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Estado de Minas PENSANDO NA CPI

Covid: 'Quem cometeu erros graves na pandemia precisa ser punido', diz Drauzio Varella

M�dico avalia o enfrentamento da covid-19 no Brasil e os fatores que fizeram o pa�s ter n�meros t�o elevados e chegar ao colapso do sistema de sa�de. Para ele, Bolsonaro atuou para pessoas 'pegarem o v�rus'.


16/04/2021 08:05 - atualizado 16/04/2021 09:15

Em abril de 2020, o m�dico Drauzio Varella deu uma entrevista � BBC News Brasil em que analisou a evolu��o da covid-19 e disse que a pandemia poderia resultar numa "trag�dia nacional".

Passado um ano, ele entende que seus progn�sticos estavam corretos e se revelaram ainda piores do que o esperado.

De acordo com o especialista, reconhecido em todo o Brasil por sua participa��o ativa em programas de televis�o e pela publica��o de v�rios livros, essa cat�strofe foi intensificada pela desorganiza��o do Minist�rio da Sa�de e por um "presidente da Rep�blica que d� exemplo pessoal do que fazer para disseminar a epidemia".

Numa nova entrevista exclusiva � BBC News Brasil, Varella avalia que toda a discuss�o sobre o tratamento precoce foi armada intencionalmente para desviar a aten��o das pessoas e entende que a vacina��o contra a covid-19 est� num ritmo "rid�culo".

"Se tiv�ssemos come�ado a vacinar em dezembro ou janeiro, n�o estar�amos com mais de tr�s mil mortes di�rias como acontece atualmente", observa.

O m�dico tamb�m destaca o papel do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e entende que os erros cometidos precisam ser apurados e julgados.

"O Brasil tem menos de 3% da popula��o mundial. No momento atual, de cada quatro pessoas que morrem de covid-19 no mundo, uma � brasileira. � uma mortalidade absurda", critica.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - Na entrevista que o senhor nos concedeu em abril de 2020, uma das frases que chamaram a aten��o foi: "Eu acho que vai acontecer uma trag�dia nacional, eu n�o tenho d�vida disso". Passado um ano, o senhor avalia que esse progn�stico se cumpriu ou foi ainda pior que o esperado?

Drauzio Varella - Infelizmente, esse progn�stico se cumpriu e foi pior do que eu esperava naquela �poca. Eu passei tr�s fases nesta epidemia. A primeira foi em janeiro do ano passado, quando a doen�a estava s� na China, n�o tinha nem chegado direito na Europa. Quer dizer, j� tinha chegado, mas n�o havia ainda um n�mero grande de casos. E as informa��es que a gente tinha � que n�o haveria mais mortos por esse coronav�rus do que pelas epidemias de gripe. E que a maioria das pessoas, por volta de 80%, teria sintomas leves.

Isso foi antes da epidemia chegar � It�lia. Quando chegou l�, n�s j� tivemos no��o do que estava acontecendo. Em abril do ano passado, n�s j� sab�amos o que estava se passando em Nova York e que est�vamos diante de uma epidemia grave. E os primeiros casos come�aram a acontecer em S�o Paulo. A primeira morte por covid-19 no Brasil foi em mar�o do ano passado.


O médico aponta que o Ministério da Saúde se tornou irrelevante em meio à maior pandemia das últimas décadas(foto: BBC)
O m�dico aponta que o Minist�rio da Sa�de se tornou irrelevante em meio � maior pandemia das �ltimas d�cadas (foto: BBC)

E eu achei que ia ser uma trag�dia porque voc� tem uma epidemia de um v�rus que se transmite por meio de got�culas que a gente elimina quando fala, tosse e espirra. E esse v�rus, quanto mais pr�xima uma pessoa fica da outra, mais f�cil de pegar. Quando se tem uma epidemia dessas, o ideal ent�o era fechar e ter isolamento, que � o que come�ava a ser feito na It�lia e na China. Isso � cl�ssico na sa�de p�blica, ningu�m inventou nada agora. Isso � feito assim h� mil�nios: afastar as pessoas, trancar, deixar em casa para proteger.

Mas eu sabia que fazer isso no Brasil seria muito dif�cil. Eu j� rodei muito pelas periferias das cidades brasileiras por causa dos programas de televis�o, e n�s temos um cintur�o de pobreza e mis�ria em volta de cada metr�pole e at� ao redor cidades menores... S�o pessoas que n�o t�m condi��o de ficarem isoladas. Elas n�o t�m condi��es porque dependem do trabalho di�rio para poder comer e levar alimento � fam�lia. Como � que essas pessoas iam fazer isolamento? Eu j� imaginava naquele momento que ter�amos um problema s�rio e que o Brasil ia ser fortemente assolado pela epidemia.

Mas eu n�o tinha previsto que haveria uma desorganiza��o do Minist�rio da Sa�de, a ponto de o minist�rio perder completamente a relev�ncia no pa�s. E ter um presidente da Rep�blica que d� exemplo pessoal do que fazer para disseminar a epidemia. Porque se voc� acordar amanh� e disser: o que vou fazer para disseminar a epidemia no Brasil, o que voc� faria? Voc� sairia sem m�scara e faria aglomera��es. � a �nica coisa que voc� poderia fazer para disseminar a epidemia. E foi o que ele fez, e � o que ele tem feito. Eu n�o previ que isso pudesse ter um impacto t�o grande. E a epidemia foi ficando cada vez pior.

