
“Estou tentando engravidar h� alguns anos e j� passei por diversos tratamentos. Infelizmente, n�o tenho conseguido e j� tive a interrup��o de tr�s gesta��es. N�o consigo superar essas perdas. Minha vida est� de pernas pro ar.”
Joana, de Sabar�
O desejo ocupa lugar central em nossas vidas. Somos movidos pela vontade de crescer, de trabalhar, de ter coisas, de nos casar, de ter filhos e de uma por��o de desejos que se constituem nos nossos objetivos a curto, m�dio e longo prazos.
E se o desejo nos impulsiona e nos d� �nimo para lutar, � tamb�m a principal fonte de sofrimento. � a origem de nossos medos de perder, de n�o ter e de n�o reaver.
E se o desejo nos impulsiona e nos d� �nimo para lutar, � tamb�m a principal fonte de sofrimento. � a origem de nossos medos de perder, de n�o ter e de n�o reaver.
No come�o de nossa vida e durante nossa inf�ncia, os pais se esfor�am no sentido de que nossos desejos sejam sempre satisfeitos, evitando, assim, as nossas frustra��es. Somos protegidos e aprendemos a nos reger unicamente pelo princ�pio do prazer. Ansiamos por tudo o que nos agrada e fugimos de tudo que n�o � prazeroso.
Pouco a pouco vamos confundindo qualquer dificuldade com sofrimento e, quando somos contrariados ou n�o atendidos, choramos e, por meio da dor, tentamos manipular o ambiente para que ele atenda �s nossas necessidades.
Pouco a pouco vamos confundindo qualquer dificuldade com sofrimento e, quando somos contrariados ou n�o atendidos, choramos e, por meio da dor, tentamos manipular o ambiente para que ele atenda �s nossas necessidades.
� por isso que, nesse per�odo, normalmente se instala a sensa��o e a cren�a delirantes de que somos o centro do Universo, de que o mundo, a vida e Deus devam estar a nosso servi�o e de que tudo deve acontecer � nossa imagem e semelhan�a.
Essa posi��o onipotente e egoc�ntrica costuma nos acompanhar a vida toda e quando o mundo acontece diferente de nosso desejo, do nosso planejamento, respondemos a isso com intensa dor, traduzida numa sensa��o de injusti�a e de m�goa.
Resolver o desejo � fundamental para se resolver o sofrimento humano. Essa � a raz�o de o desejo ter sempre ocupado um lugar de destaque nas reflex�es filos�ficas e religiosas.
Essa posi��o onipotente e egoc�ntrica costuma nos acompanhar a vida toda e quando o mundo acontece diferente de nosso desejo, do nosso planejamento, respondemos a isso com intensa dor, traduzida numa sensa��o de injusti�a e de m�goa.
Resolver o desejo � fundamental para se resolver o sofrimento humano. Essa � a raz�o de o desejo ter sempre ocupado um lugar de destaque nas reflex�es filos�ficas e religiosas.
Alguns caminhos foram trilhados na tentativa de se resolver a dor decorrente dos desejos. Um deles, preconizado por in�meras religi�es, principalmente as orientais, sugere a total supress�o do desejo: “N�o deseje para n�o sofrer”. Isso n�o deu certo.
Criou-se tanta repress�o aos desejos que esses aparecem na estrutura��o neur�tica e marginal de nossa sociedade. � imposs�vel n�o desejar. Toda tentativa nesse sentido vai gerar grandes dist�rbios na pessoa, aumentando seus sofrimentos em vez de alivi�-los.
Criou-se tanta repress�o aos desejos que esses aparecem na estrutura��o neur�tica e marginal de nossa sociedade. � imposs�vel n�o desejar. Toda tentativa nesse sentido vai gerar grandes dist�rbios na pessoa, aumentando seus sofrimentos em vez de alivi�-los.
