
“Meu marido e eu estamos em profunda crise. Temos brigado muito e estamos a ponto de nos separar. Muitas acusa��es, e as fam�lias, a dele e a minha, est�o se envolvendo. Estou sofrendo muito e n�o sei o que fazer. Ajude-nos.”
Carolina, de Belo Horizonte
Todo relacionamento � um processo de constru��o sem fim. Nunca um casal estar� definitivamente ajustado. Como a realidade muda, como as pessoas mudam, � natural que, de quando em quando, apare�am conflitos e tens�es no casamento.
No in�cio, no namoro, por exemplo, as ondas conflitivas s�o mais frequentes, pois duas personalidades diferentes, de origens diferentes, encontram-se � procura de um ajustamento. Um namoro que come�a �s mil maravilhas, passa por tempestades inevit�veis. Mesmo os casais que j� convivem h� v�rios anos t�m os seus per�odos de crise. Eles ocorrem, em geral, quando algum fato significativo acontece: uma morte em fam�lia, a perda do emprego, uma trai��o etc.
S�o situa��es-limite que t�m um �nico objetivo: readaptar o casamento a uma nova realidade. A palavra crise, em chin�s, � composta de dois ideogramas. Um significa risco e outro, oportunidade. Quando enfatizamos a oportunidade de crescimento, de mudan�a, de repactuar a rela��o, a crise, apesar de dolorosa, pode fazer o casamento avan�ar para patamares �s vezes melhores que os anteriores. Nesse caso, a crise conjugal tem por objetivo resolver e elaborar os problemas que apareceram. Ao contr�rio disso, quando os parceiros n�o querem resolver o problema, mas apenas destruir um ao outro, o conflito toma dimens�es gigantescas e a sensa��o � de desespero, pois quanto mais brigam, mais t�m a sensa��o de estar atolados e afundando.
Esses momentos tormentosos s�o destrutivos quando s�o mesclados por acusa��es, ofensas, culpabiliza��es e abuso das fragilidades de cada um. Evitar esse tipo de coisa pode ajudar em muito a resolu��o dos verdadeiros problemas que s�o os fatos causadores da crise e a reorganiza��o da vida conjugal da� pra frente.
Para atravessar essas crises, em que a incompreens�o impede o di�logo, � preciso de cada um dos parceiros, al�m de paci�ncia, um m�nimo de esperan�a de que h� solu��o. Pensar apenas em separa��o nessas horas � tirar toda a possibilidade de reorganiza��o da vida em comum. Na realidade, n�o � f�cil lidar com esse processo e a maioria das pessoas n�o est� preparada para navegar nesse mar revolto e tempestuoso. Nesses casos, � aconselh�vel procurar um profissional que possa ajud�-los na travessia. As terapias de casal se destinam a intermediar um di�logo construtivo, em que as diferen�as s�o explicitadas, os sentimentos negativos s�o livremente expressos, e o plano de recupera��o do afeto e dos objetivos � estabelecido. Com tal determina��o, o que antes parecia imposs�vel acontece. As tens�es perdem intensidade e os gestos afetuosos que estavam escondidos pela raiva, pela m�goa, pelo ci�me e pelo medo aparecem de novo.
A�, um di�logo franco pode levar o casal a combinar uma nova forma de se relacionar. Um outro fato importante levantado pela leitora � a intromiss�o das fam�lias na crise. Colocar terceiros, sejam parentes ou amigos, nesse momento crucial para a rela��o conjugal, em geral, atrapalha mais do que ajuda. Um terceiro, a menos que seja um profissional, al�m de despreparado para a rela��o de ajuda, acaba se constituindo em um fator de press�o. O que est� em jogo � a rela��o do casal. Os dois chegaram a esse momento cr�tico e eles � que t�m a obriga��o de sair dessa.