“Sou casada h� 14 anos e sinto uma certa frieza na rela��o com meu marido. Tanto da parte dele quanto da minha. Ser� que vale a pena uma rela��o em que o amor n�o est� t�o forte quanto era antes?”
Joana, de Belo Horizonte

A vida humana, como em toda natureza, � c�clica. Da mesma forma que as esta��es do ano se revezam em primavera, ver�o, outono e inverno, n�s e nossas rela��es podemos passar por momentos de alegria, entusiasmo, modera��o e esfriamentos.
Todos n�s aspiramos por rela��es s�lidas, est�veis, fortes. Em um relacionamento, principalmente conjugal, nosso grande desejo � estar unidos e integrados. Para isso, � fundamental o compromisso m�tuo. N�o � toa que simbolizamos a uni�o afetivo-sexual com as alian�as. Alian�a � um pacto. � comprometimento. Obviamente que, como tudo na vida, as rela��es podem terminar. Elas tamb�m padecem, na sua ess�ncia, da transitoriedade da vida humana. H�, por�m, uma grande dist�ncia entre esse fato e a fragilidade das rela��es sem um profundo envolvimento. Mas qual a natureza desse compromisso? O primeiro deles � o compromisso com a outra pessoa tal qual ela �, com suas singularidades e suas diferen�as.
Muitas pessoas se casam com uma imagem de como a pessoa “deveria ser”. Isso n�o � um verdadeiro compromisso e, com o tempo, a pessoa se frustra e se desencanta com o outro. Outro compromisso fundamental � com o relacionamento: saber que o relacionamento deve ser cuidado e aperfei�oado. Faz�-lo cada vez melhor. Fortalecer o relacionamento por meio de um tempo comum, de divertimentos comuns, de conversas descontra�das. Outro compromisso � com os objetivos comuns: casar, morar juntos, ter filhos, partilhar despesas, se apoiar mutuamente etc.
O grande problema no casamento � que a maioria dos casais n�o se compromete nem com a outra pessoa nem com a rela��o nem com os objetivos, mas apenas com o amor. � medida que nossos sentimentos s�o c�clicos, o compromisso apenas com o amor fragiliza a rela��o. O amor muda de intensidade em algumas �pocas da vida. Como todo sentimento, tem altos e baixos e n�o podemos confundir algum per�odo de “menos amor” com o fim do casamento. Com a fantasia de que o amor deve permanecer sempre do mesmo jeito, os casais sentem muita culpa quando percebem que esse sentimento n�o est� intenso. � como se estivessem errados por n�o vivenciar todo o fogo que tinham antes.
As pessoas n�o sabem que existem outros sentimentos que contrabalan�am e justificam um casamento: companheirismo, admira��o, solidariedade, amizade, respeito etc. A idealiza��o rom�ntica, as fantasias e os mitos a respeito do amor e do casamento tornam muita uni�o conjugal, que tem tudo para ser prazerosa, verdadeiro inferno. Se o verdadeiro objetivo da nossa vida � a felicidade, o que justifica plenamente uma rela��o afetiva � ser feliz e querer ajudar o outro tamb�m a ser feliz. Viver o amor poss�vel e n�o o amor imaginado. A frieza que aparece em muitos casais � fruto do amor rom�ntico, da supervaloriza��o da paix�o, em vez de se privilegiar o compromisso. O problema � que as pessoas, cada vez mais, t�m medo do envolvimento e do compromisso. O medo de sermos controlados, de nos aprisionarmos, de sermos sufocados tem fragilizado as rela��es.
Respondendo � pergunta da leitora acima, acho que vale muito a pena uma rela��o na qual o amor n�o est� t�o forte como era antes, se houver o compromisso m�tuo entre as pessoas, se houver compromisso com a rela��o e com os objetivos comuns e, sobretudo, o compromisso com a administra��o da alegria do casal. Quando h� um compromisso apenas com o amor, a pessoa permanece com a outra enquanto o sentimento durar. Quando, por qualquer motivo, o sentimento entra em uma fase menos intensa, cada um se isola e, literalmente, “abandona” o outro.
As amea�as constantes de separa��o, o tal de dormir em camas separadas, o n�o dar nenhuma satisfa��o � outra pessoa, o n�o ter nenhuma atividade em comum, a falta de intimidade e a dificuldade em partilhar os mundos de cada um � que acabam com o casamento. A falta de compromisso � que mata a rela��o conjugal, e n�o a eventual diminui��o do amor. � um grande engano achar que o amor, da maneira que nos ensinaram, � o �nico respons�vel pelo fracasso ou sucesso da uni�o afetiva.