(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PENSAR

A hist�ria de lutas e livros da editora Maria Mazarello

M�rcia Maria Cruz conta como escreveu o perfil biogr�fico da fundadora da Mazza edi��es, pioneira na publica��o de autores negros


30/06/2023 04:00 - atualizado 07/08/2023 17:36
671

Maria Mazarello, 82 anos: fatos marcantes da vida da mineira de Ponte Nova se confundem com a história da Mazza Edições, com sede em Belo Horizonte, no bairro Pompeia, que lançou cerca de 500 obras
Maria Mazarello, 82 anos: fatos marcantes da vida da mineira de Ponte Nova se confundem com a hist�ria da Mazza Edi��es, com sede em Belo Horizonte, no bairro Pompeia, que lan�ou cerca de 500 obras (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

 

De baixa estatura, se considerada a m�dia de altura da mulher brasileira, a editora Maria Mazarello Rodrigues, de 82 anos, conquistou relev�ncia inversamente proporcional � altura no mercado editorial brasileiro. � uma gigante. A dimens�o � dada pelo pioneirismo da Mazza Edi��es, criada por ela em 1981 em Belo Horizonte, per�odo em que o Brasil ainda estava sob o regime militar, passava por crises econ�micas e pol�ticas e que vigorava o mito de o pa�s ser uma democracia racial. 

 

Leia: Rejane Dias: em defesa dos livros de vida longa (mas sem 'lombadas')

 

Um cen�rio desalentador para abertura de uma editora, um neg�cio pouco lucrativo e com baix�ssimo fomento, e que ficava menos atraente para uma mulher vinda de uma fam�lia de oper�rios do interior de Minas, sem posses ou heran�as. Acrescenta-se � conjuntura desfavor�vel o prop�sito de abrir uma editora focada em autores e autoras negras e suas produ��es. Na �poca, eram inexistentes as legisla��es de combate ao racismo. A Lei Afonso Arinos (1390/1951), a primeira norma brasileira a tratar do crime, j� n�o dava mais conta de garantir o combate efetivo dessa pr�tica. Somente a partir de 1988, os marcos legais de prote��o e equidade para a popula��o negra passaram a vigorar na Constitui��o. 

 

Leia: Mara�za Labanca: uma cl�nica para as palavras

 

Para colocar em p� uma editora negra, Mazza contava com um �nico capital: a trajet�ria profissional no campo editorial, constru�da principalmente por seu conhecimento t�cnico e te�rico do processo gr�fico. Jornalista pela UFMG, resolveu cursar o mestrado em editora��o na Fran�a, pa�s para onde seguiu com o companheiro de vida Paulo Bernardo Vaz. 

 

Leia: Clara Arreguy: conhecimento a favor dos livros

 

No mestrado franc�s, Mazza e Paulo B. escolheram analisar, conjuntamente na disserta��o, a exitosa Editora Vega, que Mazza ajudou a constituir nas d�cadas de 1960 e 1970. Foi em Paris que ela, depois de d�cadas na �rea editorial, teve a ideia de fundar uma editora negra no Brasil. Decidida a realizar o sonho, n�o aceitou a oferta de bolsa para seguir os estudos no doutorado feita a ela e a Paulo B., e voltou ao Brasil, sem capital financeiro, mas com a ideia de se juntar aos intelectuais negros para materializar o sonho. 

 

Leia: ï¿½ frente da Impress�es de Minas, Elza Silveira une industrial e artesanal

 

A hist�ria dela se confunde � da Mazza Edi��es, com sede no Bairro Pompeia, Regi�o Leste de BH. Para entender como ela colocou de p� essa editora que completou 43 anos � essencial saber quem � Maria Mazarello.  Essa tarefa guia o perfil biogr�fico “Maria Mazarello – Preto no branco, lutas e livros” (Editora Contafios), lan�ado no final de 2021, ano em que Maria Mazarello completou 80 anos e a Mazza Edi��es, 40.

 

Vozes narrativas

 

O narrador da publica��o � um anjo preto, figura essa que surge no primeiro di�logo que tive com Mazza. Na ocasi�o, ela contou a hist�ria de inf�ncia, de quando foi recusada para a cerim�nia de coroa��o de Maria, usualmente realizada pela Igreja Cat�lica no m�s de maio, pelo padre de sua cidade natal, Ponte Nova. “N�o tem anjo preto”, disse a ela o religioso. Um dos muitos momentos em que Mazza esteve de frente com o racismo. 

 

 

O narrador dialoga com ela em um jogo de vozes narrativas para a constru��o de sua trajet�ria: desde a inf�ncia em Ponte Nova, passando pela vinda para Belo Horizonte, cidade onde mora e construiu carreira profissional, a viagem a Paris, e o retorno ao Brasil. A hist�ria passa pelo primeiro contato com a gr�fica do Pabaee (Programa de Assist�ncia Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar), fundamental para que se apaixonasse pelo universo editorial. Amante de livros e pescaria, Mazza � uma ex�mia contadora de causos, e o perfil biogr�fico n�o poderia ser escrito sem a vivacidade e perspic�cia do seu jeito de contar.