Voc� se lembra que n�s tivemos uma fase em que todo mundo ficava esperando o pico? Lembra disso no ano passado? O pico vai ser em maio, em junho... O que aconteceu no Brasil? N�s atingimos esse pico e ele n�o foi seguido por uma queda, como aconteceu em v�rios pa�ses. Ele foi seguido por um plat�. E ficamos com um n�mero grande de mortos at� setembro e outubro, s� come�ou a cair um pouco depois disso. A� veio a segunda onda. A gente sabia que existia essa possibilidade, mas n�o dava para prever nem quando e nem como ela aconteceria.

BBC News Brasil - Em outro trecho dessa entrevista do ano passado, o senhor comentou: "Nos �ltimos dez anos, n�s tivemos 13 ministros da Sa�de. A m�dia de perman�ncia no cargo foi de dez meses, porque o Minist�rio da Sa�de foi usado como troca pol�tica". Naquele per�odo, em abril de 2020, o Brasil estava � beira de trocar o ent�o ministro da sa�de, Luiz Henrique Mandetta. Depois dele, vieram Nelson Teich, Eduardo Pazuello e agora Marcelo Queiroga. Ou seja: a m�dia de troca, que era de dez meses, caiu nesse per�odo para quatro meses. Como essa troca constante em meio � pandemia prejudicou a resposta do Brasil � crise sanit�ria?

Varella - Quando voc� tem uma epidemia, voc� tem que ter um governo central que decida combater a epidemia. A decis�o de combater a epidemia � pol�tica. � o presidente da Rep�blica que tem que tomar essa decis�o. E a� o que ele faz? Bom, ele � o presidente, ele n�o tem obriga��o de ser formado na �rea da sa�de. Ele ent�o escolhe um ministro da Sa�de que tenha. O ministro da Sa�de n�o precisa ser um m�dico, um especialista naquela �rea. Mas precisa ser uma pessoa com forma��o para se cercar dos profissionais competentes que possam definir a orienta��o. E a� o ministro da Sa�de imp�e essas medidas e o presidente da Rep�blica apoia. N�s n�o tivemos nada parecido com isso.

Na verdade, quem conduziu o combate � pandemia foi o presidente da Rep�blica. Um ex-ministro disse claramente: um manda, outro obedece. O que est� acontecendo agora? A mesma coisa. O que voc� pode cobrar do atual ministro da Sa�de, se ele n�o pode falar a favor do isolamento social e tem que manter essa engana��o que � o tratamento precoce? Ele n�o pode dizer para parar com essa hist�ria de hidroxicloroquina, ivermectina... Ele simplesmente n�o pode fazer isso. Ele tem que dizer que os m�dicos possuem o direito de prescrever. Quer dizer, ele est� numa situa��o em que foi escolhido para obedecer o presidente da Rep�blica e esse � o problema todo.

BBC News Brasil - Ao longo dos �ltimos meses, o nome do senhor e trechos de v�deos antigos foram utilizados fora de contexto para relativizar a covid-19 ou espalhar desinforma��o sobre a pandemia. Como foi lidar com isso do ponto de vista individual?

Varella - � muito desagrad�vel. Eu tenho uma carreira e comecei a divulgar temas de sa�de numa �poca em que m�dicos s�rios n�o apareciam na televis�o ou nas r�dios. E eu me expus ainda nos anos 1980, por causa da epidemia de aids. Eu achei que a informa��o tinha que chegar � popula��o, porque naquela �poca a aids era tratada como peste gay. E mantenho esse trabalho at� hoje. Uma parte importante de minha atividade � essa, de divulgar informa��o sobre sa�de.

A� tem gente que vai buscar um v�deo que voc� fez em janeiro de 2020, quando n�o havia nenhum caso de covid-19 no Brasil ou qualquer descri��o da doen�a no pa�s. E essas pessoas pegam esse material e jogam nos meios de comunica��o como se eu tivesse acabado de dizer aquilo. Acontece que eu tenho um desprezo t�o profundo por essas pessoas que sinceramente eu nem me sinto ofendido.

Eles pretendem o que com isso? Se pretendem me atingir, com que finalidade? Eu n�o sou candidato a nada. N�o sou pol�tico, nunca fui e nunca serei. O que pode acontecer com isso? Nada. N�o v�o me atingir de maneira nenhuma. N�o v�o prejudicar a minha carreira por causa disso. E tamb�m n�o v�o prejudicar as minhas pretens�es, simplesmente porque n�o as tenho.

A finalidade disso � confundir a popula��o. Esse � o aspecto mais doloroso. � dizer: olha, o nosso presidente disse que � uma gripezinha, mas o Dr. Drauzio Varella tamb�m fala o mesmo. Mas eles n�o avisam que esse v�deo foi feito antes de a epidemia chegar de verdade. O Dr. Anthony Fauci, que � a maior autoridade em doen�as infecciosas nos Estados Unidos, falou a mesma coisa. Assim como v�rias outras autoridades mundiais em sa�de do mundo inteiro. � �poca, havia uma s�rie de raz�es cient�ficas para essa interpreta��o.