Outro caminho, preconizado pela cultura ocidental, voltada absurdamente para o prazer imediato � satisfazer ao m�ximo todos os desejos: “Lute de todas as formas para realizar seus objetivos, n�o deixando nenhuma falta se instalar em sua vida.
Esse caminho tamb�m n�o deu certo. A cada desejo satisfeito, mil outros aparecem, al�m de que � humanamente imposs�vel atendermos a tudo o que queremos por press�o social. A consequ�ncia desse caminho � a insatisfa��o cr�nica diante da vida, que acaba nos cevando a um processo de depress�o, que nuclearmente � a tristeza pelo mundo n�o ser como gostar�amos que fosse.
Esse caminho tamb�m n�o deu certo. A cada desejo satisfeito, mil outros aparecem, al�m de que � humanamente imposs�vel atendermos a tudo o que queremos por press�o social. A consequ�ncia desse caminho � a insatisfa��o cr�nica diante da vida, que acaba nos cevando a um processo de depress�o, que nuclearmente � a tristeza pelo mundo n�o ser como gostar�amos que fosse.
A minha proposta para a quest�o do desejo � a seguinte, ainda que o desejo se traduza “nobremente” em ter um filho. Deseje tudo o que voc� quiser, deseje muito e sempre qualquer coisa: dinheiro, fama, posses, amor, filhos, casamento, sucesso, mas n�o leve muito a s�rio o seu desejo.
Se conseguir, bem. Se n�o conseguir, am�m. N�o podemos nos torturar, centrando toda a nossa vida e energia num objetivo principal, transformando-o numa quest�o de vida ou morte. O maior desejo da vida � sermos felizes.
Todos os outros desejos dever�o se submeter a esse. N�o devemos inverter o processo e pensar que s� seremos felizes se tivermos filhos, se nos casarmos, se nossa vontade for satisfeita em tudo que desejarmos.
Epicteto, fil�sofo grego, do ano 55 depois de Cristo, nos deixou grandes li��es de como viver bem e felizes. Ele dizia que a felicidade e a liberdade come�am com a clara compreens�o de um princ�pio: algumas coisas est�o sob nosso controle e outras n�o; devemos manter nossa aten��o concentrada somente no que podemos controlar.
O desejo est� no nosso controle, a consecu��o dele, nem sempre. Qualquer objetivo na nossa vida pode ser um incentivo para o crescimento ou uma tortura. O compromisso excessivo com o sucesso, com o resultado, se � lei para as organiza��es empresariais, � muito estressante para n�s, enquanto indiv�duos, fal�veis mortais.
Transformar a vida em um desafio constante, lutar desesperadamente com a realidade, ter de venc�-la a qualquer custo, tem muito mais a ver com nossa necessidade narc�sica de nos sentirmos capazes, vencedores valorosos, do que propriamente com o objetivo a alcan�ar.
Ser� por isso que, muitas vezes, quando conseguimos algo, depois de muita luta, a coisa perde a gra�a? N�o levar muito a s�rio os pr�prios desejos � o mesmo que aprender a perder. Algumas pessoas s�o boas nisso.
N�o levar a s�rio o desejo n�o � abandon�-lo, desistir, parar de lutar. � n�o fazer a felicidade depender da satisfa��o do desejo. � continuar com a esperan�a ativa no viver, mas aumentando o pr�prio limiar de frustra��es. � saber que o maior projeto humano � a vida, nas suas m�ltiplas possibilidades.
A vida n�o se esgota na nossa tola vaidade de querer que as coisas aconte�am � nossa maneira. Ao contr�rio, a vida se expande na medida de nossa humildade em nos adaptarmos � sua multiplicidade, �s suas formas e � sua infinitude.
A vida n�o se esgota na nossa tola vaidade de querer que as coisas aconte�am � nossa maneira. Ao contr�rio, a vida se expande na medida de nossa humildade em nos adaptarmos � sua multiplicidade, �s suas formas e � sua infinitude.
Deus escreve sempre certo, embora n�s, m�opes, n�o consigamos ler.