![A nutrição correta é muito importante nos primeiros 2.000 dias de vida], segundo os médicos(foto: Getty Images) Criança segura maça mordida](https://i.em.com.br/EwoOqOCBXDkjEMSypBXlIUbSNoo=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/07/30/1383574/crianca-segura-maca-mordida_1_34176.jpg)
Diversos estudos demonstram que tudo o que acontece nesse espa�o de tempo pode ter impacto em toda a inf�ncia e at� na idade adulta.
Especialistas consultados pela BBC News Brasil ressaltaram, em especial, a import�ncia da nutri��o correta nesse per�odo.
"Nos primeiros anos de vida mais de 1 milh�o de novas conex�es neurais s�o formadas a cada segundo e uma alimenta��o saud�vel � essencial para determinar o desempenho desse desenvolvimento neurol�gico, al�m do crescimento e do ganho de peso adequados", afirma a pediatra M�nica Moretzsohn, do departamento cient�fico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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Segundo a m�dica, todos os nutrientes s�o importantes na inf�ncia. "Mas entre os nutrientes que costumo listar como indispens�veis nos primeiros 5 anos de vida est�o ferro, zinco, iodo, vitamina A e os �cidos graxos do tipo �mega-3, em especial o DHA", diz. (veja mais detalhes abaixo)
Para auxiliar no momento das refei��es, confira a seguir os alimentos que n�o podem faltar no dia a dia das crian�as e que podem garantir uma nutri��o adequada, com todos os nutrientes citados.
A lista foi elaborada a partir de entrevistas com m�dicos e nutricionistas e consultas a guias alimentares elaborados por �rg�os oficiais do Brasil e do mundo.
"Idealmente, as crian�as deveriam seguir esse padr�o de alimenta��o variada e saud�vel todos os dias, com foco especial nas duas principais refei��es: almo�o e jantar", diz Moretzsohn.
Leite materno
At� os seis meses de idade, a recomenda��o dos m�dicos � o aleitamento materno exclusivo.
N�o se deve oferecer nem �gua ou ch�. "O leite materno basta", afirma Jos� N�lio Cavinatto, m�dico pediatra do Hospital Albert Einstein.
O leite materno � o �nico que cont�m anticorpos e outras subst�ncias capazes de proteger a crian�a de muitas doen�as, como diarreia, infec��es respirat�rias e alergias, al�m de reduzir o risco de asma na fase adulta, desenvolver diabetes tipo 2 e obesidade.
Diversos estudos mostram ainda que a interrup��o preococe da amamenta��o pode causar mais incid�ncias de diarreia e hospitaliza��o, um desenvolvimento motor e oral incompleto e mais casos de alergias alimentares. Algumas dessas consequ�ncias podem ser irrevers�veis.

Mas segundo o especialista, � preciso que a m�e tome cuidados especiais com sua pr�pria alimenta��o quando est� amamentando, a fim de garantir um leite nutritivo.
"A m�e precisa ingerir calorias suficientes e de qualidade. Aconselhamos, por exemplo, que se coma um ovo por dia e um peixe por semana, para garantir o fornecimento de nutrientes importantes para o desenvolvimento cerebral", diz.
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O m�dico ainda recomenda que se evite o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e, quando poss�vel e necess�rio, a suplementa��o de vitamina D, �mega e colina. "Mas esses suplementos s�o caros e sabemos que nem todos podem ter acesso, por isso a import�ncia de as m�es ingerirem o m�ximo poss�vel de nutrientes na alimenta��o."
Para crian�as com alguma restri��o ou impossibilidade de receber o leite materno, a f�rmula � a indica��o. Diversos Estados e cidades brasileiras possuem programas para oferecer f�rmula gratuita �s fam�lias mais necessitadas.
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) recomenda o aleitamento materno por 2 anos ou mais. Antes disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) indica que a introdu��o alimentar dos beb�s seja iniciada aos seis meses.
Segundo a SBP, deve-se come�ar como um complemento ao leite materno, com frutas amassadas e uma papa por dia no 6º m�s e duas papas no 7º e 8º m�s.
A partir do 9º m�s a recomenda��o �, gradativamente, passar para a refei��o da fam�lia com ajustes na consist�ncia dos alimentos e temperos.
Desde a primeira papa, a refei��o deve conter cereais ou tub�rculos, leguminosas, prote�na animal, hortali�as (verduras e legumes) e �leo. Devem ser temperados com salsa, cebolinha, alecrim, manjeric�o, sem adi��o de sal.
Prato saud�vel
A partir da introdu��o alimentar, os especialistas afirmam que � preciso passar a prestar aten��o na variedade de alimentos e nutrientes consumidos pelas crian�as.
Para isso, � muito comum que se utilize um esquema que divide os alimentos em grupos e recomenda as quantidades indicadas para consumo.
Segundo M�nica Moretzsohn, o chamado "esquema do prato saud�vel" deve ser utilizado no momento de planejar as duas principais refei��es do dia, que no Brasil s�o o almo�o e o jantar, e podem servir de guia n�o somente para a alimenta��o infantil, mas durante toda a vida.

