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Estado de Minas FUNGO PRETO

'Chegou com sinais de necrose no rosto', relata m�dico sobre diab�tico que morreu com mucormicose

Homem de 56 anos morreu em abril com sintoma de infec��o f�ngica. H� ao menos outros dois casos confirmados de Fungo Preto no pa�s e outros em an�lise


11/06/2021 03:06 - atualizado 11/06/2021 07:58


Paciente de 56 anos foi internado em 12 de abril e não resistiu às complicações de infecção fúngica(foto: EPA)
Paciente de 56 anos foi internado em 12 de abril e n�o resistiu �s complica��es de infec��o f�ngica (foto: EPA)

Em 12 de abril, um homem de 56 anos chegou a um hospital de Manaus, no Amazonas, com infec��o na regi�o maxilar e no entorno do olho direito.

A �rea atingida, segundo a equipe que o acompanhou, apresentava sinais de necrose. Exames apontaram que o c�rebro dele tamb�m havia sido afetado pela enfermidade.

A equipe m�dica logo associou as caracter�sticas do paciente � mucormicose, infec��o conhecida popularmente como "fungo preto".

O homem era diab�tico e, segundo a equipe m�dica, n�o fazia o tratamento adequado da doen�a. Quatro dias ap�s chegar ao hospital, ele morreu.

Posteriormente, uma an�lise confirmou que o homem havia desenvolvido a mucormicose. O principal fator para o agravamento do quadro dele, segundo os m�dicos, foi o descontrole da diabetes.

O caso do paciente logo acendeu um alerta sobre a infec��o que tem sido noticiada em todo o mundo, ap�s acometer quase 9 mil pacientes com a covid-19 na �ndia, em meio � explos�o da pandemia no pa�s.

O "fungo preto" mata mais de 50% dos afetados, segundo estudos sobre o tema. Muitos dos pacientes precisam passar por cirurgias mutilantes, que retiram partes do corpo atingidas pelo micro-organismo, como os olhos.

No Brasil foram registrados, segundo o Minist�rio da Sa�de, 29 casos de mucormicose entre janeiro e maio deste ano. Em 2020, conforme a pasta, foram 36 casos de janeiro a dezembro. Os dados s�o baseados em notifica��es feitas pelos Estados e n�o h� detalhes se eles t�m rela��o com o novo coronav�rus.

O caso de Manaus n�o foi, ao menos at� o momento, associado � covid-19. Durante o per�odo no hospital, o paciente passou por exames que n�o apontaram infec��o pelo novo coronav�rus.

Nos �ltimos dias, mais dois casos da infec��o f�ngica foram confirmados no Brasil: em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Nessas situa��es, segundo os governos locais, as pacientes haviam se recuperado da covid-19 recentemente.

Al�m disso, atualmente h�, ao menos, outros tr�s casos suspeitos da infec��o f�ngica no pa�s.

Especialistas ouvidos em recente reportagem da BBC News Brasil disseram que, de maneira geral, os casos de mucormicose n�o s�o considerados uma amea�a ao pa�s. Eles argumentaram que os fungos relacionados � infec��o circulam livremente por boa parte do mundo, inclusive no Brasil, e s�o conhecidos e estudados desde o final do s�culo 19.

A mucormicose pode representar uma amea�a para casos como os de pacientes com diabetes descontrolada, doen�as oncohematol�gicas (como a leucemia) que precisam de transplante de medula �ssea ou quando uma pessoa faz uso de altas doses de corticoides, que possuem a��o anti-inflamat�ria.


Na Índia houve registros de milhares de casos de mucormicose em pacientes que tiveram a covid-19(foto: HINDUSTAN TIMES/GETTY IMAGES)
Na �ndia houve registros de milhares de casos de mucormicose em pacientes que tiveram a covid-19 (foto: HINDUSTAN TIMES/GETTY IMAGES)

O paciente de Manaus

No in�cio de abril, o paciente de Manaus tomou a primeira dose da CoronaVac, imunizante contra a covid-19. Ele apresentou febre e mal-estar posteriormente. Segundo os relatos de familiares, o homem come�ou a sentir um inc�modo ao redor do olho e aplicou um �leo vegetal na regi�o.

O m�dico Paulo Roberto Mendon�a, da Vigil�ncia Sanit�ria do Amazonas, aponta que n�o � poss�vel afirmar em que situa��o o homem desenvolveu a infec��o f�ngica. Ele destaca que isso pode ter ocorrido em qualquer situa��o do cotidiano.