BBC News Brasil - Por um lado, a internet tem esse lado perverso, da descontextualiza��o e do uso pol�tico de certas falas e personalidades. Mas ela tamb�m possui um lado leve, como os memes, os stickers de WhatsApp, os v�deos virais. Como o senhor encara esses materiais feitos com sua imagem?

Varella - Olha, eu me divirto com eles. Eu acho engra�ado, ainda mais quando jovens e crian�as repassam esses stickers e memes com minhas caricaturas. Eu acho que isso faz parte da comunica��o. Voc� � jornalista e � interessad�ssimo em comunicar as coisas para as pessoas. No decorrer de seu trabalho, voc� est� sempre pensando: como que eu consigo atingir mais gente? Como � que essa informa��o que eu tenho pode ir mais longe, n�o � verdade?

Eu penso assim tamb�m. Como eu posso levar essa informa��o mais longe do que ela poderia chegar? Se eu quero que as pessoas entendam e aprendam coisas de sa�de que s�o importantes para o dia a dia delas, quanto mais gente eu atingir, melhor. E eu acho que a internet, ao lado dos mil problemas que causa, tem essa vantagem. De as pessoas poderem interferir e tornar a informa��o mais leve e interessante.

BBC News Brasil - O Brasil tamb�m gastou (e ainda gasta) muito tempo com discuss�es sobre tratamento precoce e rem�dios como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. Como esse assunto desviou o foco e nos atrasou no combate � pandemia?

Varella - Essa discuss�o foi armada justamente para isso. Ela foi armada para desviar a aten��o, n�o aconteceu por acaso. N�s temos um presidente que adotou medidas para as pessoas sa�rem na rua e pegar o v�rus. E ele deu exemplo de medidas assim. O que ele podia dizer? "Pode ir � rua, n�o seja maricas, forme aglomera��es. Mas se voc� ficar doente, pode ser que voc� n�o ache vaga na UTI". Ele n�o poderia dizer isso, n�o � mesmo? Ent�o qual foi a estrat�gia? Se voc� ficar doente e pegar o v�rus, fa�a o tratamento precoce com cloroquina ou ivermectina.

Quando o presidente teve covid-19, ele deu exemplo disso. Ele pegou um copo d'�gua e disse: "J� tomei um comprimido de cloroquina, estou me sentindo melhor. Vou tomar o segundo agora". O que ele estava querendo? Enganar as pessoas. Enganar. Em outras palavras, a mensagem era: se voc� pegar o v�rus, � s� tomar isso a� que voc� vai ficar bom e est� acabado. N�o precisa se preocupar...

O Donald Trump fez a mesma coisa nos Estados Unidos. S� que a legisla��o americana pune os m�dicos que prescrevem medica��es que n�o s�o indicadas para o tratamento daquela enfermidade. O m�dico americano que receitar cloroquina no tratamento da covid-19 pode ser punido legalmente. N�o pelo conselho de medicina ou seu equivalente, mas pela justi�a comum.

E a� o Trump fez o qu�? Desovou no Brasil toda a cloroquina que estava encalhada nos Estados Unidos. Porque os m�dicos americanos n�o v�o prescrever um medicamento que n�o tem indica��o e efic�cia numa doen�a, porque podem ser processados criminalmente e pagar indeniza��es milion�rias. Com isso, a cloroquina sobrou por l�. Ela foi encaminhada pra c�, para ser distribu�da e enganar as pessoas, como se aquilo tivesse alguma capacidade de proteger da doen�a.

BBC News Brasil - O senhor citou o Conselho Federal de Medicina (CFM) e, nas �ltimas semanas, eles t�m batido muito na tecla da autonomia, que o m�dico � quem sabe o melhor tratamento para seu paciente. Eles n�o chegam a falar de tratamento precoce ou da hidroxicloroquina diretamente, mas esse debate acontece dentro dessa discuss�o. Como o senhor v� a atua��o do CFM e das outras entidades representativas da medicina brasileira durante essa pandemia?

Varella - Elas s�o entidades pol�ticas, que n�o representam os m�dicos brasileiros. Essa coisa de dizer que o m�dico tem autonomia para fazer o que ele acha melhor, n�o � bem assim. Como autonomia? Eu tenho autonomia de receitar um medicamento ou um procedimento in�til para tratar a doen�a de um paciente? E o paciente? Ele n�o tem o direito de receber apenas tratamentos que sejam ativos contra a doen�a dele? Quer dizer, o m�dico diz e escolhe o que fazer? E digo para o paciente que determinado rem�dio tem efic�cia quando isso � mentira? � isso, eu proponho uma mentira para meu paciente? Isso � anti�tico.

A� voc� pode me dizer que muitos m�dicos prescrevem o tratamento precoce. Olha, os m�dicos que prescrevem fazem-no por duas raz�es. Primeiro, por ignor�ncia. Por n�o estudarem, por n�o acompanharem a literatura. Faltam para eles os fundamentos de forma��o cient�fica. S�o at� pessoas bem intencionadas, mas despreparadas. E o segundo grupo s�o m�dicos pol�ticos. S�o pessoas que defendem as posi��es do presidente da Rep�blica e acham que eles t�m que fazer isso por raz�es pol�ticas. As duas situa��es n�o falam a favor dessas pessoas...


