Mensagens nas redes sociais que foram compartilhadas mais de 2 mil vezes desde, pelo menos, 3 de janeiro de 2022 mencionam uma suposta queda na prote��o gerada pelas vacinas contra a covid-19 ao longo do tempo, insinuando que os imunizantes n�o estariam cumprindo seu papel.
Com a aplica��o em massa, � esperado que esses valores diminuam. Contudo, as vacinas seguem sendo �teis na prote��o contra casos graves e �bitos.
“12/20 - Imuniza 95% 01/21 - Imuniza 70% 03/21 - Imuniza 50% 09/21 - N�o imuniza, reduz transmiss�o 10/21 - N�o reduz transmiss�o, mas impede a forma grave 11/21 - N�o impede a forma grave, mas reduz UTI 12/21 - N�o impede UTI, mas reduz as mortes Morreu de outra coisa”, dizem as publica��es compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), no Instagram (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3).
Conte�do semelhante tamb�m circulou em espanhol.

Em 18 de novembro de 2020, as empresas Pfizer e BioNTech anunciaram que sua vacina desenvolvida contra a covid-19 tinha 95% de efic�cia. O n�mero foi registrado com base em estudos de fase 3, ap�s 7 dias da aplica��o da segunda dose.
Em 7 de janeiro de 2021, o Instituto Butantan anunciou que o imunizante CoronaVac, produzido em parceria com a farmac�utica chinesa Sinovac, apresentou uma efic�cia de 78% a 100% segundo um estudo cl�nico realizado no Brasil com a participa��o de 12,4 mil profissionais de sa�de volunt�rios. “A taxa de efic�cia foi de 78% para os infectados que apresentaram casos leves ou precisaram de atendimento ambulatorial. Isso significa que a cada cem volunt�rios que contra�ram o v�rus, somente 22 tiveram apenas sintomas leves, mas sem a necessidade de interna��o hospitalar”, disse a institui��o.
Ainda nesse mesmo m�s, por�m, foi anunciado pelo governo do estado de S�o Paulo - ao qual o Instituto Butantan � vinculado - uma efic�cia global de 50,38% para a CoronaVac.
“Os resultados do estudo da fase 3 mostraram que nos casos graves e moderados a efic�cia � de 100%. Para os casos leves, 78% e, nos muito leves, 50,38%. Isso significa que temos 50,38% menos chances de contrair a doen�a. Se contrairmos, h� 78% de chance de n�o precisarmos de qualquer atendimento m�dico e 100% de certeza de que a enfermidade n�o vai se agravar”, explica o Instituto Butantan.
Em 31 de mar�o de 2021, a Anvisa aprovou em car�ter emergencial o imunizante da Janssen, que, em testes, apresentou 66,9% de efic�cia para casos leves e moderados e 76,7% para casos graves, ap�s 14 dias da aplica��o.
J� o quarto imunizante anticovid utilizado no Brasil, o da AstraZeneca, produzido no pa�s pela Fiocruz, teve sua autoriza��o tempor�ria concedida em janeiro de 2021 e seu registro definitivo aprovado pela Anvisa em mar�o de 2021. A vacina apresentou 76% de efic�cia ap�s a aplica��o da primeira dose, e o valor chegou a 82% com a aplica��o de uma segunda dose segundo ensaios cl�nicos.
Efic�cia e efici�ncia
Ao longo de 2021, por�m, as vacinas anticovid foram testadas contra as diferentes variantes de preocupa��o registradas pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), sendo constatada uma efetividade menor em muitos casos, a depender da variante analisada. “Em geral, as vacinas contra a covid-19 s�o muito eficazes na preven��o de doen�as graves, hospitaliza��o e morte por todas as variantes de v�rus atuais. Eles s�o menos eficazes na prote��o contra infec��es e doen�as leves do que eram para variantes anteriores do v�rus; mas se voc� ficar doente depois de ser vacinado, � mais prov�vel que seus sintomas sejam leves”, explica a organiza��o mundial.“Esses valores altos de efic�cia que foram anunciados com os estudos de fase 3 [para] as vacinas de RNA mensageiro da Moderna e da Pfizer, com 94% e 95%, foram achados e avaliados em um grupo que � representativo da popula��o, mas que � um grupo ideal, conhecido e controlado. � isso que se faz em um estudo de fase 3. (...) Quando a vacina � aprovada e licenciada para uso - vacina��o em massa - voc� continua acompanhando para ver como � a performance da vacina no mundo real com todas as adversidades e � esperado que a efetividade seja diferente daquela observada nos estudos de fase 3. Isso � uma coisa normal”, afirmou ao Checamos M�nica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm).
O Butantan tamb�m explica que h� uma diferen�a entre a efic�cia e a efici�ncia de uma vacina. A efic�cia � um n�mero medido por estudos cl�nicos de fase 3, que avaliam se um imunizante consegue ou n�o proteger o organismo de uma doen�a. J� a efici�ncia, segundo o Instituto, � o impacto de uma vacina no mundo real. “A efici�ncia mostra se a vacina foi capaz de imunizar um grande n�mero de pessoas, analisando os dados de infec��o e morte em decorr�ncia da doen�a. O ambiente de estudo � menos controlado, e pode haver adversidades”, diz a institui��o.
