
“Ser mulher empreendedora no ramo liter�rio � desafiador, �s vezes desanimador, mas � instigante e necess�rio. A literatura e as artes est�o a� como forma de resist�ncia e protesto”. O desabafo � de Elza Silveira, 45 anos, editora � frente da Impress�es de Minas.
Ela comanda a casa desde 2012, quando, com a ajuda do marido e s�cio, Walisson Gontijo, comprou a gr�fica que pertencia ao seu pai. Sem abrir m�o dos trabalhos para terceiros, desenvolveu o combo completo de editora e gr�fica. “Termos nossos pr�prios equipamentos � um dos nossos grandes diferenciais. Somos a �nica editora aqui em Belo Horizonte que tem uma gr�fica”, detalha.
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Nascida e criada em meio aos livros e desenhos gr�ficos, Elza sempre teve influ�ncia direta em casa: o pai trabalhou desde os 16 anos como impressor, e a m�e como bibliotec�ria. Mas, o que realmente chamava a aten��o de Elza era o livro como objeto, n�o apenas as hist�rias contidas dentro deles.
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“Eu lembro que, desde novinha, eu gostava muito de ver os livros. A mancha gr�fica, a disposi��o nas p�ginas, numera��o, figuras e as capas. Mesmo sem saber ler direito, eu viajava nos livros. Ficava pensando: por qu� a pessoa escolheu colocar isso aqui? Essas coisas sempre foram fruto de minha curiosidade”, relembra.
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Na faculdade de Letras, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve seu primeiro contato com edi��o, em um projeto de reformula��o do curr�culo das escolas ind�genas. “Eu comecei a trabalhar com edi��o como monitora de um projeto orientado e coordenado pelas professoras Maria In�s de Almeida e a S�nia Queiroz. A gente fazia a edi��o dos livros did�ticos que seriam utilizados nas escolas ind�genas. Uma experi�ncia muito legal, que despertou ainda mais meu lado editorial”, conta.
Depois vieram um mestrado em Literatura Brasileira e experi�ncias na sala de aula, como professora de portugu�s e de literatura. Com essa bagagem liter�ria nas costas, a vida levou Elza de volta �s suas origens e para onde os livros ganham vida, quando o pai dela anunciou que pretendia vender a gr�fica da fam�lia.
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"A gr�fica est� presente na minha vida h� muitos anos, ent�o quando decidimos compr�-la, optamos por adaptar em uma editora. Me apaixonei pelo ramo e me dediquei ainda mais, fiz curso t�cnico de design gr�fico no Senai, e carrego esse b�nus no meu olhar como editora”, acrescenta.
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Ao longo dos anos, a editora carrega como objetivo produzir livros bem diagramados e diferentes dos oferecidos pelo mercado tradicional. Al�m dos equipamentos atuais, a gr�fica usa tamb�m m�quinas mais veteranas, como impressoras offset da d�cada de 1980 e uma tipogr�fica da d�cada de 1930.
“Quando pegamos um livro pra fazer, a gente tem um di�logo muito aberto com o autor. Nosso objetivo � torn�-lo �nico. Brincamos muito com a materialidade e com as formas de explor�-las. Nossa pegada � entre o industrial e o artesanal, gostamos de pensar cada livro individualmente pelo o que ele traz”, defende Elza.
O trabalho e a dedica��o t�m rendido frutos. No hist�rico est�o duas indica��es ao Pr�mio Jabuti: na categoria poesia, com “Dicion�rio de imprecis�es”, de Ana Elisa Ribeiro, de 2020, e “Extraquadro”, de Ricardo Aleixo, de 2022. Al�m das importantes indica��es, Elza destaca, entre os momentos marcantes da editora, a publica��o do livro “Meu livro vermelho”, do cantor e compositor pernambucano Otto. A oportunidade abriu portas para publica��o de outros m�sicos, como o cantor China. Para al�m das obras, a Impress�es de Minas tamb�m organiza feiras de publica��es independentes em Belo Horizonte, como: a Textura e a Urucum, voltadas para literatura e artes gr�ficas, e a Curupira, com foco em livros infanto-juvenis.
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Ao resumir todo o trabalho de uma editora em uma palavra, Elza escolhe "coragem". “Come�amos a editora sem saber nada, simplesmente fomos e � isso que nos guia. Temos que ter coragem de seguir nosso cora��o, ir vivendo e fazendo. Mesmo se n�o der certo, as viv�ncias e experi�ncias v�o servir para algo, tudo � repert�rio! � importante deixar medo, questionamentos e inseguran�as de lado e ir”, relata Elza. “Cair, n�o prejudica demais. A gente levanta, sobe e volta. O que a vida quer de gente � coragem”, conclui.
* Estagi�ria sob supervis�o do editor Jo�o Renato Faria
Entrevista/Elza Silveira
1) Quais os maiores desafios de ser uma editora no Brasil?
Existem muitos desafios, mas acho importante destacar alguns deles para as pequenas editoras. Come�o pela escolha dos livros que ser�o editados e que v�o definir a linha editorial. Outro desafio est� ligado � organiza��o dos processos, levando em considera��o que as pequenas editoras trabalham com um corpo t�cnico limitado, geralmente composto por poucas pessoas. E, por �ltimo, penso que um dos maiores desafios est� na distribui��o e na venda, no valor final que dificulta o acesso aos livros. As despesas envolvidas na produ��o de um livro s�o altas, a come�ar pelo pre�o do papel.
2) Quais ser�o os pr�ximos cap�tulos de sua editora?
Estamos no in�cio de uma reforma no espa�o da gr�fica da Impress�es de Minas, preparando um espa�o, dentro da oficina, que ser� usado para venda de livros e tamb�m para promover encontros, como saraus, lan�amentos e bate-papos. Tamb�m pensamos em voltar com os cursos focados na arte da impress�o – aproveitando todo o maquin�rio que temos dispon�vel em nossa gr�fica –, no conhecimento do processo de edi��o e nas �reas ligadas � edi��o, como escrita, ilustra��o e design gr�fico. E para o pr�ximo semestre estamos planejando a 5ª edi��o da feira Urucum, uma feira de arte impressa e de publica��es de editoras e autores independentes.
3) Quais livros ou autores, brasileiros ou estrangeiros, gostaria de ter sido a primeira a editar?
Penso em alguns livros que gosto muito e que me expandiram como leitora e tamb�m como editora. Dentre eles, vou citar um de prosa e um de poesia: Grande sert�o: veredas, de Guimar�es Rosa, e Viva Vaia, livro que re�ne poemas de Augusto de Campos.
Sequ�ncia de s�rie especial
O perfil de Elza Silveira � a quarta parte da s�rie “As editoras das editoras”, sobre mulheres que comandam casas e selos editoriais no Brasil. O especial continua na pr�xima semana, com mais reportagens.