Bolsonaro defende uso da cloroquina, mesmo sem evidências científicas dos seus efeitos contra a covid-19(foto: Reuters)
Bolsonaro defende uso da cloroquina, mesmo sem evid�ncias cient�ficas dos seus efeitos contra a covid-19 (foto: Reuters)

BBC News Brasil - Como o senhor avalia o atual ritmo da vacina��o contra a covid-19 no Brasil?

Varella - � um ritmo rid�culo em rela��o ao que poderia ter sido. N�s temos um dos melhores programas de imuniza��o do mundo. N�o sou eu que estou dizendo isso, � a Organiza��o Mundial da Sa�de e muitas outras institui��es. O Brasil tem 38 mil salas de vacina��o pelo pa�s inteiro. No Brasil, ningu�m precisa viajar para ser vacinado. As pessoas v�o para as unidades b�sicas de sa�de e recebem a vacina l�. O que n�s fizemos foi desorganizar o Programa Nacional de Imuniza��es (PNI). Foi colocar nos quadros de chefia pessoas que n�o tinham no��o, que nunca participaram de campanha nacional.

Voc� pega o ministro anterior: ele mesmo dizia que n�o tinha nenhuma experi�ncia. N�o tinha vacinado uma pessoa na vida dele e, de repente, tem esse desafio pela frente. E ainda tem que lidar com um presidente que n�o se interessou pelas vacinas logo de cara. Ele falava mal da vacina do Butantan, que hoje � o que est� salvando a pele dele e do PNI. As vacinas do Butantan s�o respons�veis por 80% das vacinas administradas no Brasil.

N�s n�o compramos vacinas, n�o nos preparamos para esse momento. O mundo inteiro estava comprando: os Estados Unidos, a Comunidade Europeia, o Jap�o, os pa�ses asi�ticos… As vacinas estavam dispon�veis. Mas n�s n�o compramos. E ca�mos na situa��o que a gente se encontra hoje.

Bom, � claro que vamos ter vacinas. Mas quantas pessoas ter�o morrido at� l� sem necessidade? Pessoas essas que poderiam j� ter sido protegidas. Se tiv�ssemos come�ado a vacinar em dezembro ou janeiro, n�o estar�amos com mais de tr�s mil mortes di�rias como acontece atualmente

BBC News Brasil - E como foi a sensa��o de poder tomar a vacina? Como o senhor se sentiu?

Varella - � engra�ado, voc� tem um sentimento contradit�rio nessa hora. De um lado, � um al�vio grande. Bom, tomei a vacina, posso at� pegar a doen�a, mas parece que a chance de morrer agora � muito pequena. O que eu n�o quero � morrer. Ficar doente e me curar, est� bom. N�o quero tamb�m, mas � menos grave.

Do outro lado, � uma sensa��o de frustra��o, de saber que a gente podia estar vacinando milhares e milhares de pessoas por dia. Eu vejo pessoas da minha pr�pria fam�lia e amigos meus que ainda v�o demorar para tomar a vacina. Ent�o voc� tem al�vio e frustra��o pelos outros que n�o tiveram a mesma sorte que tive.

BBC News Brasil - Os �ltimos meses foram marcados por recordes nos n�meros de casos e �bitos por covid-19 e um colapso do sistema de sa�de em v�rios locais do pa�s. Como o Sistema �nico de Sa�de (SUS) se portou diante deste desafio? E como seria a situa��o se n�o tiv�ssemos ele?

Varella - Bom, vou come�ar pela segunda pergunta. Se n�o tiv�ssemos o SUS, seria a barb�rie. As pessoas estariam morrendo nas ruas. Para dizer a verdade, eu acho que o SUS me surpreendeu. Ele reagiu muito melhor do que as possibilidades que tinha. Com a cria��o de leitos de UTI, de leitos hospitalares, de programas de atendimento... Eu sinceramente acho que o SUS teve uma atua��o impec�vel. Eu n�o consigo dizer que vi algum desleixo. Teve essas coisas de desvios de dinheiro, claro. Mas n�o s�o coisas que o SUS fez, mas bandidos que se aproximam do servi�o p�blico.

Me parece que pela primeira vez os brasileiros entenderam o que � o SUS. Porque at� agora a impress�o dos brasileiros era que o SUS era aquela bagun�a, que voc� vai ao pronto-socorro, n�o � atendido, fica em maca no corredor... Agora n�s vimos o que aconteceu. Agora os brasileiros t�m uma dimens�o do que � o SUS. Eu acho que isso pode ser uma das boas consequ�ncias da epidemia, se � que a gente pode dizer assim. Ela chamou a aten��o para a import�ncia do Sistema �nico de Sa�de no Brasil.

Voc� v�, no Reino Unido existe NHS [National Health System, ou Sistema Nacional de Sa�de numa tradu��o literal] e os ingleses t�m um orgulho dele. Nas Olimp�adas de Londres, em 2012, eles colocaram o NHS no centro do gramado. N�s fizemos as Olimp�adas de 2016 no Rio de Janeiro e n�o colocamos o SUS. E olha que o SUS � muito mais importante do que o NHS.

