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Estado de Minas DESEJO

O que a neuroci�ncia nos ensina sobre o prazer

Um dos focos dos estudos mais recentes sobre o prazer � a surpreendente diferen�a que existe no c�rebro entre gostar e desejar


20/11/2022 11:45 - atualizado 20/11/2022 11:45
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Ilustração de um cérebro com áreas coloridas em azul, verde, amarelo e vermelho
Kent Berridge descobriu que o desejar e o gostar s�o coisas diferentes (foto: Getty Images)
Como um bom cientista, Kent Berridge ficou feliz quando descobriu que algumas das suas ideias sobre o c�rebro estavam erradas. "Aprendi que muitas dessas decep��es podem ser muito gratificantes quando o c�rebro sussurra seus segredos e nos surpreende", afirma.

Professor de psicologia e neuroci�ncia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, Berridge pesquisa h� d�cadas como se origina o prazer no c�rebro, quais s�o as bases neuronais do desejo e dos gostos e o que causa as depend�ncias.

Estas pesquisas permitiram entender muito melhor e tratar condi��es como o mal de Parkinson, alguns tipos de esquizofrenia e a depress�o.

Um dos focos dos seus estudos mais recentes sobre o prazer � a surpreendente diferen�a que existe no c�rebro entre gostar e desejar.

Berridge come�ou a interessar-se por este campo quando estava na escola secund�ria e leu um livro que teve profundo impacto na sua vida: The Territorial Imperative ("O imperativo territorial", em tradu��o livre), do escritor norte-americano Robert Ardrey.

Leia tamb�m: Sa�de e prazer dentro do carrinho.

Dali surgiu sua curiosidade para entender a rela��o entre a psicologia, o c�rebro e a evolu��o humana, que acabou por lev�-lo a especializar-se nos misteriosos segredos da nossa esp�cie.

Nesta entrevista, Berridge conta � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) o que o c�rebro nos ensina sobre o prazer.


Mulher branca de cabelo castanho claro sentada em uma cadeira gamer em frente a uma tela de computador; ela usa fones de ouvido e uma touca vermelha
Evid�ncias demonstraram que as mesmas zonas do c�rebro geram prazeres sensoriais ou prazeres aprendidos culturalmente (foto: Getty Images)


BBC News Mundo - Como se origina o prazer no nosso c�rebro e o quanto isso determina a forma como experimentamos o prazer?

Kent Berridge - O prazer de uma experi�ncia sempre se origina no c�rebro. Existem certas chaves que abrem a fechadura do prazer, como o sabor do doce, que � algo prazeroso para muitas pessoas desde o momento em que elas nascem.

Mas tamb�m � poss�vel criar um aprendizado relativo a uma avers�o a essa experi�ncia, se ela nos fizer sentir n�useas e nos fizer parecer que o doce � repulsivo.

Da mesma forma, o sabor amargo costuma ser naturalmente pouco prazeroso, mas � poss�vel aprender a desfrut�-lo. As pessoas aprendem a abrir esses bloqueios de prazer no c�rebro.

BBC - O quanto isso � biol�gico e o quanto � aprendido socialmente?

Berridge - No caso dos prazeres sensoriais, eles claramente se originam no c�rebro. Sabemos que existem certos pontos no c�rebro que s�o geradores de prazer.

Trata-se de uma meia d�zia de pequenas �reas do c�rebro que, quando interconectadas, agem como um grupo �nico para ativar prazeres intensos.

E esses pontos do c�rebro que geram prazer utilizam certos neuroqu�micos naturais, como opioides ou vers�es naturais da hero�na ou da maconha, para estimular o c�rebro e gerar esses intensos prazeres. Chamamos esses locais de pontos quentes hed�nicos.

Para outros tipos de prazer, como o prazer de ver algu�m de quem gostamos ou experimentar prazer com a arte ou escutando m�sica, � diferente.

Se voc� me perguntasse 20 anos atr�s, eu teria dito que esses prazeres culturais aprendidos funcionam como um sistema cerebral totalmente diferente, em compara��o com os prazeres sensoriais. Mas as evid�ncias nos mostraram que as mesmas zonas do c�rebro geram prazeres sensoriais ou prazeres aprendidos culturalmente.


Leia tamb�m:  Autores alertam para a tirania da felicidade, do prazer e do pensamento positivo.

BBC - Como voc� estuda este tipo de conex�es cerebrais no seu laborat�rio?

Berridge - Fazemos experimentos com imagens neurol�gicas para medir a ativa��o de determinadas regi�es do c�rebro humano. Isso nos permitiu entender que as mesmas zonas s�o ativadas, mesmo com diferentes tipos de prazer.