Stephanie Amaral, oficial de Sa�de do Unicef no Brasil, chama ainda a aten��o para o fato de que, al�m de cuidar da variedade alimentar, os pais precisam estar atentos � proced�ncia do que � consumido.
"� preciso buscar uma alimenta��o saud�vel in natura ou livre de processados e industrializados, ou seja, com um consumo m�nimo de edulcorantes, ado�antes e outros elementos artificiais", diz a nutricionista.
"A nossa alimenta��o t�pica brasileira, composta de um prato de arroz, feij�o, uma carne e salada, j� cumpre muito bem esses requisitos."
Legumes e verduras
O primeiro grupo de alimentos que n�o pode faltar para as crian�as - e adultos tamb�m - s�o os legumes e verduras. Segundo os m�dicos, eles devem compor pelo menos 50% do prato.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crian�as de 1 a 2 anos consumam 2 por��es de cerca de 8 quilocalorias por dia, e que os menores de 2 a 5 anos comam 3 por��es de 8 kcal diariamente.
A nutr�loga pedi�trica M�nica Moretzsohn explica que � muito importante variar os alimentos desse grupo ao longo da semana, mas idealmente os pais devem oferec�-los aos filhos todos os dias.
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Entre os vegetais, as folhas s�o boa fonte de fibras e de vitaminas e minerais como �cido f�lico e ferro. "O ferro � essencial para o desenvolvimento neurol�gico na primeira inf�ncia e fundamental para v�rios processos metab�licos que s�o especialmente importantes nesse per�odo da vida", diz a m�dica.
A car�ncia do nutriente � uma das mais comuns em todo o mundo. Em sua forma mais grave � conhecida como anemia ferropriva e pode causar impactos grandes no desenvolvimento cognitivo das crian�as, levando � dificuldade de aprendizado e at� menor capacidade de trabalho na idade adulta.

