Na vis�o da alem� Anna Cavazzini, eurodeputada pelo Partido Verde e vice-presidente da delega��o do Parlamento Europeu para assuntos relacionados ao Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem "grande parcela de responsabilidade" pela crise sanit�ria desencadeada pela pandemia de covid-19 no pa�s, que ela descreve como "um verdadeiro desastre".
Cavazzini participa de uma reuni�o de duas horas sobre o Brasil nesta quinta-feira (15/4) marcada no Parlamento Europeu, tendo como pano de fundo a abertura da CPI (Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito) para investigar a crise do coronav�rus no pa�s e os recordes de mortes por covid-19.O chefe da Miss�o do Brasil junto � Uni�o Europeia, embaixador Marcos Galv�o, foi chamado para participar.
Aludindo a uma express�o em sua l�ngua materna, Cavazzini diz que a situa��o atual do Brasil � como se o pa�s "caminhasse rumo ao precip�cio de olhos bem abertos".
"Devo dizer que nenhum pa�s � perfeito. Muitos governos est�o lutando pelas melhores pr�ticas. Por exemplo, em meu pa�s, a Alemanha, tamb�m temos uma discuss�o muito cr�tica sobre se o governo est� fazendo a coisa certa. Mas acho que a situa��o no Brasil realmente se destaca", diz ela, em entrevista � BBC News Brasil por telefone.
"� um n�vel completamente diferente de desastre, m� gest�o governamental, nega��o pol�tica, basicamente � como se o Brasil estivesse "caminhando rumo ao precip�cio de olhos bem abertos", acrescenta.
Segundo Cavazzini, Bolsonaro "tem grande parcela de responsabilidade pelo n�mero de doentes e mortos porque n�o levou a doen�a a s�rio, incentivou as pessoas a se reunirem em grandes aglomera��es, manteve-se c�tico no in�cio em rela��o � vacina��o e obstruiu os servi�os de imuniza��o em cidades e Estados do Brasil".
Reuni�es como essa n�o t�m implica��o pr�tica e s�o marcadas com anteced�ncia para discutir temas de interesse bilaterais.
Mas Cavazzini diz que, embora o Parlamento Europeu n�o possa ditar a pol�tica externa, "pode participar nas conversas e influenciar a agenda" dos Estados membros do bloco.
"Queremos mostrar a solidariedade europeia para com as pessoas que est�o l� (Brasil) e gravemente afetadas (pela covid). Claro que tamb�m queremos lan�ar luz tamb�m sobre a dif�cil situa��o dos direitos humanos no Brasil e principalmente das pessoas que defendem as florestas, que defendem suas terras, que est�o amea�adas e algumas delas infelizmente mortas", diz.
Cavazzini, que tamb�m � membro do comit� parlamentar respons�vel por assuntos relacionados ao meio ambiente, � uma das principais vozes cr�ticas � pol�tica ambiental do governo Bolsonaro, especialmente no tocante ao desmatamento da Amaz�nia. Ela tamb�m se op�e ao acordo entre a Uni�o Europeia e o Mercosul (ainda em fase de revis�o jur�dica).
"Em geral, � claro que sempre � dif�cil influenciar realmente a pol�tica de sa�de de outro pa�s porque � realmente uma quest�o nacional. Mas acho que uma mistura de press�o diplom�tica, conversar com o governo, dialogar, tentar identificar os agentes que pensam e agem de forma diferente, apoi�-los � sempre muito importante", diz.
"H� a quest�o do financiamento de coopera��o… no momento eu n�o daria nenhum dinheiro ao governo de Bolsonaro, talvez identifique corpora��es que possam ajudar algumas pessoas no Brasil. Essas s�o op��es de pol�tica externa. O Parlamento Europeu basicamente n�o tem voz na pol�tica externa, mas pode participar nas conversas e pode influenciar a agenda", completa.
Em aviso sobre a audi�ncia, Cavazzini citou a ordem emitida na quinta (8) pelo ministro Lu�s Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), intalasse uma CPI da pandemia da covid-19. Pacheco tomou a decis�o nesta ter�a-feira.
A CPI investigar� a atua��o do governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de coronav�rus, assim como o uso de recursos federais por Estados e munic�pios na conten��o da crise sanit�ria.
Cavazzini tamb�m menciona que "mais de 340 mil brasileiros j� morreram com o v�rus" e que "nos �ltimos dias, a m�dia di�ria de mortes ultrapassou 4 mil".
Al�m de abordar a "situa��o econ�mica e sanit�ria no Brasil", a audi�ncia vai incluir "troca de opini�es sobre a coopera��o cient�fica e tecnol�gica entre a UE e o Brasil" e "troca de pontos de vista sobre a situa��o dos defensores dos direitos humanos no Brasil, incluindo o caso Fernando dos Santos Ara�jo".
Sobrevivente da chacina de Pau D'Arco, em 2017, que resultou na morte de dez trabalhadores rurais e atribu�da a policiais, Ara�jo chegou a entrar no programa de prote��o a testemunhas, mas voltou � fazenda neste ano e tamb�m foi assassinado.
Recentemente, Cavazzini fez parte do grupo de 68 deputados do Parlamento Europeu que enviou uma carta ao vice-presidente Hamilton Mour�o e ao Conselho Nacional da Amaz�nia Legal, que ele coordena, reclamando de planos para restringir as atividades de ONGs na regi�o.
A eurodeputada foi a primeira signat�ria do texto, que considera "muito preocupantes" not�cias sobre o estabelecimento de limites e regras mais duras para a atua��o de entidades da sociedade civil.
"O processo de autoriza��o para funcionamento das ONGs j� est� bem regulamentado pela lei brasileira. Por muitas d�cadas, v�rias ONGs no Brasil t�m implementado programas e a��es para combater crimes ambientais, proteger a floresta amaz�nica e a sobreviv�ncia de suas popula��es, enquanto promovem o desenvolvimento sustent�vel na regi�o", afirma a carta, de novembro do ano passado.
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