“Meu marido n�o gosta de conversar. Quando proponho algum di�logo para resolvermos pend�ncias no casamento, como quest�o financeira, filhos, fam�lia etc. ele se esquiva e fica nervoso. Fale sobre o di�logo.”
Ana Gerusa, de Belo Horizonte
Se f�ssemos fazer uma lista de coisas que tornam as pessoas felizes, n�o tenho a menor d�vida que ela deveria come�ar com os relacionamentos. Mais que sucesso, beleza, dinheiro, fama, a nossa vincula��o �ntima com as outras pessoas determinam nosso grau de alegria na vida.
A maioria de nossas necessidades emocionais est� diretamente ligada aos nossos relacionamentos: afeto, inclus�o, companhia, amor, car�cias, aprova��o e entre os v�rios relacionamentos, o afetivo-sexual ocupa uma posi��o de destaque dada a sua profundidade e prazeirosidade.
Se a rela��o amorosa � bem-sucedida, a vida � boa, mas se ela fracassa leva junto a alegria de viver. E o que faz um relacionamento ter sucesso? S�o in�meros fatores e sempre conversaremos aqui sobre eles. H�, por�m, um deles que se sobressai: O DI�LOGO.
O que distingue o homem do animal � que o homem tem consci�ncia, capacidade reflexiva, portanto, e FALA. Qualquer empreendimento humano em conjunto requer necessariamente o di�logo para viabiliz�-lo. Uma equipe, um grupo, uma fam�lia, um CASAL, s� existem a partir da capacidade de trocar ideias, sentimentos e a��es. O di�logo como mecanismo de integra��o e intera��o n�o � uma concess�o que fa�o ao outro (como muitos homens pensam), mas � o combust�vel necess�rio para que exista CASAMENTO.
Cada pessoa � uma individualidade. Ela �, portanto, �nica. Cada pessoa tem uma hist�ria diferente, um passado diferente, um jeito pr�prio de ver o mundo, uma forma��o, gostos diferentes, capacidade intelectual e emocional diferentes. O casamento � uma tentativa de juntar essas diferen�as num projeto de constru��o do amor e do mundo. O que impulsiona e realiza o acasalamento s�o exatamente AS DIFEREN�AS.
Eu s� posso amar o outro no que ele � diferente de mim, porque no que ele � igual a mim n�o � a ele que estou amando e sim a mim mesma. E na constru��o da rela��o amorosa, a grande dificuldade reside na diferen�a de como cada um percebe o mundo, da� a dificuldade e a necessidade do di�logo.
Para haver uma rela��o “dial�gica” � fundamental o respeito � individualidade do outro e, portanto, � maneira diferente de o outro perceber o mundo. O objetivo do di�logo n�o � “convencer” o outro e nem obrig�-lo a ver o mundo como eu vejo, mas pelo contr�rio, o di�logo � a oportunidade de que as oposi��es apare�am, as diverg�ncias fiquem claras e as pessoas encontrem um jeito de conviverem e continuarem construtivas, apesar de...
O di�logo � justamente o consentimento do outro como diverso de mim e acaba com a terr�vel ideia de unidade a qualquer pre�o e instauram a unidade como capacidade de, mesmo diferentes, termos objetivos e interesses comuns. O di�logo assim � fator de coopera��o e n�o de competi��o entre o casal.
O di�logo n�o � para provar ao outro que ele est� errado, mas para eu entender o ponto de vista do outro e inseri-lo nas minhas reflex�es. A capacidade de conviver com ideias diferentes das minhas, o respeito � autonomia reflexiva do outro, a humildade de saber que eu n�o detenho toda verdade s�o os ingredientes necess�rios para a conversa do casal.
O jogo da raz�o, no qual eu quero que minha ideia prevale�a sobre a do outro n�o � o di�logo, mas domina��o. Este � o motivo de tanta resist�ncia ao di�logo, aparente em muitos casais. Sem trabalharmos o nosso autoritarismo, de querermos impor ao outro nossa percep��o da realidade, n�o seremos capazes de dialogar.
Se em um casal, um deseja algo e o outro deseja o contr�rio, ou seja, se os desejos eventualmente s�o diferentes, s� h� uma sa�da: a negocia��o.
O di�logo � este instrumento e palco para o grande desafio: como vamos continuar a constru��o dos nossos objetivos comuns, apesar de pensarmos, �s vezes, diferente e vermos a realidade de maneira diferente. Amar � dialogar. Um casal s� se constr�i quando tem a compet�ncia emocional de poder dizer: “N�o concordo com voc� nisto ou naquilo, mas continuo a amar voc� de todo o meu cora��o”.