Primeiro, o NHS surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Ent�o ele est� a� na faixa dos 70 anos de exist�ncia. Houve tempo para aprimor�-lo. Isso num pa�s rico, com popula��o de alto n�vel educacional, muito organizado e com cerca de 66 milh�es de habitantes. At� eu organizo um sistema de sa�de assim. Quero ver fazer essa organiza��o num pa�s de 210 milh�es de habitantes, com essa tremenda desigualdade social e regional que n�s temos e com esse baixo n�vel de escolaridade. N�o � f�cil. Nenhum pa�s com mais de 100 milh�es de habitantes tem um sistema de sa�de com as caracter�sticas do brasileiro. � um caso �nico, citado no mundo inteiro.

Aqui no Brasil n�s n�o temos a vis�o dessa import�ncia que o SUS tem. Eu acho que agora, passada a epidemia, quando as coisas acalmarem um pouco, n�s vamos ter a ideia de como n�s podemos contribuir para o aprimoramento do SUS. Isso � poss�vel. Como? Voc� n�o precisa trabalhar no SUS para ajudar a aprimor�-lo.

O SUS tem a organiza��o do Minist�rio da Sa�de e das Secretarias Estaduais de Sa�de. Mas o SUS acontece no munic�pio. � l� que voc� vai procurar a unidade b�sica de sa�de. Ent�o � no munic�pio que a nossa participa��o pode ser muito mais eficiente e eficaz. Porque voc� fala com o vereador, voc� cobra do prefeito, voc� participa dos conselhos de sa�de... A popula��o brasileira tem que participar da organiza��o do Sistema �nico de Sa�de.

BBC News Brasil - Os �ltimos meses tamb�m foram marcados por muitos pedidos de cientistas por um lockdown nacional de algumas semanas. Como o senhor v� essa quest�o? E como lidar com um lockdown num pa�s t�o desigual como o nosso?

Varella - Vamos dizer que agora, por um passe de m�gica, voc� conseguisse deixar todos os brasileiros dentro de casa, sem receber visita nenhuma, por duas ou tr�s semanas. Voc� acabaria com a epidemia. Acabaria. O v�rus vai passar pra quem? S� que isso � invi�vel: as pessoas acham que basta decretar lockdown. N�o � verdade. Voc� tem pessoas que precisam sair de casa para manter os servi�os essenciais. E voc� tem pessoas no Brasil que saem de casa para ganhar o suficiente, comprar o alimento e levar para a fam�lia. Se elas n�o fizerem isso, a fam�lia passa fome.

O n�vel de pobreza � muito grande. N�s estamos vendo isso agora. Temos 120 milh�es de pessoas com a seguran�a alimentar sob risco. Olha a desigualdade social no Brasil! A gente encarava a desigualdade como? Ah, o Brasil � desigual, � assim mesmo... N�o � poss�vel aceitar esse n�vel de desigualdade, n�o podemos permanecer dessa maneira.

Ent�o como voc� faz lockdown? N�s temos um exemplo importante, que foi Araraquara, cidade do interior de S�o Paulo. O prefeito chamou os industriais da cidade, os comerciantes, os sindicatos, conversou com todos, explicou o que estava acontecendo, e o que temos que fazer. Ele disse que as pessoas estavam morrendo e iam morrer muito mais se nada fosse feito. E a� eles fizeram um lockdown r�pido.

Mas as pessoas que estavam em casa recebiam cestas b�sicas, que foram doadas pela Prefeitura e pela iniciativa privada. N�o foi f�cil, o prefeito foi at� amea�ado de morte. E eles conseguiram dessa maneira fazer cair rapidamente o n�mero de ocupa��o de leitos, de pessoas internadas na UTI e as mortes. O resultado s� n�o foi melhor porque as cidades em volta n�o fizeram lockdown.

Por isso, voc� tem que ter uma coordena��o central. Eu acho que um lockdown em territ�rio nacional nunca vai ser realizado no Brasil. O que vai acontecer � que, de acordo com a evolu��o dos casos, com a lota��o das UTIs e o colapso dos sistemas de sa�de, vai ter que fazer pequenos fechamentos regionais. Eu n�o vejo outra alternativa.

BBC News Brasil - Outra discuss�o muito forte no Brasil ao longo dos �ltimos meses foi a dicotomia entre sa�de e economia. Muitos de nossos representantes, a come�ar pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disseram que medidas restritivas quebrariam nossa economia e isso seria at� pior que a pr�pria covid-19. No entanto, estamos no pior momento da pandemia at� agora e sem perspectiva alguma de retomada econ�mica. O senhor v� algum caminho para lidar com essa quest�o?

Varella - Houve um mal entendido desde o in�cio. Se dizia que as pessoas precisavam trabalhar para preservar a economia. Mas o que provoca a crise econ�mica e financeira � a exist�ncia da epidemia. N�o � o fato de as pessoas ficarem em casa, n�o � o combate � epidemia. � justamente o contr�rio. Quanto mais r�pido a epidemia desaparecer, mais depressa a gente retoma a economia. Isso � um cl�ssico da hist�ria das epidemias.