"Esse �leo vegetal (que o homem usou na regi�o dos olhos), por exemplo, pode ter disseminado o fungo, porque normalmente esses produtos s�o caseiros, feitos no mercado informal. Mas tamb�m n�o sabemos as condi��es sanit�rias da casa dele, em rela��o ao clima quente. H� pessoas que moram em verdadeiros viveiros de fungos", diz o m�dico � BBC News Brasil.

Os fungos que provocam a mucormicose, conhecidos como Rhizopus, Rhizomucor e Mucor, est�o presentes em muitos pa�ses (incluindo o Brasil) e podem ser observados no bolor do p�o e das frutas, por exemplo.

Muitos podem conviver bem com eles, sem desenvolver qualquer doen�a. A explica��o para aqueles que apresentam um quadro infeccioso est� na condi��o de sa�de de cada um.

"Pessoas saud�veis n�o evoluem para uma doen�a, s� pacientes imunossuprimidos", explica Mendon�a.

Ele estima que o paciente de Manaus come�ou a apresentar os sintomas da infec��o por volta de 10 dias antes de procurar atendimento m�dico. Essa demora, avalia o especialista, agravou ainda mais o quadro. "Ele tentou tratamento em casa e piorou", diz.


Fungo Mucor é um dos responsáveis pela mucormicose(foto: DR_MICROBE/GETTY IMAGES)
Fungo Mucor � um dos respons�veis pela mucormicose (foto: DR_MICROBE/GETTY IMAGES)

Cirurgi�o oncol�gico, Mendon�a relata que em duas d�cadas de carreira nunca havia presenciado um caso de mucormicose. "Talvez quem trabalha com doen�a infecciosa possa ter visto j�, mas eu nunca tinha acompanhado", comenta.

Quando decidiu procurar atendimento m�dico, o paciente foi internado no Hospital e Pronto-Socorro Dr. Jo�o L�cio, na Zona Leste de Manaus. Posteriormente, ele foi transferido para o hospital da Funda��o de Medicina Tropical, onde passou os seus �ltimos dias.

Na unidade de sa�de, um familiar do paciente informou que ele deveria usar insulina por ser diab�tico, mas havia interrompido o tratamento nas semanas anteriores.

O m�dico relata a condi��o que o homem chegou ao hospital. "Ele estava com um quadro muito grave. Desde o in�cio j� havia a possibilidade do diagn�stico (de mucormicose) e ele recebeu o tratamento para isso", diz.

"Na face dele havia uma �rea de necrose, que � como se a pele ficasse inchada. Essa necrose � quando h� um ponto meio escurecido, no qual n�o h� mais gordura embaixo da pele, apenas uma �rea de pus. � um tecido sem vida, que voc� corta e n�o sangra", detalha Mendon�a.

O m�dico explica que a equipe suspeitou que fosse um caso de mucormicose pela alta incid�ncia de casos na �ndia. "Como come�ou um alerta na �ndia e a apresenta��o desse caso era muito at�pica, com um padr�o de necrose, foi solicitada a an�lise da cultura de bact�rias e fungos do paciente", diz

Os m�dicos, relata Mendon�a, precisaram tirar a �rea necrosada no rosto do paciente para evitar uma propaga��o ainda maior da infec��o. "Foi feito o desbridamento (remo��o do tecido necrosado) da pele (afetada). H� casos, segundo os relatos m�dicos, em que � necess�rio tamb�m retirar o olho do paciente. Nesse caso n�o foi preciso", diz.

Mas os cuidados m�dicos n�o foram suficientes para salvar o homem. O quadro dele piorou rapidamente. Em 16 de abril, ele teve um choque s�ptico (infec��o generalizada que causa fal�ncia dos �rg�os), em decorr�ncia da mucormicose, e n�o resistiu.

Mais de um m�s depois da morte do homem, a Funda��o de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado confirmou que o paciente estava com mucormicose rinocerebral, o tipo mais comum da infec��o, que atinge �reas como nariz, olhos e boca. Ap�s a confirma��o do resultado, o material foi encaminhado � Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), que dever� estudar o caso.


Nas últimas semanas, Índia vive período mais difícil desde o início da pandemia de covid-19(foto: Getty Images)
Nas �ltimas semanas, �ndia vive per�odo mais dif�cil desde o in�cio da pandemia de covid-19 (foto: Getty Images)

A mucormicose no Brasil

No domingo (06/06), o primeiro caso da infec��o por mucormicose foi confirmado em Pernambuco. De acordo com a Secretaria Estadual de Sa�de (SES), a paciente � uma mulher de 59 anos que est� internada desde sexta-feira (04/06).