O �cido f�lico � essencial para o desenvolvimento do sistema nervoso central, e suas defici�ncias podem ser prejudiciais para a cogni��o de crian�as e, em casos graves, irrevers�veis. J� a falta de fibras na dieta tem sido associada a v�rios dist�rbios em crian�as, incluindo constipa��o, s�ndrome do intestino irrit�vel, alergias e problemas no sistema imunol�gico.
O br�colis oferece vitaminas A, C e K e � rico em pot�ssio.
Segundo especialistas, a crian�a que n�o recebe quantidades di�rias suficientes de vitamina C pode estar mais propensa a apresentar comprometimento da pele, anemia, sangramento das gengivas, m� cicatriza��o das feridas, perda de dentes, fragilidades dos ossos e baixa resist�ncia �s infec��es. A car�ncia tamb�m pode levar a crian�a a apresentar dificuldades no aprendizado, na concentra��o e mem�ria.
Entre os legumes, h� exemplos como a ab�bora e a cenoura, que s�o caroten�ides e boas fontes de vitamina A. A berinjela possui c�lcio, magn�sio, pot�ssio e vitamina B5.
"A defici�ncia de vitamina A � uma das principais causas de cegueira evit�vel em crian�as menores de 5 anos", afirma Moretzsohn.
J� a car�ncia de magn�sio pode causar f�diga e sonol�ncia. Pesquisas mostram ainda que, em casos cr�nicos, a defici�ncia desse mineral est� associada a hiperatividade, irritabilidade, perturba��es no sono e baixa aten��o escolar entre crian�as.
Cereais e tub�rculos
O grupo de cereais e tub�rculos, que deve representar algo em torno de 25% do prato dos pequenos, inclui milho, arroz, aveia, trigo, massas, farinhas, p�es, inhame, batatas e mandioca.
Segundo o m�dico Jos� N�lio Cavinatto, esse grupo representa fontes importantes e saud�veis de lip�dios e vitaminas, mas especialmente de carboidratos.
Eles s�o os principais fornecedores da energia a ser utilizada pelo organismo nos processos de crescimento, desenvolvimento e nas atividades di�rias das crian�as.
A falta de carboidrato pode gerar des�nimo e mau-humor. O consumo em excesso, por outro lado, pode provocar em casos mais graves obesidade, diabetes e at� problemas card�acos na crian�a.
Os pediatras recomendam que os carboidratos componham de 50% a 60% do total de calorias consumidas todos os dias pelos pequenos.
� indicado que crian�as de 1 a 2 anos consumam 3 por��es de cerca de 75 quilocalorias por dia, de 2 a 3 anos 5 por��es de 75 kcal e de 4 a 5 anos 4 por��es de 150 kcal.
"� importante variar os alimentos do grupo, porque cada carboidrato tem uma composi��o diferente", diz Moretzsohn. "Mas para as fam�lias que t�m tido dificuldade de colocar arroz na mesa, o milho ou as batatas podem ser uma op��o para os carboidratos."
Carnes e ovo
M�dico e nutricionistas indicam ainda a presen�a de uma carne ou ovo nas duas principais refei��es das crian�as. Esses itens devem representar algo em torno de %u215B do prato.
Segundo a SBP, crian�as de 1 a 3 anos devem comer 2 por��es de cerca de 65 quilocalorias de carnes ou ovos ao dia. Entre os pequenos de 4 a 5 a recomenda��o � de 1 por��o de 190 kcal.
As carnes oferecidas podem ser de vaca, frango, porco ou peixe, segundo os especialistas consultados pela BBC News Brasil.
"As carnes costumam ser as principais fontes de ferro biodispon�veis", explica a pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria.
As prote�nas animais tamb�m s�o normalmente as maiores fornecedoras de vitamina B12. Esse nutriente � especialmente importante na inf�ncia, quando sua car�ncia pode provocar implica��es no crescimento e na resposta imune e anemia. A defici�ncia, se n�o for tratada, pode ainda levar a problemas neurol�gicos irrevers�veis.

Segundo Cavinatto, o peixe � ainda um importante fornecedor de �cido docosa-hexaen�ico, o DHA, que entre outras coisas auxilia na "fluidez" dos impulsos el�tricos da rede de neur�nios, de vital import�ncia no desenvolvimento cerebral e cognitivo.
Estudos mostram ainda que os �cidos graxos �mega-3, encontrados principalmente no salm�o e na sardinha, s�o importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso central e da retina e na preven��o de doen�as cr�nicas, como obesidade e hipertens�o.
"Para as fam�lias mais carentes, uma op��o de fonte de DHA mais barata pode ser a sardinha, que ainda tem muito ferro e zinco tamb�m", diz o pediatra.
Os especialistas afirmam ainda que as partes menos nobres do frango ou cortes mais baratos de carne vermelha tamb�m podem ajudar a oferecer os nutrientes que os pequenos precisam.
"O ovo tamb�m � um alimento muito rico em prote�na, mas n�o � muito rico em ferro, ent�o n�o pode ser usado como �nica fonte proteica para as crian�as", diz Moretzsohn.
Para fam�lias veganas, que n�o incluem as carnes, ovos e derivados no esquema alimentar das crian�as, � indicado aumentar as por��es de leguminosas (feij�o, lentilha, gr�o-de-bico etc.) e adequar as por��es de cereais para que a mesma recomenda��o nutricional seja atingida. Em alguns casos pode ser recomendada tamb�m a suplementa��o de nutrientes.
A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) tem um guia alimentar para beb�s e crian�as vegetarianas que pode auxiliar as fam�lias.
Leguminosas
O restante da refei��o das crian�as deve ser preenchido com leguminosas, que segundo os especialistas devem ocupar cerca de %u215B do prato.
A indica��o da SBP � para o consumo de 1 por��o de 20 kcal por dia para as crian�as entre 1 e 3 anos e de 55 kcal para as de 4 a 5 anos.
Alguns exemplos de alimentos do grupo s�o os feij�es, as lentilhas, o gr�o-de-bico e a soja.
As leguminosas s�o alimentos muito ricos nutricionalmente, contendo muitas vitaminas e minerais, com destaque para o ferro, o zinco e o magn�sio.
Al�m das consequ�ncias da falta de ferro e magn�sio j� mencionadas anteriormente, crian�as que consumem quantidades insuficientes de leguminosas podem enfretar falta de apetite, redu��o do olfato e paladar, altera��es no sistema imunol�gico e mais infec��es infec��es, como consequ�ncia da car�ncia de zinco.
"A falta de zinco pode levar � defici�ncia de outros nutrientes secund�rios. A vitamina A, por exemplo, pode n�o ser aproveitada pelo organismo quando h� uma car�ncia desse mineral", afirma M�nica Moretzsohn.
"� muito bom variar o consumo das leguminosas. Mas se uma crian�a s� gosta de feij�o ou a fam�lia s� tem condi��o de oferecer uma delas, tudo bem."
�leos vegetais