Aqui foi o contr�rio. Voc� v� agora, o ministro da Economia dizia h� uns dois meses que a solu��o � a vacina. A �nica coisa que vai recuperar a economia � a vacina. Veja as montadoras aqui no Estado de S�o Paulo, que fecharam as f�bricas. Elas n�o fecharam porque queriam fazer um lockdown. Fecharam porque s�o incapazes de garantir a seguran�a dos funcion�rios numa situa��o em que a epidemia est� correndo solta, sem nenhum controle. Ou voc� vacina e recupera a economia, ou a economia vai ficar patinando nessa situa��o grave. E quanto mais tempo levar, pior. Mais tempo durar� a crise.


O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse várias vezes que a saída da crise econômica passa pela vacinação contra a covid-19(foto: REUTERS/Adriano Machado)
O ministro da Economia, Paulo Guedes, j� disse v�rias vezes que a sa�da da crise econ�mica passa pela vacina��o contra a covid-19 (foto: REUTERS/Adriano Machado)

BBC News Brasil - Nos �ltimos dias, aumentou a discuss�o sobre uma CPI para apurar as a��es do Governo Federal e at� dos governos estaduais e municipais durante a pandemia. O senhor pessoalmente acha que � necess�rio rever o que foi feito at� agora e responsabilizar agentes p�blicos por a��es que foram tomadas ou ignoradas?

Varella - Veja, o Brasil tem menos de 3% da popula��o mundial. No momento atual, de cada quatro pessoas que morrem de covid-19 no mundo, uma � brasileira. � uma mortalidade absurda. Nossa participa��o � de 27% das mortes. O pa�s n�o precisava se encontrar nessa situa��o. E isso � muito grave, porque s�o pessoas que perderam a vida. E se cria esse clima de que estamos numa guerra... N�o estamos numa guerra. As pessoas que pegam o v�rus s� morrem porque pegaram o v�rus. Se elas n�o tivessem pegado o v�rus, estariam vivas. Portanto, s�o mortes evit�veis.

Quem cometeu erros graves na pandemia precisa ser punido. Que tipo de puni��o? N�o tenho ideia, n�o sou jurista. Isso vai ficar para os advogados, para o Supremo Tribunal Federal, para o sistema jur�dico brasileiro. Eles que v�o estabelecer quais s�o as responsabilidades.

Se receito para o meu paciente um rem�dio que n�o tem a��o para tratar a doen�a dele e tem efeitos colaterais, eu posso ser punido eticamente pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de S�o Paulo. E tamb�m posso ser punido pela justi�a comum. E isso quando prejudico uma �nica pessoa. Agora, imagina se eu prejudiquei centenas de milhares de pessoas. Eu acho que isso tem que ser apurado e n�o pode ficar sem um processo jur�dico.

BBC News Brasil - O senhor sempre viajou muito pelo pa�s e tinha uma rotina de atendimentos e consultas constantes. Como foi a adapta��o ao trabalho neste �ltimo ano?

Varella - Olha, n�o tive tempo de me adaptar. Eu passei de uma vida para outra imediatamente. Eu tinha muita atividade mesmo. Eu lembro que, em novembro de 2019, teve uma semana que eu peguei avi�o todos os dias. Entre idas e vindas, �s vezes eu pegava dois avi�es num dia, um pra ir e outro pra voltar. Eu sa�a de S�o Paulo, fazia uma palestra numa cidade do Nordeste ou do Norte, e voltava, tudo no mesmo dia. Fazia parte de minha rotina. De repente, fiquei fechado em casa.

Por outro lado tamb�m, comecei a ter uma demanda para manter atividade educacional, o que foi muito bom. E � um trabalho completamente diferente daquele anterior. Eu gosto de fazer, mas �s vezes fico um pouco tumultuado quando tem muita coisa na agenda. E essa comunica��o pela internet � esquisita. A gente n�o estava habituado com ela. Se voc� vai numa reuni�o com dez pessoas em torno de uma mesa, uma est� anotando, a outra est� tirando um dado de um celular, uma terceira est� olhando pra cima e ouvindo a conversa... N�s n�o estamos acostumados a nos encarar tanto tempo como a gente se encara hoje.

E mais: n�s n�o estamos habituados a ver nossa pr�pria imagem na tela o tempo inteiro. N�s n�o estamos acostumados a ver a nossa imagem enquanto falamos. Esse est�mulo � invasivo. Eu estou olhando pra voc�, as suas rea��es, olhando nos seus olhos. Voc� est� olhando nos meus. E, ao mesmo tempo, voc� est� olhando para voc� mesmo numa tela. � uma comunica��o que gera estresse. Tanto que voc� participa de uma live e se sente cansado. Cansado at� fisicamente, porque ficar sentado o tempo todo cria problemas. A nossa esp�cie n�o tem adapta��o ainda para esse tipo de comunica��o. E isso causa um estresse geral.

BBC News Brasil - O senhor � oncologista e sabemos que essa � uma �rea da medicina em que as novidades n�o param. Durante este ano, o senhor conseguiu se atualizar nas �ltimas descobertas sobre o c�ncer, ou o foco total foi em entender a pandemia?

Varella - Eu continuo lendo e estudando, at� porque eu gosto e n�o sou capaz de me afastar desse conhecimento. Mas voc� fica muito mais desfocado. Muito mais. Eu tenho que participar de uma mesa redonda sobre um tipo de c�ncer do aparelho digestivo. Eu me preparo para essa aula, estudo, leio...

