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Estado de Minas COLUNA

Desejo de aprova��o alheia

'Uma cultura controladora e manipuladora nos incentiva � submiss�o e � depend�ncia, prometendo-nos que assim obteremos amor do outro'


20/03/2022 04:00 - atualizado 20/03/2022 07:50

Sigmund Freud
Sigmund Freud, pai da psican�lise (foto: Dom�nio p�blico)

“Ant�nio Roberto, na semana passada, num almo�o em fam�lia, fui desaprovada por algumas atitudes que tenho tomado em minha vida. Apesar de adulta, casada, com 46 anos, fiquei muito chateada. Por que preciso tanto da aprova��o alheia?" 
 
Caroline, de Belo Horizonte
 
H� uma grande diferen�a entre desejar alguma coisa e precisar de alguma coisa. No caso da aprova��o alheia, essa diferen�a � vital. Todos n�s gostamos do elogio, da admira��o, do aplauso, dos cumprimentos. E � legitimo desejar isso. A coisa complica quando necessitamos disso. Quando apenas desejamos a aprova��o alheia, se ela vier, ficaremos felizes. Se, no entanto, somos escravos da opini�o alheia, quando n�o a conseguimos, nosso mundo cai, como no caso da leitora acima.

Nossa autodestrutividade emocional come�a por a�. Essa depend�ncia nos leva � perda da nossa individualidade. Somos capazes de abrir m�o dos nossos pensamentos, sentimentos e a��es para satisfazer aos desejos e expectativas da outra pessoa. E, para piorar, mesmo renunciando � pr�pria autoestima, jamais conseguiremos aprova��o total de todas as pessoas. Deixar-se dirigir de fora � condenar-se a constantes frustra��es na vida. Quando tentamos fazer o que outros querem, ou seja, n�o gostar�o de n�s, com uma desvantagem.

Aqueles que gostarem, n�o estar�o gostando verdadeiramente de n�s, mas de nossa simula��o. Quando, ao contr�rio, somos n�s mesmos, existir�o pessoas que aprovar�o e outras que desaprovar�o. Com uma vantagem, por�m, os que aprovarem estar�o gostando realmente de n�s. Precisar compulsivamente da aprova��o externa significa, no fundo, achar que a opini�o alheia � mais importante do que a nossa pr�pria. � uma forma sutil de autorrejei��o, que se manifesta em v�rios comportamentos destrutivos. 
 
A timidez (o que v�o pensar de mim?), a dificuldade de falar, fazer pergunta em p�blico, emitir opini�es discordantes, a perda da espontaneidade, o medo constante de desagradar s�o algumas formas paralisantes em nosso desabrochamento humano, provocadas pela necessidade constante de aprova��o. Mas por que a maioria de n�s, em maior ou menor grau, ca�mos nessa armadilha de sermos controlados pelos outros? 
 
Vivemos em uma sociedade que n�o v� com bons olhos a liberdade, a autonomia e as diferen�as. Uma cultura controladora e manipuladora nos incentiva � submiss�o e � depend�ncia, prometendo-nos que assim obteremos amor do outro, ou seja, que podemos controlar e submeter os outros aos nossos desejos. Esse c�rculo vicioso de manipula��o nos � ensinado, desde crian�as. S�o raros os pais que t�m por objetivo ensinar os filhos a escolherem por eles pr�prios. A maioria toma decis�es no lugar dos filhos, que por isso dependem o tempo todo da opini�o paterna. Tem sempre que conferir com o adulto o pr�prio desejo, com medo de perder o amor e a prote��o dos pais. 
 
O valor da obedi�ncia cega, durante muito tempo e ainda hoje � alardeado como o n�cleo fundamental da educa��o. Com isso, crescemos dependentes e sem confian�a nos nossos pr�prios julgamentos. E, adultos, somente trocamos de donos. Antes eram os pais, agora os senhores s�o o marido, a esposa, o patr�o, o l�der religioso, os colegas.

A mensagem continua a mesma: n�o confie na sua capacidade de resolver seus problemas, na sua capacidade de auto-geni. Confira sempre com algu�m. A teimosia das crian�as, da qual os pais sempre reclamam, como por exemplo, n�o querer comer, tomar banho, escovar os dentes e a revolta dos adolescentes parecem ser um subproduto inconsciente da educa��o dominadora. Outras institui��es, mais tarde, v�o refor�ar, de v�rias formas, a busca de aprova��o. 
 
Na maioria das escolas, a padroniza��o, incluindo o uniforme, uma forma de impedir que a individualidade se desenvolva. A maioria dos estudantes frequenta as aulas e estuda mais para os pais e professores do que para si pr�prios.

Nas empresas, a rela��o chefe-subordinado repete o modelo. Uma das mais terr�veis e despersonalizantes m�ximas difundida �: “manda quem pode e obedece que tem ju�zo”. A intui��o e a criatividade naturais em qualquer ser humano s�o destru�das pela necessidade de pensar igual, de ter bom senso, de ter bom gosto, de ser aprovado pela maioria. Nas rela��es ditas amorosas tamb�m in�meras mensagens foram aprendidas com a praga da depend�ncia e da submiss�o. O amor rom�ntico, infantilizado chega a confundir o verdadeiro amor com depend�ncia psicol�gica.
 
•”Eu, sem voc�, n�o sou ningu�m.”
• “Voc� n�o est� me fazendo feliz.”
•”Ele me fez sentir mulher.”
•”Se voc� me deixar, eu...”
•”Voc� � tudo para mim.” “� a raz�o de minha vida.”
 
Nosso desenvolvimento enquanto pessoa, �nico caminho para uma vida em paz e feliz � responsabilidade de cada um de n�s. Somos respons�veis por nossa trajet�ria na vida, e isso se atualiza a partir de nossa capacidade de decidir. � verdade que, como seres imperfeitos, nem sempre estaremos acertando, nas nossas ideias, nos nossos sentimentos e a��es.

Nossos erros, por�m, podem e devem ser nossos aliados de crescimento. Basta desenvolver a capacidade de aprender com eles. Estaremos mudando sempre. A mudan�a cont�nua faz parte das nossas constru��es. Mudan�as feitas, por�m, a partir das consequ�ncias que a realidade nos imp�e e n�o para sermos aprovados. � bom sempre termos em mente a necessidade de assumirmos cada vez mais nossas vidas. “Eu sou o que sou e n�o o que querem que eu seja.” 

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