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Estado de Minas coluna

PERD�O

Quando a m�goa se instala, o indiv�duo vai perdendo aos poucos a alegria de viver, avan�ando em dire��o aos estados depressivos e de melancolia %u2013 extinguindo-se o prazer pela vida


04/10/2020 04:00





“Tenho um grave problema que me consome. N�o consigo esquecer o que fazem comigo e isso me prejudica demais, porque quem sofre sou eu com as lembran�as. Como deixar m�goas e ressentimentos para tr�s e confortar meu cora��o? Fa�o e pratico o bem sempre, odeio ingratid�o e injusti�as.”

S�nia, de Belo Horizonte

Infelizmente, muitas vezes, essas m�goas apegam-se a n�s durante anos, prejudicando relacionamentos e afetando a nossa autoestima. Se n�o tratarmos das m�goas, pior ainda � a amargura que come�a a enraizar-se dentro de n�s, devorando a nossa alegria e paz, causando depress�o e �s vezes doen�as. Isso n�o significa, de maneira alguma, que devamos ser coniventes com o desrespeito e a ironia das pessoas ao nosso redor, as quais agem sem pensar nas consequ�ncias de seus atos. Mostrar-se ofendido, mostrar-se desgostoso com a situa��o, demonstrar os sentimentos de contrariedade e at� mesmo a raiva inerente � ofensa s�o rea��es perfeitamente normais, de quem respeita a si mesmo e se considera credor do respeito e considera��o dos seus semelhantes. Da mesma forma, dar uma corrida, realizar exerc�cios f�sicos ou algum trabalho que leve � exaust�o s�o recursos valiosos para diluir a raiva. Extravasar, contar para os amigos como se sente tamb�m s�o atitudes saud�veis e terap�uticas. O que n�o se deve fazer � camufl�-la, reprimi-la, pois ent�o estaremos oportunizando o surgimento da m�goa e do ressentimento. 
 
   
A ingratid�o e a cal�nia ainda fazem parte do or�amento moral da humanidade, e n�o h� quem n�o se depare com elas em algum momento. Dependendo da pessoa autora do disparo, do lan�amento do dardo, esse parece penetrar o mais profundo na alma, produzindo enorme sofrimento. Muitas vezes, aquela pessoa em quem n�s mais confi�vamos nos trai, nos decepciona, nos fere – e a dor ent�o � perfeitamente natural. Chorar, considerar a ocorr�ncia injusta, demonstrar os sentimentos ao agressor, mostrando-lhe os ferimentos, s�o atitudes que auxiliam para que a dor diminua e abrande. Contar aos amigos o ocorrido, demonstrando como se sentiu diante da situa��o, dizer o qu� o magoou s�o recursos que colaboram para que a m�goa n�o se instale na criatura. 

Em nenhum momento devemos nos permitir guardar a m�goa. Quando a m�goa se instala, o indiv�duo vai perdendo aos poucos a alegria de viver, avan�ando em dire��o aos estados depressivos e de melancolia – extinguindo-se o prazer pela vida. A m�goa cultivada aloja-se em determinado �rg�o e o desvitaliza, alterando o funcionamento normal das c�lulas. Quando dissimulada e agasalhada nas profundezas da alma, volta-se contra o pr�prio indiv�duo, em um processo de autopuni��o inconsciente. Nesse caso, o indiv�duo passa a considerar a si pr�prio culpado pelo ocorrido, e ent�o se pune, a fim de expiar a sua culpa. 

Segundo Sigmund Freud, o grande psicanalista do s�culo 20, todos n�s temos uma certa predisposi��o org�nica para ceder � somatiza��o de algum conflito. Essa se d� geralmente em algum �rg�o espec�fico. Dessa forma, muitos de nossos adoecimentos repentinos s�o fruto do que ele chamou de complac�ncia som�tica. N�s guardamos a m�goa ou “fazemos de conta” que ela n�o existe. Como os sentimentos n�o morrem, eles s�o drenados no pr�prio ser, ferindo aquele que lhe deu abrigo. Mas podemos abrir um espa�o maior no nosso mundo psicol�gico que vai nos possibilitar uma paz interna, cujas m�goas e ressentimentos nos impedem de encontr�-la 

O segredo est� em uma atitude que devemos tomar, mas que ao mesmo tempo � muito dif�cil, pois ela exige uma grande humildade: o perd�o. O perd�o � algo que a pessoa acha que beneficia o outro e que perdoar � perdoar quem n�o merece, e isso � totalmente irrelevante, porque na verdade quem se beneficia � a pr�pria pessoa, que se livra de um grande fardo que � perder grande parte de sua vida esvaindo-se em dores passadas. 

A quest�o do perd�o � uma quest�o de escolha e a escolha � uma grande aventura,pois nunca poderemos prever onde ela pode nos levar e quais as suas consequ�ncias. Mesmo sabendo o que escolhemos, nunca saberemos os resultados nem podemos controlar o que est� por vir. A escolha pelo perd�o � totalmente imprevis�vel e � nesse mist�rio que reside o grande valor de perdoar. O perd�o � uma liberta��o para quem perdoa e n�o nos cabe questionar se o perdoado vai aceitar, gostar ou rejeitar, isso n�o � da nossa conta. Perdoar n�o passa por fora, e sim por dentro de n�s mesmos. De qualquer modo, quando algo nos fere profundamente, quando densamente nos contagia, e toma conta de n�s da mesma forma como o sal entranha a carne que tempera, percebemos que, �s vezes, mais que o acontecimento em si, � o modo como o encaramos ou como conseguimos encar�-lo. 

Alimentar m�goas de outrora, ressentimentos antigos, demorar a perdoar, a esquecer, delongar-se na ultrapassagem de barreiras de uma dor qualquer, enfim... h� uma s�rie de mecanismos de manuten��o da amargura, como num lamento que pretende expurgar a dor; mas depois vemos o quanto � verdade que "um abismo leva (sim) a outro abismo. Perdoar � sair do abismo, que � ao mesmo tempo armadilha e ninho da depress�o, o abismo que nos esconde, mas jamais nos protege e que, com certeza, nos exp�e a uma vulnerabilidade que n�o temos dimens�o, pois nos fragiliza e nos impede at� de viver e saborear os bons momentos. E, na verdade, quem perdoa se surpreende com a liberta��o do �dio e com a leveza que passa a sentir e passa a perceber que o nosso maior e mais temeroso aprisionador � ficar com o inimigo dentro de si mesmo nos acompanhando o tempo todo. 

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