Mas tenho tamb�m que acompanhar o que est� acontecendo com a covid-19, porque eu sou solicitado a dar opini�o. Eu n�o posso estar desinformado e isso me desfoca um pouco. E � algo que est� acontecendo com os m�dicos de forma geral.

BBC News Brasil - E a rotina? O senhor conseguiu criar novos h�bitos de exerc�cio, alimenta��o e bem-estar diante das necessidades de restri��o?

Varella - Antes da pandemia, eu levava uma vida muito complicada. N�o parava nem para almo�ar. �s vezes, comia um p�o de queijo na hora do almo�o para aguentar at� o jantar. Era uma vida muito irregular. Sa�a de manh� pra trabalhar e ia at� de noite. �s vezes, chegava tarde. Em casa, voc� estabelece um regime mais disciplinado. Isso foi bom, eu consegui me manter. N�o ganhei peso, ao contr�rio, at� emagreci um pouco. Mas fiquei com medo. Pensei: agora, com atividade reduzida e em casa, com a geladeira � disposi��o, se eu bobear vou ganhar peso. Na minha idade, ganhar peso � muito ruim. Ali�s, em qualquer idade � ruim, mas na minha � pior.

Eu continuo fazendo exerc�cio. Eu n�o tenho corrido na rua agora por uma s�rie de raz�es. Mas eu subo a escadaria do meu pr�dio. Era um exerc�cio que eu j� fazia antes e agora fa�o com muito mais regularidade. Subo as escadas at� o �ltimo andar e des�o de elevador, at� porque na descida de escada a gente pode machucar o joelho. Esse � o exerc�cio que eu fa�o.

Eu me convenci do seguinte nesses 50 anos de medicina: todo mundo quer viver muito, claro. Voc� tamb�m quer, imagino. Mas n�o a qualquer pre�o. Se eu disser que, aos 80 anos, sua mem�ria vai come�ar a ir para o espa�o, voc� vai ficar restrito, n�o vai ter coordena��o motora para levar o garfo � boca, n�o vai conseguir ir at� o banheiro, precisar� usar fralda... Aposto que assim voc� n�o vai querer.

BBC News Brasil - E para evitar isso, � preciso tomar aquela s�rie de cuidados e medidas de sa�de...

Varella - A� � que est�. Isso n�o vem de gra�a. Para alguns, at� vem de gra�a, por causa da gen�tica. S�o pessoas muito privilegiadas. Mas s�o raras tamb�m. � pouco prov�vel que isso aconte�a com voc� ou comigo. N�s vamos ter que batalhar mesmo. � fazer exerc�cio, n�o deixar o corpo parado… Corpo parado estraga depressa.

BBC News Brasil - Em outro trecho da entrevista de abril de 2020, o senhor disse: "Esse v�rus vai ficar um bom tempo entre n�s. N�o com essas caracter�sticas que est� tendo agora, promovendo essa mortalidade absurda, mas ele vai levar muito tempo para desaparecer do contato com a humanidade." O senhor j� enxerga alguma luz no fim do t�nel?

Varella - Eu acho que daria agora exatamente a mesma resposta que eu dei h� um ano atr�s. S� espero que, daqui a um ano, eu n�o tenha que dar essa mesma resposta tamb�m. O que eu acho � que esse v�rus vai ficar por a� mesmo. E isso por v�rias raz�es. Primeiro, as vacinas que n�s temos protegem contra a doen�a. Todos os estudos foram feitos assim. Vamos dar a vacina para um grupo e para outro n�o. Depois, n�s vamos ver quantos morreram, foram parar na UTI e comparar com o outro grupo. Mas, at� agora, n�s n�o fizemos nenhuma compara��o de quantos vacinados v�o adquirir o v�rus e ficaram assintom�ticos. Se eu pego o v�rus e fico assintom�tico, est� �timo. S� que a� eu vou para uma festa, vou visitar meus filhos, minha netas... Eu vou transmitir o v�rus, apesar de ter sido vacinado. Nenhuma vacina provou at� agora que � capaz de inibir a transmiss�o do v�rus.

Segundo ponto, ser� que n�s vamos conseguir vacinar a popula��o brasileira inteira? N�s vamos conseguir vacinar grande parte da popula��o. Mas inteirinha, n�o vai dar. Porque tem gente que se nega a tomar vacina, que toma a primeira dose e n�o vai tomar a segunda... Enfim, � muito dif�cil voc� vacinar 100% das pessoas.

Terceiro, podem aparecer variantes que n�o respondam �s vacinas que n�s desenvolvemos. E isso obriga a gente a criar novas vacinas e ficar vacinando periodicamente. Ent�o � muito pouco prov�vel que a gente elimine o v�rus definitivamente. Agora, quanto mais gente vacinada, mais cair� o n�mero de casos e o n�mero de mortes. Mas vamos ter o v�rus presente por a� por bastante tempo ainda.

E isso quer dizer que as medidas que n�s temos que tomar hoje, especialmente o uso de m�scaras, precisar�o ser mantidas. No ano que vem, n�s vamos usar m�scaras ainda. Porque, veja, voc� tem a covid-19. Passam seis, sete meses, e tem outra vez a mesma doen�a. Quer dizer, provavelmente n�o h� imunidade permanente.


