
“O mais interessante da literatura argentina dos �ltimos 10 anos foi escrito por mulheres.” A frase consta da entrevista de Selva Almada concedida a Raphael Montes no programa “Trilha de letras”, da TV Brasil. Almada refor�a que esse capital cultural marcado pela autoria feminina surge como caracter�stica forte na produ��o ficcional recente. Nascida na prov�ncia de Entre Rios, em 1973, a autora exp�e um ponto de vista que pode facilmente inclu�-la, j� que � uma das vozes mais instigantes da literatura contempor�nea, fazendo parte de uma talentosa gera��o de escritoras argentinas que circulam por aqui, como Mariana Enr�quez e Samanta Schweblin.
Leia: Autoras latino-americanas conquistam espa�o no mercado editorial brasileiro
Leia: Escritoras latinas escancaram a heran�a brutal das ditaduras militares
Leia: Vida mediada pela tecnologia � o tema de 'Kentukis', de Samanta Schweblin
Leia: Viol�ncia cotidiana d� o tom de 'For�as especiais', de Diamela Eltit
Leia: Editora mineira Aut�ntica investe nos contempor�neos hisp�nicos
Leia: Mariana Sanchez: 'Cada autora trabalha um tema de forma original'
Sangue e fogo
Nesse contexto se faz presente uma outra dimens�o, em que os personagens acessam acontecimentos do porvir. Assim, sonhos perturbadores comparecem na condi��o de um mergulho no inconsciente – �gua, premoni��o e morte constituem espa�os fluidos, materializando “ecos do futuro”, como sustenta o curandeiro Gutierrez. A �gua, que a tudo circunda, banha os corpos das mo�as cheias de ilus�o, mas tamb�m devolve os afogados.
N�o se deve abater um bicho com tanta trucul�ncia, sinaiza Aguirre, desejoso de vingan�a ao ver a arraia devolvida �s �guas. Um descaso surge com o mundo que os acolhe, restando ao espa�o l�quido a miss�o de acolher de volta o animal majestoso. � igualmente na �gua que Eus�bio se afoga, sepultando rivalidades e intensos afetos. A �gua tornada barro, irmanada � terra, recebe tamb�m os corpos das irm�s mortas no acidente. O rio, sempre o mesmo e sempre outro, constitui um eixo na vida desses sujeitos. A prosa enxuta de Almada estabelece um contraponto a esse caudaloso cen�rio, nos instalando em um espa�o de vida e morte, em que ser humano e natureza se encontram em contiguidade. Nessa perspectiva, uma arraia nunca � s� uma arraia, e um rio nunca ser� apenas um rio.