A pasta estadual afirma que a mulher tem diabetes, hipertens�o, asma e � obesa. O quadro dela � considerado est�vel. Anteriormente, a paciente teve covid-19.

Na segunda-feira (07/06), a Secretaria Estadual de Sa�de P�blica (Sesap) do Rio Grande do Norte informou que uma bi�psia confirmou a infec��o de uma moradora de Natal por mucormicose.

De acordo com a Sesap, a mulher tem 42 anos e teve quadro leve de covid-19 recentemente. Ap�s se recuperar, teve sintomas de infec��o pelo fungo. Segundo a pasta, a mulher passa bem . N�o foi divulgado se ela tem alguma doen�a pr�-existente.

Nas �ltimas, semanas, algumas cidades brasileiras anunciaram suspeitas de mucormicose, como S�o Paulo (SP), Campo Grande (MS) e Joinville (SC). Esses casos ainda s�o analisados por laborat�rios.

Especialistas afirmam que a doen�a n�o � transmitida de uma pessoa para outra. A principal orienta��o para casos suspeitos da infec��o f�ngica � buscar atendimento m�dico imediatamente para evitar a necrose de tecidos afetados.

Ao menos pelos n�meros atuais, Paulo Roberto Mendon�a avalia que os casos de mucormicose no Brasil n�o devem ser considerados alarmantes. Principalmente, diz ele, porque n�o houve aumento consider�vel de registros da infec��o f�ngica, como na �ndia, durante o auge da pandemia no Brasil, entre mar�o e abril.

Mendon�a afirma que os registros podem subir nos pr�ximos meses em raz�o do alerta na �ndia, que deve fazer com que os profissionais de sa�de fiquem mais atentos � infec��o.

"Os casos que antes n�o eram observados e diagnosticados corretamente, agora podem ser identificados mais precocemente aqui no Brasil", afirma.

Entre os motivos para que a �ndia tenha tido aumento de registros da infec��o f�ngica, apontam especialistas, est� o fato de que o pa�s tem uma das maiores taxas de diabetes do mundo. "Proporcionalmente, � tamb�m um dos pa�ses com mais pessoas sem o tratamento ideal", afirma Mendon�a.

O alto �ndice de mucormicose na �ndia � justificado por especialistas com base nesse cen�rio de pacientes vulner�veis, que muitas vezes t�m doen�as pr�vias, com o sistema imunol�gico afetado pela covid-19 e que precisam de rem�dios que podem afetar ainda mais o funcionamento das c�lulas de defesa (como os corticoides). Al�m disso, muitos foram mantidos em locais que podem n�o apresentar a higiene adequada enquanto tratavam a doen�a causada pelo novo coronav�rus.


Amazonas, Rio Grande do Norte e Pernambuco confirmaram casos de mucormicose(foto: Getty Images)
Amazonas, Rio Grande do Norte e Pernambuco confirmaram casos de mucormicose (foto: Getty Images)

Como evitar a infec��o

A porta de entrada da mucormicose costuma ser o nariz. Logo invade os vasos sangu�neos do rosto, criando manchas escuras por onde passa (da� a alcunha "fungo preto"), conforme detalhou reportagem recente da BBC News Brasil.

Em uma situa��o normal, � bem prov�vel que o sistema imunol�gico consiga lidar com esses avan�os f�ngicos para evitar repercuss�es maiores.

Mas em um momento de fragilidade causado pela covid-19, esse mecanismo natural de defesa pode n�o funcionar t�o bem e permitir que Mucor, Aspergillus, Candida e companhia limitada causem estragos.

Uma das principais orienta��es de especialistas para evitar a mucormicose � o controle adequado de doen�as cr�nicas, como diabetes.

O infectologista Alessandro Comar� Pasqualotto, professor da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre, disse, em recente entrevista � BBC News Brasil, que � importante que as pessoas se preocupem com a umidade e a ventila��o do ambiente em que vivem.

Pasqualotto tamb�m alerta sobre o ac�mulo de �gua e mat�ria org�nica em decomposi��o na geladeira e na despensa e comenta que precisamos ficar atentos ao aparecimento de mofo nas paredes ou dentro de arm�rios na cozinha e no banheiro. "Precisamos tirar o alimento para que os fungos n�o se desenvolvam", diz.

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