(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Sofrer com as incertezas

A realidade � aquilo que percebemos no momento atual. Sabore�-la e lidar com ela � o caminho de n�o cairmos na tenta��o de vivenciar possibilidades futuras


25/10/2020 04:00 - atualizado 22/10/2020 10:40



“Desde crian�a sou desconfiado com tudo e todos. Pode at� ser minha cria��o, mas isso me traz sofrimento. J� terminei tr�s relacionamentos. Afinal, vejo coisas at� onde n�o existem, chega ser torturador.”

Fabiano, de Sabar�
 
A estrutura��o da desconfian�a em nossas vidas come�a cedo, na inf�ncia. Se tivemos uma experi�ncia de afeto e acolhimento por parte dos adultos, principalmente os pais, internalizamos uma vis�o do mundo como um lugar bom e passamos a ver os outros como pessoas que nos querem bem.

Ao contr�rio, se nossas primeiras experi�ncias s�o sofridas, na rela��o com as pessoas solidificamos a cren�a de que as pessoas, em princ�pio, s�o ruins e que nos far�o mal.

A desconfian�a, portanto � uma postura infantil, escondendo uma fragilidade e inferioridade de uma crian�a impotente e dependente de um mundo gigante e amea�ador. Desconfian�a � medo. � ansiedade. � preocupa��o com o que pode nos acontecer.

� at� natural em uma crian�a desamparada essa forma de enxergar o mundo. � medida, por�m, que f�ssemos crescendo essa vis�o pessimista teria de ser substitu�da gradualmente por uma percep��o mais realista: nem todas as pessoas s�o como aquelas de nossas primeiras experi�ncias de relacionamento e j� dispomos de mecanismos com os quais podemos nos defender, uma vez adultos e com autonomia.

De uma forma generalizada do bem ou do mal, migramos, pouco a pouco, para a realidade dualista do mundo, onde existem pessoas, incluindo n�s, boas e m�s ou ent�o, ora boas, ora m�s. A consequ�ncia principal desse modo de encarar as coisas � a necessidade de aprendermos a lidar com essa realidade em vez de, passivamente, temer o que pode nos acontecer.

O pr�prio conceito de confian�a que nos foi passado nos distancia desse sentimento. Acreditamos, em geral, que confiar em algu�m � ter “certeza” do seu comportamento futuro com rela��o a n�s. Quem confundir confian�a com “certeza” jamais poder� confiar, pois o amanh� do outro � um grande desconhecido at� para ele mesmo.

Se a marca fundamental do homem � sua liberdade, jamais saberemos antecipadamente o comportamento de algu�m. O desconfiado sofre pelo seu desejo de cer- teza. N�o � a d�vida que nos enlouquece, mas a vontade de saber com antecipa��o o que ningu�m pode saber.

Desconfian�a � abrir m�o de viver a realidade dispon�vel no atual momento e tentar controlar o futuro. � um medo antecipado. A verdadeira confian�a � desistir de toda e qualquer certeza e abrir o cora��o � verdade futura, seja qual for ela. A desconfian�a � uma doen�a psicol�gica que nos faz sofrer.

O estado de confian�a n�o � um favor que fazemos a algu�m, a n�o ser a n�s mesmos, pois � um estado de paz, sossego, folga daquele que deixou o futuro para quando chegar.

Uma das formas para trabalharmos nossas desconfian�as � aumentar nossa capacidade de estar presentes. A realidade � aquilo que percebemos no momento atual. Sabore�-la e lidar com ela � o caminho de n�o cairmos na tenta��o de vivenciar as possibilidades futuras.

Um dos filmes de que mais gostei at� hoje foi Sociedade dos poetas mortos, que recomendo a todos, cujo personagem principal � o professor Keating, interpretado por Robin Williams. Uma das primeiras cenas do filme mostra esse personagem indo com todos os alunos at� o sagu�o de uma escola onde est�o os quadros de formatura de turmas anteriores.

– Voc�s est�o vendo estas fotos, meninos?, pergunta Keating.

– Os jovens que est�o nesses quadros, continua ele, planejavam revolucionar o mundo e transformar sua vida em algo magn�fico. Isso foi h� 70 anos. Agora, est�o todos mortos. Quantos tiveram uma vida realmente feliz? Quantos realizaram seus sonhos?

 A�, o professor inclina para o grupo e murmura para que todos o ou�am:

– Carpe diem. Aproveitem o seu dia. Vivam o presente.

Confian�a � saber que somos limitados, que n�o podemos adivinhar o que est� por vir, que jamais controlaremos todas as “possibilidades” e que nossa �nica sa�da � viver intensamente a realidade, seja boa ou ruim.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)