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Estado de Minas PENSAR

'O garoto do meu pai' � um romance de rara beleza

Ao narrar os �ltimos dias do pai, Emmanuelle Lambert evita a l�grima f�cil e emociona com a recria��o de mem�rias familiares


08/09/2023 04:00 - atualizado 08/09/2023 00:18
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Imagem de capa do livro 'O garoto do meu pai'
Imagem de capa do livro 'O garoto do meu pai' (foto: Reprodu��o)

 
Stefania Chiarelli
Especial para o EM

O dia 20 de setembro de 2019 foi a data da morte do pai de Emmanuelle Lambert. Em “O garoto do meu pai” (Aut�ntica Contempor�nea), a escritora francesa narra, em primeira pessoa, os �ltimos cinco dias de vida na companhia paterna. Acompanhamos a rotina hospitalar, visitas m�dicas, uso de rem�dios paliativos, decis�es sobre os rumos do tratamento do c�ncer. Em paralelo, o retrato de um homem intenso, amoroso,  por vezes, brutal. 

O tema n�o � novo; a experi�ncia, vivenciada por muitos de n�s. A narrativa evita a l�grima f�cil, mas emociona ao visitar de modo �nico as mem�rias familiares. Nesse quesito, vale destacar a tradu��o de Adriana Lisboa, que no ensaio autobiogr�fico “Todo o tempo que existe” (2022) tamb�m trata da morte dos pais, e constr�i com Lambert quase uma partitura a quatro m�os, lembrando a forma��o musical de ambas, para sorte dos leitores brasileiros. O resultado � um texto de rara beleza, que conquista aos poucos, sem alarde.
 
Na trama, presente e passado se entrela�am. A cronometria do tempo de dentro � outra, e nesse jogo a narradora expande sequ�ncias, como na recorda��o das in�meras cenas de leitura paternas, para quem a atividade era vital.

Capa do livro 'O garoto do meu pai'
(foto: Reprodu��o)
De origem humilde, filho de sapateiro, “Meu pai, o deus imprevis�vel da minha inf�ncia, tinha, para mim, um livro numa das m�os e um instrumento musical na outra”. Em outros momentos, encurta dist�ncias, ao saltar da Fran�a para a Arg�lia da av� materna, mulher analfabeta que nos anos 1930 se casara com um advogado burgu�s, tamb�m ficcionalizada em “La t�te haute” (de cabe�a erguida, em tradu��o livre). O romance foi publicado em 2013, ainda n�o traduzido no Brasil.

O estrato autobiogr�fico interessa � autora, cuja fotografia infantil est� estampada no livro e se desloca para a capa, transformada em desenho e sinalizando que sim, partimos da esfera do vivido, mas ela s� tem relev�ncia quando transfigurada pela linguagem. Apesar de compor um relato memorialista, os verbos no passado aparecem com pouca frequ�ncia no texto. Dizer “ele era” � imobilizar algo que permanece vivo e pulsante no presente. 
 
 

Em “O garoto do meu pai” est� ausente o desejo de construir uma hist�ria reparadora, mirando a reden��o. Lambert escolhe olhar incertezas, heran�as confusas, “filia��es cheias de buracos”: um luto tamb�m deve ser gestado e parido, sugere. Para dizer, ao fim dessa jornada tr�pega, que vai ficar tudo bem.
 
 

Stefania Chiarelli � professora e pesquisadora de literatura brasileira na UFF. Publicou, entre outros, “Partilhar a l�ngua – leituras do contempor�neo” (7Letras, 2022)


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