“Tenho 67 anos e sofro muito com o fato de ser velha e n�o concordo com a perda de minha vitalidade. Como aceitar a minha idade e o envelhecimento?”
Luiza, de Belo Horizonte
Toda luta contra a realidade nos leva ao sofrimento. O que caracteriza a vida � a transitoriedade, a passagem. Ela � o essencial da exist�ncia e nela “experienciamos” a vitalidade humana, traduzida em fatos, sentimentos, a��es e situa��es que se sucedem no tempo. Viver, portanto, � envelhecer. N�o � � toa que no dia do nosso anivers�rio, dia sagrado do nosso nascimento, os amigos nos desejam “muitos anos de vida”.

Ficar velho � resistir � passagem do tempo, � querer o imposs�vel: ser eterno � desdenhar do transit�rio, querendo a perman�ncia, a seguran�a, o definitivo. Ficar velho � lutar contra a realidade humana, cujo valor fundamental est� no fato de que tudo passa e que tudo deve ser usufru�do. Sempre gosto de repetir que a vida � para ser vivida, e n�o para ser conservada. N�o � o envelhecer que d�i ou � ruim. O que nos provoca sofrimento � a ideia que temos do envelhecimento, � a resist�ncia a esse processo, que, no fundo, � uma resist�ncia � vida, � espontaneidade, � beleza do viver.
Outra considera��o que poder� ajudar todos n�s � que envelhecer � f�cil, n�o depende de n�s e, por isso, todos envelhecemos, inclusive os animais. O dif�cil, e que � uma escolha, � o crescimento. O verdadeiro prazer da exist�ncia vem do desenvolvimento do nosso potencial.
Pessoas que fizeram um pacto com o crescimento e o aprendizado envelhecem felizes. Aqueles, no entanto, que optaram por observar passivamente a trajet�ria do tempo, cumprindo apenas o processo biol�gico, acabam se emaranhando nas teias da acomoda��o e do medo de morrer.
A chave da felicidade � utilizar a vida, desenvolvendo os pr�prios talentos, em vez de lamentar seu curso. A idade avan�ada n�o nos d� o direito de sermos rabugentos, de reclamar, queixar, acomodar ou justificar a pouca vontade de viver. O tempo � sempre nosso aliado, e n�o nosso inimigo. Da� minha insist�ncia no fato de que “hoje � o primeiro dia da nossa vida”, nos convidando � celebra��o e ao recome�o.
Aumentar a nossa compet�ncia de viver o momento presente � outro ant�doto contra a ignor�ncia ao envelhecer. Com a passagem dos anos, somos tentados a nos concentrar no passado, principalmente atrav�s da saudade e da culpa. Saudade das coisas boas e culpa pelas coisas ruins. Ou ent�o no futuro, com medo da morte e das perdas.
Um velho s�bio � o que aprendeu, mais do que ningu�m, que a melhor forma de viver � viver no presente, no agora, apenas aprendendo com o passado e olhando em paz para o futuro. O velho est�pido � o que morreu ou est� morrendo, antes de morrer, e a melhor forma disso � fixar-se no retrovisor ou no amanh�.
No desenvolvimento humano � natural a perda da vitalidade f�sica, dos movimentos, da sa�de, da disposi��o para muitas coisas. O que n�o � natural � a perda da vitalidade emocional, espiritual, da esperan�a.
Podemos resumir toda a quest�o do sofrimento ao envelhecer no processo da autoestima. Como nossa sociedade � narcisista, baseada em imagens idealizadas, embarcamos no mito da beleza e da juventude, como se a imagem fosse mais importante que a vida presente no nosso corpo. Que diferen�a faz a idade, se meu cora��o est� batendo, se estou respirando, se posso escutar os sons, apalpar o mundo e celebrar a vida?
A felicidade est� na forma de lidar com o mundo, e n�o na perfei��o. Autoestima � nos amarmos sem nenhuma exig�ncia ou condi��o. � nos amarmos tal qual somos, com nossas fraquezas, nossas dificuldades, nossas rugas. Quanto mais envelhecemos, mais gratid�o deve povoar nossos cora��es, como ensinam as antigas tradi��es espirituais, pois que a idade avan�ada nos mostra apenas uma coisa: fomos os escolhidos de Deus para testemunhar, durante longo tempo, a vida que nos foi dada de gra�a. Viv�-la com gra�a e com sabedoria � o que temos de aprender.
Envelhecer � f�cil. O dif�cil � crescer, aprender, amar, apesar do tempo...