Logo ap�s o Reino Unido aprovar em novembro de 2021 o uso do antiviral molnupiravir, da farmac�utica MSD, para tratar casos de covid-19, usu�rios passaram a sugerir que o medicamento seria apenas uma vers�o “repaginada” da ivermectina, fabricada pelo mesmo laborat�rio.
“Falam as m�s l�nguas que � Ivermectina com outro nome”, escreveu um usu�rio no Twitter no �ltimo dia 4 de novembro, compartilhando a not�cia sobre a decis�o da ag�ncia reguladora de medicamentos do Reino Unido.
Coment�rios semelhantes t�m se multiplicado no Facebook (1, 2, 3) e Twitter (1, 2, 3) desde ent�o.

Tamb�m fabricada pela MSD - conhecida como Merck nos Estados Unidos e Canad� -, a ivermectina � um antiparasit�rio que demonstrou certa efic�cia contra o novo coronav�rus em testes realizados em laborat�rio no in�cio da pandemia mas que, desde ent�o, n�o teve o efeito comprovado clinicamente em humanos.
Apesar disso, alguns grupos defendem sua suposta efic�cia, argumentando que as evid�ncias contr�rias visam descartar um rem�dio que n�o seria t�o lucrativo para a ind�stria farmac�utica, uma vez que j� � amplamente comercializado.
“Sem semelhan�a alguma”
Atualmente em an�lise na Europa e nos Estados Unidos, o molnupiravir foi desenvolvido por um n�cleo sem fins lucrativos da Universidade de Emory, nos EUA, como um antiviral de amplo espectro contra diversas doen�as infecciosas. Com a identifica��o do novo coronav�rus, os pesquisadores perceberam que o rem�dio tinha o potencial de ser eficaz contra o SARS-CoV-2 e firmaram uma parceria com a MSD.O medicamento foi submetido, em seguida, a um ensaio cl�nico duplo-cego randomizado e controlado por placebo que demonstrou - em an�lise provis�ria divulgada pela MSD em outubro de 2021 - que o antiviral reduziu em 50% o risco de hospitaliza��o ou morte em pacientes com covid-19 leve ou moderada.
“A alega��o [compartilhada nas redes] � falsa”, informou a MSD Brasil ao AFP Checamos no �ltimo dia 4 de novembro. “As mol�culas ativas de ambas as medica��es n�o possuem qualquer semelhan�a”, acrescentou.
A AFP consultou tr�s especialistas em Ci�ncias Farmac�uticas que compararam a estrutura qu�mica dos dois medicamentos e confirmaram suas diferen�as.
“O molnupiravir � estruturalmente um an�logo de ribonucleos�deo, ou seja, um derivado de base nitrogenada natural que comp�e o RNA, sem semelhan�a alguma com a ivermectina. Esta �ltima � uma lactona macroc�clica, um antibi�tico, de origem natural, da classe das avermectinas”, explicou Elizabeth Igne Ferreira, professora da Faculdade de Ci�ncias Farmac�uticas da Universidade de S�o Paulo (USP).
Wanda Pereira Almeida, professora associada da Faculdade de Ci�ncias Farmac�uticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), deu mais detalhes:
“O molnupiravir � um antiviral e, quimicamente, � uma mol�cula que possui uma parte derivada de uma ribose (a��car) e a outra parte � uma pirimidinona, que � um ciclo nitrogenado. A ivermectina nem apresenta nitrog�nio na sua estrutura qu�mica”.
As diferen�as estruturais tamb�m foram confirmadas pelo professor e membro da comiss�o de divulga��o cient�fica da Faculdade de Ci�ncias Farmac�uticas de Ribeir�o Preto da USP, Flavio Emery, que descreveu o molnupiravir, como um “produto sint�tico” e a ivermectina, “um derivado de produto natural, obtido de microorganismos do solo”.
Mecanismos de funcionamento
O mecanismo de funcionamento do molnupiravir tamb�m � diferente do da ivermectina, afirmou a MSD Brasil � AFP.“O molnupiravir � um antiviral que age se inserindo no material gen�tico do SARS-CoV-2, o que impossibilita a viabilidade dessa part�cula viral. Em resumo, ele causa um dano irrevers�vel na sequ�ncia gen�tica do v�rus”, explicou a farmac�utica.
Igne Ferreira, da USP, detalhou: “Basicamente, o molnupiravir, por ser um derivado nucleos�dico da citidina, base natural do �cido ribonucleico, causa muta��es, porque entra no RNA no lugar da citidina e, tamb�m, uridina, duas bases naturais”.
“Dessa forma, o molnupiravir, em sua forma ativa, � usado como substrato da enzima que faz, ent�o, a replica��o errada desse �cido nucl�ico e causa muta��es. Assim, a enzima passa a sintetizar o RNA mutado, com maior frequ�ncia, e impede que o v�rus se multiplique”, acrescentou.

J� a ivermectina - um antiparasit�rio aprovado para tratar doen�as causadas por protozo�rios, vermes, lombrigas e ectoparasitas - demonstrou, in vitro, um outro mecanismo de funcionamento contra a covid-19.
“A ivermectina age na capacidade do v�rus em importar prote�nas inatas e do hospedeiro, o homem, por exemplo. Este f�rmaco inibe especialmente passos enzim�ticos respons�veis pelo transporte nuclear de prote�nas do coronav�rus humano”, explicou Igne Ferreira, destacando que esse efeito “ainda carece de mais e melhores estudos in vivo” para que seja comprovado.
“Efeitos adversos muito t�xicos nas doses terap�uticas, especialmente para o f�gado, contra-indicam esse f�rmaco para covid-19”, acrescentou a professora da USP.
� AFP, a MSD tamb�m destacou que, para atingir esse feito contra a covid-19, a ivermectina precisaria de uma “dose 100 vezes maior do que aquela permitida em humanos”.
At� o momento, autoridades de sa�de globais, como a Ag�ncia de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA), a Ag�ncia Europeia de Medicamentos (EMA) e a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) n�o recomendam o uso da ivermectina no tratamento da covid-19.
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