
"Quando o mundo se debate com o coronav�rus, tenho muito medo do futuro. Como estar�o nossos filhos amanh�. O desconhecido para mim � uma noite escura. Fico imaginando muitas coisas ruins. Como lidar com esse medo?" - Olinto, de Belo Horizonte
In�meras s�o as pessoas que sofrem o amanh�. A capacidade humana de pensar, mal usada, pode-se tornar uma fonte de intensa dor. Quando, onipotentemente, tentamos controlar o amanh�, querendo adivinhar cat�strofes pessoais e nos prevenindo delas, conseguimos duas coisas: perdemos a viv�ncia do momento presente e nos paralisamos de medo.
Um certo grau de previs�o do futuro, um planejamento, a fixa��o de objetivos para nossa vida � bastante salutar. � o que chamamos de prud�ncia. Quando a prud�ncia � excessiva ela se transforma em temor. A realidade � sempre agora. Ao futuro cabem apenas possibilidades. Lidamos mal com o real e o poss�vel. Quando abandonamos a base s�lida do momento atual e nos aventuramos em divaga��es sobre as possibilidades futuras, enlouquecemos.
Existem o real, as probabilidades e as possibilidades. O real � o que est� � nossa frente, agora. Ele � a mat�ria-prima de nossas constru��es. � aquilo que est� sob nosso controle e sobre o qual podemos fazer algo imediatamente. As probabilidades s�o as tend�ncias previs�veis do que est� acontecendo. Elas nos incitam a fazer mudan�as, a inverter rumos, � antecipa��o. Baseados na experi�ncia, podemos prever algumas coisas e atuar sobre elas. A probabilidade de ser atropelados se atravessarmos uma rua movimentada, de olhos fechados, � grande.
As possibilidades s�o tudo o que pode acontecer. As possibilidades s�o infinitas. Se tentarmos control�-las, pagaremos caro pelo nosso del�rio: muita ansiedade, preocupa��es, estresse e perda da paz.
O fil�sofo grego Ep�teto ensinava a f�rmula de bem viver. Dizia ele que h� coisas sobre as quais temos controle e outras que est�o fora do nosso controle. E acrescentava que para ser felizes devemos cuidar das primeiras e largar m�o das outras. As possibilidades do futuro est�o absolutamente fora de nossa gest�o. A melhor forma de acomoda��o � a pr�-ocupa��o. Enquanto o leitor acima se corr�i em perguntas in�teis – tipo “Como estar�o nossos filhos amanh�?” –, ele n�o se d� ao trabalho de ver como seus filhos est�o agora. Parece que as pessoas s� nos servem amanh�.
Sempre que posso tenho insistido na frase “A vida � para ser vivida e n�o para ser conservada”. Achar que a preocupa��o com os filhos � sinal de amor � uma grave distor��o. Sinal de amor � eu me ocupar deles atualmente. � dialogar, passear com eles, me interessar pelas suas rela��es, seus problemas, suas dificuldades, seus amores, HOJE!!!
Falamos do futuro como se ele existisse. Como algo pronto que existir� inevitavelmente. O futuro � uma tela em branco, onde, no momento adequado cada um pintar� sua paisagem. O desconhecido n�o existe. Por que tem�-lo? N�s temos medo dele por causa de nossas fantasias, fruto de nosso pessimismo e da falta de esperan�a. O destino n�o existe. Nada est� predeterminado. O futuro n�o tem qualquer valia a n�o ser quando se torna presente. Nessa hora lidaremos com ele como estamos fazendo com nossas quest�es atuais.
O futuro n�o � uma noite escura. � aurora. � amanhecer. � convite para o novo, para o desabrochamento, para novas oportunidades, novas descobertas. L� haver� coisas boas e coisas ruins, como j� acontece nas nossas vidas. Viver com inteireza e intensamente nossas atuais situa��es � a �nica maneira de nos prepararmos para o depois. A produ��o sistem�tica do medo por aqueles que quiseram ou querem nos controlar prestou um grande desservi�o aos nossos cora��es: ensinou-nos a ver o amanh� sempre de maneira catastr�fica.
Trazemos em n�s o potencial humano, esse milagre misterioso de estarmos vivos e vivendo. Devemos relaxar diante do que n�o sabemos ainda. O desconhecido da semente � o fruto que um dia vir�.
O futuro da roseira � a rosa.
O nosso futuro � nossa chance de continuarmos amando, brincando, sorvendo o licor da vida nesse c�lice que somos n�s. Um brinde a todos os amanh�s, apesar da pandemia.