 


* Jornalista e escritora, M�rcia Maria Cruz � doutora em ci�ncia pol�tica e mestre em comunica��o social pela UFMG. Foi rep�rter e coordenadora do N�cleo de Diversidade do Estado de Minas, vencedora do Trof�u Mulher Imprensa 2022 na categoria Diversidade. Atualmente coordena a comunica��o da deputada estadual Maca� Evaristo. Al�m do livro sobre Maria Mazarello, a filha de Maria da Concei��o � autora de  “Morro do Papagaio”, da cole��o “BH, a cidade de cada um”. 

 

“Maria Mazarello – preto no branco, lutas e livros”

 

  • M�rcia Maria Cruz
  • Editora Contafios
  • 144 p�ginas
  • R$ 70

 

 

 

Entrevista/Maria Mazarello
“Gostaria de  publicar  mais textos que valorizem a autoestima de  crian�as e adolescentes”

 

Quais os maiores desafios de ser uma editora no Brasil?

S�o in�meros os desafios, mas vou citar quatro. Conseguir capital de giro – sem recorrer a bancos – para iniciar sua empreitada editorial. Escolher uma tem�tica espec�fica, um nicho, em vez de generalizar. Fazer com que sua mensagem chegue ao p�blico que pretende atingir, usando as diferentes possibilidades de divulga��o, a partir da tem�tica que escolheu para editar. Por fim, conseguir fazer a distribui��o de suas publica��es em um pa�s com dimens�es territoriais como o Brasil, sem contar com as pol�ticas p�blicas, seja nas esferas federal, estaduais e/ou municipais.

 

Quais ser�o os pr�ximos cap�tulos de sua editora?

Conseguir chegar a cada vez mais lugares do territ�rio nacional com as publica��es da editora, com a tem�tica que escolhi. Tamb�m gostaria de publicar mais textos que valorizem a autoestima de crian�as e adolescentes, tragam reflex�es relevantes e contribuam, tamb�m, com os professores em sala de aula, para que consigam motivar seus alunos a entenderem a import�ncia da educa��o em suas vidas.

 

Que livros ou autores, brasileiros ou estrangeiros, gostaria de ter sido a primeira a editar?

Pergunta muito dif�cil de ser respondida, especialmente porque sou leitora contumaz. Ainda assim, diria que gostaria de ter sido a primeira a publicar “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gon�alves, e ainda “Numa terra estranha”, do americano James Baldwin (1924-1987). 

 

 

Maria Mazarello Rodrigues foi homenageada pelos 42 anos da Mazza Edições numa noite de confluência no %u201CRepública Jenipapo%u201D, na Savassi, na última terça-feira, parceria entre o projeto República e a livraria Jenipapo
Maria Mazarello Rodrigues foi homenageada pelos 42 anos da Mazza Edi��es numa noite de conflu�ncia no %u201CRep�blica Jenipapo%u201D, na Savassi, na �ltima ter�a-feira, parceria entre o projeto Rep�blica e a livraria Jenipapo (foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press)

Homenagem 

 

Maria Mazarello Rodrigues foi homenageada pelos 42 anos da Mazza Edi��es numa noite de conflu�ncia no “Rep�blica Jenipapo”, na Savassi, na �ltima ter�a-feira, parceria entre o projeto Rep�blica e a livraria Jenipapo (foto).

 

Recebeu orqu�deas das m�os da escritora Helo�sa Starling, de quem foi professora. Respondeu �s perguntas de Cidinha da Silva, de quem � amiga e editora de quatro dos 20 livros. Dialogou  comigo, autora de seu perfil biogr�fico “Maria Mazarello – Preto no branco, lutas e livros”. 

 

Sorridente e boa contadora de casos, Mazza lembrou hist�rias divertidas, como a “novena de nove horas” que fez a Santa Rita de C�ssia, de quem � devota, para conseguir quitar d�vida da editora que ajudou a fundar, na juventude, anos antes da abertura da Mazza Edi��es.

 

Mostrou como abriu caminhos para escritores consagrados, como Edimilson de Almeida Pereira, Concei��o Evaristo e Leda Maria Martins.

 

Foi definida como “sujeito coletivo”, termo de Ailton Krenak, empregado pelo poeta Ricardo Aleixo para evidenciar a  mulher negra, que assumiu a empreitada de abrir uma editora voltada, prioritariamente, para a negritude. 

 

Ao final, recebeu a declara��o do poeta, que destacou a import�ncia de Mazza abrir um campo do pensamento brasileiro. 

 

“Te amo, Mazza”, disse Aleixo, verbalizando a vontade dos que testemunharam essa noite hist�rica. (M�rcia Maria Cruz)

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)