“Sou muito r�gido e teimoso, sofro muito quando minhas ideias s�o contestadas. Por isso estou sempre em atrito com os outros. Como posso mudar?”
Geraldo, de Belo Horizonte
Do ponto de vista de vida, das rela��es e dos comportamentos, podemos nos identificar como um dos dois elementos da natureza: a �gua ou o diamante. A �gua � flex�vel, fluida, pl�stica, altamente adapt�vel ao ambiente e, sendo inodora, ins�pida e incolor, recebe qualquer cor, qualquer gosto e qualquer cheiro. Interage com o meio, liga-se imediatamente ao contato com outra �gua e � essencial � vida.
O diamante � r�gido, duro, corta todos os outros elementos e n�o � cortado por nenhum, n�o se liga a outro diamante, � inflex�vel e n�o suporta nenhuma mancha, � do tipo “quebra, mas n�o enverga”, � ligado � imagem e n�o � essencial � vida. Talvez isso sirva para nos ensinar que a principal virtude no relacionamento entre as pessoas � a flexibilidade.
Qualquer rigidez no pensar, no agir, no ver o mundo � uma esp�cie de teimosia. O teimoso tem um apego excessivo �s pr�prias opini�es, aos pr�prios gostos, nunca admitindo a sua imperfei��o humana. A conviv�ncia com pessoas que sempre querem ter raz�o, que sempre est�o ditando regras para os outros, sempre ensinando, traz um grau excessivo de insatisfa��o e desgaste.
Uma rela��o que exige di�logo sup�e obviamente pessoas com pontos de vista diferentes, procurando a verdade e n�o a supremacia sobre o outro. Considerar a relatividade dos pensamentos, incluindo os nossos, nos faz considerar as diferen�as entre as pessoas. A ideia autorit�ria de que todos os membros de uma fam�lia, de uma equipe, de um casal devem pensar igual nos leva a entender como inimigo as pessoas que discordam de n�s.
A rigidez nos leva a desrespeitar a individualidade de cada um, querendo que todos vejam o mundo da nossa forma e tenha os mesmos valores que n�s. Da� nasce o desejo de controlar e dominar os pensamentos, sentimentos e a��es dos outros. Respeitando nossa individualidade, nossa unicidade, aprendemos a respeitar a singularidade daqueles com quem nos relacionamos.
Cada pessoa tem seu jeito, seu caminho, seu ritmo, seus gostos, sua forma espec�fica de ver o mundo e a rela��o amorosa come�a quando aceitamos o outro existindo diferente de n�s. O amor � a conviv�ncia harmoniosa dos diferentes. Eu s� posso amar no meu filho, na minha mulher, no meu marido, no amigo aquilo em que eles s�o diferentes de mim. No que eles s�o iguais a mim eu estou me amando, n�o eles.
O teimoso, o fan�tico, o r�gido � aquele que sempre tem certeza e se estrutura nos excessos. Assim, a rigidez nas atitudes significa constantemente o contr�rio do que a pessoa diz. Pessoas muito puritanas e moralistas escondem desejos sexuais reprimidos. Excessos de bondade escondem agressividades mal trabalhadas. Excessos de domina��o escondem fragilidade interna e sentimentos de inferioridade. Os erros s�o inevit�veis na trajet�ria humana.
� da natureza do homem errar e � atrav�s dos erros que crescemos, avan�amos e criamos. Aceitar com suavidade os pr�prios erros, os pr�prios limites, a pr�pria conting�ncia humana � o principal caminho para nos flexibilizarmos diante do outro. Considerar a multiplicidade do mundo, a adaptabilidade da natureza, a paci�ncia com as diferen�as nos dar� uma vida mais harmoniosa e menos sofrimento.
Qualquer rela��o amorosa s� ser� feliz se perdermos um pouco de nossa rigidez. Quanto mais vivos, mais somos flex�veis. Quanto mais mortos, mais r�gidos.