
“O mundo nem conseguiu se recuperar do Coronav�rus, agora surge na China o v�rus do macaco”, diz uma publica��o no Facebook. Conte�do de teor semelhante tamb�m foi compartilhado no Twitter e no Instagram.
Entretanto, a afirma��o de que o v�rus � “novo” e que surgiu recentemente na China � enganosa. Embora este realmente seja o primeiro caso de infe��o pelo v�rus B na China, o agente infeccioso em quest�o foi inicialmente isolado em 1932 e j� causou infec��es e mortes na Am�rica do Norte antes de ser detectado no pa�s asi�tico em 2021, segundo artigo publicado na plataforma China CDC Weekly (CCDC Weekly), do Centro Chin�s para Controle e Preven��o de Doen�as (CCDC, na sigla em ingl�s).
Atualmente, o nome cient�fico para o v�rus registrado no Comit� Internacional de Taxonomia de V�rus (ICTV) � Macacine alphaherpesvirus 1. O v�rus � encontrado principalmente em macacos do g�nero Macaca, da fam�lia Cercopithecidae.
Popularmente conhecido como “v�rus do macaco B” ou ainda como “herpes B”, o microorganismo pode levar a graves danos cerebrais e � morte em humanos infectados. Apesar de esses casos serem raros, a taxa de mortalidade de uma infec��o pelo v�rus B varia entre 70% e 80%, segundo o documento publicado pelo CCDC chin�s.
De acordo com o CDC dos Estados Unidos, a infec��o em humanos geralmente ocorre quando uma pessoa � mordida ou arranhada por um macaco infectado, ou quando ela entra em contato com os olhos, o nariz ou a boca do animal. Apenas h� um caso de transmiss�o entre humanos registrado, segundo o �rg�o norte-americano.
Os primeiros sintomas de cont�gio incluem febre e calafrios, dor muscular, fadiga e dor de cabe�a. N�useas e v�mitos, dores abdominais e falta de ar tamb�m podem ser sinais de infec��o. Com a progress�o da doen�a, o sistema nervoso pode ser afetado, levando a danos cerebrais.
Casos anteriores
O CDC norte-americano relata que, desde que o v�rus B foi identificado, em 1932, foram registrados cerca de 50 casos de infec��es em pessoas, dos quais 21 resultaram em morte. Dessa forma, a doen�a � considerada rara em humanos. O grupo de risco para a enfermidade � composto, sobretudo, por veterin�rios e pesquisadores de laborat�rio que podem ser expostos aos macacos do g�nero Macaca, da fam�lia Cercopithecidae.Segundo artigo publicado em 2003 por dois pesquisadores da Universidade da Calif�rnia, o primeiro caso documentado da doen�a causada pelo v�rus B ocorreu em 1932, quando um paciente, identificado como Dr. W.B., de 29 anos, foi mordido na m�o por um macaco rhesus. Tr�s dias depois, o m�dico come�ou a notar sintomas locais na m�o que havia sido mordida, como vermelhid�o, incha�o e dor. Seis dias depois, ele foi admitido no Hospital Bellevue, em Nova York, e faleceu.
Em 1989, dois outros casos de infec��o pelo v�rus B foram reportados em Michigan, nos Estados Unidos Em dezembro de 1997, outra morte pelo v�rus foi registrada nos Estados Unidos. A v�tima era uma mulher de 22 anos que faleceu ap�s o material biol�gico (possivelmente fecal) de um macaco rhesus entrar em contato com seus olhos.
Segundo Alcides Pissinatti, m�dico-veterin�rio e atual chefe do Centro de Primatologia do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) no Rio de Janeiro, o v�rus B s� existe em macacos da �frica e do Sudeste Asi�tico. “Na �frica, os mais suscet�veis [ao v�rus da herpes B] s�o os babu�nos e chimpanz�s. E na �sia, voc� tem os macacos do g�nero Macaca. Ele n�o existe na fauna brasileira. � um v�rus pr�prio de animais que ficam em centros de pesquisa e em animais de zool�gico. Nunca houve caso [registrado] de contamina��o no Brasil”, disse o m�dico � AFP.
“Nos Estados Unidos, existem muitos casos reportados porque eles t�m um trabalho grande [com primatas]. Na d�cada de 50 e 60, eles fizeram a importa��o de muitos macacos rhesus da �ndia e do Paquist�o para os programas de produ��o de vacinas e f�rmacos nos Estados Unidos. (...) E, na China, tamb�m existe o macaco rhesus na fauna nativa deles e eles tamb�m importam muitos animais para pesquisas que s�o feitas l�”, acrescentou Pissinatti.
Pr�xima pandemia?
Para o m�dico-veterin�rio, tamb�m � incorreta a compara��o entre o v�rus B e o coronav�rus, j� que o v�rus da herpes B n�o teria potencial para causar uma nova pandemia. “De jeito nenhum. Ele n�o tem essa capacidade. Nem todos os v�rus t�m grande capacidade de dispers�o. No caso do v�rus B, � necess�rio um contato direto [com primatas infectados], o que dificulta a transmiss�o”, afirmou.
As publica��es a respeito do v�rus B circulam no Brasil no contexto da pandemia de covid-19, cujos primeiros casos foram reportados na cidade chinesa de Wuhan ao final de 2019, de acordo com a OMS.
Desde ent�o, cr�ticas � China foram intensificadas ou endossadas por alguns l�deres mundiais. Em setembro de 2020, por exemplo, durante a Assembleia Nacional das Na��es Unidas, o ex-presidente norte-americano Donald Trump acusou Pequim de permitir que o coronav�rus “deixasse a China e infectasse o mundo” e afirmou que a ONU deveria responsabilizar o pa�s asi�tico pela pandemia.
Integrantes do governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, alinhado � postura de Trump, tamb�m fizeram declara��es cr�ticas � China. Em abril de 2020, o ent�o ministro da Educa��o, Abraham Weintraub, publicou textos em suas redes sociais, que foram posteriormente apagados, em que insinuava que a China poderia se beneficiar da crise mundial causada pelo novo coronav�rus para “dominar o mundo”.
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