
“Tenho 43 anos. Sou casada e tenho um bom relacionamento com minhas filhas, meu marido e com as pessoas em geral. De vez em quando, por�m, tenho momentos de muita raiva. Nessas horas, �s vezes me altero, falo alto, xingo e depois sinto muita culpa. Como posso acabar com minha agressividade?”
Maria L�cia, de Curvelo
H� uma grande diferen�a entre viol�ncia e agressividade. E � de suma import�ncia a distin��o entre os dois fen�menos, n�o s� para o nosso equil�brio emocional, como tamb�m para os nossos relacionamentos. Em geral, fazemos confus�o entre uma coisa e outra e isso tem trazido graves repercuss�es na nossa vida. Examinemos, com cuidado, essa quest�o.
Todos n�s nascemos com uma energia vital, atrav�s da qual existimos e nos relacionamos com o mundo. Dependendo da concentra��o corporal, do direcionamento e do uso dessa energia, ela adquire um nome diferente e poder� ser boa ou m� na nossa vida. A energia � uma s� e poder� ter o nome de pensamento, sexualidade, amor, raiva, paix�o etc.
Quando a nossa energia vital � usada para defender nossa integridade f�sica ou psicol�gica, para nos defender dos ataques externos, para impedir a invas�o de nossos espa�os, ou ent�o para construir, chama-se AGRESSIVIDADE, e n�o podemos prescindir dela, sob pena de n�o sobrevivermos ou n�o crescermos.
Nesse sentido, a agressividade � um instrumento de vida e como ferramenta da natureza � extremamente valiosa. N�o importa aqui a intensidade dessa for�a agressiva, pois ela ser� determinada pela natureza e for�a do invasor ou da constru��o a ser feita.
A agressividade � essencial para a sobreviv�ncia e o crescimento, ainda que apare�a sob a forma de uma voz alta, xingos etc. Pessoas com a agressividade reprimida tornam-se deprimidas, autodestrutivas, autopunitivas, com pouco entusiasmo pela vida, com dificuldade para lutar, com as dificuldades da realidade. Querer acabar, com essa puls�o agressiva das crian�as, por exemplo, vai provocar a forma��o de pessoas irritadas, contidas, rancorosas e fechadas.
Quando, por�m, essa mesma energia � usada para destruir pessoas, invadir espa�os alheios, controlar, subjugar, dominar e manipular pessoas, passa a se chamar VIOL�NCIA. E essa, sim, deve ser evitada nas rela��es, pois � a ant�tese do amor, vez que destr�i a identidade do outro enquanto ser aut�nomo e livre.
O que � grave, ent�o, nos nossos relacionamentos � a viol�ncia, � a invas�o e o dom�nio do outro, o desrespeito ao querer do outro, ainda que tal invas�o venha com palavras meigas e doces. Um exemplo que pode aclarar de vez o que foi dito at� aqui: se algu�m vem me matar e eu o mato, isso � apenas agressividade. Se eu beijo algu�m contra a sua vontade, � viol�ncia.
Na pr�tica, temos um grande preconceito com rela��o � agressividade, a raiva, as brigas, e somos extremamente tolerantes com o comportamento violento, como o ci�me, a m�goa, o controle sobre a vida do outro.
Na pr�tica, temos um grande preconceito com rela��o � agressividade, a raiva, as brigas, e somos extremamente tolerantes com o comportamento violento, como o ci�me, a m�goa, o controle sobre a vida do outro.
O �dio n�o � o contr�rio do amor. O contr�rio do amor � a diferen�a, o desprezo, o abandono, a frieza. N�o h� um sentimento mais pr�ximo do amor que a raiva. E ela tem uma grande fun��o na nossa vida: resolver problemas, lutar contra os obst�culos da realidade.
E a briga � construtiva quando o seu objetivo � a resolu��o dos problemas e ela se torna violenta quando o objetivo � destruir a outra pessoa.
E a briga � construtiva quando o seu objetivo � a resolu��o dos problemas e ela se torna violenta quando o objetivo � destruir a outra pessoa.
Talvez assim se explique a passagem do evangelho em que Jesus Cristo, ao passar perto do templo de Salom�o e percebendo os vendilh�es invadirem (viol�ncia) o espa�o sagrado, transformando-o num mercado, tomou de um chicote e os expulsou (agressividade), defendendo “a casa do pai”.
E quando reprimimos a raiva que deveria ser canalizada na destrui��o/constru��o do mundo, na resolu��o das dificuldades, ela se transforma em tristeza, m�goa, acabrunhamento e pirra�a. N�o tirem das crian�as a agressividade porque o amor vai junto. Ensine-as apenas a n�o usar de sua raiva para destruir os outros, invadir o espa�o sagrado do outro.
Ensine-as a respeitar o outro. Maria L�cia, n�o se preocupe em acabar com a sua energia vital chamada agressividade, mas envide esfor�os para acabar com as suas viol�ncias.
Ensine-as a respeitar o outro. Maria L�cia, n�o se preocupe em acabar com a sua energia vital chamada agressividade, mas envide esfor�os para acabar com as suas viol�ncias.