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Estado de Minas

Fragilidade humana em tempos de coronav�rus

'Botar os p�s no ch�o � aceitar que n�o somos deuses e, por isso mesmo, ca�mos, perdemos, hesitamos e sofremos'


07/06/2020 04:00 - atualizado 07/06/2020 07:32

“Sempre fui uma pessoa forte, nunca demonstrei qualquer fraqueza, n�o deixo que percebam meus sentimentos ruins. Acontece que, neste momento de coronav�rus, tenho-me sentido deprimido e angustiado, como muitas pessoas. N�o estou me conhecendo. Gostaria de uma explica��o sua.”

Rubens, de Ouro Preto
 
 
Uma amiga me contou que, h� alguns dias, presenciou um fato interessante. Ela e um amigo corriam juntos e ele, com muito esfor�o, mantinha um ritmo firme e acelerado. Depois de algum tempo, exausto, ele parou e falou para a minha amiga: “Como � dif�cil fazer parecer f�cil”. A caracter�stica fundamental da nossa natureza � que somos seres limitados, portadores de for�as e fraquezas, facilidades e dificuldades, capacidades e incapacidades.

Ensinaram-nos que devemos ser fortes em qualquer circunst�ncia, nunca deixar a peteca cair, sempre dar conta, independentemente das situa��es.

Isso gerou um esfor�o sobre-humano de parecer que somos infal�veis, que somos onipotentes. O que � real, por�m, sempre vem � tona. E um dia a casa cai. Os conceitos de for�a e fraqueza n�o podem ser entendidos de maneira absoluta. Todas as pessoas s�o fr�geis por natureza. Tudo que � mortal � fr�gil. Fortes s�o aqueles que aceitam e administram essa fragilidade. Fracos s�o os que, n�o aceitando seus limites, abusam do seu potencial e pagam caro por isso.

A esse comportamento tenho dado o nome de postura do her�i. Bancar o her�i na vida � querer ser mais do que se �, � carregar o mundo nas costas, � n�o saber jogar a toalha, de vez em quando, � ser incapaz de dizer n�o dou conta, � querer ser forte o tempo todo, � esconder os sentimentos negativos, � nunca dar o n�o, � se matar para parecer f�cil o dif�cil. Todo her�i, mais cedo ou mais tarde, se torna v�tima. � o que aconteceu com o leitor acima. Brincando de ser Deus, fingiu n�o ser afetado pela realidade e agora estranha a cobran�a que sua humanidade lhe faz em forma de ang�stia e depress�o.

Trata-se inclusive de uma lei f�sica: a toda a��o corresponde uma rea��o igual e contr�ria. A todo o excesso corresponde um recesso. A toda tens�o excessiva corresponde uma depress�o. O fen�meno de estresse est� situado nessa estrutura. E para agravar, o her�i, julgando-se maior e superior aos outros, tem muita dificuldade de pedir ajuda. Ele normalmente tem muita facilidade para ajudar as outras pessoas, resolver os problemas dos outros, ensinar, orientar e proteger e tem uma enorme dificuldade de ser ajudado, em aprender, em ser orientado ou ser protegido. Para ele, pedir ajuda � reconhecer uma fraqueza que nele jamais � admitida.

N�o existem pessoas fortes e pessoas fracas. Forte � quem lida bem com as quedas, erros, limites. Fraco � quem nega suas relatividades e quer ser absoluto. Forte � quem enverga, mas n�o quebra, � semelhan�a daquela plantinha tenra que, durante a tempestade, se curva totalmente no solo e que, ap�s a chuva, volta ao seu estado anterior. Fraco � quem quebra, mas n�o enverga, como aquelas �rvores frondosas da floresta amaz�nica, que se ca�rem nunca mais voltam a se levantar.

A cultura americana, fabricante de super-her�is, foi impiedosa com todos n�s, principalmente os homens, incentivando-nos a gastar todas as nossas energias para provar que estamos al�m de todos os limites: homem n�o chora! Prove que voc� � macho! Mulherzinha... Estamos na vida para aprender a lidar com os fatos positivos e negativos que nos circundam durante toda a nossa trajet�ria ou para provar pra n�s e para os outros que jamais cairemos?

Os americanos costumam classificar as pessoas em “ganhadores” e “perdedores”. Enquanto assim o fazem, se esquecem de uma outra classifica��o mais em conson�ncia com a realidade humana: pessoas felizes e pessoas infelizes. A vida � como um rio. Lutar contra a corrente n�o � s�bio. Agarrar-se �s margens tamb�m n�o � bom. Deixar-se levar, cooperando ativamente com a corrente e aceitando as dificuldades, � o m�ximo de exerc�cio de flexibilidade e de se chegar ao oceano.

Viver humanamente exige humildade no verdadeiro sentido etimol�gico da palavra. Humildade vem da palavra latina humus que significa terra, ch�o. Botar os p�s no ch�o � aceitar que n�o somos deuses e, por isso mesmo, ca�mos, perdemos, hesitamos e sofremos. Em compensa��o podemos sempre come�ar de novo. 

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