E, para estudar os geradores do prazer propriamente ditos, n�s manipulamos os sistemas cerebrais de animais de forma �tica e sem causar dor.

N�s suprimimos a dopamina em ratos com medicamentos capazes de bloquear os receptores de dopamina no c�rebro e descobrimos que isso n�o reduziu o prazer que eles experimentavam com o sabor doce. Ou seja, o gosto pelo doce, mesmo bloqueando totalmente a dopamina, continuava presente.

N�s fazemos experimentos com seres humanos h� cerca de 20 anos, manipulando os n�veis de dopamina no c�rebro, observando o prazer e o desejo, e a diferen�a entre desejar e gostar.

 

Professor de psicologia e neuroci�ncia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, Berridge pesquisa h� d�cadas como se origina o prazer no c�rebro, quais s�o as bases neuronais do desejo e dos gostos e o que causa as depend�ncias.

Estas pesquisas permitiram entender muito melhor e tratar condi��es como o mal de Parkinson, alguns tipos de esquizofrenia e a depress�o.

Um dos focos dos seus estudos mais recentes sobre o prazer � a surpreendente diferen�a que existe no c�rebro entre gostar e desejar.

Berridge come�ou a interessar-se por este campo quando estava na escola secund�ria e leu um livro que teve profundo impacto na sua vida: The Territorial Imperative ("O imperativo territorial", em tradu��o livre), do escritor norte-americano Robert Ardrey.

Leia tamb�m: Sa�de e prazer dentro do carrinho.

Dali surgiu sua curiosidade para entender a rela��o entre a psicologia, o c�rebro e a evolu��o humana, que acabou por lev�-lo a especializar-se nos misteriosos segredos da nossa esp�cie.

Nesta entrevista, Berridge conta � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) o que o c�rebro nos ensina sobre o prazer.


Mulher branca de cabelo castanho claro sentada em uma cadeira gamer em frente a uma tela de computador; ela usa fones de ouvido e uma touca vermelha
Evid�ncias demonstraram que as mesmas zonas do c�rebro geram prazeres sensoriais ou prazeres aprendidos culturalmente (foto: Getty Images)


BBC News Mundo - Como se origina o prazer no nosso c�rebro e o quanto isso determina a forma como experimentamos o prazer?

Kent Berridge - O prazer de uma experi�ncia sempre se origina no c�rebro. Existem certas chaves que abrem a fechadura do prazer, como o sabor do doce, que � algo prazeroso para muitas pessoas desde o momento em que elas nascem.

Mas tamb�m � poss�vel criar um aprendizado relativo a uma avers�o a essa experi�ncia, se ela nos fizer sentir n�useas e nos fizer parecer que o doce � repulsivo.

Da mesma forma, o sabor amargo costuma ser naturalmente pouco prazeroso, mas � poss�vel aprender a desfrut�-lo. As pessoas aprendem a abrir esses bloqueios de prazer no c�rebro.

BBC - O quanto isso � biol�gico e o quanto � aprendido socialmente?

Berridge - No caso dos prazeres sensoriais, eles claramente se originam no c�rebro. Sabemos que existem certos pontos no c�rebro que s�o geradores de prazer.

Trata-se de uma meia d�zia de pequenas �reas do c�rebro que, quando interconectadas, agem como um grupo �nico para ativar prazeres intensos.

E esses pontos do c�rebro que geram prazer utilizam certos neuroqu�micos naturais, como opioides ou vers�es naturais da hero�na ou da maconha, para estimular o c�rebro e gerar esses intensos prazeres. Chamamos esses locais de pontos quentes hed�nicos.

Para outros tipos de prazer, como o prazer de ver algu�m de quem gostamos ou experimentar prazer com a arte ou escutando m�sica, � diferente.

Se voc� me perguntasse 20 anos atr�s, eu teria dito que esses prazeres culturais aprendidos funcionam como um sistema cerebral totalmente diferente, em compara��o com os prazeres sensoriais. Mas as evid�ncias nos mostraram que as mesmas zonas do c�rebro geram prazeres sensoriais ou prazeres aprendidos culturalmente.


BBC - Como voc� estuda este tipo de conex�es cerebrais no seu laborat�rio?

Berridge - Fazemos experimentos com imagens neurol�gicas para medir a ativa��o de determinadas regi�es do c�rebro humano. Isso nos permitiu entender que as mesmas zonas s�o ativadas, mesmo com diferentes tipos de prazer.

E, para estudar os geradores do prazer propriamente ditos, n�s manipulamos os sistemas cerebrais de animais de forma �tica e sem causar dor.

