Nova cepa descoberta em BH refor�a alerta sobre o coronav�rus
Ao identificar variante em BH, pesquisadores da UFMG e do Grupo Hermes Pardini insistem em restri��es coordenadas no pa�s e na amplia��o para o sequenciamento
Laborat�rio do ICB/UFMG, que ainda ter� de pesquisar o n�vel de resist�ncia da cepa � resposta imunol�gica e �s vacinas (foto: Fred Bottrel/EM/D.A Press - 25/3/20)
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do laborat�rio Hermes Pardini identificaram ontem nova variante do coronav�rus em Belo Horizonte. Ainda n�o � poss�vel saber se a nova cepa, que apresenta at� 18 muta��es, � significativa ou n�o para aumentar o ritmo de transmiss�o do v�rus. Tamb�m n�o est� claro se ela tem ou n�o maior resist�ncia do ponto de vista da resposta imunol�gica, inclusive quanto aos efeitos das vacinas que est�o sendo usadas no pa�s.
O surgimento da nova variante requer duas medidas emergenciais, segundo especialistas ouvidos pelo Estado de Minas. De um lado, seria necess�ria uma coordena��o nacional, a partir do governo federal, que implemente o fechamento total das atividades econ�micas (o lockdown) em todos os estados para frear a circula��o do v�rus. De outro, demandaria a amplia��o dos trabalhos de sequenciamento de genoma do Sars-CoV-2 em Minas Gerais, principalmente na Grande BH, para monitorar a nova cepa. Hoje, esse estudo � realizado praticamente s� na UFMG.
“A grande preocupa��o � o surgimento de uma variante que pode evadir da resposta imune da vacina, por exemplo. A gente acredita que ela j� est� circulando em Minas Gerais. De in�cio, parece que o apelido dela ser� P4. Mas, a gente n�o sabe ainda qual o impacto”, afirma o infectologista Una� Tupinamb�s, da UFMG e integrante do Comit� de Enfrentamento � COVID-19 da prefeitura de BH.
Diante desses pontos de interroga��o, Una� Tupinamb�s defende o fechamento total das atividades econ�micas como medida para reduzir os riscos de contamina��o e garantir a efic�cia das vacinas. Nesta semana, a prefeitura chegou a estudar uma reabertura, mas desistiu. “Da� a import�ncia do lockdown. Se eu n�o tiver v�rus circulando, eu n�o vou dar chance para novas muta��es. A popula��o e o governo federal t�m que enxergar que essa � a �nica sa�da, mesmo com o avan�o da vacina”, afirma o infectologista.
"Da� a import�ncia do lockdown. Se eu n�o tiver v�rus circulando, eu n�o vou dar chance para novas muta��es" - Una� Tupinamb�s, infectologista da UFMG e do Comit� de Enfrentamento � COVID-19 de BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 5/6/20)
A nova muta��o atesta, mais uma vez, o Brasil como celeiro de novas variantes do coronav�rus. Ao menos outras tr�s cepas significativas j� circulam no pa�s: a P1, descrita em Manaus; a P2, do Rio de Janeiro; e a B.1.1.28, tamb�m identificada no Amazonas. A UFMG acredita que as duas mapeadas em BH s�o fruto dessa �ltima, que circulou na primeira fase da pandemia na capital mineira.
Estudos gen�ticos demonstram que os novos genomas da cepa apresentam muta��es em diversas de suas regi�es, incluindo novas altera��es nas posi��es E484 e N501. Foram nessas mesmas coordenadas do v�rus que as outras cepas de maior risco apresentaram mudan�as, o que amplia o sinal de alerta. “N�o existem evid�ncias de liga��o epidemiol�gica entre ambas, como parentesco ou proximidade geogr�fica entre os infectados, o que refor�a a plausibilidade de circula��o dessa nova poss�vel variante”, afirma o professor Renato Santana, do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas (ICB) da UFMG.
O bi�logo e divulgador cient�fico Atila Iamarino destaca que sem um plano de a��o federal, v�rus mais transmiss�veis e com maior poder de reinfec��o est�o sendo selecionados. “Enquanto o plano de a��o federal for promover o cont�gio, o que coloca vulner�veis, curados e vacinados em contato com o coronav�rus, teremos variantes sendo geradas. Evolu��o � implac�vel e estamos selecionando v�rus mais transmiss�veis e que reinfectam”, disse em postagem no Twitter.
Outra especialista que se manifestou a respeito da nova variante foi a biom�dica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra. Ela alerta para o fato de as variantes estarem se adaptando e diz que � preciso controlar a transmiss�o.
Amostras A nova variante foi detectada a partir de 85 amostras do coronav�rus colhidas entre 28 de outubro do ano passado e 15 de mar�o �ltimo, portanto incluindo o per�odo em que a capital verificou aumento dos �ndices de transmissibilidade do micro-organismo na cidade. O auge do cont�gio em BH ocorreu entre os dias 11 e 19 de mar�o, de acordo com os boletins da prefeitura, quando o n�mero de transmiss�o por infectado variou entre 1,22 e 1,28.
O estudo � feito pelo Instituto de Ci�ncias Biol�gicas da Universidade Federal de Minas Gerais e o Setor de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Pardini, em colabora��o com o Laborat�rio de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
(foto: Arte: Soraia Piva)
Os resultados do trabalho demonstram, ainda, aumento progressivo das variantes que preocupam na Grande BH. Nos genomas sequenciados, foram encontradas as linhagens P.1 (30 amostras ou 35,29%, de Manaus), P.2 (41/48,23%, do Rio de Janeiro), B.1.1.28 (oito/9,41%, do Amazonas), B.1.1.7 (tr�s/3,53%, do Reino Unido), e uma de cada uma das seguintes cepas: B.1.1.143, B.1.235 e B.1.1.94.
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Marta Vieira
Por dentro das muta��es
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O que � um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferen�as entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restri��o de circula��o de pessoas adotadas no Brasil n�o podem ser chamadas de lockdown.
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