“Os testes de fase 3 de alguns imunizantes mais eficientes em termos de efic�cia, como as vacinas de RNA da Pfizer e da Moderna (por exemplo), demonstraram uma efic�cia de fato em torno de 90%. Os resultados, inclusive, serviram de base para a aprova��o e libera��o da vacina��o em massa (Fase 4). [Mas] mesmo ap�s a libera��o, os imunizantes continuam sendo monitorados, tanto em termos de seguran�a como de efeitos adversos e efic�cia”, acrescentou ao Checamos Rafael Dhalia, doutor em Biologia Molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“O que estamos presenciando � que de fato as vacinas aprovadas funcionam e que est�o salvando milh�es de vidas no mundo. O que n�o se sabia, e agora se sabe, � que a dura��o da resposta imunol�gica induzida pelas vacinas dispon�veis de covid-19 decai ao longo do tempo (principalmente nos mais idosos). Da� a necessidade de segunda dose e doses de refor�o, para restaurar a efic�cia dos imunizantes”, disse.
Variantes e dura��o da imunidade
“A principal explica��o para a queda de efic�cia [das vacinas] � que enquanto a gente n�o consegue controlar a pandemia novas variantes v�o surgindo. (...) Cada nova variante com mais muta��es acumuladas causava uma diminui��o maior ainda da efic�cia global da vacina. Isso porque os ant�genos presentes nessas variantes eram ligeiramente diferentes dos ant�genos presentes naquela variante original de Wuhan, que foi usada como base para as vacinas”, explicou ao Checamos Fl�vio Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.“Observou-se principalmente com as variantes de preocupa��o uma queda na prote��o conferida por essas vacinas em curto tempo, em m�dia de 4 meses, e essa queda foi em maior ou menor grau de acordo com a vacina ou com a variante de preocupa��o em circula��o”, disse M�nica Levi.
De acordo com Dhalia, essa queda ocorre tamb�m com outros imunizantes. “A queda da efic�cia das vacinas n�o � algo exclusivo das vacinas de covid-19. (...) Temos v�rias vacinas no calend�rio de vacina��o que requerem doses de refor�o: hepatite B, t�tano, difteria, coqueluche, etc. Outras s�o mais potentes em termos de indu��o da resposta imunol�gica como: sarampo, rub�ola, catapora e febre amarela (...). Logo, resumidamente, depende muito da formula��o [da vacina] e do agente patog�nico. Para nossa sorte, apesar da efic�cia das vacinas de covid-19 ca�rem ao longo dos meses, elas funcionam e nos protegem contra as formas graves da doen�a”.
Preven��o contra hospitaliza��es e �bitos
S�o enganosas, nas publica��es viralizadas, as afirma��es de que as vacinas contra a covid-19 n�o protegem contra casos graves e �bitos gerados pelo SARS-CoV-2.
Uma an�lise publicada em 10 de dezembro de 2021 pela Fiocruz sobre a efetividade das vacinas no Brasil mostrou que todas conferem grande redu��o do risco de infec��es, interna��es e �bitos por covid-19. Considerando os desfechos graves (interna��o ou �bito) em indiv�duos com idade entre 20 e 80 anos, a prote��o variou entre 83% e 99% para todos os imunizantes. “Na popula��o abaixo de 60 anos, todas as vacinas apresentam prote��o acima de 85% contra risco de hospitaliza��o e acima de 89% para risco de �bito”, indica o estudo.
A alega��o de que as vacinas “n�o impedem a forma grave, mas reduzem UTI”, inclu�da nas publica��es viralizadas, foi classificada como incorreta por Fl�vio Fonseca. “A gente considera doen�a grave qualquer doen�a que determine interna��o do paciente, seja na UTI ou na enfermaria. Se ele precisa de assessoria m�dica, de cuidado m�dico, j� � uma forma grave da doen�a, sen�o ele poderia se tratar fora do hospital. Quando a pessoa vai para a UTI � uma situa��o de vida ou morte. A vacina previne n�o apenas as situa��es de vida ou morte mas tamb�m as doen�as graves, com necessidade de interna��o”.
M�nica Levi, diretora da SBIm, agregou:
“Os dados dos estudos sugerem uma menor efic�cia das vacinas para as variantes de preocupa��o, no momento, delta e �micron, e isso n�s chamamos de escape vacinal. No entanto, essas vacinas se mostraram extremamente eficazes na preven��o de formas graves e de �bitos, visto que em todos os locais em que houve uma explos�o da �micron, um aumento explosivo do n�mero de casos, isso n�o resultou em um aumento proporcional no n�mero de interna��es em UTI e nem �bitos”
Em dezembro de 2021, a Pfizer anunciou que duas doses de sua vacina oferecem 70% de prote��o contra casos graves da variante �micron. A Janssen anunciou, no mesmo m�s, que, com uma dose de refor�o, dados preliminares mostraram 85% de efic�cia contra hospitaliza��es na �frica do Sul, no per�odo em que a �micron era dominante. A Fiocruz divulgou um estudo cujos dados coletados no Brasil mostraram que, ap�s 18 a 19 semanas da aplica��o da segunda dose da vacina Oxford/AstraZenca, a prote��o ca�a para 42,2%. J� o Butantan afirmou que a Sinovac est� trabalhando em uma atualiza��o da CoronaVac contra a �micron.
A variante delta foi detectada pela primeira vez no Brasil em maio de 2021. Dados do Minist�rio da Sa�de mostram que o pa�s tem uma queda sustentada de �bitos pela doen�a desde junho de 2021. A variante �micron, por sua vez, foi detectada no pa�s no final de novembro de 2021. Segundo o �ltimo boletim epidemiol�gico da Fiocruz, o pa�s enfrenta uma alta de casos da doen�a em todas as suas regi�es, em um cen�rio caracterizado tamb�m pelo surto de influenza. “As evid�ncias sugerem fortemente que a vacina��o j� faz grande diferen�a no cen�rio que se apresenta, comparado a momentos anteriores”, diz o documento.
O Checamos j� verificou diversas outras alega��es sobre uma suposta inefic�cia das vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3).
*Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.
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