Os �leos vegetais devem estar presentes na alimenta��o das crian�as como temperos ou no preparo dos alimentos.
A SBP recomenda que crian�as at� 3 anos consumam ao todo at� 37 kcal de �leos e gorduras por dia. Para os pequenos de 4 a 5 anos a recomenda��o � de at� 73 kcal.
Algumas das op��es mais comuns no Brasil s�o o azeite de oliva e os �leos de canola, girassol, soja, milho, linha�a, coco, farelo de arroz e algod�o.
A pediatra da SBP explica que cada �leo vegetal tem uma composi��o diferente e, portanto, oferece nutrientes distintos. "O azeite � rico em �mega 9, enquanto os �leos de soja, canola, milho, girassol e linha�a oferecem mais �mega 3", diz.
"No contexto socioecon�mico do Brasil de hoje, o �leo de soja talvez seja o mais acess�vel, ainda que n�o seja barato."
Frutas
As frutas s�o essenciais para as crian�as e devem ser oferecidas como op��o de sobremesa, no caf� da manh� ou como lanches nos intervlos entre as refei��es.
Para as crian�as de 1 a 5 anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a ingest�o de 3 por��es de fruta de 35 quilocalorias por dia.
Oferecer suco de frutas natural tamb�m � indicado. Mas, segundo os nutricionistas, ele n�o deve substituir o consumo de �gua ou de frutas frescas.
O tipo de fruta a ser oferecido dever� respeitar as caracter�sticas regionais, custo, esta��o do ano e a presen�a de fibras. Nenhuma fruta � contraindicada, a n�o ser a carambola, nos casos de insufici�ncia renal.

"As frutas costumam ser uma das �nicas fontes de vitamina C em nossa alimenta��o, por isso s�o important�ssimas", diz Moretzsohn. "Tamb�m s�o �timas fontes de fibras."
A vitamina C � essencial para a imunidade infantil e favorece o bom funcionamento do organismo - tem o papel de regenerar as c�lulas, sendo um poderoso antioxidante. Al�m dos efeitos j� mencionados, estudos tamb�m ja associaram a falta do nutriente ao comprometimento cognitivo, depress�o e confus�o mental.
Latic�nios
A partir de 1 ano de idade, os nutricionistas recomendam tamb�m oferecer leite e derivados �s crian�as. A recomenda��o � de 3 por��es de cerca de 120 quilocalorias at� os 5 anos.
O leite, o queijo e o iogurte s�o excelentes fontes de c�lcio. O nutriente � essencial para o desenvolvimento de um esqueleto saud�vel e se torna mais necess�rio durante a inf�ncia e a adolesc�ncia, como resultado do intenso desenvolvimento �sseo e muscular.
A falta de c�lcio causa ainda preju�zos dent�rios nas crian�as, como a m�-forma��o da coroa dos dentes. Se a defici�ncia n�o for adequadamente tratada, os danos podem ser permanentes.
Para as fam�lias que n�o podem ou escolhem n�o consumir latic�nios, recomenda-se a introdu��o de outros alimentos ricos em c�lcio na dieta das crian�as. Boas fontes s�o sementes, nozes, legumes, tofu, algas, cereais e leite de soja fortificado.
Alguns vegetais, como acelga, espinafre e mostarda, tamb�m s�o ricos em c�lcio e costumam ser alternativas um pouco mais baratas.

O pediatra Jos� N�lio Cavinatto recomenda ainda evitar o leite de vaca e seus derivados antes de 1 ano de idade.
"Uma crian�a alimentada com muito leite de vaca no primeiro ano de vida pode se tornar obesa, pois o leite de vaca possui tr�s vezes mais prote�na do que o leite materno", diz.
Este texto foi originalmente publicado emhttps://www.bbc.com/portuguese/brasil-62352990
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