da �rea da sa�de, vai acontecer com os professores, assim como nos militares, mas eu imagino que esse tipo de discurso das autoridades tem impacto grande nessa categoria de profissionais”, ressalta.
'N�mero insignificante'
O presidente da Aspra, subtenente Heder Martins de Oliveira, diz que o n�mero � insignificante tendo em vista a totalidade da corpora��o, que tem efetivo com cerca de 38 mil militares, entre homens e mulheres.
“S� na Pol�cia Militar e no Bombeiro, devemos estar liberando 50 mil militares da ativa. Trezentos � quase que um universo insignificante e a gente n�o sabe quem s�o essas pessoas”, afirmou.
Direitos em risco
Por outro lado, ele explica que os policiais que recusam o imunizante podem n�o ter os direitos assegurados em caso de contamina��o pela COVID-19 em servi�o.
“A pessoa se responsabiliza por n�o tomar a vacina. Por exemplo, n�s temos uma quest�o muito pr�pria, quem est� trabalhando na rua, se ela for contaminada e vier a falecer, estando em atividade, trabalhando, vai ter seus benef�cios respeitados para o resto da vida. J� tenho d�vidas se a pessoa que se recusou, se contrair a doen�a em servi�o, se vai ter os mesmos direitos assegurados, porque o Estado proporcionou (a vacina)”, comenta.
Heder lembra que a categoria n�o parou de trabalhar e, com a chegada das vacinas, as mortes pela COVID-19 desaceleraram entre os militares. “Como foi considerado um servi�o essencial, ningu�m parou de trabalhar. N�s tivemos beirando os 200 mortos”, citou o presidente da entidade.
“Mas essas pessoas que se recusaram, esse documento vai ficar na pasta funcional dele, pode ser, eu n�o posso afirmar, pode ser que, se ele eventualmente for contra�do por essa doen�a, vier a ter uma mol�stia decorrente do servi�o, n�o vai ser amparado. Ent�o a gente orienta quem nos procura, a� a pessoa acaba tomando ou n�o.”
O subtenente ressalta que a vacina � uma op��o do policial. “Eu considero que no universo da sociedade, a PM tamb�m deve estar nesse mesmo contexto. Eu conhe�o pessoas que n�o s�o militares que tamb�m n�o v�o tomar vacina. Foram chamados, n�o foram tomar vacina por ‘N’ raz�es, algumas ideol�gicas, outras por convic��o mesmo, ou que nunca tomou vacina”, disse Heder.
A reportagem do Estado de Minas solicitou nota � assessoria de imprensa da PMMG e n�o obteve retorno at� a publica��o desta mat�ria.
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