Máscaras precisam virar parte de nosso vestuário e devemos usá-las toda vez que saímos de casa, reforça Varella(foto: Getty Images)
M�scaras precisam virar parte de nosso vestu�rio e devemos us�-las toda vez que sa�mos de casa, refor�a Varella (foto: Getty Images)

Com isso, � poss�vel, ou pelo menos existe uma grande probabilidade, de que as vacinas tamb�m n�o o fa�am, o que vai obrigar a novos ciclos de vacina��o. N�o tem drama, � o que a gente faz com a gripe hoje. Mas n�o conseguimos ficar livres do v�rus da gripe. E n�o vamos conseguir ficar livres desse coronav�rus.

BBC News Brasil - Que recomenda��o o senhor deixaria para as pessoas diante desse momento que estamos na pandemia para proteger a si e a todos aos redor?

Varella - A primeira medida a tomar � identificar em que fase da epidemia n�s estamos. No momento atual, estamos numa fase muito dura. Os hospitais seguem lotados de gente. O sistema de sa�de est� em colapso. E as pessoas muitas vezes n�o entendem o que � colapso. Colapso quer dizer: n�o tem jeito de atender. � como se n�o tivesse hospital para as pessoas que precisam dele. Voc� � atropelado na rua, tem um afundamento de t�rax, precisa ser levado para UTI e n�o tem lugar. Voc� morre no pronto-socorro por essa falta de atendimento.

Nessas fases, em que a doen�a est� dessa maneira, a gente tem que tomar cuidado o m�ximo poss�vel. E qual � o cuidado? Usar m�scara. E n�o � s� evitar aglomera��o. Porque aglomera��o � um bando de gente. A gente n�o acha que tr�s ou quatro pessoas fa�am uma aglomera��o. Voc� pode at� n�o ir numa balada ou no pancad�o. Mas imagina que voc� resolve reunir dois casais de amigos para uma pizza num domingo. Se uma dessas pessoas estiver infectada, o risco de voc� se infectar vai ser grande. Ah, mas eu conhe�o e sei que essas pessoas est�o se cuidando... N�o d� pra assumir quarentena alheia. N�o d�. Porque cada pessoa tem o seu jeito de fazer. Portanto, numa fase como essa, todo cuidado � pouco.

Quando as coisas come�arem a melhorar, voc� estiver vacinado, as pessoas ao seu redor tamb�m, a� voc� vai ter mais liberdade. At� para eventualmente convidar os dois casais de amigos para a pizza de domingo. Da� voc� vai abrir as janelas, deixar ventilar o m�ximo poss�vel o ambiente. E vai evitar ficar em lugares apertados, com gente sem m�scara.

E voc� vai continuar a usar m�scara. A m�scara � hoje uma pe�a do vestu�rio. Voc� n�o sai � rua sem camisa, mesmo que esteja calor. Voc� p�e a camisa. A m�scara � a mesma coisa.

As pessoas v�o ter que entender a necessidade dessas medidas. Se n�s fizermos isso direito, vamos proteger a n�s mesmos e os nossos familiares. Se a gente continuar nessa coisa de sair e negar o problema, n�s vamos correr riscos e vamos correr risco pelos nossos familiares. E esse � um problema muito s�rio.

Uma li��o que a gente tem que aprender nessa epidemia para n�o repetir na pr�xima � o conceito de grupo de risco. Espero que nunca mais se fale numa coisa dessas nas epidemias. Olha o que aconteceu na aids. Quem eram os grupos de risco naquela ocasi�o? Os homossexuais e os usu�rios de droga injet�vel. Isso sa�a em tudo quanto � jornal. Na pr�tica, uma mulher que n�o � homossexual e que n�o usava droga na veia, achava que n�o corria risco nenhum e n�o usava preservativo. Ela n�o era do grupo de risco... Quantas mulheres n�o se infectaram assim?

Agora, na covid-19, quem � grupo de risco? Pessoas acima de 60 anos e quem tem press�o alta, diabetes ou obesidade. A� eu estou com 32 anos, n�o tenho essas condi��es, e penso que est� tudo bem, se eu pegar vai ser uma doen�a de nada. Olha o que est� acontecendo agora: mais da metade das pessoas nas UTIs brasileiras tem menos de 40 anos de idade.

Grupo de risco n�o existe. O que existe � o comportamento de risco. Porque eu posso estar numa aglomera��o com 100 pessoas e, se nenhuma delas estiver infectada, eu n�o vou pegar o v�rus. E eu posso estar num jantarzinho �ntimo de quatro, cinco pessoas e uma pessoa infectada pode infectar todos os outros.


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O que � um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferen�as entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restri��o de circula��o de pessoas adotadas no Brasil n�o podem ser chamadas de lockdown.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo brit�nico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa). No pa�s ela � produzida pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmac�utica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a libera��o de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidi�ria da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do �nico no mercado que garante a prote��o em uma s� dose, o que pode acelerar a imuniza��o. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Minist�rio da Sa�de em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autoriza��o para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacina��o'?

Os chamados passaportes de vacina��o contra COVID-19 j� est�o em funcionamento em algumas regi�es do mundo e em estudo em v�rios pa�ses. Sistema de controel tem como objetivo garantir tr�nsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacina��o imp�em desafios �ticos e cient�ficos.


Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.

 

 

Entenda as regras de prote��o contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.


Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:


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