Publica��es que apontam os supostos riscos de quatro vacinas contra a covid-19 somam mais de 12.000 intera��es nas redes sociais desde julho de 2021.
Embora efeitos adversos tenham sido relatados, sua ocorr�ncia � considerada rara para todos os imunizantes citados nas publica��es - Janssen, Pfizer, AstraZeneca e CoronaVac.
“Recebi e repasso, sobre os riscos das vacinas: Atualizando: Janssen: S�ndrome de Guillain-Barre pfizer: miocardite az: trombose coronavac: covid mesmo”, diz uma postagem no Facebook (1, 2). O mesmo conte�do tamb�m circulou no Instagram (1, 2) e no Twitter (1).
Janssen e a S�ndrome de Guillain-Barr� (SGB)
Segundo o Minist�rio da Sa�de, a S�ndrome de Guillain-Barr� (SGB) � uma doen�a rara que causa um dist�rbio autoimune com impactos no sistema nervoso. “Geralmente provocada por um processo infeccioso anterior, manifesta fraqueza muscular, com redu��o ou aus�ncia de reflexos”, diz a pasta.
A Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) explica que “epis�dios p�s-vacina��o (eventos adversos) [relacionados � SGB] tamb�m s�o raros, mas j� conhecidos e relacionados a outras vacinas, como a da influenza (gripe)”.
Em 13 de julho de 2021, a Ag�ncia de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos anunciou que atualizaria a ficha t�cnica da vacina Janssen contra a covid-19, desenvolvida pelo grupo Johnson & Johnson, para incluir informa��es relativas a um “maior risco observado de SGB ap�s a vacina��o”.
Na data do an�ncio, a ag�ncia norte-americana reportou 100 notifica��es preliminares de SGB ap�s a vacina��o com a Janssen, em um contexto de aproximadamente 12,5 milh�es de doses administradas. Dessas notifica��es, 95 eram graves e exigiram hospitaliza��o. Houve uma morte relatada. “A cada ano, nos Estados Unidos, cerca de 3.000 a 6.000 pessoas desenvolvem SGB”, assinalou a FDA.
Uma consulta feita em 11 de agosto de 2021 na plataforma Notifica��o de Eventos Adversos � Vacina (Vaers) dos Estados Unidos mostrou 118 eventos descritos como casos da S�ndrome de Guillain-Barr� relacionados � vacina da Janssen.
A plataforma, no entanto, explica que as notifica��es ali contidas, por si s�, n�o podem ser usadas para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento adverso ou uma doen�a em espec�fico: “Em sua maior parte, as notifica��es contidas na Vaers s�o volunt�rias, o que significa que s�o sujeitas a vieses”. At� 10 de agosto de 2021, j� haviam sido aplicadas mais de 13,7 milh�es de doses do imunizante nos EUA, de acordo com os Centros para o Controle e Preven��o de Doen�as (CDC).

Em julho de 2021, o grupo Johnson & Johnson emitiu uma nota, afirmando que casos raros da doen�a neurol�gica foram relatados ap�s o uso da vacina Janssen. A maioria ocorreu dentro de 42 dias ap�s a vacina��o. “Embora a chance de isso ocorrer seja muito baixa, a Johnson & Johnson atualizou sua ficha t�cnica da vacina da covid-19 para incluir informa��es importantes sobre esses casos raros e sobre os sinais e sintomas da s�ndrome de Guillain-Barr�”, disse a empresa, em tradu��o livre do ingl�s.
No Brasil, a Anvisa fez um comunicado em 26 de julho de 2021 sobre casos raros de S�ndrome de Guillain-Barr� ap�s a imuniza��o contra a covid-19 com as vacinas AstraZeneca/Fiocruz, Janssen e CoronaVac, e tamb�m solicitou a inclus�o de informa��es sobre poss�veis riscos de SGB na bula dos respectivos fabricantes.
“A Anvisa mant�m a recomenda��o pela continuidade da vacina��o com todas as vacinas contra covid-19 aprovadas pela ag�ncia, dentro das indica��es descritas em bula, uma vez que, at� o momento, os benef�cios das vacinas superam os riscos”, indica o texto.
Dados da Anvisa registrados no Painel de Notifica��es de Farmacovigil�ncia da ag�ncia at� 6 de agosto de 2021 mostravam oito casos suspeitos de SGB relacionados � vacina da Janssen. At� 11 de agosto foram aplicadas 4,2 milh�es de doses do imunizante no pa�s, segundo dados do Minist�rio da Sa�de.