N�s suprimimos a dopamina em ratos com medicamentos capazes de bloquear os receptores de dopamina no c�rebro e descobrimos que isso n�o reduziu o prazer que eles experimentavam com o sabor doce. Ou seja, o gosto pelo doce, mesmo bloqueando totalmente a dopamina, continuava presente.

N�s fazemos experimentos com seres humanos h� cerca de 20 anos, manipulando os n�veis de dopamina no c�rebro, observando o prazer e o desejo, e a diferen�a entre desejar e gostar.



Kent Berridge, um homem branco de olhos claro, sorrindo
Para Kent Berridge, os sistemas cerebrais de dopamina de alguns indiv�duos s�o vulner�veis � neurossensibiliza��o, o que os torna hiper-reativos a determinadas drogas, causando depend�ncia (foto: Scott C. Soderberg)


BBC - Qual � a diferen�a entre gostar e desejar?

Berridge - Esta � a pergunta fundamental. Eu pensava que n�o houvesse diferen�a. Que o circuito cerebral de recompensa fosse o mesmo. Mas a verdade � que eles podem ser separados.

N�s queremos as coisas de que gostamos e gostamos das coisas que queremos, mas nem sempre � assim. � o caso, por exemplo, de uma pessoa que quer algo intensamente, mas n�o gosta daquilo.

Meus colegas e eu propusemos uma teoria para as depend�ncias. Em alguns indiv�duos, seus sistemas cerebrais de dopamina s�o vulner�veis � neurossensibiliza��o.

Isso significa que eles se tornam hiper-reativos a determinadas drogas. Essa hiper-reatividade aos sistemas de dopamina faz com que eles desejem intensamente certos est�mulos, independentemente se gostam deles ou n�o.

Foram feitos experimentos com o consumo de coca�na ou com pacientes com mal de Parkinson e descobrimos que a dopamina est� relacionada com querer algo, com o desejo, mais do que com o gosto.

BBC - Qual � a rela��o entre a incapacidade de experimentar prazer, conhecida como anedonia, e as doen�as mentais?

Berridge - A anedonia pode ser um sintoma de algumas formas de esquizofrenia ou depress�o profunda. Como ocorre com os pacientes com Parkinson, observa-se a falta de querer experimentar prazer, mas o prazer em si n�o desaparece.

Em muitos casos de esquizofrenia, n�o se trata da perda do prazer, mas da perda da motiva��o por querer essas coisas. O prazer, o gosto, aparentemente est� intacto. No caso da depress�o, pode-se perder as duas coisas: o desejo e o gosto.

BBC - Existem indiv�duos mais propensos a procurar prazer do que outros?

Berridge - Sim, existem escalas de impulsividade e rea��es de recompensa. Alguns t�m esse tipo de caracter�stica nas suas personalidades e � um fator de vulnerabilidade para desenvolver depend�ncias, por exemplo.

Eles t�m um sistema cerebral que reage mais aos sinais ativadores dos sistemas de recompensa. Isso pode ser bom para encontrar motiva��es e prazer na vida, mas tamb�m pode nos levar a uma busca excessiva de recompensas, de prazer.

BBC - Que aplica��es tem a sua pesquisa?

Berridge - Tem havido aplica��es no campo das depend�ncias, por entender que elas t�m mais a ver com o desejo do que com o gosto.

Ou seja, as hiper-rea��es �s subst�ncias que causam depend�ncia podem ser independentes do gosto por elas. Neste sentido, a depend�ncia n�o � apenas a busca do prazer.

Os resultados das nossas pesquisas tamb�m podem ser aplicados ao tratamento de certas condi��es mentais para ajudar as pessoas a lidar melhor com essas quest�es.


Ilustração do cérebro
Os estudos de Berridge demonstraram que o n�vel de dopamina est� mais relacionado com o desejo do que com o gosto (foto: Getty Images)


BBC - Voc� escreveu que, compreendendo os mecanismos cerebrais do prazer, � poss�vel entender melhor a natureza humana...

Berridge - N�s costumamos pensar que os prazeres e os desejos andam sempre juntos.

Quando vemos um dependente, podemos pensar que ele � dependente porque procura o prazer. Mas, se compreendermos a ess�ncia das depend�ncias, podemos entender que pode existir um n�vel intenso de desejo, um n�vel intenso de tenta��o, que o resto de n�s n�o experimentamos nas nossas vidas.

BBC - Daqui a 10 ou 20 anos, o que voc� gostaria de ter conseguido com suas pesquisas?

Berridge - Minha experi�ncia tem sido uma s�rie de surpresas. �s vezes, essas surpresas s�o decepcionantes, j� que frequentemente nossas teorias est�o erradas.

Mas aprendi que muitas dessas decep��es podem ser muito gratificantes quando o c�rebro sussurra seus segredos e nos surpreende.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63624791


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