Pfizer e a miocardite
� verdade que casos de miocardite (inflama��o do m�sculo card�aco) e de pericardite (inflama��o do tecido que envolve o cora��o) foram relatados ap�s a vacina��o contra covid-19 com imunizantes de RNA mensageiro (mRNA), como as vacinas da Pfizer e da Moderna.No entanto, assim como ocorre com a SGB e o imunizante Janssen, os casos s�o considerados raros e a an�lise da OMS � a de que os benef�cios das vacinas de mRNA superam os riscos.
Segundo o comunicado da organiza��o, datado de julho de 2021, um forte sinal de miocardite ou pericardite tem sido relatado com vacinas de mRNA contra covid-19 nos Estados Unidos: “De acordo com os dados do Vaers dos EUA, aproximadamente 40,6 casos de miocardite por milh�o de segundas doses em homens e 4,2 casos por milh�o entre mulheres foram relatados at� 11 de junho de 2021 em pessoas de 12 a 29 anos que receberam as vacinas de mRNA COVID-19. Para pessoas com mais de 30 anos, as taxas de notifica��o foram de 2,4 e 1,0 por milh�o de segundas doses, respectivamente, para homens e mulheres”.
Ainda em junho de 2021, a FDA emitiu um comunicado anunciando revis�es nas fichas t�cnicas das vacinas Moderna e Pfizer para incluir informa��es sobre um maior risco de miocardite e pericardite ap�s a vacina��o.
Segundo os CDC, os casos confirmados ocorreram, em sua maior parte, em adolescentes e jovens adultos e mais frequentemente ap�s a segunda dose.
“Desde abril de 2021, houve mais de mil notifica��es no Vaers de casos de inflama��o no cora��o - miocardite e pericardite - ap�s a vacina��o com imunizantes de mRNA (Pfizer-BioNTec, Moderna) nos Estados Unidos. Estes eventos s�o raros, considerando as centenas de milh�es de doses administradas. A maioria dos pacientes que receberam atendimento responderam bem ao tratamento e rapidamente se sentiram melhor”, acrescentaram os CDC.
Na Europa, a Ag�ncia de Medicamentos Europeia (EMA, na sigla em ingl�s) publicou um comunicado em julho de 2021, no qual relata uma an�lise de 145 casos de miocardite entre pessoas que receberam Comirnaty (Pfizer) e 19 casos ap�s o uso do imunizante Spikevax (Moderna). A ag�ncia europeia tamb�m manteve a posi��o de que os benef�cios superam os riscos.
Em Israel, onde a vacina��o com o imunizante da Pfizer ocorreu mais rapidamente do que na maioria dos pa�ses, o Minist�rio da Sa�de anunciou no in�cio de junho de 2021 as conclus�es de um estudo sobre um poss�vel v�nculo entre a miocardite e as vacinas contra a covid-19. Os dados mostraram 275 casos de miocardite ocorridos entre dezembro de 2020 e maio de 2021 sobre mais de cinco milh�es de pessoas vacinadas.
Al�m disso, o minist�rio israelenese indicou que 95% das pessoas com miocardite "foram consideradas com casos leves".

J� no Brasil, em nota publicada em 9 de julho, a Anvisa afirmou que n�o haviam sido registrados relatos destas complica��es no Brasil. Procurada pela AFP em 9 de agosto, a ag�ncia informou que, desde a publica��o da nota, quando os casos foram notificados nos EUA, foram recebidas 13 notifica��es de suspeitas de pericardite e miocardite, sendo quatro desta �ltima. “Os dados n�o alteram a rela��o de benef�cio-risco das vacinas”, acrescentou a Anvisa.
Apesar de os casos serem raros, a ag�ncia brasileira recomenda aos profissionais de sa�de que fiquem atentos e perguntem �s pessoas que apresentarem sintomas se elas foram imunizadas, especialmente com a vacina da Pfizer, e orientem que procurem atendimento m�dico imediato se tiverem sintomas como dor no peito, falta de ar e palpita��es.
AstraZeneca e a trombose
Segundo a Associa��o Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), a trombose � uma “patologia caracterizada pela forma��o ou desenvolvimento de um co�gulo sangu�neo respons�vel por causar inflama��o na parede do vaso, conhecida pelos m�dicos como trombose venal profunda”. A doen�a � mais comum em mulheres, e, em casos mais graves, pode levar � embolia pulmonar quando o co�gulo se desloca e migra at� os pulm�es.Em abril de 2021, a Ag�ncia Europeia de Medicamentos anunciou que co�gulos no sangue deveriam ser listados como efeitos colaterais “muito raros” nas bulas das vacinas contra a covid-19 baseadas em vetores virais, como as da AstraZeneca e da Johnson & Johnson, destacando novamente que os benef�cios dos imunizantes superam os riscos. Esse tipo de vacina usa outro v�rus como suporte para transportar informa��es gen�ticas capazes de combater a covid-19.
Alguns pa�ses tomaram medidas para evitar casos excepcionais de trombose provocados pela vacina��o. A Dinamarca, por exemplo, n�o usa os imunizantes da AstraZeneca e da Janssen, enquanto outros pa�ses como Fran�a e Holanda optaram por n�o aplicar AstraZeneca em grupos de determinadas idades.
No Brasil, em abril de 2021, a Anvisa solicitou a inclus�o de casos raros de trombose com trombocitopenia (TTS) na bula da vacina de Oxford/AstraZeneca/Fiocruz.
O surgimento de co�gulos sangu�neos importantes em combina��o com n�veis baixos de plaquetas no sangue (trombocitopenia) aparecem no documento como um efeito colateral “muito raro”, tendo sido observado com uma frequ�ncia inferior a um em 100.000 indiv�duos vacinados.

Em junho de 2021, a Anvisa emitiu um comunicado sobre casos raros de trombose ap�s a vacina��o: “Os eventos adversos mais comuns ap�s a vacina��o s�o dor no local da aplica��o, dor de cabe�a e febre. A maioria dos efeitos colaterais que ocorre com o uso das vacinas � de natureza leve e transit�ria, n�o permanecendo por mais que 72 horas. O risco de ocorr�ncia de co�gulos sangu�neos � baix�ssimo, mas o cidad�o deve estar atento aos poss�veis sintomas associados � TTS”.
A Anvisa ressaltou, ainda, que mant�m a recomenda��o pela continuidade da vacina��o com o imunizante, uma vez que, at� o momento, os benef�cios superam os riscos associados � infec��o por covid-19.
Segundo o Painel de Vigil�ncia de Efeitos Adversos da Anvisa, at� 4 de agosto de 2021, foram registradas 139 notifica��es de suspeitas de trombose associadas ao uso da vacina AstraZeneca.
At� 11 de agosto de 2021 j� foram aplicadas 70,89 milh�es de doses da vacina Astrazeneca no Brasil, segundo dados do Minist�rio da Sa�de. Isso significa que as notifica��es de suspeitas de trombose equivalem a 0,000196% do total de doses aplicadas.
CoronaVac e o risco de contrair covid-19
O imunizante CoronaVac � produzido no Brasil pela farmac�utica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Em seu site, o instituto explica que a vacina utiliza a tecnologia de v�rus inativado, uma t�cnica j� consolidada na produ��o de vacinas. “Ao ser injetado no organismo, esse v�rus n�o � capaz de causar doen�a, mas induz uma resposta imunol�gica”, diz a institui��o.Em junho de 2021, a OMS aprovou o uso emergencial da CoronaVac, relatando uma efic�cia observada de 51% em prevenir infec��es sintom�ticas. Al�m disso, a OMS concluiu que a CoronaVac preveniu a covid-19 grave e hospitaliza��o em 100% da popula��o estudada.
Em julho, a Fiocruz, institui��o de pesquisa cient�fica respons�vel pela produ��o da vacina AstraZeneca no Brasil, concluiu que a CoronaVac manteve sua efic�cia em idosos mesmo frente � variante P.1. A funda��o concluiu que, entre os vacinados com as duas doses da CoronaVac, os �ndices de efetividade foram de 79,6% de 60 a 79 anos, e 68,8% acima dos 80 anos.

Um estudo publicado em julho de 2021 na revista cient�fica New England Journal of Medicine a respeito do uso da CoronaVac no Chile concluiu que a vacina teve uma efetividade de 65,9% na preven��o da covid-19 sintom�tica; 87,5% na preven��o de hospitaliza��o; 90,3% na preven��o de entrada em UTIs e 86,3% na preven��o de mortes por covid-19. O estudo analisou a campanha de vacina��o do Chile entre 2 de fevereiro e 1º de maio de 2021, que incluiu 10,2 milh�es de chilenos.
Outro estudo divulgado pelo Minist�rio da Sa�de do Chile em agosto concluiu que a CoronaVac teve 58,49% de efic�cia para prevenir a covid-19 sintom�tica; 86,02% de efetividade para prevenir hospitaliza��o; 89,68% para prevenir ingresso em UTI e 86,38% para prevenir mortes por covid-19.
Em 5 de agosto, o Chile anunciou que aplicaria uma dose de refor�o usando os imunizantes AstraZeneca e Pfizer, considerando “a evolu��o da efetividade com o tempo das vacinas e o risco da variante Delta”, segundo o presidente Sebasti�n Pi�era. Decis�o similar foi tomada no Uruguai, que tamb�m utilizou a CoronaVac em grande escala.
Desde que a vacina foi aprovada para uso emergencial no Brasil, a AFP j� verificou diversas alega��es sobre a suposta inefic�cia da CoronaVac (1, 2, 3).
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